Mulheres guerrilheiras e a independência de Angola
Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro – Alagoas
Em 2 de março de 1968, ao retornar de uma missão na selva, quatro guerrilheiras integrantes da Organização da Mulher Angolana (OMA): Deolinda Rodrigues, Engrácia dos Santos, Irene Cohen, Lucrécia Paim e Teresa Afonso, foram capturadas, torturadas e esquartejadas vivas. Sete anos antes da independência do país, o 2 de Março foi consagrado Dia da Mulher Angolana. Relembramos algumas das companheiras que dedicaram suas vidas à transformação histórica e social do país.
Mas antes disso, demarcamos um pouco sobre a luta da mulher durante o período de luta armada em Angola. A Guerra de Independência de Angola foi um conflito armado entre as forças independentistas de Angola — União das Populações Angolanas/Frente Nacional de Libertação de Angola (UPA-FNLA), Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e, a partir de 1966, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) contra as Forças Armadas de Portugal. Os movimentos eram diferentes uns dos outros, bem como a situação da mulher.
”As mulheres, nas guerras, tinham de combater duas vezes”. Com essa afirmação, Margarida Paredes, ex – guerrilheira das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) traz a tona uma das maiores barreiras dentro de um processo revolucionário: a opressão feminina. Na luta anticolonial, as mulheres chegaram aos locais de refúgio ou à mata movidas por ideais libertadores e uma ideologia nacionalista. Sabiam muito bem que o inimigo era o colonialismo português. Entretanto, as mulheres nas guerras tinham de lutar duas vezes, externamente contra o inimigo algoz do colonialismo e internamente contra uma ordem de gênero patriarcal que sempre fez tudo para mantê-las numa posição de subalternidade.
As combatentes da UPA/FNLA, mais centradas numa ideologia político-messiânica, participaram como ‘mães patrióticas’ oferecendo os filhos e maridos para a luta e cuidando dos guerrilheiros. Na UNITA, o discurso era nativista com as mulheres sendo as provedoras da guerrilha. No MPLA, a tão propalada frase “as camaradas que combateram ao lado dos homens” não escondia que a relação não era de igualdade. Não havia mulheres guerrilheiras comandantes ou nos órgãos de decisão e a proclamação das FAPLA em 1974 não foi assinada por uma única mulher.
Segundo Paredes (2015), as mulheres que mais se destacaram no processo revolucionário foram aquelas que participaram na luta armada de arma na mão. Na guerrilha, o papel das camponesas que são as cuidadoras dos guerrilheiros e as provedoras da guerrilha não costumava ser valorizado porque, sem arma, não lhes é reconhecido o estatuto de guerrilheira. Não podemos esquecer que em Angola as camponesas foram a maioria das mulheres combatentes e, por causa da sua condição social, das tarefas que executavam e dos perigos que corriam, os sacrifícios eram maiores, o que não foi suficiente para que a sua participação nas guerras tenha sido reconhecida ou recompensada no pós-independência. Este fardo tem sido motivo de grande frustração e revolta para muitas delas que não conseguem proteção social.
No processo de libertação nacional, as mulheres além de lutar contra o sistema de exploração e opressão colonial, enfrentavam a âncora do patriarcalismo que mantinha a discriminação que sofriam por ser mulher. Reiteramos que a libertação da mulher é uma necessidade da revolução. Como forma de não deixar que elas sejam esquecidas e silenciadas, eis algumas das camaradas que combateram duas vezes.