Um acordo entre as elites na Venezuela

imagemBirô Político do Comitê Central do Partido Comunista da Venezuela (PCV)

Traduzido por Marcelo Bamonte

Em comunicado sobre as negociações entre representantes do governo Maduro e da oposição de direita apoiada pelos Estados Unidos na Cidade do México, o Birô Político do Comitê Central do Partido Comunista da Venezuela (PCV) comenta sobre um “acordo entre elites”, denunciando o procedimento como uma “farsa de um diálogo”. A declaração completa da PCV é a seguinte:

O acordo entre elites foi consolidado no México

Os representantes políticos das duas frações mais importantes da burguesia nacional chegaram a um acordo no México. Este acordo visa estabelecer as bases para a conclusão das negociações políticas que se arrastam há algum tempo, e que resultaram em ações concretas que beneficiam os inimigos do povo venezuelano.

Por um lado, se colocam o governo de Nicolás Maduro e a direção traidora do Partido Socialista Unido (PSUV), que representam os interesses dos poderosos novos-ricos, que surgiram através de contratos estatais. De outro, a direita dirigida por Juan Guaidó, Henrique Capriles e os partidos social-democratas, representantes da tradicional burguesia nacional e dos interesses dos monopólios transnacionais americanos e europeus.

É preciso lembrar que a fração da oposição atua em aberta subordinação aos interesses do imperialismo norte-americano e europeu. Como tal, a sua capacidade para forçar as negociações provém do impacto nocivo das sanções coercitivas, unilaterais e ilegais impostas pelas potências imperialistas contra o nosso país.

Dada esta composição de classe das duas forças políticas que se encontraram no México, é claro que o conteúdo das chamadas “negociações de paz” girará em torno de seus interesses. Por isso, quando os porta-vozes falam em negociações pela estabilidade ou pela salvação nacional, referem-se à criação de condições para garantir a sua própria estabilidade e a sua salvação, em detrimento dos interesses do país e dos trabalhadores da cidade e do campo. O memorando de negociação assinado no México se baseia em acordos econômicos anteriores e visa dar garantias ao capital privado. Tanto o governo quanto a oposição de direita concordam com a atual agenda econômica neoliberal imposta pela liberalização de preços, dolarização de fato, privatização de bens públicos, retorno de empresas públicas e terras agrícolas ao capital privado e fundiário, flexibilidade fiscal, abertura ao capital privado no setor petrolífero, a destruição dos salários e a desregulamentação das relações de trabalho. Essas políticas somam-se a importantes promessas de suculentos lucros ao capital privado nacional e estrangeiro nas Zonas Econômicas Especiais e às expectativas de uma reforma da Lei de Hidrocarbonetos, com a qual se pretende privatizar a indústria do petróleo e reduzir a capacidade do Estado em capturar a renda do petróleo.

É por isso que a classe trabalhadora, os camponeses e os setores populares não podem ser enganados pelo diálogo da burguesia no México. Nossos interesses e necessidades não são os temas destacados na agenda dos representantes políticos da gananciosa burguesia nacional e transnacional. Muito pelo contrário: é sobre o sacrifício das nossas conquistas e direitos, colocando sobre os nossos ombros o peso da crise e das sanções imperialistas ilegais, que estas duas forças políticas da burguesia apertam as mãos e aspiram fumar o “cachimbo da paz”. Outro exemplo dessa realidade é que, enquanto o diálogo ofereceu resultados rápidos na libertação de figuras de direita implicadas em agressões estrangeiras ao país, muitos trabalhadores continuam presos em decorrência de uma crescente política de perseguição e criminalização dos trabalhadores, das lutas sindicais, sociais, camponesas ou femininas.

Mas a evidência vai além: enquanto o diálogo gera respostas rápidas às demandas dos empregadores para pagar menos impostos e diminuir os preços, as demandas dos trabalhadores por um salário igual à cesta básica e contra demissões ilegais são rejeitadas.

O Birô Político do Comitê Central do Partido Comunista da Venezuela (PCV) rejeita e condena este diálogo farsante, que se impõe de costas às demandas e reais necessidades dos trabalhadores da cidade e do campo.

Denunciamos ao povo venezuelano que o objetivo das negociações mexicanas é consolidar o pacto burguês pela distribuição das riquezas do país entre capitalistas nacionais e estrangeiros, ao mesmo tempo em que impõem um pacote de ajuste econômico antipopular. Tudo isso ao mesmo tempo em que garantem grotesca impunidade aos que acumularam grandes fortunas e são protegidos pela corrupção, bem como aos que promoveram sanções estrangeiras ilegais contra o país e se apropriaram dos recursos da nação.

Hoje, mais do que nunca, os trabalhadores devem se unir para lutar contra a ofensiva que o pacto burguês do México imporá aos nossos direitos e à soberania do país.

Ontem foi o Pacto Punto Fijo; hoje será o Pacto do México. Com atores novos e antigos, mas sempre contra os interesses dos trabalhadores e da Pátria.

A classe operária, os camponeses e as forças populares devem construir a Alternativa Revolucionária Popular em face do novo pacto entre as elites.

Birô Político do Comitê Central do Partido Comunista da Venezuela (PCV)

Caracas, 17 de agosto de 2021.

Categoria
Tag