Estoque dispara e montadoras já pensam em férias coletivas

A indústria automobilística encerrou abril com estoques suficientes para 43 dias de vendas. É o maior nível desde novembro de 2008, no início da crise global, quando o encalhe nas fábricas e nas revendas atingiu o equivalente a 56 dias de vendas.

Na virada do mês, havia 366,5 mil veículos nos pátios, quantidade muito maior que a das vendas de abril, de 257,8 mil unidades, e da produção, que somou 260,8 mil automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus. Segundo dados divulgados ontem pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), em abril as vendas caíram 14,2% e a produção, 15,5% em relação a março.

Diante desse quadro, algumas montadoras podem adotar medidas para reduzir a produção. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim, João Alves de Almeida, diz que a Fiat já o procurou para acertar um período de dez dias de férias coletivas a partir da próxima semana, para cerca de 2 mil trabalhadores. A Fiat nega a informação.

Almeida disse também que fornecedores de peças iniciaram períodos de férias ontem, entre elas a Teksid, fabricante de blocos de motores do grupo Fiat, que emprega cerca de 600 funcionários. “A Fiat informou que espera uma recuperação das vendas nos próximos meses, por isso não tem planos de demissão”, afirmou o sindicalista.

Sábados extras de trabalho que estavam programados para este mês foram cancelados na Fiat e na fábrica da General Motors no ABC paulista, segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano do Sul, Aparecido Inácio da Silva.

Os pátios das montadoras tinham 111.620 veículos no fim de abril, o correspondente a 13 dias de vendas. Já nas concessionárias havia 254,8 mil unidades, ou 30 dias de vendas. Em março, os estoques totais eram para 35 dias de vendas.

De acordo com Cledorvino Belini, presidente da Anfavea, a retração das vendas pode estar relacionada ao menor número de dias úteis, em decorrência dos feriados da Semana Santa e do Dia do Trabalho. Embora este último tenha sido em maio, o dia 30 de abril fez parte do feriado prolongado.

Empresas do setor e os revendedores, contudo, creditam a queda das vendas ao maior rigor dos bancos na liberação de crédito para o financiamento, por causa da alta inadimplência.

Produção

A produção de veículos somou 260,8 mil unidades em abril, queda de 7,5% na comparação com o mesmo mês de 2011. No acumulado do quadrimestre, houve queda de 10,1%, para 998,9 mil veículos, ante 1,11 milhão em 2011.

Apesar da retração, o setor encerrou abril com 145.063 empregados, o que representa estabilidade em relação a março. Na comparação com abril de 2011, houve alta de 5,9% no total de funcionários no setor.

 


Mão de Obra vira aprincipal preocupação de empresários

Valor Econômico

A preocupação com a mão de obra chegou ao topo da lista de temores dos executivos que comandam grandes empresas brasileiras, presentes à cerimônia de entrega da 12 ª edição do prêmio Executivo de Valor, ontem em São Paulo. Em uma lista de seis itens de “preocupações imediatas” – demanda fraca, mão de obra, inflação, câmbio, custo do crédito e inadimplência dos clientes – a disponibilidade, o custo de pessoal e sua qualificação receberam as notas máximas (de oito a dez), seja na indústria, no varejo ou em serviços. A nota para essa preocupação ficou acima da inflação, revertendo inquietações de 2011. No ano passado, no mesmo evento, executivos relataram que “velhas” preocupações com aumento de custos de insumos haviam retornado para sua agenda.

Além da mão de obra, demanda fraca e câmbio apareceram como fortes preocupações de curto prazo. Para esses itens, os temores foram mais fortes entre as companhias muito ligadas ao comércio exterior, mas também apareceram entre diferentes produtores de bens de consumo, como automóveis, vestuário e bebidas.

O presidente da CPFL, Wilson Ferreira Júnior, explica que não há “uma preocupação somente com qualificação, mas também com disponibilidade de mão de obra. A disputa por funcionários acaba inflacionando os salários e, em alguns casos, as opções de contratação são muito poucas”, diz o executivo. Renato Alves Vale, presidente da CCR, acrescenta à disponibilidade outra preocupação: a formação. “Nossa preocupação é ter pessoal preparado para garantir sucesso em um ambiente de crescimento, com aumento de demanda.” Essa preparação, salienta, também envolve a capacidade de gerar lideranças para guiar a empresa.

