Real derrete em meio a menor apetite por risco

O real brasileiro tangenciou ontem seu ponto mais baixo em relação ao dólar desde julho de 2009, com o câmbio a R$ 1,9649 no pregão da manhã. Esse valor representou uma queda de 4% em relação ao mês anterior. A divisa brasileira registra uma desvalorização de 21% em relação à sua alta recorde de 12 anos atingida em julho passado.

O Brasil não pode dizer que é o único responsável pela queda do real. O apetite mundial por risco se voltou contra os mercados emergentes, em meio à turbulência europeia decorrente da crise da dívida soberana. Os preços das commodities, além disso, recuaram em consonância com a desaceleração do crescimento da China.

Mas o Brasil também fez sua parte. O primeiro combatente em favor da moeda foi o ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega, que travou uma batalha solitária durante os anos de “boom” de 2010 e 2011, quando o real parecia pronto para subir para sempre, puxado pela disparada dos preços do minério de ferro, da soja e de outras commodities brasileiras.

Neste ano, a presidente Dilma Rousseff assumiu a batalha, frustrada pela repentina desaceleração do crescimento da economia brasileira decorrente do impacto devastador da valorização do real sobre a competitividade da indústria do país. Ela reclamou pessoalmente à chanceler alemã Angela Merkel e ao presidente americano Barack Obama sobre um “tsunami” de dinheiro que inundaria o Brasil em decorrência da permissividade da política monetária praticada pelas economias avançadas.

A presidente associou esse esforço a uma “guerra às taxas de juros” voltada contra as exorbitantes taxas cobradas pela concessão de crédito no Brasil. Atacou os bancos brasileiros por cobrança excessiva (a taxa de empréstimo média ao consumidor continua sendo de 44%) e reduziu o retorno garantido pago às cadernetas de poupança. Por seu lado, o Banco Central fez sua parte ao reduzir sua taxa básica, a Selic, que ainda é uma das mais altas dentre todas as grandes economias, descendo aos atuais 9%. A instituição deverá realizar mais cortes, para níveis próximos a baixas recordes de todos os tempos, no fim do mês.

Mas será que o governo está simplesmente brincando com os controles do superpetroleiro que é o Brasil, quando os problemas estão na casa de máquinas? Muitos economistas são dessa opinião. Manipular as taxas de câmbio e de juros só vai render resultados de longo prazo se os fundamentos econômicos subjacentes derem sustentação à medida.

Embora a maioria dos economistas concorde que essa é uma boa hora para baixar as taxas de juros, as medidas adotadas até agora não vão curar as tendências inflacionárias fundamentais da economia brasileira. Toda vez que a economia voltar a um crescimento superior à tendência, a baixa taxa de investimentos, a falta de competitividade da indústria e a grandeza e o caráter perdulário do governo contribuirão para fomentar um ressurgimento do risco inflacionário.

Para consolidar sua vitória nessa fase da guerra cambial, o governo brasileiro precisa convencer o Congresso da necessidade de iniciar uma discussão verdadeira sobre uma segunda geração de reformas. As guerras são ganhas pela liderança, não pela cosmética.

 


Espanha estatiza quarto maior banco do país por crise financeira

Agência EFE

O governo da Espanha decidiu nesta quarta-feira estatizar o Banco Financiero y de Ahorros, e com isso controlará 45% do Bankia — quarta maior entidade financeira do país por ativos — e disponibilizará capital para sanear o grupo, informou nesta quarta-feira o Ministério da Economia.

A pasta dirigida por Luis de Guindos impulsionará os trâmites para transformar em ações o empréstimo de € 4,465 bilhões que o país concedeu ao grupo no final de 2008.

Como resultado desta conversão, o Estado, mediante o Fundo de Reestruturação Ordenada Bancária (FROB) será titular indireto de 45% do capital do Bankia, e terá seu controle.

O Ministério da Economia considera que a conversão da ajuda do Estado se faz necessária porque vê “improvável, em vista da situação da entidade e de seu grupo”, que possa devolver em cinco anos o dinheiro recebido.

