A luta da China para desacelerar-se
Na abertura da sessão anual do Congresso Nacional do Povo, o parlamento chinês, o premiê Wen Jiabao anunciou que a meta de crescimento econômico anual para 2012 era de 7,5%. Com a economia mundial ainda às voltas para recuperar-se, o anúncio por Wen de um encolhimento tão significativo no índice de expansão da China, naturalmente, provocou preocupações generalizadas por todo o mundo.
É importante destacar, no entanto, que Wen estava expressando uma política e não uma previsão de desempenho. O propósito de buscar um crescimento menor, explicou premiê, é “guiar as pessoas por todos os setores a focar seu trabalho na aceleração da transformação do padrão de desenvolvimento econômico e tornar o desenvolvimento econômico mais sustentável e eficiente”.
Os investimentos em ativos fixos são o motor mais importante de crescimento da China. Como país em desenvolvimento com renda per capita anual inferior a US$ 5 mil, ainda há espaço significativo para a China aumentar seu estoque de capital. O ritmo de crescimento dos investimentos, contudo, é alto demais. A questão não é se a China precisa de mais investimentos, mas se a capacidade de absorção da China pode continuar a acomodar o elevado ritmo de crescimento dos investimentos visto nos últimos dez anos.
Se for encolher a expansão do PIB dos 9,2% em 2011 para 7,5% em 2012, sem piorar o padrão de crescimento elevando a já alta relação entre investimentos e PIB, o crescimento anual dos investimentos precisa ser igual ou menor a esses 7,5%.
Nesse sentido, a relação entre investimentos e Produto Interno Bruto (PIB), que na China é próxima a 50% e está em alta, pode ser considerada como indicador da tensão que o investimento de capital fixo exerce sobre a economia. Não é completo exagero dizer que a capacidade da economia de absorver o crescimento nos investimentos chegou a seu limite.
A recente debacle dos trens de alta velocidade é um bom exemplo. Em 2003, a China construiu seu primeiro projeto de trem de alta velocidade. Foi um componente fundamental do pacote de estímulos econômicos de 4 trilhões de yuans (US$ 630 bilhões) lançado durante a crise financeira mundial de 2008 e 2009, de forma que os investimentos na construção de ferrovias de alta velocidade aumentaram a grandes passos. No fim de 2010, a rede em operação superava os 8 mil quilômetros, com mais 17 mil quilômetros em construção. Em contraste, todos os países ocidentais combinados levaram meio século para construir um total de 6,5 mil quilômetros. Diante de tal rapidez na construção, uma catástrofe era quase inevitável.
Quando o crescimento nos investimentos supera a capacidade de absorção da economia, isso leva à rápida deterioração na eficiência desses investimentos, o que por sua vez prejudica as perspectivas de crescimento de longo prazo. Atualmente, há evidências generalizadas disso na China. Para reverter essa tendência, em uma economia guiada pelos lucros, certa trégua no crescimento dos investimentos não é apenas necessária, mas inevitável.
Além da relação entre investimentos e PIB da China precisar ser reduzida a um patamar mais sustentável, um desafio igual ou mais importante é ajustar a estrutura dos investimentos. Por muitos anos, o segmento mais importante de investimento na China foi o de desenvolvimento imobiliário, que representa cerca de 10% do PIB e 25% dos investimentos totais. Os recursos, no entanto, precisam ser alocados a projetos que desenvolvam o capital humano, proporcionem bens públicos e alimentem a criatividade e inovação. Ajustar a estrutura de investimentos, contudo, inevitavelmente vai desacelerar o ritmo de crescimento dos investimentos, pelo menos no período de transição, e, portanto, desacelerar a expansão total do PIB.
O comércio internacional desempenhou papel central no desenvolvimento econômico da China nos últimos 30 anos. O mercado mundial, entretanto, não é mais capaz de absorver as gigantescas exportações chinesas, para não mencionar o impacto imediato das mazelas econômicas na Europa e Estados Unidos sobre a demanda por exportações. Além disso, o aumento nos custos da mão de obra e a valorização do yuan também vão minar o setor exportador da China, provocando a desaceleração da expansão do PIB neste ano.