“A formação de mão de obra no médio prazo é o principal motivo de preocupação para a Totvs, afirma Laércio Cosentino, executivo-chefe da maior companhia de software de capital nacional. “O setor de tecnologia da informação demanda mão de obra em larga escala e a velocidade da formação de técnicos nos próximos anos será inferior à necessidade das empresas”, diz Cosentino. Para ele, demanda fraca, crédito, inflação, inadimplência dos clientes e câmbio mereceram notas muito baixas – de dois a três.

A mão de obra também está entre as maiores preocupações da farmacêutica francesa Sanofi-Aventis, controladora do laboratório Medley, maior de genéricos do Brasil, presidida no país por Heraldo Marchezini. Esse item recebeu nota oito. Na petroquímica Braskem, o projeto de crescimento e internacionalização fez a mão de obra subir ao topo dos temores. Carlos Fadigas, presidente da companhia, diz que esse fator já seria crítico em qualquer circunstância. “Como vivemos uma época de pleno emprego, a disputa natural entre as empresas pelos melhores talentos do mercado torna-se mais acirrada e pressiona os salários para cima, o que torna a questão dos recursos humanos ainda mais relevante”, diz ele. Por isso, o executivo sugere que o governo siga desonerando o custo da mão de obra.

Fabio Schvartsman, diretor-geral da Klabin, acrescenta demanda fraca e inadimplência à preocupação com mão de obra. Schvartsman diz que o conjunto de medidas tomadas pelo governo para fortalecimento da economia, seja de incentivo às indústrias, sejam as ações da política monetária de redução de juros, ainda não se traduziram em recuperação importante na economia. Outro setor, bem diferente, tem preocupação semelhante. A demanda fraca e o custo do crédito são as maiores preocupações para Jayme Garfynkel, presidente da Porto Seguro. Quanto ao custo do crédito, seu maior temor recai sobre o financiamento de veículos, que, segundo ele, já afeta o mercado de seguros.

Já para o presidente do grupo São Martinho, Fábio Venturelli, o câmbio está no topo das preocupações. A estabilidade do moeda, diz ele, é essencial para as atividades da companhia por conta de seu “expressivo volume de exportações”. Em um segmento com características semelhantes, o presidente da BRF – Brasil Foods, José Antonio do Prado Fay, também relacionou a mão de obra como principal preocupação. “Trabalhamos em um setor em que a mão de obra é muito intensiva e temos dificuldade para contratar”, disse ele, citando os cerca de 2 mil postos de trabalho abertos que a BRF não conseguiu preencher.

Ainda no agronegócio, o presidente da JBS, Wesley Batista, também elencou mão de obra como sua principal inquietação. “Para fazer frente ao crescimento do Brasil, precisamos de mão de obra qualificada”, sendo necessário maior “investimento em educação”.

Em outro setor, e procurando outro perfil de profissional, o presidente da operadora de telefonia Telefônica/Vivo, Antônio Carlos Valente, fez coro aos empresários do agronegócio. “Trata-se de um tema que, devido ao desempenho econômico dos anos recentes, pode trazer algumas dificuldades para companhias dos mais variados segmentos, em especial para aquelas com alto nível de especialização como o nosso”, diz Valente. Ainda no setor de serviços, a retenção dos empregados é uma preocupação. O presidente do Cinemark, Marcelo Bertini, diz que a empresa trabalha muito com primeiro emprego e salário mínimo, onde o mercado é muito competitivo, dificultando a manutenção dos funcionários na empresa.

Câmbio, mão de obra, demanda fraca e inadimplência ocupam, cada um, a mesma nota de preocupação do presidente da Fiat, Cledorvino Belini. Marcando oito para cada um desses itens, ele aposta que a redução dos juros trará uma reversão do quadro de retração que marcou o primeiro trimestre.

A demanda também está entre as preocupações de outro setor ligado ao consumo. Apesar dos bons resultados da companhia nos últimos trimestres, o presidente da Hering, Fabio Hering, nota desaceleração da demanda. “Não sei se esse movimento está relacionado com o endividamento grande, principalmente da classe média. Porque a gente não vê nada em termos de emprego e renda”, observa o executivo.

