Dívida sobe R$ 25 bi

A dívida pública federal atingiu R$ 1,88 trilhão em abril, um aumento de R$ 25 bilhões (ou 1,32%) na comparação com o mês anterior. Em março, ela somava R$ 1,85 trilhão, de acordo com dados da Secretaria do Tesouro Nacional divulgados ontem. Segundo o governo, o rombo cresceu em abril por causa, sobretudo, das despesas com juros, que totalizaram R$ 17,5 bilhões. Em março, essas despesas haviam sido bem maiores: R$ 21,8 bilhões. A queda é resultado da redução da taxa básica (Selic), hoje em 9% ao ano.

O coordenador de operações da dívida pública, José Franco Morais, exemplificou que alguns papéis pré-fixados com vencimento em 2016 pagam 10% ao ano, mas a curva dessas taxas é de queda. “O momento de investir (em títulos públicos) com ganhos maiores já passou. Quem aproveitou, aproveitou. Essa rentabilidade de dois dígitos tende a não existir mais”, afirmou.

Para o economista da consultoria Tendências Felipe Salto, a queda dos juros era esperada, especialmente porque, além de ser uma bandeira da presidente Dilma Rousseff, é a única forma de aumentar o investimento produtivo, ou seja, em empresas. “O brasileiro, por conta do nosso histórico de inflação alta, acostumou a ter juros elevados e, se eles caírem, o investidor começará a olhar mais para oportunidades na economia real”, comentou. Mas ele lembrou que somente a queda dos juros não será suficiente para que isso ocorra, uma vez que será necessário também que o governo faça a sua parte, investindo mais em infraestrutura, além de reduzir o Custo Brasil, diminuindo a burocracia e a carga tributária.

Na avaliação de Salto, o resultado apresentado ontem pelo Tesouro não trouxe surpresas. “O importante é que o governo vem conseguindo mudar o perfil da dívida e reduzir o volume de títulos indexados à Selic (as Letras Financeiras do Tesouro — LFT), de 26,34% em março para 26,12% em abril”, completou. A meta do governo é que esses papéis representem de 22% a 26% do total da dívida pública até dezembro.

Aposta

Ele lembrou que, no início do ano, o governo obrigou os fundos públicos a trocarem suas LFT (cerca de R$ 60 bilhões) por papéis indexados à inflação. Ainda faltam trocar R$ 38 bilhões que estão com a Previdência. “Eles estão no caminho, mas, daqui para frente, vai ser mais difícil reduzir esse percentual. Tudo vai depender de como a economia irá reagir”, afirmou. Ele destacou que houve um aumento da participação dos papéis indexados à inflação, passando de 31,68% em março para 31,99% em abril. “Esse é um risco, pois implica em uma aposta do mercado no aumento dos preços no futuro”, afirmou.

A expectativa do governo é que, no fim do ano, a dívida pública cresça de R$ 83,6 bilhões a R$ 183,6 bilhões, atingindo um patamar entre R$ 1,95 trilhão e R$ 2,05 trilhões. Em 2011, ela cresceu 10%, para R$ 1,86 trilhão.

 


Alemanha capta a juro zero e amplia abismo na região

Valor Econômico

Os custos de financiamento de Alemanha, Reino Unido, Suécia e Holanda caíram a novos recordes de mínima, enquanto para os países periféricos do sul continuaram subindo ontem, agravando as tensões dentro da zona do euro.

A Alemanha passou a se financiar de graça. Fez ontem pela primeira vez na sua história uma emissão de dívida soberana com cupom zero de juro.

Berlim vendeu € 4,5 bilhões de títulos de dois anos com preço médio de € 0,9987, dando rendimento efetivo de 0,07% ao investidor. Mesmo no ambiente de enormes incertezas na zona do euro, a demanda foi equivalente a € 7,7 bilhões.

Os títulos alemães de 10 anos agora têm rendimento de apenas 1,39%, enquanto no Reino Unido é de 1,76%. Analistas acham que logo os britânicos serão capazes de também pagar ainda menos se os capitais continuarem a fluir para Londres. O título britânico (“gilt”) de cinco anos rende agora apenas 0,75%.

Já o prêmio de risco entre os títulos soberanos do norte e do sul da Europa continuou a aumentar. O spread sobre os papéis italianos e espanhóis subiu pouco mais de 15 pontos base em relação aos alemães. Marcou 425 pontos base para os italianos, e 479 no caso dos espanhóis.