Poucos negariam a necessidade de a China passar a exibir um crescimento econômico menor, porém melhor. O problema é que se a China quiser encolher a expansão do PIB dos 9,2% em 2011 para 7,5% em 2012, sem piorar o padrão de crescimento elevando ainda mais a alta relação entre investimentos e PIB, o crescimento anual dos investimentos precisa ser igual ou menor a esses 7,5%.
Um cálculo aproximado é suficiente para mostrar que, a menos que o governo esteja disposto a tolerar um aumento na relação entre investimento e PIB, atingir a meta de crescimento de 7,5% do PIB implica queda significativa no ritmo de crescimento dos investimentos. Para compensar o impacto negativo na expansão do PIB, também afetado pela limitação ao aumento das exportações decorrente da fraca demanda mundial, o consumo local precisa crescer de forma ainda mais acentuada, o que é difícil de imaginar. Em outras palavras, reduzir a alta do PIB para 7,5% sem tornar o padrão de crescimento da China ainda mais irracional é uma missão impossível.
Um cenário mais provável para 2012, portanto, é de crescimento menor do que em 2011, mas ainda significativamente acima de 7,5%. De forma correspondente, seu padrão de crescimento, puxado pelos investimentos, será ainda mais fortalecido, embora a um ritmo menor de crescimento. De outra forma, seria difícil evitar que a política provocasse uma aterrissagem brusca.
De fato, conseguir um índice de crescimento econômico mais moderado sem provocar um pouso brusco é um dos desafios mais complicados enfrentados pelo governo chinês. Uma aterrissagem brusca, simplesmente, não é uma opção a ser cogitada.
Com a posição fiscal do país ainda positiva, é difícil imaginar que a liderança chinesa seja tão teimosa na busca pela “aceleração da transformação do padrão de desenvolvimento econômico” a ponto de arriscar-se a deparar-se com tal opção. Mesmo se fosse, os governos locais, endividados e obcecados com o PIB, provavelmente lutariam para alcançar o maior crescimento possível para eles, seguindo apenas da boca para fora a convocação de Wen para desacelerar-se. É por isso que, apesar da meta oficial, a maioria dos economistas chineses ainda aposta em um índice de crescimento econômico bem acima dos 8% em 2012. (Tradução de Sabino Ahumada)
Yu Yongding é presidente da China Society of World Economics, ex-membro do comitê de política monetária do Banco do Povo da China e ex-diretor do Instituto de Economia e Política Mundial, da Academia Chinesa de Ciências. Copyright: Project Syndicate, 2012.
Argentinos aprovam a decisão sobre YPF
O Estado de S. Paulo
A expropriação da empresa petrolífera YPF, realizada na semana passada pela presidente da Argentina, Cristina Kirchner, tem a aprovação de 62% dos argentinos, segundo uma pesquisa elaborada pela Poliarquia, uma consultoria independente de opinião pública. A estatização da companhia foi rejeitada por 31% dos entrevistados, enquanto os indecisos somaram 7%.
A companhia, que era subsidiária argentina da espanhola Repsol havia quase 20 anos, foi extraditada, sem negociações prévias – sem pagamento de indenização – por ordem da presidente Cristina, que celebrou a “recuperação da soberania energética”.
No entanto, o controle da YPF possui um respaldo “crítico” dos argentinos, já que 44% dos abordados consideram que os governos de Cristina e do ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007) são os responsáveis pela queda da produção de gás e petróleo do país. Uma proporção inferior dos entrevistados pelo instituto, de 36%, acredita que a culpa é da iniciativa privada.