Portanto, com esta consideração, cabe ao Estado requerer que a ajuda se transforme em uma participação, que neste caso representa a nacionalização do grupo e a tomada do controle do Bankia.

No entanto, isto não significa a intervenção da entidade, reitera a pasta, mas “um primeiro passo necessário para garantir a solvência, a tranquilidade dos clientes e dissipar as dúvidas dos mercados sobre as necessidades de capital da entidade”.

O Ministério destaca que a partir de agora a nova gerência do Bankia, presidido pelo ex-diretor do BBVA José Ignacio Goirigolzarri, terá que apresentar ao Banco da Espanha seu plano de reestruturação, viabilidade e melhora de gestão corporativa.

O governo espera que o Bankia, com 10 milhões de clientes e mais de 400 mil acionistas, aproveitará seu potencial para continuar desempenhando um papel primordial no setor bancário espanhol.

 


Caixa e BB não têm os menores juros, diz Banco Central

O Estado de S. Paulo

Mesmo com a série de cortes agressivos de juros anunciados desde o mês passado, os estatais Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal não têm as menores taxas do mercado, segundo informações divulgadas ontem pelo Banco Central.

O período da pesquisa do BC foi de 19 a 25 de abril, após o início da primeira rodada de redução de juros de Caixa e BB.

Numa das linhas divulgadas pelo BC, a de conta garantida, o BB aparece como dono da 30ª melhor taxa, num ranking com 38 instituições.

No cheque especial para pessoas físicas, a melhor taxa mensal colhida pelo BC foi a do Banco Prosper, de 2,11% ao mês. A pior, do 31º, foi a do Santander Brasil, em 10,34%.

A melhor taxa do crédito pessoal, segundo o BC, foi do Banco BVA, com 0,73% ao mês. Caixa e BB apareceram com a 13ª e 32ª melhores taxas, respectivamente, de um total de 91 instituições consultadas.

 


Massa salarial já subiu 6,2% no ano

Valor Econômico

No primeiro trimestre deste ano, a massa salarial nas seis principais regiões metropolitanas cresceu 6,2% acima da inflação em relação ao mesmo período de 2011, impulsionada pela alta de 18,8% na construção civil, de 7,9% nos chamados outros serviços (alojamento, transportes, limpeza urbana e serviços pessoais) e de 7,2% no segmento que engloba da administração pública até educação, saúde e serviços sociais. São todos setores que não sofrem com a concorrência externa. Em 2011, a massa total cresceu 4,8%.

Os números mostram a solidez do mercado de trabalho, o que deve garantir um impulso à demanda nos próximos meses, ainda que o elevado nível de endividamento de muitas famílias seja um limite à capacidade de consumo. A massa salarial é a combinação da variação do emprego e da renda real.

Na construção, o reajuste de 14,1% do salário mínimo ajudou a impulsionar o rendimento real, que subiu 12,2% no primeiro trimestre, também influenciado pela escassez de mão de obra, diz o economista Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria, autor do levantamento feito a pedido do Valor, com base na Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE.

Além disso, a construção vive um bom momento em várias frentes, como diz Lucia Garcia, responsável pela Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) feita pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) e o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O efeito da renda em alta impulsiona, por exemplo, os pequenos reparos, a ampliação de moradias já existentes e a autoconstrução, observa ela, que destaca o momento ainda razoavelmente positivo do mercado imobiliário e as grandes obras de infraestrutura. Nesse cenário, cresce também o emprego na construção. De janeiro a março, a ocupação aumentou 6% em relação ao mesmo período do ano passado. “Não faltam motivos para a expansão da massa salarial na construção”, resume Lucia.

Diretor-adjunto do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho (Cesit) da Unicamp, Anselmo Luis dos Santos também destaca a escassez da mão de obra como um fator importante para entender o que se passa na construção, citando também o impacto do programa Minha Casa, Minha Vida, o financiamento imobiliário e projetos como a construção de hidrelétricas e estádios. Para completar, 2012 é um ano eleitoral, o que costuma levar à antecipação de obras para o primeiro semestre do ano, como nota recente relatório da LCA Consultores.