Em Madri, essa situação causou mais irritação. O jornal “El País” procurou mostrar o beneficio que a Alemanha está tirando com a crise: sua emissão de ontem custará cerca de € 6 milhões. Para se financiar na mesma quantidade e prazo, a Espanha teria que pagar € 230 milhões. Para se ter uma ideia da fatura, a Itália e a Espanha precisam refinanciar € 1,25 trilhão de títulos soberanos no restante de 2012 e em 2013.

“Não há nenhuma razão para se pensar que essa diferença de custo e riqueza entre a Europa do sul e do norte não continue”, diz Michael Derk, economista da firma FxPro, em Londres. “Na verdade, os sinais são de aceleração (da bifurcação). Achamos que os rendimentos de bônus logo podem cair a níveis inimagináveis tempos atrás.”

Enquanto o PIB da zona do euro estagnou no primeiro trimestre do ano, a economia da Alemanha continuou forte. Sem o país, a zona do euro continua em recessão. A contração econômica continuou nos países da periferia.

O chefe do governo espanhol, Mariano Rajoy, de passagem por Paris para se encontrar com o presidente François Hollande, reclamou que a diferença nos juros de papéis soberanos afeta diretamente o custo para empresas e bancos se financiarem, e significa falta de acesso ao crédito.

“O problema fundamental é de liquidez”, insistiu Rajoy. O presidente francês Hollande completou: “É inaceitável que alguns países possam se financiar pagando 6%, e outros, praticamente a 0%.”

Dados divulgados ontem mostram maciça repatriação de fundos por investidores europeus. Entre dezembro e março, eles repatriaram fundos de € 134,6 bilhões, vendendo títulos soberanos estrangeiros e saindo de “money market”.

Por sua vez, investidores estrangeiros continuaram vendendo seus títulos soberanos europeus, mas em março aumentaram substancialmente suas compras de ações na zona euro (€ 22,3 bilhões), antes da queda forte nas bolsas em abril e maio.

O temor de a Grécia ser empurrada para fora da zona do euro, após a nova eleição em 17 de junho, tem causado uma corrida para portos seguros, incluindo o Japão. Daí a surpresa após a agência de classificação de risco Fitch rebaixar o rating da dívida soberana japonesa de “AA” para “A+”, apenas um grau de investimento acima de países como Espanha e Itália em plena crise.

O “A+” coloca o Japão quatro graus abaixo do rating de economias como os EUA, Alemanha, França e Reino Unido. Para a Fitch, o rebaixamento reflete crescente risco da dívida pública japonesa. “Colocar o Japão e a Espanha com ratings quase similares é uma gozação”, avalia Grant Lewis, da Daiwa Capital.

A dívida pública do Japão é acima de 200% do PIB e continua crescendo. Mas o governo japonês paga um dos menores juros do mundo para seus empréstimos.

 


Liberação de crédito sobe 8% em abril

O Estado de S. Paulo

O crédito começou a melhorar com a queda dos juros, que chegou a 2,3 pontos porcentuais para pessoas físicas em abril, segundo o Banco Central. A concessão de crédito subiu 8,1% para as pessoas físicas e 4,6% para as empresas em abril em relação a março

A liberação de crédito começou a melhorar após o impulso dado pela queda dos juros, segundo o Banco Central. De acordo com dados do BC, a concessão de empréstimos subiu, na média diária, 8,1% para as pessoas físicas e 4,6% para as empresas em abril em relação a março. Os dados de crédito livre – o dinheiro que os bancos emprestam sem seguir destinações específicas estipuladas pelo governo – foram divulgados ontem pelo diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, e devem ser detalhados amanhã pelo BC. Segundo Araújo, a melhora no crédito é reflexo da redução das taxas de juros e dos spreads – diferença entre a taxa que os bancos pagam na captação do dinheiro e a que cobram nos empréstimos dos clientes – dos bancos. Araújo disse que os juros para pessoas físicas caíram 2,3 pontos porcentuais em abril em comparação a março e recuaram 1,4 ponto porcentual para empresas. As taxas para o crédito livre em geral baixaram 2 pontos porcentuais.