A pesquisa da Poliarquia sustenta que 49% dos entrevistados consideram que a expropriação terá um impacto positivo na economia argentina, enquanto 31% acreditam que o efeito será negativo. No entanto, 47% dos pesquisados admitem que a estatização da empresa, à revelia da Repsol, provoca uma imagem negativa da Argentina no exterior. Uma parcela de 22% considera que a operação ordenada pela presidente Cristina vai melhorar a imagem do país.
Neste fim de semana, o vice-presidente Amado Boudou deixou claro que o governo de Cristina Kirchner está encorajado com o respaldo do próprio partido, o Justicialista (Peronista), de parte da oposição e amplos setores da opinião pública.
O vice-presidente, durante a inauguração do estande da Casa Rosada da Feira do Livro de Buenos Aires, afirmou que o governo “não tem medo” das reações negativas no exterior geradas pela expropriação da YPF.
“O governo não deixará que sejamos caçados”, afirmou o vice-presidente, em referência às retaliações comerciais que o primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, começou a aplicar no último sábado contra a Argentina. Boudou sustentou que “as decisões da República são tomadas na Casa Rosada (o palácio presidencial) e priorizam o conjunto dos argentinos”.
Polêmica. Enquanto Boudou e o resto do gabinete presidencial pronunciavam defesas da polêmica medida protagonizada pela presidente Cristina, diversos setores da sociedade criticaram a expropriação da YPF. Em um duro editorial, o jornal La Nación ressaltou que “o direito da propriedade aproximou-se mais uma vez de seu desaparecimento em nosso país”. O tradicional periódico portenho cita o artigo 17 da Constituição Nacional para afirmar que a expropriação, do jeito que foi aplicada pela presidente, é ilegal: “A propriedade é inviolável e nenhum cidadão da nação pode ser privado dela a não ser em virtude de uma sentença fundamentada na lei. A expropriação por causa de utilidade pública deve ser definida por lei e previamente indenizada.”
No caso da expropriação da YPF, o governo Kirchner assumiu seu controle (51% das ações, em conjunto com os governos das província petrolífera) sem pagamento prévio. Inclusive, o governo deixou claro que não pagará os US$ 10 bilhões exigidos pela Repsol.
O valor a ser desembolsado será definido por um organismo do próprio Estado argentino, o Tribunal de Contas, junto com a Secretaria de Energia. A Repsol pode apelar da decisão em tribunais internacionais.
Joaquín Morales Sola, um dos principais colunistas políticos do país, indicou no La Nación que Cristina Kirchner protagonizou a transgressão argentina de maior magnitude desde o calote da divida pública feita pelo ex-presidente Adolfo Rodríguez Saá, em dezembro de 2001. Segundo Morales Sola, “o kirchnerismo fez da infração uma arte e transformou a segurança jurídica em algo quase inexistente”.
Juros de até 688% ao ano
Correio Braziliense
Apesar da pressão do governo, a redução das taxas pelos grandes bancos públicos e privados ainda está longe de aliviar o consumidor. Financeiras lideram os abusos
A presidente Dilma Rousseff não escondeu a satisfação, nos últimos dias, diante do anúncio de que bancos públicos e privados haviam reduzido os juros aos consumidores. Mas, ainda que a pressão do governo tenha dado algum resultado, os brasileiros estão longe de comemorar. Quem precisa de dinheiro emprestado está sujeito a arcar com taxas de até 688,71% ao ano (18,78% mensais), cobrados pela Agiplan Financeira, conforme levantamento realizado pelo Banco Central. Se o cidadão ficar pendurado no cheque especial, correrá o risco de pagar encargos de até 275,68% anuais (10,34% ao mês) no Banco Santander.
“É preciso deixar claro que a redução dos juros dos empréstimos e financiamentos ainda está no começo. Há muito espaço para que as taxas recuem”, diz o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes. Ele ressalta que o processo de barateamento do crédito será mais lento do que o desejado pela presidente Dilma, já que os bancos resistirão ao máximo em abrir mão de uma fatia de seus lucros. A maior parte dos ganhos do sistema financeiro, 32%, vem do que os especialistas chamam de spread. Trata-se da diferença entre o que as instituições pagam aos investidores e o que cobram dos devedores.