Os chamados outros serviços se beneficiam do próprio momento favorável do emprego e da renda, segundo analistas. A força do mercado de trabalho sustenta o dinamismo desse segmentos, por manter elevada a demanda por serviços pessoais – como cabeleireiro e manicure – e permitir que as pessoas viajem mais, aumentando a demanda por hotéis. No grupo outros serviços, a alta real da massa salarial de 7,9% foi puxada pela expansão de 6,8% do rendimento real – a ocupação cresceu 1%.

No caso do segmento que engloba administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde e serviços sociais, é mais difícil identificar as causas do movimento, dizem Bacciotti e Lucia, dada a heterogeneidade do segmento. O governo federal tem sido rigoroso na política salarial para o funcionalismo, indicando que a maior pressão sobre os rendimentos não deve vir do setor público. Já os segmentos de educação e saúde, que passam por um aumento estrutural de demanda, podem explicar o movimento, acredita Lucia. De janeiro a março, o rendimento real nesse setor amplo cresceu 4,3% sobre igual período de 2011, e a ocupação avançou 2,8%.

Nos serviços domésticos, a massa salarial cresceu no primeiro trimestre 3,2% acima da inflação, apesar do forte aumento do rendimento real, de 7,3%, fortemente influenciado pelo salário mínimo. O crescimento da massa é menor porque o número de ocupados no setor tem encolhido – caiu 3,8% no período. Segundo Bacciotti e Lucia, muitas domésticas têm migrado para outros empregos, com o mercado de trabalho aquecido.

Na indústria, a massa salarial também cresce abaixo da média de todos os setores, mas a um ritmo ainda razoável para um segmento que sofre com a competição do importado e enfrenta dificuldades para exportar. No primeiro trimestre, a massa no setor subiu 5% acima da inflação em relação a igual intervalo de 2011, um aumento que se deveu quase todo à alta do rendimento real, de 4,6%. A ocupação cresceu apenas 0,4%.

O economista José Marcio Camargo, da Opus Gestão de Recursos, diz que a força do mercado de trabalho leva a indústria a conceder aumentos salariais expressivos, para não perder trabalhadores que podem migrar para outras empresas industriais ou até mesmo para outros setores. Além disso, muitas companhias do setor têm evitado demitir, na expectativa de que a situação da indústria melhore nos próximos meses, com o impacto da queda dos juros e as medidas de estímulo ao crédito.

Também professor da PUC-Rio, Camargo destaca o impulso para os salários na economia num quadro de desemprego baixo – em março, a taxa ficou em 6,2%. “Há uma oferta de trabalho que cresce relativamente pouco e uma demanda que avança a taxas fortes. Isso ocorre porque o crescimento tem se baseado muito no setor de serviços, quase três vezes mais intensivo em mão de obra do que a indústria”, diz Camargo. Cálculos da Opus indicam que, no prazo de um ano, o recuo de 1 ponto percentual da taxa de desemprego faz os salários nominais subirem m

1, 8 ponto. Lucia lembra que a inflação mais baixa no primeiro trimestre deste ano ajuda a explicar a força real dos rendimentos.

Segundo Santos, com o desemprego baixo, os sindicatos têm espaço para reivindicar aumentos salariais expressivos, num quadro em que há escassez de mão de obra em alguns segmentos específicos.

Para Camargo, o mercado de trabalho apertado é hoje sem dúvida um “fator positivo para o aumento de demanda na economia brasileira”. A questão, observa ele, é que há muitas famílias bastante endividadas, ao mesmo tempo em que os bancos têm sido mais cautelosos na concessão de crédito, por causa da inadimplência mais alta. Com isso, a demanda tem sido mais moderada do que sugere a força da massa salarial.

 


Inflação dá salto e BC pode frear juro baixo

O Globo

A inflação brasileira triplicou em abril. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) saiu de 0,21% em março para 0,64% – a maior taxa em um ano. Apenas três itens (cigarro, empregado doméstico e remédios) concentraram quase 40% da taxa de abril. Mas os preços maiores, frisam analistas, aparecem disseminados na economia. Assim, o índice acumula variação de 1,87% no ano e 5,10% nos últimos 12 meses. Números que já levantam dúvidas no mercado: uma inflação mais salgada pode dar um basta aos cortes dos juros? A princípio, não. Mas a resposta, para especialistas, depende do nível da atividade da economia e dos desdobramentos da crise internacional – indicadores que mexem com câmbio, demanda e, naturalmente, com a inflação. Na semana passada, o governo mexeu no rendimento da caderneta de poupança, com a intenção de permitir um corte maior dos juros.

