Mercado espera menos PIB e inflação

O fraco desempenho da economia brasileira nos primeiros meses de 2012 e a piora no quadro externo promoveram intensas reduções nas estimativas dos economistas para a produção industrial e para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil nas últimas semanas. O Boletim Focus, do Banco Central, mostra que a mediana das projeções para o crescimento da produção industrial baixou de 1,94% há um mês para 1% nesta semana. Da mesma forma, a expectativa de expansão do PIB recuou de 3,20% para 2,53% no mesmo período.

O boletim também mostra que os analistas já acreditam que a atividade fraca está ajudando a trazer a inflação mais para perto da meta. Nas projeções, o mercado já espera que o Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fique em 5,03%.

A dificuldade em se reativar a economia brasileira e o agravamento da crise na Europa, dizem os economistas, ainda poderão ter reflexos expressivos no emprego industrial nos próximos meses, influenciando o desempenho de outros setores, como o de serviços. Até pouco tempo atrás, a explicação para a manutenção do emprego na indústria, apesar das sucessivas quedas na produção, era o entendimento de que a má fase seria passageira. “Após um semestre inteiro fraco, as incertezas aumentam e o mercado de trabalho começou a responder a isso”, diz Mauro Schneider, economista-chefe da BanifInvest.

Os dados mais recentes da pesquisa de emprego industrial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, no primeiro trimestre, houve redução de 0,3% nos postos de trabalho em relação aos últimos três meses de 2011, configurando o segundo resultado trimestral negativo consecutivo. A produção industrial, porém, já vinha apresentando queda nesta base de comparação desde o segundo trimestre do ano passado, tendo recuado 1,1% nos 12 meses encerrados em março. Neste período, a ocupação na indústria cresceu 0,2%, e os rendimentos subiram 3,9% acima da inflação. Hoje, o IBGE divulga os números referentes a abril.

“É provável que o emprego industrial encolha no segundo trimestre e não esperamos crescimento neste ano. Para 2012, a expectativa é de estabilidade na ocupação, com a produção industrial aumentando apenas 0,4%”, afirma Alexandre Andrade, economista da Votorantim Corretora. Ele ressalta que o fraco desempenho da indústria foi o principal fator que levou a instituição a revisar de 2,9% para 2,2% sua estimativa para a expansão do PIB neste ano. “Alguns setores industriais importantes, como o automotivo, estão com estoques muito altos. Esperávamos uma recuperação da indústria no segundo trimestre, o que aparentemente não acontecerá.”

Os estoques acima do previsto e a folga no uso da capacidade instalada, acrescenta Andrade, também contribuem para um panorama menos favorável ao emprego industrial. Há mais de um ano, o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci), medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), gira em torno de 84%. “O desempenho da indústria nos próximos meses vai depender da efetividade das medidas de estímulo promovidas pelo governo e do cenário internacional. Se não houver uma resposta positiva, a confiança do setor não melhorará e, consequentemente, não haverá investimentos e contratações”, resume o economista da Votorantim Corretora.

Fábio Romão, da LCA Consultores, espera uma reação da indústria no segundo semestre diante das medidas de estímulo ao setor. “Mas é possível que tenhamos mais um trimestre de retração no emprego industrial antes que a situação comece a melhorar”, afirma. Com os estoques elevados, ele acredita que levará um tempo até a que a indústria reorganize a produção e volte a contratar.

Por ora, comenta Schneider, o impacto das demissões na indústria está sendo amortecido pelo comércio e pelos serviços, que se mantêm robustos. “Mas, como os setores da economia se comunicam, em algum momento o enfraquecimento da indústria vai bater nos outros setores”, afirma. Tal reflexo, esclarece o economista, poderá se dar tanto pela menor absorção de mão de obra quanto pelo arrefecimento dos negócios. “Uma empresa que presta serviços de transporte, por exemplo, terá menos trabalho se não houver produção para transportar”, exemplifica.