No Brasil, o spread médio é de 30 pontos percentuais, seis vezes maior do que os cinco pontos registrados nos países mais ricos, que integram a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). No mundo, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), apenas o Zimbábue registra spread maior que o do Brasil, com 70 pontos. “A grande pergunta que todos estão fazendo hoje é: os bancos vão continuar reduzindo os spreads? Infelizmente, não há sinais concretos de que isso ocorrerá. Mas não há outro caminho para se baixar as taxas de juros com maior vigor”, diz Thadeu.
Agiotagem
Técnicos do Banco Central asseguram que, entre as grandes instituições, lideradas pelas públicas, já se percebe um movimento real de queda dos juros. Para ter acesso às taxas menores, no entanto, é preciso um amplo processo de negociação. “Mas os clientes não podem desistir. Devem cobrar a redução das taxas, se possível, apresentando aos gerentes as tabelas de encargos divulgadas em panfletos de publicidade. As instituições que resistirem devem ser denunciadas ao BC e aos Procons”, aconselha um funcionário da autoridade monetária responsável pelo atendimento ao público.
Os mesmos técnicos do BC ressaltam que, no caso dos empréstimos pessoais, as maiores taxas são cobradas pelas financeiras independentes, não ligadas a bancos. E, normalmente, os que recorrem a elas já estouraram todas as linhas de crédito disponibilizadas em suas contas-correntes. “Só mesmo em situação de desespero uma pessoa aceita pagar juros de 18% ao mês”, enfatiza um assessor do Ministério da Fazenda. Ele acrescenta que as pessoas menos informadas, que não têm conta bancária, acabam sendo fisgadas “por essa agiotagem regulamentada”. “E é muita gente, senão essas financeiras não estariam proliferando Brasil afora”, afirma.
Apesar dos juros menores, nos financiamentos de automóveis também há exageros. Os carros financiados pelo Banco Azteca, por exemplo, têm taxas de 73,92% ao ano. Ou seja, em apenas 12 prestações, o comprador paga quase dois veículos. “Esse abuso ocorre mesmo com a instituição tendo a possibilidade de retomar o veículo em caso de não pagamento. Quer dizer: há garantia para o financiamento, o que, teoricamente, deveria jogar os encargos para baixo”, assinala outro técnico do BC.
Ele não consegue entender como o Banco Ibi, que pertencia à rede de varejo C&A e foi comprado pelo Bradesco, cobra juros de 139,78% ao ano no crédito direto ao consumidor. “A única receita para que bancos e financeiras de menor porte reduzam os juros é a clientela se recusar a pagar o que cobram. Sabemos que vai demorar para que essas instituições entendam que o sistema está mudando e que o país não comporta mais taxas abusivas. Mas ou se adaptam, ou fecharão as portas”, sentencia um assessor da presidente Dilma.
Mesmo investigada, Delta ganhou contratos
O Globo
Após ser apontada como líder de um esquema de corrupção que desviou milhões de reais dos cofres da União e veio a público em agosto de 2010 – na Operação Mão Dupla, feita pela Controladoria-Geral da União (CGU) com a Polícia Federal (PF) – a construtora Delta continuou assinando contratos de alto valor com órgãos federais. Desde que o governo tomou conhecimento das graves irregularidades cometidas pela empreiteira em obras de rodovias no Ceará, foram assinados 31 novos contratos com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), no valor total de R$ 758 milhões.
A Operação Mão Dupla identificou fraudes em licitações, superfaturamento, desvio de verbas, pagamentos de propina, pagamentos indevidos e uso de material de qualidade inferior ao contratado em obras de infraestrutura rodoviária sob o comando do Dnit feitas pela Delta e outras 11 empreiteiras. A investigação resultou na prisão do então superintendente do Dnit no Ceará, Joaquim Guedes Martins Neto, que, segundo a CGU, tinha, em 2008, “rendimento incompatível com a renda auferida pelo agente público”, e do diretor da Delta Aluízio Alves de Souza.