Quanto ao spread, ele apontou que de março para abril houve retração de 0,9 ponto porcentual para pessoas jurídicas, recuo de 1,9 ponto porcentual para pessoas físicas e queda de 1,5 ponto porcentual no geral. “A redução das taxas sem dúvida é um fator levado em consideração pelos agentes econômicos, como as famílias, porque o mercado de crédito está mo trando uma reação mais forte”, disse Araújo. “Como o mercado de trabalho está robusto e há expansão da renda, com redução dos juros, es- ses são elementos para sustentação da demanda de crédito”, afirmou. “Os movimentos de Caixa, Banco do Brasil e de outras instituições estão se refletindo na queda dos juros.” Araújo afirmou que o Banco Central trabalha com a expectativa de queda da inadimplência ao longo deste ano. Segundo ele, a economia brasileira apresenta condições favoráveis que vão colaborar para essa redução, especialmente a situação positiva do mercado de trabalho, inflação sob controle e convergindo à meta neste ano e melhor distribuição de renda, com expansão do PIB ao longo dos anos.

Bradesco. Para o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, o desempenho do crédito deve melhorar no segundo trimestre, após as reduções de juros dos bancos públicos e privados e do fraco volume de empréstimos nos primeiro trimestre. Segundo ele, o Bradesco já promoveu dois cortes de juros em várias linhas de empréstimos para pessoas físicas e empresas des- de abril e as taxas estão em nível adequado. Por enquanto, não devem ser feitas novas reduções. Sobre as estimativas de crescimento do crédito, o presidente do Bradesco diz que o banco vai esperar os dados do mês de maio para reavaliar suas projeções para 2012.

 


‘Aumentar o crédito é fácil, mas benefícios são pequenos’

O Estado de S. Paulo

Expandir o crédito a 15% neste ano é fácil: basta o governo oferecer financiamentos subsidiados por meio dos bancos públicos, segundo o professor Márcio Garcia, do Departamento de Economia da PUC-Rio. O problema, frisa, é que os benefícios da estratégia podem ser pequenos diante dos custos.

É possível haver expansão de crédito a 15% neste ano?

Crédito é uma coisa fácil de dar, sobretudo se for subsidiado. Dinheiro barato todo mundo quer. Não vejo dificuldade de aumentar os desembolsos. Agora, o que se vai obter é outra questão. Os benefícios são muito pequenos. Os financiamentos do BNDES não aumentam o investimento agregado na economia e, do lado do consumidor, parece que as famílias já estão endividadas. Segundo os dados do Banco Central, o comprometimento médio da renda está em 22% ao mês, um nível já bastante elevado.

O efeito das medidas pode ser pequeno?

Pode não dar resultado para aumentar o consumo. E, se der, esse aumento pode não ser bom. No momento, pode-se resolver o problema de esvaziar os pátios das montadoras mas, em 2013, pode representar uma queda muito maior (nas vendas) por causa da inadimplência. A inadimplência (no crédito para veículos) era 2,49% em 2010 e agora está em 5,33%, segundo os dados do BC. É de preocupar.

A troca por dívidas com juros menores pode aliviar a inadimplência?

Isso seria muito importante, e é muito importante nos EUA, para imóveis. No Brasil, para trocar a dívida de um banco para outro, os custos de cartório são muito elevados. O governo estaria tomando iniciativas para reduzir esse custo, o que é benéfico. Vai incentivar a competição bancária. É uma coisa que não é difícil de identificar, mas é difícil de mexer.

 


Banco Mundial reduz projeções para a China

Valor Econômico

O esfriamento da economia chinesa vai pesar no crescimento do Leste da Ásia neste ano, mas Pequim ainda tem recursos fiscais de sobra para ajudar a promover um pouso suave. Para isso, deveria considerar cortes de impostos e aumentos nos gastos com bem-estar social, avalia o Banco Mundial.

Em seu relatório semestral sobre os acontecimentos na região, a instituição projeta que o Produto Interno Bruto (PIB) da China deverá crescer 8,2% em 2012, abaixo da estimativa anterior de 8,4%, acelerando para 8,6% em 2013.

O documento destaca que o menor crescimento na China pode ser visto como um recuo bem-vindo em relação a patamares insustentáveis, mas aponta a preocupação de que a desaceleração possa ser muito profunda.

“O fardo de qualquer resposta anticíclica deveria recair sobre a política fiscal”, diz o informe. “Medidas fiscais para sustentar o consumo, como cortes de impostos específicos, gastos em bem-estar social e outras despesas sociais deveriam ser vistas como prioridade.”

