A “ilha paradisíaca” do home office
Unidade Classista
Temos alertado há algum tempo que, quando o período de namoro acabar entre nós, operadores, e o home office, a ressaca virá como um raio sobre nossas cabeças. O modo como as empresas vêm lidando com isso se torna cada vez mais preocupante.
Não estamos pressupondo que o teletrabalho em si seja o inferno na terra, principalmente durante um período em que há um novo crescimento nas taxas de contágio e óbito pela Covid-19. De fato, é importante que cada vez mais as diversas empresas, dos mais variados ramos de atividade, deixem seus trabalhadores na segurança do isolamento, mantendo seus empregos. Isto é importantíssimo.
Entretanto, vejamos qual a perspectiva dos gestores e do patronato do telemarketing sobre este tema, justamente no PÓS-PANDEMIA.
Segundo a matéria do link, existe uma tendência se fortalecendo, para diminuir a intensidade do trabalho presencial, e a matéria até mesmo traz um novo termo para este fenômeno: “remotopia” (um jogo de palavras usando o sufixo “topia” – ou seja, “lugar” – e “remoto” – dando a ideia de “à distância”).
Vejamos algumas características desse fenômeno, que segundo eles, “é o futuro”.
A flexibilidade é o primeiro “benefício”, pois assim nós poderíamos “investir mais tempo com a família”. Curioso como eles têm grande dificuldade, obviamente, em falar sobre REDUÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO. Isso sim nos daria mais tempo com amigos e família, não importando se trabalhamos remotamente ou presencialmente.
Outro tema abordado se refere a uma maior produtividade, e isso fica evidente, pois tal aumento de produtividade é uma realidade no home office, sem que isso signifique necessariamente AUMENTO DE SALÁRIO. Neste item também dizem que os trabalhadores “ficam menos doentes”. Oras, tal sistema em que vivemos também foi feito para nos adoecer, ou pelo menos naturaliza a doença decorrente do trabalho! Não é o home office sozinho que vai nos ajudar nessa questão.
Em outro ponto, a remotopia seria direcionada a “sonhadores” que “poderão viajar o mundo sem precisar esperar as próximas férias”. Após a pausa para as risadas, notamos que o salário que nos é deixado, após tanto suar e ralar, não nos permite ir tão longe.
Dizem até que poderemos trabalhar “em uma ilha paradisíaca”. Consegue se imaginar sendo humilhado virtualmente pelos seus superiores, com uma fila enorme de clientes para atender, enquanto você aprecia belas praias do Caribe? Soa ridículo, de fato! E outra pergunta: quem deseja trabalhar durante uma agradável viagem? É o cúmulo.
Quando falam do quanto economizarão, entendemos um dos principais motivadores para o teletrabalho. Diz a matéria que “as empresas poderão economizar US$11.000” (dólares!) por atendente, e adivinhe você para que bolso vai essa economia…
Porém, na parte do texto intitulado “Vencendo a solidão”, um problema merece ser destacado: a própria matéria confessa que “o trabalho remoto tem um impacto forte em uma das principais necessidades do ser humano: a do contato próximo com outro ser humano”.
Realmente, este contato é indispensável, e sem ele os impactos sociais e psicológicos podem ser incalculáveis. Sem este contato, nossas redes de amizade podem se enfraquecer e também, NOSSAS REDES DE LUTA.
Ficaremos ainda mais desarticulados, ilhados e separados, nos tornando assim alvos fáceis para todo tipo de ataque e desmonte (lembrando que o home office virá com muita vigilância, e até mesmo o fato de estarmos online em apps de mensagem poderá nos prejudicar).
A solução para eles? Encontros ocasionais em coffee breaks. Chega a lembrar experiência de laboratório só que com cobaias humanas.
Precisamos atentar para estas movimentações empresariais, pois nada é gratuito, e esta maré de “bem-estar” no teletrabalho pode se desenrolar para uma tempestade.
Coletivo Rebeliões de Avaya
https://www.callcenter.inf.br/rh/71353/a-caminho-da-remotopia/ler.aspx