Na época, a CGU informou que detectara “um prejuízo estimado em R$ 5 milhões aos cofres públicos da União, afora o risco social decorrente da execução de obras de infraestrutura rodoviária fora das devidas especificações técnicas”. No sábado, o ministro da CGU, Jorge Hage, reconheceu que as irregularidades apontadas pela Mão Dupla são graves. Mas isso não impediu que o Dnit celebrasse novos contratos com a Delta, sendo três deles (no valor total de R$ 9,6 milhões) no Ceará, onde foram detectadas as irregularidades em 2010. Trata-se da conservação e da recuperação de trechos das BRs 116, 437 e 230.
Os contratos firmados desde agosto de 2010 são para construção, duplicação, adequação ou manutenção de 19 rodovias em 17 estados. Além disso, em setembro de 2010, através de consórcio com outras duas empresas, a Delta conseguiu fechar com a estatal Valec um contrato de R$ 574,5 milhões para tocar as obras do lote um da Ferrovia Oeste-Leste, na Bahia. O Dnit e a Valec são ligados ao Ministério dos Transportes.
A empreiteira ganhou destaque recentemente no noticiário por suas ligações com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, preso pela PF em fevereiro na Operação Monte Carlo. Hoje, a CGU promete abrir processo administrativo contra a Delta. O resultado dessa investigação poderá tornar a empresa inidônea, o que implica a proibição para firmar novos contratos com o governo federal.
Além do Ceará, foram assinados contratos entre o Dnit e a Delta para obras em Alagoas, Amazonas, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rondônia, Sergipe e Tocantins. Dos 31 contratos, apenas um, de R$ 115 milhões, em Goiás, foi paralisado. Desse valor, o Dnit já pagou R$ 8,8 milhões à Delta.
Vinte e cinco contratos, no valor de R$ 611,7 milhões, constam como ativos. Outros três foram cadastrados no início de 2012 e totalizam R$ 13,6 milhões, mas as obras ainda não começaram. Dois contratos, no valor de R$ 17,8 milhões, já foram concluídos. Desse montante, R$ 15,6 milhões foram pagos à construtora, segundo o próprio Dnit. Em agosto de 2010, na Operação Mão Dupla, a PF cumpriu 52 mandados de busca e apreensão, 23 de prisão temporária e um de prisão preventiva. Houve ainda o afastamento cautelar de oito servidores públicos e sequestro de bens em Fortaleza e no interior do Ceará. A CGU analisou oito contratos e detectou irregularidades em sete, referentes a quatro obras, dentre as quais duas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Uma delas é a duplicação de uma ponte na BR-304, sobre o Rio Jaguaribe, no município de Aracati, orçada em R$ 30 milhões. A obra foi iniciada pela Delta em 2002 e, por sete anos, as fundações permaneceram de molho nas águas do rio, enquanto a travessia era feita pela ponte velha. A Delta, que desistiu de construir a ponte, alegou “elevação dos custos que dificultaram a realização do projeto inicial previsto no edital”. Segundo Hage, o processo admistrativo disciplinar contra o então superintendente regional do Dnit no Ceará e outros seis servidores pode resultar em demissão. Na última sexta-feira, o Ministério Público Federal propôs ação penal contra os servidores do Dnit no Ceará e contra a Delta por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, corrupção passiva e ativa com base nos resultados da Operação Mão Dupla. Procurado para manifestar-se sobre a assinatura dos contratos, o Dnit informou, por meio da assessoria, que vai esperar a decisão da Justiça e da CGU para tomar medidas em relação à Delta. “A empresa não é considerada inidônea ainda”, destacou a assessoria.