– O IPCA de março triplicou, com uma alta abrupta. Apesar de três itens concentrarem 38% da alta, há aumentos generalizados – disse Eulina Nunes, gerente do IBGE, em referência a aumentos dos preços de cigarros e remédios e nos salários de empregados domésticos, de 15,04%, 1,58% e 1,86%, respectivamente.

Os gastos nos supermercados subiram no mês passado. Só o grupo de Alimentos e Bebidas saiu de 0,25% para 0,51% em abril. O feijão carioca – o mais consumido no país – enfrentou problemas com a seca no Nordeste, e o consumidor pagou 12,66% a mais pelo alimento. Também encareceram itens como o feijão mulatinho (13,09%), a farinha de mandioca (6,58%) e o alho (6,33%). Além disso, o efeito da alta do dólar começa a aparecer na conta do supermercado. Segundo Eulina, os artigos de limpeza, com alta de 1,38%, ficaram mais caros por causa, em parte, do dólar mais valorizado. Insumos dessa indústria são importados.

– E há indícios de que o óleo de soja tenha sofrido influência do câmbio: o dólar mais alto estimulou a exportação do produto, reduzindo a oferta interna – explicou Eulina.

Contrato futuro sobe com a inflação

A inflação veio acima das projeções de 0,58%, segundo o último boletim Focus. Para maio, a expectativa de um IPCA mais suave, em 0,47%.

– O que se viu em abril não é uma tendência: é um comportamento pontual. Essa alta não deve alterar os planos do Banco Central (BC), que na próxima reunião deve reduzir 0,50 ponto percentual a taxa básica de juros, a Selic. Os cortes devem continuar até uma Selic de 8%, quando o governo vai parar e olhar a atividade – disse Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC.

Freitas explica que é possível fazer mais cortes na Selic porque o nível de atividade ainda está fraco, com perspectivas de crescimento abaixo dos 3% em 2012. Além disso, a crise empurrou a demanda mundial para baixo, levando o Brasil a importar deflação do mundo. Uma opinião compartilhada com Eduardo Velho, economista da Prosper Corretora, que espera uma inflação de 0,42% em maio.

– Acredito em mais dois cortes nos juros, de 0,50 ponto percentual. A Selic pode até entrar 2013 em 7,5%. A inflação de agora não se trata de uma ameaça: esse problema o governo empurrou para 2013, quando a economia pode estar mais aquecida.

Apesar da crença dos analistas, o IPCA de 0,64% influenciou o mercado de juros futuros. A taxa do contrato com vencimento em janeiro de 2013 passou de 7,97% para 8,03%, num movimento de alta verificado na maioria dos contratos. O IPCA de ontem foi o segundo indicador seguido a apontar aceleração da inflação – na terça-feira, foi a vez do IGP-DI.

As taxas dos contratos futuros de juros vinha em movimento contínuo de queda. Na semana passada, o movimento acelerou-se, com a decisão do governo de mudar a regra da poupança.

– O mercado parecia estar acreditando muito que, sem a restrição da poupança, a Selic poderia ir abaixo de 8%, mas começou a reavaliar os preços, incluindo outras variáveis, como a inflação – explica Rogério Freitas, sócio da Teórica Investimentos.

André Perfeito, economista da Gradual Investimentos, não está tão certo de que o BC siga cortando a Selic. Para ele, o BC deve cortar 0,50 ponto percentual em fins de maio, mas deve indicar na ata que o período de afrouxamento monetário chega ao fim por causa de incentivos já dados à economia.

 


Investigada por desvios, Delta ainda cobra R$ 1 bi de governos

O Globo

Presidente de empreiteira investigada por desvios ameaça ir à Justiça se não receber pagamentos

O GLOBO: Como os governos federal, estadual e municipais, que são clientes da Delta, estão se comportando diante das denúncias que pesam sobre a empreiteira?