A dificuldade em entender o que está acontecendo com a demanda é partilhada pelo presidente da Ambev, João Castro Neves. Ele disse que a demanda é uma preocupação “importante” da companhia. Ele diz que o segmento em que a companhia atua passou por forte crescimento em 2009 e 2010, e desde 2011 está vivendo um processo de desaceleração. No primeiro trimestre do ano, o volume de vendas da companhia cresceu, mas por conta de ganho de participação de mercado, e não por conta da expansão do segmento. “A preocupação com essa retração ou desaceleração, como se queira chamar, não está restrita ao nosso setor nem à nossa companhia, mas ao mercado como um todo”.

Mostrando que as preocupações de curto prazo são as mesmas que marcam uma visão de longo prazo, a questão tributária, um tema que vem atormentando a companhia nos últimos meses, é a principal preocupação do presidente da Vale, Murilo Ferreira. “Isso gera uma incerteza na precificação das ações da empresa e causa receio para os investidores e para a companhia”, afirmou. A essa questão ele atribuiu nota oito. Em seguida, ele elenca a mão de obra (sete) e o câmbio.

Ferreira não ficou sozinho. O que mais preocupa Alessandro Carlucci, presidente da empresa de venda direta de cosméticos Natura, neste momento, é o “arcabouço tributário do Brasil”, que, segundo ele, dificulta o planejamento das empresas. Entre os itens levantados pelo Valor, a dificuldade de mão de obra está entre os assuntos que mais afligem o executivo, que atribui um grau de preocupação entre cinco e seis ao tema. “A busca por talentos vai ficar cada vez mais desafiadora, porque a capacidade do Brasil de desenvolver pessoas não é na mesma velocidade com a qual a economia cresce”, diz.

 


Berlim reage a Hollande e diz que não muda pacto fiscal

O Estado de S. Paulo

Depois da festa, a dura realidade política e econômica. O presidente eleito da França, François Hollande, enfrentou ontem o primeiro atrito diplomático com o governo da Alemanha, que mandou recado via imprensa sobre sua recusa em renegociar o tratado de estabilidade fiscal da Europa.

O aviso de Berlim foi dado no momento em que cresce a pressão no bloco pela adoção de políticas de crescimento que complementem a austeridade defendida por Angela Merkel.

A controvérsia com o governo alemão ocorreu ainda cedo, quando Hollande chegou a seu escritório, no centro de Paris, ostentando olheiras no rosto, depois da maratona do histórico 6 de maio.

Jornais de toda a Europa trouxeram em reportagens de capa a mensagem enviada pelo presidente eleito em seu discurso de vitória em Tulle, quando o socialista prometeu “dar à construção europeia uma dimensão de crescimento, de emprego, de prosperidade e de futuro” e enfrentar a austeridade, que “não pode mais ser uma fatalidade”.

A resposta de Berlim veio no início da manhã, por intermédio do porta-voz do governo, Steffen Seibert. Recusando o “crescimento por déficit” e enfatizando a necessidade de “reformas estruturais”, o Executivo alemão afirmou que “não é possível renegociar o pacto fiscal”, “assinado por 25 dos 27 países da União Europeia”.

Hollande não respondeu às afirmações. Mas, em entrevista concedida na sexta-feira e publicada ontem pela revista eletrônica Slate.fr, o presidente eleito deu a tônica da firmeza com que pretende dialogar com a Alemanha de Merkel. “Nós teremos discussões com nossos parceiros, e em especial com nossos amigos alemães”, disse. “No entanto, eles não podem pôr dois cadeados de uma só vez: um sobre eurobônus, outro sobre o financiamento direito das dívidas pelo Banco Central Europeu (BCE).”

De acordo com o ex-diretor de campanha do Partido Socialista, o primeiro encontro entre Hollande e Merkel ocorrerá em Berlim, no dia 16, o dia seguinte à transmissão de poder no Palácio do Eliseu.

Outras reuniões sobre a crise das dívidas ocorrerão a seguir, durante a cúpula da União Europeia, prevista para 28 e 29 de junho, em Bruxelas. O certo é que a Alemanha também terá de ceder para obter o aval da França e de outros países ao pacto de estabilidade fiscal. Desde domingo, diversos líderes políticos incorporaram o discurso desenvolvimentista de Hollande.

Gabinete. Em meio à controvérsia, o novo chefe de Estado tem uma semana para montar seu governo. Ontem, o socialista afirmou que informará seu gabinete na data da posse. “Em 15 de maio vocês terão o nome do primeiro-ministro”, disse. O Palácio de Matignon, onde trabalha o chefe de governo, deve ser conduzido por um dentre três nomes: o senador Jean-Marc Ayrault, a secretária-geral do PS, Martine Aubry, ou o coordenador de campanha, Pierre Moscovici.

