PCV: AN deve legislar para que o povo não siga pagando pela crise

imagemTribuna Popular – Partido Comunista da Venezuela

Às vésperas das eleições parlamentares na Venezuela, quando as organizações políticas encerravam suas campanhas e afinavam suas estruturas de mobilização se preparando para o domingo 6 de dezembro, o presidente Nicolás Maduro ofereceu, a vários jornalistas de televisões privadas, polêmicas e contraditórias declarações nas quais reiterou que renunciaria se o seu partido e aliados não obtivessem a maioria na Assembleia Legislativa (AN), assegurando ainda que está disposto a fazer um governo com a oposição venezuelana.

A esse respeito, o Secretário Geral do Partido Comunista da Venezuela (PCV) Oscar Figuera, que encabeçou a única coalizão de esquerda que participou das eleições, a Alternativa Popular Revolucionária (APR), comentou para a Tribuna Popular:

“O presidente Maduro, em seu encontro com a mídia, oficializou o que nós advertimos durante toda a nossa campanha: há um novo pacto de conciliação de elites entre as cúpulas do Governo e a oposição”, enfatizou.

“Consideramos, como já denunciamos em repetidas oportunidades, que esse pacto, no contexto das atuais sanções ilegais que os EUA e seus aliados têm imposto ao país, se faz para garantir os lucros da burguesia importadora e do grande capital às custas de colocar sobre os ombros do povo trabalhador toda a carga da crise econômica”, explicou.

“Por exemplo, estão sendo geradas condições para que o capital nacional e internacional venha para o país a fim de investir e explorar nossos recursos naturais e força de trabalho, porém, pagando salários vis menores que 2 dólares, confiscando as prestações sociais e recebendo todo tipo de favorecimentos da parte do governo. Qual é o resultado? Os empresários acumulam grandes riquezas e os trabalhadores do campo e da cidade se tornam cada vez mais pobres. Essa política econômica deve mudar e temos que promover a mobilização popular e legislar neste sentido”, realçou.

“Saudamos que o presidente diga que a nova AN deve revisar a Lei Anti Bloqueio. Isso foi justamente o que propusemos desde o princípio pelo PCV, antes de sua aprovação, que se submetesse à discussão nacional o conteúdo dessa lei, que até o momento só contribuiu para um velado processo de reprivatização de empresas estatais que não está sendo devidamente informado à opinião pública”, prosseguiu o também candidato na lista nacional da APR pela legenda do PCV.

“Nós do PCV e da APR propomos uma saída revolucionária para a crise do capitalismo dependente e rentista venezuelano. Devemos legislar a favor de que o povo tenha o que diz a Constituição: salário suficiente para viver dignamente; terras e financiamento para o campesinato; capacidade de controle social real sobre os processos produtivos e de distribuição por parte dos setores operários, camponeses, comuneiros e demais expressões organizadas do povo. Não há recursos para isso por causa das sanções? Sim, há. Vamos a cobrar imposto às grandes fortunas; confiscar os bens dos corruptos, especuladores e mafiosos; não permitir tratados de dupla tributação que nos prejudicam e realizar uma auditoria da dívida externa. Sim, há maneiras de buscar recursos para aliviar a tragédia que vivem os setores populares, mas falta trocar o beneficiário atual da política governamental: a chamada burguesia revolucionária, para colocar de novo, como nos tempos de Chávez, o povo como beneficiário das políticas públicas e não o capital”, destacou.

Sobre se o 6D seria uma espécie de plebiscito para o Chefe de Estado, Figuera explicou:

“Essa é uma decisão personalíssima do Presidente, ele saberá dizer por que fez essa declaração neste momento. As correntes populares revolucionárias e de esquerda que nos agrupamos na APR, não colocamos desta forma em relação ao 6D. Chamamos a votar para expulsar a direita pró imperialista que apoiou o bloqueio e as sanções prejudicando o país, ao mesmo tempo em que enfrentaremos os setores que, no interior do governo, promovem uma política entreguista das conquistas do processo bolivariano e do país para o grande capital local e transnacional. O que acontecerá depois é um cenário a ser avaliado, porque se, hipoteticamente, os partidos da direita obtiverem maioria na AN e o presidente renunciar, imagino que ele mesmo deveria repensar se isso não aprofundaria ainda mais a crise política. Além disso, ele já anunciou que está disposto a governar com a oposição; parece um pouco contraditório então”, afirmou.

“Nós das correntes populares revolucionárias e de esquerda agrupadas na APR e representadas na legenda do PCV, não estamos planejando esse contexto agora, a não ser o de recuperar o Poder Legislativo. Que a crise seja paga pela burguesia e não pelo povo venezuelano! Nem pacto nem conciliação, a saída é a revolução! Por isso fizemos o chamado a todas e todos a votar no 6 de dezembro por uma legislatura com e para a classe operária e o povo trabalhador da cidade e do campo”, concluiu.