CARLOS ALBERTO VERDINI: Alguns deram uma parada para fazer auditagem e já estão começando a pagar. Não temos medo de auditagem. Todos os contratos são fiscalizados. O cliente é obrigado a fiscalizar. E as concorrências foram feitas. Uma questão é que, como fizeram um estardalhaço, cria um certo receio na conjuntura atual; quem está com a caneta, na hora de dar a canetada final, fica com medo.

A CGU pode declarar a empresa inidônea. Como o senhor vê isso?

VERDINI: Estamos fazendo um trabalho para levar à Casa Civil, mostrando nossa defesa. Uma coisa é: uma estrada depois de feita ficou com um buraco. É preciso saber se foi mal executado ou se foi erro de projeto: 99% são erro de projeto. Porque tudo é feito em cima de projeto básico. Agora é que o Dnit, em função da troca de diretoria, declarou que todos os projetos serão feitos em cima de projetos executivos. O projeto executivo leva um ano, no mínimo, para ser feito. E a responsabilidade é do gestor. Quando a gente entra na concorrência, executa o projeto que é oferecido ali.

O senhor teme que a CGU decida pela inidoneidade da Delta?

VERDINI: Essa hipótese não passa na minha cabeça. Primeiro, porque somos muito grandes. Você não pode tirar da Delta e dar a qualquer um. É direito adquirido. Primeiro, tem de gerar um momento para rescisão. Tem de fazer o encontro de contas. E depois vai ter de licitar. Esse processo é demorado. Tenho certeza de que, ao licitar, você vai contratar por um preço mais alto do que é praticado hoje. E as obras vão ficar paradas. Vai atrasar todos os cronogramas. Não é uma coisa fácil de ser executada. É direito adquirido da Delta. Nós ganhamos as licitações. Você vai ter de provar que estou errado para rescindir meu contrato. Eu posso ir para a Justiça e dizer: “eu não concordo”. E vai ficar uma discussão até chegar a um determinado fim, para então licitar aquela licitação específica.

Estamos falando de que universo de contratos? E de que valores?

VERDINI: Estamos tocando hoje 200 contratos, em 25 estados. O saldo desses contratos hoje é de R$ 4,7 bilhões. Temos a receber hoje R$ 900 milhões, sendo R$ 450 milhões já no caixa. E R$ 450 milhões em tramitação de medição e faturamento. Isso em todas as esferas de governo.

Como o senhor viu o envolvimento do seu nome com o dos homens do contraventor Carlinhos Cachoeira?

VERDINI: Dizer que tenho relacionamento com uma pessoa que tenta falar comigo e não fala, e que diz que tenho uma amizadezinha… Isso é perder tempo. Eu o conheci (o ex-sargento da Aeronáutica Idalberto Araujo, o Dadá, flagrado em escuta da PF citando o empresário) quando fui ao escritório de Brasília. Estava cuidando do projeto do trem- bala e precisei ir a Brasília. No escritório, o Claudio Abreu estava com ele e me apresentou. Morreu o assunto. Naturalmente, devia estar querendo, como diz lá (na escuta da PF), queria contratar uma empresa e me procurou para ver se eu ajudava. Ele não falou comigo. E eu não retornei a ligação.

O senhor conhecia o Claudio Abreu? Foi surpreendido com a série de denúncias contra ele?

VERDINI: Ele trabalhava na empresa. Todo mundo ficou surpreso. Foi surpresa geral porque ele era uma pessoa trabalhadora e idolatrava a empresa. A Delta em primeiro lugar. Ele colava nas paredes o slogan “ame-a ou deixe-a”.

E se o senhor for convocado à CPI?

VERDINI: Parece que já fizeram um requerimento, mas não tenho medo.

A empreiteira deixou de fazer aportes em obras como a do Maracanã, uma das quais deixou?