Além de preparar sua equipe, Hollande precisa se organizar para sua primeira viagem internacional como chefe de Estado. No dia 18, o presidente irá a Washington, onde terá reunião bilateral com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.

Na pauta dos dois líderes haverá outro assunto espinhoso: a retirada das tropas da França do Afeganistão. Em sua campanha eleitoral, o socialista havia prometido o retorno dos soldados até o fim de 2012, antecipando em um ano o calendário de Nicolas Sarkozy.

Ainda em 18 de maio, ele participará do G-8, em Camp David. A seguir, em 20 e 21, será a vez da cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), em Chicago.

Esse assunto também pode causar controvérsia, porque, nos bastidores diplomáticos, Paris está insatisfeita com o espaço obtido no Comando Integrado após a decisão de Sarkozy de retornar à aliança atlântica, tomada em 2009.

Não bastassem esses eventos, Hollande terá de enfrentar uma agenda de campanha carregada, já que a França passará por eleições parlamentares em junho que definirão a maioria na Assembleia Nacional e no Senado, cruciais para a sustentação de seu projeto político. Detalhe: o pleito se dará nos dias da conferência Rio+20, no Brasil. A decisão sobre sua participação não foi tomada.

 


Bancos reagem a Dilma e não garantem crédito maior

O Globo

Uma semana depois de terem se transformado em alvo da artilharia da presidente Dilma Rousseff para reduzir os juros, os bancos reagiram. Na véspera do Dia do Trabalho, a presidente foi à TV no horário nobre e criticou a “lógica perversa” do sistema financeiro, chamou de “roubo” as tarifas cobradas para administrar fundos de investimento e pediu queda urgente das taxas cobradas a consumidores e empresas. Ontem, a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), enfim, se pronunciou. E não hesitou em apelar para a metáfora:

“Alguém já disse que você pode levar um cavalo até a beira do rio, mas não conseguirá obrigá-lo a beber a água”, escreveu Rubens Sardenberg, economista-chefe da federação, que divulgou ontem um relatório e pôs em dúvida a eficácia das medidas oficiais para estimular a concessão de empréstimos e aquecer a economia. Interlocutores da presidente Dilma reagiram com ironia ao relatório. Ao ouvir a frase, um técnico rebateu:

– Você não pode obrigar um cavalo a beber água, mas ele também pode morrer de sede.

Para a Febraban, não há garantia de uma “ampliação significativa da oferta de crédito doméstica” nos próximos meses, apesar do cenário de queda acelerada da taxa básica de juros, a Selic. Na sexta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que “o crédito não está crescendo a contento” e que os “bancos são um pouco resistentes”.

Intitulado “Informativo Semanal de Economia Bancária”, o relatório é o resultado de uma consulta feita pela própria Febraban junto aos bancos sobre as principais estimativas dos bancos. No texto divulgado ontem, não há menção sobre a pressão do governo. O texto de Sardenberg diz que “a mudança nas regras da poupança funcionou como estímulo adicional para o mercado trabalhar com a expectativa de novos cortes na Selic”. Mas, em seguida, pondera que a “questão que se coloca agora é até que ponto essas reduções (de juros e da remuneração da poupança) vão estimular a ampliação da oferta de crédito”. Para a Febraban, o país vive hoje um paradoxo econômico, que funciona como obstáculo para os objetivos do Planalto. “A piora dos indicadores, especialmente os externos, abre espaço para quedas adicionais dos juros básicos, mas ao mesmo tempo parece impor uma cautela adicional aos agentes econômicos”.

Desgaste com lista de reivindicações

Os dados de inadimplência nos empréstimos, que se refletiram nos balanços do primeiro trimestre dos grandes bancos, preocupam os banqueiros em relação ao aumento da concessão do crédito. Há ainda outro fator, que é a expectativa de a Selic voltar a subir em 2013, o que também inibiria a expansão das carteiras. “É possível criar condições mais favoráveis à expansão do crédito reduzindo as taxas básicas, mas uma ampliação efetiva das operações passa por uma postura mais agressiva, tando dos emprestadores como dos tomadores de crédito, que por sua vez depende de expectativas econômicas mais otimistas”.