Coligação chavista leva a maioria dos assentos da Assembleia Nacional na Venezuela
Michele de Mello – Brasil de Fato | Caracas (Venezuela)

7 de dezembro de 2020

Cerca de 31% do eleitorado compareceu às urnas no último domingo (6) para eleger o novo parlamento venezuelano.
O Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela (CNE) divulgou na madrugada do dia 07/12 os resultados parciais das eleições legislativas, que ocorreram neste domingo (6). Com 82,35% da votação apurada e um total de 5,2 milhões de votos, cerca de 31% do eleitorado compareceu às urnas. O Grande Polo Patríotico, chapa governista, obteve 3,5 milhões de votos, o que representa 67,6% do total até o momento. Já a Aliança Democrática ficou em segundo lugar com 944 mil votos, equivalente a 17,95%.

As chapas minoritárias Venezuela Unida, pelo lado opostior de direita, recebeu 4,19% da preferência com 220 mil votos; enquanto a Aliança Popular Revolucionária (APR), promovida pelo Partido Comunista da Venezuela (PCV), obteve 143 mil votos, representando 2,73% do total da apuração.

O resultado prévio supera a tendência apontada pelas pesquisas de boca de urna, que indicavam uma participação de 23% do eleitorado, sendo que cerca de 70% já declaravam que haviam escolhido o Grande Polo Patriótico, segundo o estudo de opinião da empresa Consultores 2020, que entrevistou 12,7 mil cidadãos em 22 colégios eleitorais de todo o país.

A presidenta do CNE, Indira Alfonzo declarou que “venceu a paz” e felicitou todos os partidos pela jornada eleitoral. Enquanto o presidente Nicolás Maduro também celebrou a vitória da sua chapa: “O povo venezuelano pode dormir tranquilo, temos uma nova Assembleia Nacional”. Dias antes da eleição, o chefe de Estado venezuelano havia declarado que se a oposição ganhasse novamente a maioria do parlamento, ele deixaria o cargo de maneira voluntária.

No entanto, o resultado apontou justamente para uma vitória contundente do partido governante. Até o momento, o PSUV tem 148 deputados de um total de 277 cadeiras do Legislativo. Entre os nomes que já estão eleitos se destacam Diosdado Cabello, atual presidente da Assembleia Nacional Constituinte (ANC); a primeira-dama, Cília Flores; além das ex-ministras da Mulher, Ásia Villegas; e de sistema penitenciário, Iris Varela.

Jornada de votação

Durante todo o dia de votação, a afluência nos centros eleitorais foi constante e em alguns lugares se formaram pequenas filas.

Para disputar esse processo, foram conformadas quatro grandes chapas, duas pelo lado chavista e duas pelo lado opositor. No entanto, entre os 14,4 mil candidatos inscritos, 90% se declararam de oposição.

Leia mais: Observadores internacionais destacam eficiência do sistema eleitoral venezuelano

O partido do deputado Juan Guaidó se dividiu entre aqueles que seguiram o autoproclamado presidente no chamado pela abstenção e outra que decidiu participar. Luis Ybarra foi um dos candidatos do partido Voluntad Popular, como parte da Aliança Venezuela Unida, e assegura que as disputas políticas devem ser feitas através do voto.

“Estamos derrotando a abstenção. A única ferramenta de mudança para derrotar o regime é o voto. Com isso faremos a renovação política do nosso país”, afirmou.

Flor Mujica, dona de casa, uma das 7,2 mil eleitoras do colégio Andrés Bello, na zona leste da Grande Caracas, região tradicionalmente opositora, afirmou que votou para mudar tudo.

“É a única forma de acabar com tudo isso. Quero melhorar a situação da nossa economia, já não aguentamos mais”, disse.

Já os eleitores que se identificam com o chavismo destacam a tradição eleitoral dos venezuelanos.

“A participação nos dá o direito a opinar. Esse é um direito dos venezuelanos. E que, no dia de amanhã, a nossa voz seja escutada e representada. Que esse resultado seja bem-vindo”, comentou Maria Canelas, representante do conselho comunal Calero Desamparado, no bairro La Calendaria, centro da capital.

Maria Canelas votou no colégio Andrés Bello, uma das maiores zonas eleitorais do país, concentrando cerca de 12 mil eleitores. Ali estiveram representantes de todos os partidos votando, fiscalizando e verificando a votação.

Enquanto para os opositores o foco desta eleição é atacar a situação de crise econômica, para os governistas, a questão central desse processo é retomar a hegemonia do parlamento.

Na última legislatura (2015-2020), a oposição de direita unificada na Mesa de Unidade Democrática (MUD) ganhou a ampla maioria, assumindo a presidência do Legislativo.

Depois de empossar deputados que tiveram suas candidaturas impugnadas pelo Poder eleitoral, a Assembleia atuou nos últimos cinco anos em desacato com a justiça.

“Nos últimos cinco anos participamos de um conflito absurdo da institucionalidade. A importância de votar é apostar na democracia, pelas saídas constitucionais, por retomar o diálogo, o exercício da política e deixar para trás esse período obscuro que representou a agressão e o constante conflito”, afirmou Silvester Montillo, membro do Grande Polo Patriótico.

Edição: Luiza Mançano e Vivian Fernandes