VERDINI: Precisávamos preservar o caixa. Nós vinhamos aportando e discutindo, mas chegou o momento em que resolvemos de vez o assunto. Tanto que ainda temos dinheiro a receber pelo serviço executado. Em torno de R$ 40 milhões. Executamos os serviços juntos e cada um tem a sua parcela. E a nossa parcela era 30%.

E qual é a participação do dono, Fernando Cavendish, na empresa? Não no processo de venda, já que o senhor prefere não falar deste assunto. Mas qual o papel dele no cotidiano da empresa? Ele está afastado?

VERDINI: Totalmente afastado. Foi uma decisão que se tomou para que não houvesse interferência na auditoria que está sendo feita. Isso mostra, ao mesmo tempo, que nós atuamos na própria carne de pronto. Afastamos outros diretores envolvidos.

Mas acontece um afastamento do próprio dono da empresa?

VERDINI: Mostramos que seria melhor para ele e para nós que ele se afastasse. Porque hoje, infelizmente, coitado, ele está sendo tratado como persona non grata, com vários adjetivos. Como é que ele vai chegar a dizer: minha empresa não é assim, não fiz isso, não fiz aquilo. Foi fruto de muita discussão. E infelizmente me escolheram.

Há quanto tempo o senhor está na empresa?

VERDINI: Estou há nove anos na Delta. Trabalhei 14 anos na Queiroz Galvão e 13 na Camargo Corrêa. Trabalhei ainda um ano na Embratel, no início da carreira. Mas, é como se diz, tem que assumir. Não devo nada a ninguém. Não tenho medo de assumir desafios. E, modéstia à parte, acho que tenho competência para poder tocar a empresa. Tenho certeza de que vamos sair dessa, até para melhor.

O resultado dessa auditoria no Centro-Oeste…

VERDINI: Olha, estamos fazendo auditoria no Centro-Oeste e no país inteiro. Estamos fazendo dois tipos de auditoria. Uma para apurar o fato e outra interna, financeira. Isso vai ser encaminhado para a CPI porque é o que vai dizer de fato o que aconteceu. Até agora, todo mundo só fala, fala, fala, fala, mas não tem nada de concreto.

Mas mesmo se a empresa for vendida? Muda alguma coisa nas decisões?

VERDINI: Não sei te dizer. Não sou eu que estou participando. Se eu tivesse participando, diria com o maior prazer. Até para explicar para dentro, pois está todo mundo me perguntando. Mas essa é uma decisão do acionista que tem que ser respeitada.

O senhor falou de direitos adquiridos de qualquer empreiteira com contratos com o poder público, e que a declaração de idoneidade não é uma coisa simples…

VERDINI: É. Tem que ter um processo, ele é demorado. E outra coisa: não é simplesmente dizer que você está inidôneo. Você pode pode afirmar isso pelo fato x, mas eu tenho direito de me defender, de provar que eu estou certo.

O senhor está dizendo que, em tese, isso pode resultar em uma ação judicial?

VERDINI: Claro. Porque é legítimo. Isso é normal. Você tem o direito de defesa em qualquer circunstância.

 


BNDESPar faz menos diferença como sócio

Valor Econômico

Que o desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro reduziu a necessidade de ter o Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) como sócio é algo que já se intui desde que as ofertas de ações foram retomadas no país em meados da década passada. Um estudo finalizado por pesquisadores do Insper sugere, no entanto, que não só a necessidade, mas também a vantagem de ter o banco de fomento como sócio se diluiu.

A pesquisa, que analisou as empresas que integram a carteira da BNDESPar – braço de participações do banco – entre 1995 e 2009, concluiu que no primeiro período analisado, até 2002, as companhias que possuíam a BNDESPar como sócia tinham desempenho, medido pelo Retorno sobre Ativos (ROA, calculado com a divisão do lucro pelo ativo), superior às demais. Mas no período de 2003 a 2009, essa vantagem não se sustentou.

Para o autor Carlos Inoue e seu orientador, professor Sérgio Lazzarini, entre todas as hipóteses testadas para entender o motivo da diferença de resultados nos dois períodos distintos, a única que se sustentou foi a maior maturidade do mercado. “A única hipótese que sobrevive é a de que as empresas em geral passaram a ter mais capacidade de capitalização”, diz Lazzarini. “Provavelmente o desenvolvimento do mercado brasileiro reduziu o efeito da presença do banco sobre os resultados das empresas”, completa Inoue.