Essa ligação da indústria com os demais setores da economia, entretanto, tem se tornado mais tênue nos últimos meses devido ao ganho de renda da população, avalia Romão. “Os serviços estão sendo preservados pelos aumentos salariais, pela inflação menor e pela escassez de profissionais em alguns segmentos”, afirma. Além disso, a participação da indústria no PIB vem caindo, tendo passado de 30% em 2004 para 27% em 2011. No mesmo período, a fatia do setor de serviços, que no PIB inclui o comércio, aumentou de 60% para 67%.


Nações ricas devem assumir responsabilidades, diz China

O Estado de S. Paulo

A China espera que a Rio+20 produza um documento “orientador” que reflita a “vontade política” de todos os países de caminhar rumo ao desenvolvimento sustentável, ao mesmo tempo que mantenha o princípio que atribui responsabilidades diferenciadas a países desenvolvidos e em desenvolvimento.

“Os países desenvolvidos começaram seu desenvolvimento muito antes, consumiram mais recursos naturais e provocaram mais danos ao meio ambiente. Agora, eles devem assumir sua responsabilidade histórica”, declarou o Zhao Bentang, vice-diretor-geral do Departamento de América Latina e Caribe do Ministério das Relações Exteriores da China.

Ele refutou o argumento de que a China de hoje é muito diferente da de 20 anos atrás, quando o princípio foi consagrado na Eco-92. Apesar da expansão econômica, Zhao diz que a China ainda é um país em desenvolvimento, com 40 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza, com menos de US$ 1 ao dia, e 100 milhões em pobreza relativa.

Zhao também afirmou que os índices de poluição e de consumo per capita são muito inferiores aos de países ricos. Com 1,3 bilhão de pessoas, o país tem emissões per capita que equivalem a cerca de um quarto das registradas nos Estados Unidos.

Para ele, a principal “discrepância” nas negociações do documento final gira em torno do preceito de responsabilidades comuns, mas diferenciadas. “A China insiste em que não se deve modificar esse princípio.”

A delegação chinesa será chefiada pelo primeiro-ministro Wen Jiabao, que fará sua primeira viagem ao Brasil. O embaixador brasileiro na China, Clodoaldo Hugueney, disse que o dirigente chinês conversou há duas semanas com a presidente Dilma Rousseff e houve grande “coincidência” de posições.


Greve avança e problemas da expansão universitária preocupam autoridades

Valor Econômico

A greve dos professores universitários federais do país entra hoje no 27º dia com uma média de 90% das atividades de graduação, pós-graduação e pesquisa paralisadas em 49 universidades e três institutos de tecnologia, de acordo com informações do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes).

O movimento preocupa o governo, que “teme ver manchada” a expansão do setor que ocorre desde 2005, com a criação de 14 novas instituições e a ampliação de muitos campi existentes. Além da aprovação da reestruturação do plano de carreira da categoria, uma das principais reivindicações dos grevistas é melhorar as condições de trabalho nas novas unidades e naquelas que passaram por reformas.

A última greve da categoria, em 2005, coincide com os primeiros anúncios das novas universidades e obras de expansão. Agora, sete anos depois, os professores reclamam melhores condições de trabalho. “Nesse tempo todo estava se gestando uma situação delicada na categoria. As condições de trabalho não acompanharam a expansão: faltam bibliotecas, prédios, laboratório, professores em número adequado para a nova estrutura. O ambiente de aprendizado está comprometido”, afirma Marina Barbosa, presidente do Andes.

Ela pondera que o processo de expansão não contabilizou o que o movimento grevista chama hoje de passivo profissional estrutural. “Nossa avaliação é que quando a expansão vem, traz muita novidade, novos cursos. Aí contrata-se o número de funcionários e professores para preencher a nova demanda, mas deixa um buraco nos programas existentes, que também receberam novos estudantes.”

Aluno de história no campus de Guarulhos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Diógenes Sousa não vai à aula desde o dia 4. Nas últimas semanas, os alunos aproveitaram a paralisação dos professores para protestar contra problemas de infraestrutura na unidade, que também passou por um processo de ampliação. “Construíram algumas salas e ampliaram laboratórios. Temos muitos livros encaixotados, porque não tem espaço na biblioteca”, relata Sousa.