O relatório do Banco Mundial chega em meio às expectativas de que Pequim adote mais políticas de estímulo (leia texto abaixo) em um momento delicado para a economia mundial, de crise na Europa e recuperação anêmica nos EUA.

No fim de semana, após visita à cidade industrial de Wuhan, na região central da China, o primeiro-ministro, Wen Jiabao, disse que é hora de o governo priorizar “a manutenção do crescimento”.

O Banco Mundial, porém, recomendou que o país não dependa muito pesadamente de empréstimos bancários e investimentos em infraestrutura para estimular a expansão da economia.

Um jornal oficial disse nesta semana que a China estava agindo para acelerar os investimentos em grandes projetos de infraestrutura básica, enquanto Wen defendeu o aumento na alocação de crédito a grandes obras em construção.

“As políticas de resposta precisam ser elaboradas tendo em mente efeitos e objetivos de mais longo prazo”, indica o relatório do Banco Mundial. “Em comparação a acontecimentos prévios, o ideal é que os estímulos fiscais fossem menos alimentados por crédito, menos financiados por governos locais e menos voltados à infraestrutura.”

Quanto à política monetária, o documento recomenda ainda à China se dedicar primeiro a adotar mais cortes nas exigências de reservas bancárias para impulsionar o crescimento, preservando a possibilidade de cortes nos juros para o caso de as condições se agravarem mais do que se imagina.

O banco ressaltou que as políticas administrativas de Pequim vêm sendo positivas para arrefecer o setor imobiliário, mas defendeu que essas ações sejam “abandonadas gradualmente em favor de medidas baseadas no mercado”, que elevem os custos do capital e deem oportunidades alternativas para os investidores chineses.

No longo prazo, a China precisa tornar seu crescimento mais sustentável, por meio de medidas como o estímulo a mais concorrência entre empresas, desenvolvimento de recursos humanos e passagem de uma produção de baixo custo para uma de maior valor.

“Os índices de investimento já estão extremamente elevados e não podem ser aumentados muito mais sem consequências sociais e ambientais adversas”, de acordo com o informe do Banco Mundial.

Estima-se que a desaceleração da China terá um papel importante na redução da expansão econômica dos países em desenvolvimento do Leste da Ásia para 7,6% neste ano, em comparação aos 8,2% de 2011, diz o relatório. A revisão para baixo da projeção de crescimento da China segue a estimativa da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgada na terça.

 


Aumenta pressão de países ricos para acordo comercial

Valor Econômico

Os países desenvolvidos, sofrendo deterioração econômica, aumentaram as pressões ontem sobre os emergentes para obter um acordo global de facilitação de comércio o mais rápido possível, a fim de aumentar suas exportações. Mas uma reunião de ministros de Comércio, organizada em Paris pela Austrália, de novo terminou em confronto entre desenvolvidos e países dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), além de Maurício, que representa as nações mais pobres.

O argumento da União Europeia, Estados Unidos, Japão, Austrália, Canadá e outros desenvolvidos, foi de que, no meio do impasse da Rodada Doha, pelo menos se poderia já fazer um acordo de facilitação de comércio isoladamente de outros temas na Organização Mundial do Comércio (OMC).

A avaliação é de que só as 25 páginas desse tema no pacote da Rodada Doha, que não decolou até hoje, valem mais que todo o resto da negociação global, podendo ampliar o comércio internacional em pelo menos US$ 600 bilhões.

O Brasil e outros países em desenvolvimento reagiram ontem, basicamente por causa de dois pontos: primeiro, os ricos não querem pagar pela concessão que pedem; e segundo, veem risco de, uma vez tendo conseguido facilitação de comércio, os ricos enterrem de vez a Rodada Doha e temas que interessam às nações em desenvolvimento.

Os países emergentes cobram para fazer uma concessão que implica perder margem de manobra para frear importações com mecanismos aduaneiros. A barganha poderia incluir a eliminação de subsídios à exportação agrícola ou abertura total dos mercados desenvolvidos para exportações de países mais pobres.

Apesar do confronto, o ministro australiano de Comércio, Craig Emerson, tentou tirar a conclusão de que todos concordavam em fazer um acordo de facilitação de comércio. O Brasil e a Índia reagiram, além da China, África do Sul, Argentina e Maurício. O ministro australiano resolveu dizer então que nem todos podiam se comprometer com um acordo.