Ou seja, com mais oportunidades de acesso a outras fontes de recursos, como as ofertas públicas de ações na BM&FBovespa e fundos investimento em participação, as empresas puderam investir e ter melhores desempenhos mesmo sem o apoio da BNDESPar, que tinha na sua origem, entre outras funções, a de fomentar o mercado de capitais local. Além disso, a evolução no cumprimento de regras de governança também parecem ter minimizado o peso do banco de fomento.

“A associação entre empresas e governo pode facilitar a obtenção de recursos essenciais quando existem imperfeições no mercado financeiro. À medida que este se desenvolve, essa estratégia por si só não garante um melhor desempenho às empresas”, escrevem os pesquisadores nas conclusões do trabalho.

O estudo acadêmico usou como base dados referentes a 293 empresas não financeiras do mercado brasileiro. Foram então criados dois grupos: o primeiro das empresas que possuíam participação societária direta ou indireta da BNDESPar e o segundo das demais companhias.

Os pesquisadores usaram modelos para comparar então se havia diferença entre os dois grupos tanto em termos de resultado das operações, como também em valor de mercado.

Após diversos testes de relevância estatística, o estudo concluiu que, entre 1995 e 2002, as empresas que tinham a BNDESPar como sócia obtiveram retorno sobre ativo 5,2% acima da média das demais companhias. E essa vantagem foi maior para empresas que não faziam parte de grupos econômicos. No aspecto de valorização de mercado, não houve diferença relevante.

No período seguinte, de 2003 a 2009, a vantagem em termos de ROA deixou de existir e, novamente, não foi detectado prêmio nem desconto nas ações pelo fato de se ter a BNDESPar como sócio.

Em nenhum dos casos foi avaliado o impacto de empréstimos feito pelo banco.

Mas o estudo também mediu o nível investimentos, de endividamento e custo da dívida entre os dois diferentes grupos. Não foram identificadas diferenças relevantes nesses indicadores, com exceção de uma. No primeiro período de 1995 a 2002, as empresas que tinham o banco estatal como sócio aumentaram mais os investimentos fixos do que as demais.

“Aparentemente, o maior nível de investimento está determinando o melhor desempenho das empresas investidas pelo BNDES no período”, diz o estudo.

Segundo o trabalho, o resultado parece corroborar a proposição de que a participação do banco de desenvolvimento minimiza as restrições de crédito e assegura o investimento em projetos rentáveis. Mais uma vez, no entanto, no intervalo entre 2003 e 2009 a diferença entre as empresas com e sem BNDESPar deixou de existir no quesito alta de investimento.

Os pesquisadores também testaram a hipótese de a BNDESPar atuar como “hospital” de empresa com dificuldades financeiras, mas concluíram que apesar de haver casos isolados, isso está longe de ser regra. Pelo contrário, nos últimos anos, foi possível identificar que o banco estatal passou a ser sócio de empresas maiores e que tinham apresentado desempenho passado acima da média do mercado, na linha da tese de formação das “campeãs nacionais”. Inoue alerta, no entanto, que isso não significou que, depois da injeção de capital, a empresa tenha ficado ainda melhor do que já era.

“Está mais difícil a BNDESPar fazer diferença para as empresas, como foi no passado com Aracruz, Embraer. Para ela conseguir isso, seja em termos de lucratividade ou socialmente, precisa ter muito critério”, afirma Lazzarini.

Segundo o professor, o banco deveria colocar mais foco em empresas que tem necessidade de capitalização e dar transparência para os critérios de seleção.

Ele diz ainda que os empresários locais estão habituados a contar com o BNDES como sócio em seus projetos. E lembrou do caso recente envolvendo a tentativa de fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour. “O Abilio Diniz comentou depois que o maior erro dele foi entrar com BNDESPar [o que casou reação negativa]. Ele não precisava desse recurso oficial. Dava para pegar com fundos privados.”