Pela pesquisa que acompanha o relatório, os bancos reduziram sua projeção para a expansão da carteira de crédito neste ano: de 16,6%, no levantamento feito no mês passado, para 16,2%. Quanto à trajetória da Selic, 59,3% dos economistas consultados pela Febraban esperam que a taxa básica de juros (em 9% ao ano) volte ao patamar de 10% em dezembro de 2013.

Para a equipe econômica, as taxas de juros atuais são incompatíveis com as condições de solvência da economia e deveriam se equiparar ao padrão internacional de taxa. Os bancos públicos foram escolhidos como ponta-de-lança dessa disputa. Só o Banco do Brasil já anunciou três mudanças de juros desde o mês passado.

Um fator adicional de estresse entre bancos e governo, segundo analistas, é o desgaste do presidente da Febraban, Murilo Portugal. Em reunião em abril, Portugal disse que a redução mais rápida das taxas de juros dependeria de vários outros pontos, como a queda da inadimplência e a redução dos compulsórios (dinheiro que os bancos têm de repassar ao BC). Para o governo, essa postura mostrou que os bancos não querem reduzir margens de lucro:

– Quem apresenta uma lista com duas demandas quer resolver um problema. Já quem apresenta uma lista com 23 não quer tratar de nada, apenas criar dificuldades – disse um interlocutor da presidente.

Portugal participou ontem de um seminário, mas não falou sobre juros. Procurada para comentar o relatório do seu economista-chefe, a Febraban disse que não se pronunciaria.

Oficialmente, o Planalto preferiu não comentar o relatório, mas reservadamente os técnicos destacam que, embora a presidente esteja travando uma queda de braço pela redução dos spreads, das tarifas e pelo aumento do crédito, ela sabe que não há como obrigar os bancos a fazerem isso.

– O que vai fazer os bancos agirem é o próprio mercado – disse uma fonte.

 


Bloco contra a austeridade

O Globo

O status quo começa a ser seriamente questionado na Europa. Cinco eleições nos últimos dias – que vão desde as disputas municipais na Itália e no Reino Unido, passando por uma regional na Alemanha até a mudança na Presidência da França e no Parlamento da Grécia – apontam para uma rejeição pública cada vez maior aos dirigentes e partidos que apoiam políticas econômicas de acordo com o receituário alemão de austeridade no continente em crise.

– Sentimos que um bloco começa a se constituir em oposição à Alemanha. Até quando a Alemanha vai poder resistir sozinha? Será que vai conservar sua liderança? Ela está cada vez mais isolada – constata Vivien Pertusot, que dirige, em Bruxelas, o Instituto Francês de Relações Internacionais (Ifri).

O maior exemplo desta tendência foi a volta triunfal neste fim de semana dos socialistas na França, 30 anos depois que François Mitterrand conquistou o poder numa eleição histórica, em 1981. O novo presidente, François Hollande, promete lutar contra a política de austeridade generalizada no continente. Ele quer rediscutir o pacto de estabilidade que 25 dos 27 países-membros da União Europeia (UE) assinaram em fevereiro, alegando que é preciso dar mais ênfase ao crescimento econômico. Uma proposta que a chanceler federal alemã, Angela Merkel, já rejeitou ontem mesmo depois de anunciar que receberia Hollande na Alemanha “de braços abertos”:

– Nós, na Alemanha, e eu, pessoalmente, somos da opinião de que o pacto fiscal não é negociável. Já foi negociado e assinado por 25 países – disse.

O pacto foi costurado por Merkel com Nicolas Sarkozy, antecessor de Hollande. A dupla defensora da austeridade trabalhou tão junta que ganhou o apelido de “Merkozy”. Na madrugada de segunda-feira em Paris, diante de uma multidão na Praça da Bastilha, o novo presidente lançou uma frase que resume a virada no humor dos franceses:

– Austeridade não precisar ser uma fatalidade na Europa – disse.

Hollande como catalisador

O movimento de rejeição não ocorreu apenas da França. No domingo, os dois principais partidos políticos encarregados de tirar a Grécia do buraco – o conservador Nova Democracia e os socialistas do Pasok – não conseguiram maioria nas eleições parlamentares. O que se viu foi a ascensão impressionante de extremistas de esquerda e de direita. A Grécia terá, pela primeira vez no Parlamento, deputados de um partido que defende ideologia neonazista, o Aurora Dourada, que carrega um símbolo muito próximo de uma suástica.