Em texto publicado ontem em seu site, o sociólogo Simon Schwartzman, pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, associa a greve com “a política de expansão acelerada”. “Ela não obedeceu a nenhum plano ou avaliação cuidadosa sobre prioridades, abrindo instituições aonde não havia demanda, admitindo alunos antes de existirem os edifícios e instalações adequadas, forçando as universidades a criar cursos noturnos e contratar mais professores, mesmo quando não haviam candidatos qualificados, e sobretudo sem preparar as universidades para lidar com alunos que chegavam do ensino médio cada vez menos preparados”, avalia o pesquisador.

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, tem dito que cabe ao Ministério do Planejamento conduzir as negociações e considera a greve dos docentes é precipitada. O ministro defende os investimentos feitos nos últimos anos – criação de 220 mil novas vagas, 14 universidades e 132 novos campi e R$ 8,4 bilhões em investimentos desde 2005.

Na tarde de hoje, o secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça, recebe dirigentes dos três sindicatos envolvidos na greve – Andes, Proifes e Sinasefe. O governo só se posicionará após a reunião. A expectativa dos sindicalistas é que o governo apresente uma proposta de reestruturação para a carreira docente, dando início às negociações com os docentes federais.

“Nós queremos negociar, mas para que isso ocorra, o governo federal tem que apresentar propostas concretas sobre as quais possamos discutir e buscar uma solução positiva ao impasse estabelecido o mais rapidamente possível”, disse Marina, dirigente do Andes.

Segundo ela, o acordo emergencial firmado com o governo em 2011 não foi cumprido e não aconteceram os avanços previstos para a conclusão dos trabalhos referente a reestruturação do plano de carreira no prazo estabelecido (31 de março). “Na última reunião antes da greve, em 15 de maio, o governo nos apresentou verbalmente alguns pontos, que eram a repetição da proposta apresentada em dezembro de 2010. Ou seja, as negociações não avançam”, diz a sindicalista. A reestruturação prevê o estabelecimento de carreira única para todos os professores com 13 níveis salariais, com promoções a cada dois anos.

Ontem,o movimento foi engrossado com a convocação da greve dos técnicos administrativos da educação superior federal, que cruzaram os braços por mais de cem dias no ano passado por melhores salários.]


Crise e crédito curto elevam pedidos de falência

Valor Econômico

A estagnação da atividade doméstica e as condições mais adversas para o refinanciamento das dívidas estão prejudicando também a posição financeira das empresas, com credores menos dispostos a negociar prazos. O resultado, segundo levantamento da Serasa Experian, foi um forte aumento dos pedidos de recuperação judicial e também dos requerimentos de falências em maio.

No último mês, 82 recuperações judiciais foram requeridas, número que somado aos dados dos quatro primeiros meses do ano resulta em um total de 338 pedidos, aumento de 70% em relação ao período de janeiro a maio de 2011. Em menor magnitude, os pedidos de falência aumentaram 10% na mesma base de comparação. Em maio, foram 203 requisições de falências, maior volume desse tipo de demanda desde novembro de 2009, quando as empresas sentiam os reflexos da crise externa.

Para Carlos Henrique de Almeida, assessor econômico da Serasa, a pesquisa evidencia o aumento da aversão ao risco por parte dos credores, que preferem utilizar medidas mais drásticas, como os pedidos de falência, como instrumento de cobrança e assim garantir o recebimento das dívidas, ainda que as empresas devedoras se encontrem em situação de solvência.

A nova Lei de Falências, de 2005, procurou coibir essa utilização ao estabelecer que apenas dívidas superiores a 40 salários mínimos poderiam embasar pedidos de falência. “Mas as empresas estão mais tomadas em crédito, porque aumentaram seu endividamento em 2010 e hoje têm dívidas muito superiores a esse patamar. Por isso, ficou mais fácil utilizar esse instrumento para cobranças”, explicou Almeida.