Procurado, o BNDES não quis abordar os aspectos específicos do estudo. Em nota, a instituição disse que a empresa de participações cumpre seu papel o apoio a “empresas brasileiras no seu processo de internacionalização e inovação, apoio a setores estratégicos para o país, fortalecimento do mercado de capitais e indução de boas práticas de governança e sustentabilidade”.

 


Teto do crédito imobiliário poderá cair

Valor Econômico

O governo poderá alterar a legislação para baixar o limite de taxa de juros, que é de até 12% ao ano mais Taxa Referencial (TR), dos financiamentos imobiliários firmados no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação (SFH). Essa seria uma forma de “forçar” os bancos a repassarem aos clientes a redução do custo de captação de recursos a partir das mudanças feitas na remuneração das cadernetas de poupança.

A medida é uma das que vêm sendo estudadas como última opção do governo para pressionar o barateamento dos empréstimos bancários.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, primeiro fará alguns “ajustes” nas regras da portabilidade para permitir que os clientes dos bancos possam transferir suas dívidas de uma instituição para outra. Na avaliação da área econômica, essas mudanças devem proporcionar aumento da concorrência e, consequentemente, provocar uma diminuição dos custos de financiamento ao consumidor. Somente depois de analisar os resultados das alterações na portabilidade é que o governo tomará a decisão sobre a necessidade de se alterar o limite da taxa de juros nos financiamentos habitacionais.

Atualmente, a legislação brasileira prevê uma taxa máxima de juros de até 12% ao ano mais TR, para financiamentos do SFH. Uma resolução do Banco Central (BC), que trata do direcionamento dos depósitos na caderneta de poupança, estabelece que, no mínimo, 65% dos recursos devem ser aplicados em financiamento imobiliário, sendo que, no mínimo, 80% deste valor deve ser destinado para operações no âmbito do SFH com taxa de juros de até 12% ao ano mais TR, e 20%, no máximo, para empréstimos contratados a taxas de mercado.

Os bancos, no entanto, já praticam um percentual menor, algo em torno de 10%. Por isso, no entendimento do Ministério da Fazenda, o teto de juros fixado em lei poderia ser diminuído para um número inferior ao cobrado atualmente pelas instituições financeiras, caso haja resistência para repassar uma possível redução do custo do funding ao cliente.

Alguns técnicos de governo e de instituições financeiras já dizem que o repasse do barateamento dos recursos da caderneta de poupança, uma das principais fontes do crédito imobiliário, será limitada devido à falta de previsibilidade com relação ao comportamento da taxa básica de juros (Selic) ao longo dos contratos, que podem chegar a 30 anos.

Além disso, existe o temor dos bancos de que possa ocorrer um descasamento entre ativos e passivos – o custo do “funding” oscilaria conforme a Selic, enquanto a taxa cobrada do mutuário permaneceria fixa. O Ministério da Fazenda alega, no entanto, que “este risco de descasamento entre captações e aplicações nas contas de depósito de poupança (com o crédito imobiliário) já existe e não será alterado pela nova proposta”.

Para garantir queda nos juros dos financiamentos imobiliários, o governo aposta na portabilidade de crédito. Criada em 2006, a possibilidade de transferir um contrato de crédito para outro banco não emplacou nessas operações de financiamento imobiliário por conta do elevado “custo burocrático”.

Um dos problemas que a área econômica está tentando resolver diz respeito do registro das garantias em cartório dos empréstimos imobiliários. Hoje, quando um crédito imobiliário é refinanciado, o mutuário incorre em dois custos. Um para dar baixa da hipoteca ou alienação fiduciária do contrato antigo no cartório. Outro é fazer um novo registro de hipoteca ou alienação fiduciária do novo contrato. Segundo um técnico do governo, já há “medidas em curso para mitigar o problema”.

Outro impasse se refere aos impactos da portabilidade nas operações securitizadas (transformadas em valores mobiliários negociáveis), bem como do risco de agentes financeiros se especializarem em “portar” e não em originar créditos. Em média, um contrato de crédito imobiliário leva entre 2 a 3 anos de carregamento em carteira para que o banco originador recupere integralmente o custo do negócio.