O grande número de contratos com órgãos públicos obtidos pela Delta se refletem em seu faturamento. Dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) mostram que até 100% dos ganhos da construtora vêm de contratos com o setor público. Entre as seis maiores empreiteiras do Brasil, a Delta é a única que se dedica quase exclusivamente à construção de pontes, viadutos, estradas, túneis, aeroportos e projetos de saneamento. A construtora teria realizado obras para a iniciativa privada nos anos de 2007, 2008 e 2011, mas manteve um percentual acima de 97% de projetos destinados a prefeituras, estados e União. Os maiores percentuais de crescimento da Delta ocorreram em 2006/2007 (67%) e em 2009/2010 (51%).
Prêmio no Tesouro Direto mingua com queda da Selic
Valor Econômico
Um investidor que decidiu comprar uma Nota do Tesouro Nacional série B (NTN-B) com vencimento em 2015 na última sexta-feira encontrou um ganho real disponível de 3,9% embutido nesse papel. Bem inferior aos 5,1% que eram oferecidos nos primeiros dias deste ano no sistema de negociações Tesouro Direto. Quem conseguiu aproveitar aquela oportunidade obteve um rendimento bruto considerável, de 5,89%, até o dia 18 de abril. Nada mau se comparado à variação do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI) no mesmo período, que foi de 2,9%.
Papéis com vencimentos mais longos chegaram a render ainda mais (veja tabela ao lado). A NTN-B Principal (que difere da outra porque não paga cupons periódicos ao investidor) 2035 oferecia nesse período ganho bruto de 13,29%, mais do que a variação do Índice Bovespa, que foi de 11,02% no mesmo intervalo.
Mas a má notícia é que esse desempenho não deverá se repetir. Com o ciclo de queda do juro básico da economia tendo se encerrado, na visão de alguns, ou estando perto do fim, como acreditam outros especialistas, as grandes oportunidades de ganhar com o chamado fechamento das taxas embutidas nos títulos públicos ficaram para trás.
Nos títulos de renda fixa, quando existe uma expectativa de redução dos juros, as taxas oferecidas pelos papéis prefixados (Letras do Tesouro Nacional – LTN) e por aqueles que remuneram com a variação do IPCA mais um juro real (NTN-B) vão caindo também. Mas o investidor que comprou os papéis antes, a taxas mais altas, é beneficiado porque o preço de face do título (o valor que precisa ser pago por cada papel) aumenta – e quem decide vendê-los obtém ganhos.
Na sexta-feira passada, o site do Tesouro Direto informava que os juros pagos pelas LTNs eram de 8,94% (vencimento de 2014) e de 10,10% (para 2016), também bem inferiores ao que existiam no começo do ano (veja gráfico). “O prêmio nos papéis curtos já estavam negativos, abaixo de 9%, em função do que já existia de expectativa para o corte da Selic”, observa Gilberto Poso, superintendente de gestão de patrimônio do HSBC. Para ele, as expectativas daqui para frente devem flutuar mais em função de atividade econômica e inflação. “E isso não é de imediato, vamos ter de esperar um ou dois meses para o mercado vai fazer análises”, pondera.
Isso significa que não é esperado um movimento forte nas taxas no curto prazo, o que deverá resultar não apenas em ganhos bem mais modestos daqui pra frente como pode gerar volatilidades no meio do caminho. “Ainda considero a NTN-B interessante para quem pensa em comprar para carregar até o vencimento. A condição de taxa não é fantástica, mas é razoável, tem um pouco mais de prêmio que a LTN, mas se levada até o vencimento”, diz ele, que prefere apostar nos papéis com vencimento um pouco mais curtos do que nos muito longos.
Para o executivo do HSBC, os níveis de ganhos dos prefixados, pós-fixados e dos papéis de inflação tendem a ficar mais semelhantes daqui pra frente, mas as NTN-Bs oferecem uma vantagem para quem está preocupado com a inflação, já que naturalmente protege contra a variação do IPCA, caso o índice de preços comece a ficar muito pressionado.
“A avaliação principal que tem que fazer é qual será a postura do Banco Central? Ele vai manter postura ortodoxa quando a inflação pressionar? A pergunta de vários milhões é: num novo cenário de inflação o BC volta a subir a taxa de juros?”, diz Poso.