“Para o Brasil, nesta altura das negociações não há espaço para resultados seletivos”, afirmou o embaixador brasileiro na OMC, Roberto Azevedo. “Todos têm que contribuir e só resultado em facilitação de comércio não é equilibrado.” Um negociador disse que os desenvolvidos parecem querer ignorar a resistência dos emergentes. “Eles só ouvem o que querem”, comentou.

Em entrevista coletiva, o representante comercial dos EUA, Ron Kirk, acenou com um gesto: acelerar nas próximas semanas a adesão à OMC de uma série de países pobres, com menos exigências de liberalização. Depois, esperam obter ajuda na área de facilitação de comércio.

O ministro canadense, Ed Fast, insistiu que ainda dá para fazer algo no curto prazo com o que é possível, se outros temas não decolam na OMC.

Para o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, o pano de fundo da negociação de ontem foi o péssimo estado da economia mundial. Argumentou que o comércio internacional está caindo e facilitar exportações e importações pode ajudar a frear a deterioração global.

Minutos depois da coletiva, o Centro de Estudos Econômicos da Holanda anunciou que o comércio internacional sofreu contração de 0,2% em março, comparado ao mês anterior. Exportações e importações de economias avançadas aumentaram ligeiramente. No caso da zona do euro, o crescimento das exportações foi fraco e as importações caíram 2,7% na comparação com fevereiro. O comércio dos emergentes declinou. Somente as importações de alguns asiáticos tiveram pequena alta.

 


Saída de dólares é a maior desde 2008

Valor Econômico

Ao ritmo de uma crise que parece acelerar para um desfecho turbulento na zona do euro, os investidores externos retiraram pela conta financeira US$ 5,19 bilhões do Brasil em pouco mais de duas semanas de maio (até o dia 18), quantia semelhante à de dezembro de 2008, quando o mundo vivia plenamente as consequências desastrosas da falência do Lehman Brothers. Investidores em ações formam um dos contingentes principais da fuga do risco. Até o dia 21, retiraram liquidamente US$ 3 bilhões, enquanto o Ibovespa recuava em tombos sucessivos até os 54.716 pontos de ontem, com uma queda de 20% desde o pico de 13 de março. Só em maio, o recuo atinge até agora 8,5%

O Banco Central interveio fortemente no mercado, ontem, quando a cotação do dólar chegou a se dirigir para R$ 2,10 – enquanto o diretor de política monetária, Carlos Hamilton, sinalizou que a autoridade monetária estava preocupada com a volatilidade das cotações, que fecharam em baixa de 1,97%, a R$ 2,039.

A intervenção do BC domou localmente a tendência generalizada de alta do dólar diante das moedas. A vítima principal ontem, em meio às fortes quedas das bolsas europeias, foi o euro, que caiu ao menor valor ante a moeda americana desde julho de 2010 e chegou a US$ 1,254. Até as eleições gregas, o euro mantinha o enigma de não se desvalorizar expressivamente mesmo diante do desenrolar de uma enorme crise. Agora, boa parte dos investidores anteveem maiores chances de rompimento da união monetária e isso tem intensificado nos últimos dias a fuga para a segurança em direção aos títulos do Tesouro americano e aos Bunds alemães.

Ontem, a Alemanha passou a se financiar de graça pelo período de dois anos. Berlim vendeu € 4,5 bilhões em papéis com esse prazo, ao preço médio de € 0,9987, com rendimento efetivo de 0,07% para o investidor. Os custos dos empréstimos para os governos do Reino Unido, Suécia e Holanda também caíram a novos recordes de mínima, enquanto continuavam a subir preocupantemente para os países do sul da Europa, agravando as tensões dentro da zona do euro. “É inaceitável que alguns países possam se financiar pagando 6% e outros praticamente a 0%”, disse o presidente francês, François Hollande, poucas horas antes de um encontro informal dos líderes europeus, em Bruxelas.

Os mercados sinalizaram durante o dia que esperavam mais uma reunião sem grandes decisões – e acertaram. A cúpula de Bruxelas tornou mais uma vez explícita a oposição alemã à emissão conjunta de eurobônus, no mesmo dia em que se divulgou os resultados de outro encontro, de ministros das Finanças do bloco, em que foram claramente chamados a detalhar seus planos de contingência para o caso de a Grécia abandonar o euro.