Na Grã-Bretanha, a coalizão conservadora liderada por David Cameron – um defensor da política de austeridade – perdeu as eleições locais para o Partido dos Trabalhistas, que, assim como Hollande, coloca o crescimento econômico como prioridade. As eleições municipais na Itália também deram provas da resistência do eleitorado às duras medidas de alta de impostos e cortes de pensões implementadas pelo premier Mario Monti, com o desempenho favorável de legendas de centro-esquerda nas urnas. Na própria Alemanha, o partido de Merkel perdeu o governo do estado de Schleswig-Holstein, que deverá passar a uma coalizão dos social-democratas com os verdes e a minoria dinamarquesa.

Para Vivien Pertusot, do Ifri em Bruxelas, a retórica dos franceses desafia os alemães. Mas na prática, não há interesse de Hollande e nem de Merkel em colidir.

– Nunca assistimos a uma queda de braço entre Alemanha e França desde 1963. O casal franco-alemão sempre tenta funcionar. Mesmo que haja hoje uma oposição sobre o pacto fiscal, claramente, não haverá ruptura neste casal.

Outra razão, segundo ele: François Hollande sabe que não pode isolar Angela Merkel, e vice-versa.

– Ele precisa ter uma relação sã com a Alemanha para poder conseguir passar outras iniciativas (de interesse da França) no nível europeu. Ele sabe que não vai conseguir mudar – explica, dizendo que possivelmente ocorrerão pequenas mudanças “cosméticas” no pacto, para que Hollande não saia perdendo.

Mas Hollande pode se tornar o catalisador de uma aliança entre países que se opõem à austeridade a qualquer preço, prevê Pertusot: os governos de Bélgica, Polônia e Espanha já declararam apoio a esta linha favorável ao crescimento.

O economista Francesco Saraceno, do Observatório Francês de Conjunturas Econômicas, acha que Hollande tem uma chance real de influenciar a mudança de direção da Europa. E uma das razões é que, agora, não se trata mais de queixas de pequenas economias, mas de grandes:

– Não se via a Grécia indo para Bruxelas e dizendo: olha, isso não está funcionando. Agora é um grande país que chega e diz: espera aí, isso não está funcionando. A França, sozinha, é pequena para mudar as coisas. Mas a França pode agir como uma força catalisadora organizando uma coalização de países com problemas (com a austeridade).

Mas ainda não há consenso sobre a eventual mudança de rumo no continente. Charles Grant, diretor do Centre for European Reform, em Londres, lembra que os franceses não estão de fato implementando um programa de austeridade. E relativiza a derrota dos conservadores no Reino Unido, dizendo que foi mais um voto contra os erros sucessivos de David Cameron do que contra a austeridade preconizada por ele.

– Na França eu diria que foi mais um voto contra Sarkozy do que contra a austeridade.

 


Estudo estima impacto de spread menor na atividade

Valor Econômico

As medidas de corte dos juros bancários, capitaneadas pelo Banco do Brasil e pela Caixa, poderão ter um impacto expressivo sobre a atividade econômica, a depender da abrangência do volume de crédito ofertado a taxas menores, mostra estudo do Credit Suisse. Se o BB e a Caixa “transferirem os benefícios da redução de juros para todos os tomadores de crédito das modalidades afetadas pelas medidas”, os spreads cairiam de 35,1 para 29,5 pontos percentuais para a pessoa física, recuando de 18,4 para 17,1 pontos no caso das empresas, estima o Credit Suisse, numa hipótese em que os bancos privados não diminuem as taxas de modo significativo. Nesse cenário, a projeção de crescimento do banco aumentaria de 2,5% para 2,8% em 2012 e de 4% para 4,5% em 2013.

O economista-chefe do Credit Suisse, Nilson Teixeira, lembra que a queda dos juros impulsiona a demanda pelo canal do crédito, diminuindo o comprometimento de renda com dívidas e reduzindo inadimplência. Ele destaca, contudo, a elevada incerteza sobre o efeito e a abrangência das medidas. “O cálculo do impacto da redução dos spreads sobre o crescimento do crédito e atividade é uma tarefa complexa por diversos motivos, entre as quais o fato de não haver experiências similares anteriores no país.”