Ele conta, no entanto, que tem alertado muito os clientes sobre os ganhos futuros tanto de fundos quanto de papéis atrelados à inflação. “Sempre se diz que rentabilidade passada não garante rentabilidade futura, nesse caso pode-se dizer quase com certeza que o ganho passado não será o ganho futuro”, afirma.
Com a perspectiva de que o BC corte pelo menos mais uma vez a Selic, o investidor que comprou papéis LTNs há um ou dois anos ainda pode esperar um pouco mais para vender, avalia Marcelo Pereira, sócio da TAG Investimentos. “Com mercado prevendo mais uma redução dos juros, esses papéis ainda podem ter ainda uma valorização adicional”, afirma. “Mas para quem não tem o papel, eu não recomendo comprar agora, porque o potencial de ganho é muito pequeno”.
Também não vale a pena comprar agora títulos públicos ligados à inflação para quem pensa em ganhos no curto prazo, uma vez que o “cupom já caiu muito” nos últimos meses. “E a volatilidade desses papéis deve aumentar daqui para frente, porque ninguém sabe como o BC vai reagir se a inflação voltar a subir”, afirma Pereira, ressaltando que o BC está derrubando os juros mesmo com as expectativas para o IPCA este ano acima do centro da meta (4,5%).
Pereira ressalta, contudo, que essa avaliação sobre as oportunidades com LTNs e NTN-Bs vale apenas para os investidores mais ariscos, que tentam lucrar comprando e vendendo os títulos pelo Tesouro Direto. Já quem busca formar uma reserva para a aposentadoria, por exemplo, pode comprar sem susto as NTN-Bs mais longas, com vencimento em 2035 e 2045. “No longo prazo, esses títulos ainda garantem um juro real muito interessante”, diz.
Para Fausto Filho, analista de renda fixa da XP Gestão Recursos, o movimento de forte valorização dos papéis ligados à inflação já ficou para trás. “Pode até haver mais um ganho adicional porque o mercado vê mais um corte da Selic, mas a “grande festa” da queda do juro real parece ter acabado”, afirma.
É hora, portanto, de o investidor se acautelar. Daqui para frente, ganhos elevados em poucos meses com esses títulos dependem da habilidade do gestor em explorar movimentos pontuais de preços. A aplicação em NTN-B vale, a partir de agora, mais como proteção contra um repique inflacionário que como alternativa para turbinar os rendimentos. “Não vejo mais muito potencial de valorização, mas o papel continua valendo, porque o PIB vai voltar a crescer com mais força e pode haver uma alta da inflação”, diz Filho.
Desafios de gestão levam a onda de fusões e parcerias
O Estado de S. Paulo
A aversão das cooperativas ao risco se explica pelas múltiplas histórias de associações um dia prósperas que, após um passo em falso, tiveram de se unir a grupos maiores ou simplesmente fecharam as portas. Só a Coamo já incorporou oito cooperativas ao longo de sua história. Atualmente, está em processo de adicionar a Coagel, de Goiorê (PR), a seu portfólio. Mas o maior alerta para o segmento atualmente é a Corol, cooperativa dos agricultores da cidade de Rolândia (Norte do Paraná), que fechou uma parceria com a Cocamar, de Maringá, para não deixar os produtores sem pagamento.
A ideia inicial da Cocamar era uma fusão com a Corol – até porque as duas tinham um número semelhante de produtores associados. No entanto, a união integral ainda não saiu do papel por causa do endividamento da Corol – que, segundo fontes, é superior a R$ 500 milhões. Por isso, a Cocamar optou por uma parceria estratégica que exclui o parque industrial.
A vantagem para a cooperativa de Maringá, conta o presidente Luiz Lourenço, é a expansão territorial – a área de atuação praticamente dobrou desde a assinatura do contrato, em 2010. A Cocamar já estampou sua marca nas lojas de insumos e pagou dívidas com os agricultores. Mas espera a renegociação dos débitos da Corol antes de ir adiante com a fusão. Segundo fontes de mercado, é improvável que o negócio saia do papel no curto prazo.
