A conciliação de classes no movimento operário
Por Antonio Lima Júnior*
“Durante cada greve cresce e desenvolve-se nos operários a consciência de que o governo é seu inimigo e de que a classe operária deve preparar-se para lutar contra ele pelos direitos do povo.” (Lenin, Sobre as greves)
Após a aprovação da reforma trabalhista, um largo fosso fora criado no movimento sindical, mostrando a necessidade de compreender a luta do proletariado dos dias de hoje diante de uma conjuntura onde os sindicatos, burocratizados, não conseguem construir um processo de consciência de classe em suas categorias. Boa parte destas, inclusive, já há muito tempo imersas na terceirização e na precarização.
Diante dessa conjuntura em que se acirra a luta de classes, é necessário aprofundar o trabalho de base, apontar o caminho real da luta concreta, através da greve geral e da construção dos conselhos populares contra as reformas. Entretanto, muitos setores do movimento sindical, submetidos à longos anos de burocratização, estão analisando a conjuntura somente na perspectiva de salvar as entidades, amedrontadas principalmente com o fim do imposto sindical.
Ao invés de investir em agitação e propaganda, num momento em que urge a construção de veículos alternativos para apresentar ao conjunto da população os perigos das reformas, as entidades sindicais tem “enxugado a máquina” principalmente nesse setor, seja demitindo sua equipe de comunicação ou diminuindo a circulação dos materiais sindicais.
A estratégia de recuo: um perigo para o movimento sindical
Durante o 7 de setembro, enquanto setores sociais ligados às organizações religiosas realizavam o tradicional Grito dos Excluídos, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) apresentava o projeto de lei de iniciativa popular (PLIP) para barrar a reforma trabalhista, ou seja, mobilizando os trabalhadores não para uma greve, mas para coletar assinaturas e entregar o projeto ao congresso nacional.
Assim, a CUT mostra seu caráter reformista, em duas vertentes: 1) Ao continuar confiando na institucionalidade burguesa, crendo que um PLIP poderia ser aprovado no mesmo congresso que está aprovando toda a Caixa de Pandora contra os trabalhadores. 2) Ao permanecer na conciliação de classes, tentando negociar com o governo alguns pontos da reforma trabalhista. Essas duas ações, em paralelo, desfavorecem cada vez mais o ascenso de massas, numa confiança de que as eleições de 2018 poderão resolver a situação do povo brasileiro, quando nada mais é que uma tática de terra arrasada, deixando aprovar todas as reformas até lá.
A burocracia sindical tem clareza que o ascenso das massas faz com que as direções pelegas sejam atropeladas pelos trabalhadores. Daí o seu papel histórico de puxar o freio de mão e garantir a negociação por cima, com um governo que, por ser puro-sangue da burguesia, nada tem a preocupar-se com o povo, mesmo com um recorde de impopularidade.
A última mobilização nacional, do dia 5 de dezembro, mostrou com clareza a quem servem as posições vacilantes das centrais sindicais pelegas. Anunciada em menos de um mês, desfavorecendo qualquer processo de mobilização das bases, as direções nacionais das centrais soltaram uma nota conjunta, poucos dias antes, anunciando o “cancelamento” da greve, alegando que o congresso nacional havia suspendido a reforma da previdência como ponto de pauta do dia seguinte. Isso foi um prato cheio para a burguesia, que sabe muito bem como acariciar um pelego antes de montar em cima do cavalo.
Uma saída para o poço profundo: apontar o caminho do poder popular
Nesse momento, é preciso seguir apostando na necessidade da construção da greve geral, único instrumento capaz de construir a consciência de classe dos trabalhadores, no calor da luta diária, além de fazer os patrões sentirem no bolso o peso da organização popular.
Ao unificar as diversas categorias contra as reformas da burguesia, com os conselhos populares, vão subindo as demandas mais urgentes, fortalecendo a construção do poder popular e de um programa mínimo de lutas que atenda ao povo diante da crise que vem sugando cada vez mais, em detrimento dos interesses dos patrões. Democratização dos meios de comunicação, redução da jornada de trabalho e confisco dos bens dos corruptos condenados são apenas alguns dos vários pontos que precisam ser discutidos nas bases.
Toda essa movimentação deve ser feita em paralelo à denúncia das entidades que estão recuando no ascenso das massas. Esse processo deve ser feito com a proposta de desfiliação dos sindicatos às centrais que estão preocupadas somente com suas burocracias e nada tem para a construção do poder popular. Essas são tarefas que nenhuma organização sozinha é capaz de realizar, mas sim com a tarefa de organizar uma frente de esquerda socialista que esteja como alternativa real para a classe trabalhadora, não para 2018, mas para as lutas diárias do povo. São tarefas urgentes, que não podemos deixar passar, antes que o barco da história naufrague nas bárbaras águas do capitalismo.
*Jornalista e militante do PCB.