Uma das dúvidas é quanto ao efeito que elas terão sobre o estoque de empréstimos dos bancos públicos, assim como sobre qual será a taxa média que vai vigorar em cada uma das modalidades. Outra incógnita é a proporção em que os bancos privados vão acompanhar a decisão do BB e da Caixa. Com base no que ocorreu em 2009, quando a crise global travou o crédito, a queda efetiva dos spreads deverá ser bastante concentrada no BB e na Caixa num primeiro momento, acredita Teixeira.

A despeito dessas incertezas, o Credit Suisse construiu três cenários para calcular o impacto das medidas sobre o crédito e a atividade. Na primeiro, o BB e a Caixa não estendem a queda dos juros para todos os tomadores de crédito nas linhas que tiveram anúncio de redução das taxas. A medida é restrita a linhas específicas, ocorrendo em apenas um trimestre. O spread para a pessoa física cairia 2 pontos percentuais e para empresas, 0,7 ponto, com efeito modesto sobre o crédito. O PIB em 2012 cresceria 2,7% e 4,3% no ano que vem. No intermediário, todos os tomadores de empréstimos nas linhas com redução dos juros do BB e da Caixa são beneficiados. Isso levaria a uma aceleração do crédito suficiente para fazer o PIB avançar 2,8% neste ano e 4,5% em 2013.

Teixeira constrói ainda um quadro “extremo”, em que se consideram não apenas as hipóteses para o BB e para a Caixa do cenário intermediário, como se assume que “as demais instituições financeiras diminuem suas taxas em 50% da intensidade da redução programada para as instituições públicas de varejo”. Nesse caso, o spread recuaria 13,1 pontos para a pessoa física e 3,3 pontos para pessoa jurídica em um período de quatro trimestres, enquanto o PIB cresceria 3% neste ano e 4,9% no ano que vem. “Essa simulação é apresentada apenas para efeito de avaliação dos benefícios máximos para um prazo até o fim de 2013”, diz o estudo. O banco não vai mudar as estimativas para o PIB, preferindo esperar informações sobre o crédito de maio e junho.

 


Gasto com juros pode cair para 4,6% do PIB

Valor Econômico

A queda da taxa Selic para 8,5% este ano, como já projeta o mercado financeiro de acordo com o boletim Focus, resultará em uma economia no pagamento de juros de cerca de R$ 28 bilhões em comparação com a despesa registrada em 2011, de acordo com estimativa feita por fontes do governo. A redução das despesas com juros seria equivalente a 0,6% do Produto Interno Bruto (PIB) projetado para 2012. A estimativa do governo é de que cada ponto percentual de queda da Selic, mantida por doze meses, representa uma redução da despesa com o pagamento de juros de R$ 10,4 bilhões.

Os cálculos feitos por analistas do mercado são parecidos. A Tendência Consultoria, por exemplo, projeta uma economia com juros este ano de cerca de R$ 30 bilhões. Segundo a consultoria, o Brasil vai gastar R$ 206,8 bilhões com o serviço da dívida pública, valor abaixo do R$ 236,7 bilhões em 2011. Em termos reais, descontando a inflação, a economia será ainda maior, de R$ 43 bilhões, pois a valores de 2012, o gasto do ano passado teria sido de R$ 249,7 bilhões. “O efeito (da queda da Selic) é benéfico, ao menos no curto prazo”, ressalta Felipe Salto, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e analista da Tendências. Ele considerou na conta uma taxa média Selic de 8,9%. Se a estimativa estiver correta, o valor cairá para 4,6% do PIB, o menor dos últimos onze anos, pelo menos.

As fontes do governo alertaram, no entanto, que o pagamento de juros pelo setor público é uma despesa financeira, que não é considerada no cálculo do superávit primário. Assim, a queda da Selic, por si só, não abre espaço fiscal para maiores gastos de custeio ou de investimento, que são despesas primárias. Para que isso ocorra, o governo precisaria reduzir o superávit primário previsto para 2012.

Embora não abra espaço fiscal imediato para novos gastos, a queda da Selic ajuda a reduzir mais rapidamente a dívida líquida como proporção do PIB, que está atualmente em 36.6% do PIB. A presidente Dilma Rousseff disse, durante a campanha, que pretende concluir o seu mandato com taxa de juro real de 2% ao ano e dívida líquida em 30% do PIB. Fontes do governo acham que depois que a dívida líquida chegar a esse patamar será possível definir um superávit primário menor, que seja suficiente apenas para manter a dívida líquida constante em relação ao PIB.