Diante do potencial de expansão representado pela parceria, no entanto, Lourenço conta que a Cocamar vai priorizar os investimentos em armazenagem e assistência técnica na área da Corol, o que deverá frear temporariamente investimento em outras áreas, como o parque industrial. “Houve muitas cooperativas que fecharam as portas naquela área, então há uma desconfiança”, explica o executivo. Até o momento, somente 20% dos produtores da área da Corol migraram para a Cocamar. “O espaço para crescer é enorme.”
Escolhas. É importante que a expansão industrial considere bem as vocações de cada região, segundo Lourenço. Para evitar escassez de matérias-primas, a Cocamar fabrica óleo de soja, café, néctar de frutas e bebidas à base de soja. Cerca de 25% do faturamento de R$ 2,1 bilhões da cooperativa vêm dos produtos distribuídos no varejo.
Com essas limitações em mente, a Cocamar ajustou algumas apostas. A exemplo da Coamo, desistiu da destilaria de álcool. Em março, a cooperativa saiu da industrialização de suco de laranja ao vender sua fábrica à multinacional Dreyfus. “A capacidade era pequena, de 8 milhões de toneladas. Eles têm uma escala bem maior”, justifica Lourenço.
Os produtores de laranja – cultura que a Cocamar introduziu após a decadência do café, nos anos 80 – continuarão a receber assistência técnica e comercial. “Negociamos o preço para três anos. Vamos faturar a laranja do produtor para a Dreyfus.”
Após colchão anticrise, países têm como desafio medidas impopulares
O Globo
WASHINGTON. Garantido o aumento dos colchões anticrise europeu e mundial, com mais de US$ 1 trilhão, o próximo grande passo dos principais atores da economia global é fazer valer em casa o compromisso político assumido no encontro de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, de avançar no processo de ajuste fiscal em sintonia fina com o resgate do crescimento internacional. Para isso, terão de demonstrar cacife para bancar reformas antipopulares nas legislações de previdência e mercado de trabalho, sanear o sistema financeiro e, no caso europeu, criar instituições de comando central, para supervisão bancária e de metas fiscais, que arranham a noção de soberania.
O objetivo é aproveitar o tempo “comprado” pelos colchões e por algumas medidas estruturais já tomadas para costurar planos de consolidação fiscal de médio e longo prazos. Para isso, a expansão econômica e o aumento da competitividade são cruciais, porque sustentariam a redução da dívida dos países e o manejo de orçamentos, restaurando a confiança dos mercados.
Nas palavras do presidente do comitê de ministros de Finanças do FMI, Tharman Shanmugaratnam, de Cingapura, a janela de oportunidade para implementação de uma política de equilíbrio, entre aperto de cinto e estímulo, é de dois a três anos.
– Na sala de reuniões, entre as economias ocidentais, havia uma intenção muito forte de atacar o coração das questões de competitividade, poupança e reconstrução dos orçamentos das famílias e dos governos – disse Tharman, advertindo ser “uma jornada desafiadora, com política se cruzando com economia”
No encerramento do encontro do órgão ministerial do FMI, sábado à tarde, os países demonstraram comprometimento com a consolidação fiscal.
– É uma tarefa importante que temos de cumprir, sem demora – disse Jun Azumi, ministro de Finanças do Japão.
Sobre mais estímulos à economia global, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, revelou que há posições divididas:
– Principalmente os países europeus acham que basta continuar a chamada consolidação fiscal que a economia vai se ajustar. Porém, o FMI mostrou um quadro preocupante de queda muito forte na demanda produzida pelos países europeus, e isso contagia o mundo, no sentido de que reduz o mercado para países emergentes, dificulta a recuperação dos países europeus. Foi uma discussão intensa.
Ontem, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, disse que quer elevar o fundo para países pobres em US$ 17 bilhões.