O outro mundo possível

“A União da Juventude Comunista acha que sim e que ele é socialista, criticando o FSM por ‘propor como solução para os crescentes problemas sociais, econômicos e ambientais que afligem a humanidade um pacto por um capitalismo mais humanizado e sustentável’ ”.

Nota da Redação: Em sua coluna em O Globo do último sábado (28/01), ao citar a UJC para criticar quem luta pelo socialismo Zuenir Ventura passou recibo: ele é que ainda não caiu na real.

O capitalismo não precisa de reformas; deve ser posto abaixo. O capitalismo não tem “nada de melhor”, a não ser para quem explora o trabalho alheio e oprime outrem. Nesse debate, o colunista mostrou que está do lado dos vendilhões de ilusão.

O PCB e a UJC firmam trincheiras do lado oposto, Zuenir: o de quem luta contra a desigualdade. Afinal de contas, não suportamos a existência de “cidades partidas” e vamos além de sermos meros expectadores dessas desigualdades: lutamos para com elas acabar.

É tempo de fóruns mundiais – o econômico em Davos e o social em Porto Alegre. Um de direita e o outro, de esquerda, digamos, para simplificar. Os megaexecutivos e dirigentes governamentais frequentam o primeiro. Do segundo, participam ONGs, movimentos populares e ativistas sociais. Davos, por tradição, foi sempre marcado por um clima de otimismo em relação ao regime capitalista. Já o Fórum Social Mundial costumava ser de desencanto com o presente e de aposta num futuro melhor. O seu slogan, como se sabe, era: “Outro mundo é possível.”

Este ano parece que houve mudanças. Os ares que sopram dos Alpes suíços são de pessimismo. Já as notícias que vêm do Sul carregam um certo tom de satisfação depois que o país de Dilma (que preferiu ir para Porto Alegre) passou a ser visto como exemplo positivo em meio ao ceticismo geral. O presidente da empresa de consultoria Ernst & Young chegou a afirmar que, se o mundo cresceu 3%, foi graças a emergentes como o Brasil.

Os enviados especiais do GLOBO a Davos, a repórter Deborah Berlinck e o colunista Merval Pereira, confirmaram o clima de baixo astral já nas primeiras matérias. Ela abre sua entrevista com dois prêmios Nobel de Economia, Joseph Stiglitz e Michael Spence, assim: “Pela primeira vez, admitiu-se o fracasso do atual modelo de capitalismo.” Merval, por sua vez, registrou “um consenso em diversos painéis de que o capitalismo precisa prestar melhores serviços à sociedade”. Houve até quem dissesse, parecendo estar no FSM, que “a comunidade de negócios perdeu o senso moral”.

Acreditar no fim do capitalismo é uma velha utopia socialista. Ele não vai acabar, mas do jeito que está não pode ficar. Na Grécia, em Portugal, Espanha, Irlanda etc. já provocou com a “austeridade” imposta o aumento do desemprego, da pobreza, dos suicídios e da criminalidade. Como disse Stiglitz, referindo-se à crise de 2008: “Não aprendemos qualquer lição. As únicas pessoas que estão bem nos EUA são as que causaram o problema.” Na Europa também, pode-se acrescentar.

Isso significa que outro mundo seja possível? A União da Juventude Comunista acha que sim e que ele é socialista, criticando o FSM por “propor como solução para os crescentes problemas sociais, econômicos e ambientais que afligem a humanidade um pacto por um capitalismo mais humanizado e sustentável”. Se isso se confirmar, é sinal de que os dois Fóruns caíram na real. O de Davos por enfim reconhecer que esse capitalismo movido pela ganância desenfreada precisa ser reformado. O de Porto Alegre por abandonar a ilusão de que o socialismo seja viável e por preconizar um modelo que diminua a exclusão e as desigualdades sociais. Afinal, por que não aproveitar dos dois sistemas o que têm de melhor, jogando fora o que não presta? Será esse mundo impossível?

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