A diminuição da despesa com juros permite também ao setor público zerar o seu déficit nominal com maior rapidez. O resultado nominal considera todas as despesas do setor público, incluindo o pagamento dos juros. Em 2011, o déficit nominal do setor público ficou em 2,61% do PIB.

Felipe Salto destaca que o ganho obtido no pagamento de juros da dívida pública é elevado apesar de a parcela dessa dívida atrelada à Selic, composta pelas Letras Financeiras do Tesouro (LFTs), ser hoje muito menor do que era em passado recente. Segundo seus dados, em 1999 esses títulos pós-fixados respondiam por de 62% a 63% do total da dívida pública federal brasileira. Hoje, eles representam apenas de 26% a 27% do total. O economista conta também que, graças aos efeitos benéficos dos juros baixos, o déficit nominal das contas públicas brasileiras medido em 12 meses está em trajetória cadente, tendo fechado março em 2,42% do PIB e devendo chegar a dezembro em 1,5% ou 1,6% do PIB.

O analista da Tendências explica que, embora a redução da dívida em LFT seja positiva do ponto de vista fiscal, tanto que o governo chegou a proibir os fundos do setor público de comprarem títulos indexados à Selic, a trajetória dessa redução não foi ainda mais aguda por pelo menos duas razões: uma é que em determinado momento o governo optou por acumular reservas cambiais, segurando a apreciação do real. Nesse processo, ele precisa colocar títulos no mercado para retirar de circulação os reais usados na compra de dólares (esterilização). Além disso, avalia que se a redução das LFTs não for fruto de melhorias estruturais da economia do país, o mercado pode exigir juros mais altos para aceitar outros papéis do governo.

O ex-diretor do Banco Central (BC) e hoje chefe da Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio (CNC) Carlos Thadeu de Freitas vê três ganhos imediatos decorrentes da queda da Selic: a redução da dívida pública pós-fixada (LFTs), da dívida pré-fixada, uma vez que o governo está pagamento menos para rolar essa fatia, e também da dívida em dólares, considerando que o Brasil é credor da moeda americana e que sai ganhando quando essa moeda passa a valer mais. A apreciação do dólar, na leitura de Freitas, tem na queda da Selic uma das suas razões.

Em uma segunda etapa, o ex-diretor do BC entende que o teste será saber se o governo vai conseguir manter a Selic sem oscilações bruscas que venham a desfazer as conquistas do presente. Para ele, no longo prazo, o aprofundamento dos investimentos e das reformas estruturais serão imprescindíveis.

 


Petrobras afaga a Bolívia

Valor Econômico

A Petrobras deverá continuar investindo na relação comercial com a Bolívia. O diretor de gás e energia da Petrobras, José Alcides Martins, afirmou que a compra do gás boliviano é necessária para o suprimento do mercado interno. Ano passado, segundo ele, o país importou, em média, de 26 milhões de metros cúbicos por dia do país vizinho.

“É claro que sempre existe o risco regulatório”, disse Alcides, que participou ontem de seminário sobre gás natural, do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), no Rio. “Mas precisamos manter o suprimento nacional”.

Foi seu primeiro evento público depois de assumir a diretoria. Alcides leu um discurso de 20 minutos, onde destacou a necessidade de aumentar a oferta de gás no país e não descartou a possibilidade de fazer parcerias com empresas. “O mercado não será atendido apenas pela Petrobras, mas também por outras empresas que estão no mercado”, disse Alcides, que citou como exemplo empresas do grupo EBX, do empresário Eike Batista, e também a HRT, que explora reservas na bacia do Solimões, na Amazônia. “Nós não negamos parcerias com ninguém que possa agregar valor”, disse Alcides, destacando que não há nada novo agora.

Em outro evento, o assessor da presidência da Petrobras, Andre Garcez Ghirardi, alertou que a capacidade da estatal para investir em países latino-americanos pode estar sendo superestimada.

“Diante da dimensão do pré-sal e do plano de investimento, há a falsa impressão de que a Petrobras tem recursos excedentes. A realidade é outra. É um ato de equilíbrio gerenciar o fluxo de caixa”, disse Ghirardi. “Existe um espaço pequeno para aplicar nos vizinhos qualquer recurso que não seja gerado no próprio país”, afirmou sobre valores adicionais de investimento.