Júlio Mandel, do escritório Mandel Advocacia, afirma que recentemente recebeu volume expressivo de consultas sobre possíveis pedidos de recuperação judicial, “quase um por dia”, informa. Nos últimos seis meses, diz, o volume de demandas foi semelhante ao observado no fim de 2008, quando eclodiu a crise financeira nos Estados Unidos. Para ele, as empresas estão usando esse instrumento justamente como forma de se proteger dos pedidos de falência e assim ganhar tempo para reorganizar as finanças.

Para o advogado, as empresas estão em condições mais apertadas desde 2009, mas vinham conseguindo refinanciar as dívidas. Agora, enfrentam dificuldades não apenas para obter novos empréstimos, mas também para refinanciar dívidas antigas.

O cenário menos favorável para a atividade econômica também é determinante para esse comportamento, na avaliação do professor de finanças corporativas da Universidade de São Paulo (USP), Alberto Matias. O crescimento no primeiro trimestre do ano, quando o Produto Interno Bruto (PIB) avançou 0,2% em relação ao último trimestre de 2011, foi inferior ao antecipado e a atividade doméstica está praticamente estagnada desde meados de 2011.

Esse quadro, avalia, prejudica a geração de caixa das companhias e eleva o volume de estoques, situação que, num ambiente de maiores restrições por parte dos bancos para concessão de crédito, resultou em aumento dos pedidos de falência e recuperação judicial.

Para Wermeson França, economista da LCA Consultores, esses fatores foram ainda acentuados pelo fechamento da janela de oportunidades no exterior com a piora da crise internacional. O mês de maio foi o mais fraco para as captações externas desde novembro de 2008, auge da crise financeira internacional. Recentemente, o governo estendeu para empréstimos externos com prazo de até cinco anos a cobrança de alíquota de 6% do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e encareceu ainda mais essa modalidade. A ampliação começou em março do ano passado, quando foi elevado para 6% o IOF sobre os empréstimos externos de até 360 dias. Antes disso, operações até 90 dias pagavam 5,38%, com a taxa caindo a 0,38% em prazos superiores.

Com mais dificuldade para acessar o mercado externo, tradicionalmente mais barato, companhias nacionais de grande porte podem ter passado a procurar com maior intensidade linhas de financiamento domésticas, tomando em parte canais que antes eram mais procurados por empresas de pequeno e médio porte, avalia França.

O economista nota ainda que a linha mais cara e emergencial de crédito para as empresas, a conta garantida, que funciona como um “cheque especial”, teve entre dezembro de 2011 e abril deste ano um aumento de 3,1% na média de concessões diárias, de acordo com os dados deflacionados e dessazonalizados pela LCA. Nessa linha, a taxa de juros, de acordo com o Banco Central, foi de 103,5% ao ano em abril.

O crédito à pessoa jurídica, no mesmo período, teve retração de 0,3%, ainda de acordo com os cálculos da consultoria. “O ponto é que temos combinação de ambiente econômico ruim, um cenário externo conturbado e risco elevado de inadimplência”, resume o economista.

Almeida, da Serasa, pondera que “não é uma situação de quebradeira”, já que a queda dos juros e a perspectiva de retomada da atividade doméstica nos próximos meses devem favorecer empresas em dificuldades. Júlio Mandel, no entanto, afirma que mesmo que a economia mostre retomada no segundo semestre, o efeito no caixa das companhias demora a ser sentido. “Até lá, muitas empresas vão precisar recorrer à recuperação judicial para poder sobreviver”, afirmou.


Seca prossegue e previsão de perdas passa de R$ 26 bi

Valor Econômico

A perspectiva de uma seca prolongada, possivelmente até fevereiro de 2013, reforça o cenário desanimador para a economia da região Nordeste. Apesar de não existirem projeções exatas sobre o valor financeiro dos prejuízos, a tendência é que a fatia da agricultura e da pecuária no PIB dos Estados mais atingidos seja seriamente afetada neste ano. As perdas registradas nos três primeiros meses de 2012 seguem se acumulando no trimestre seguinte, mesmo com a implementação de algumas das medidas de auxílio anunciadas pelos governos.

No Rio Grande do Norte, que tem 139 municípios em situação de emergência, a projeção é de um rombo de cerca de R$ 5,5 bilhões no PIB do Estado em 2012. O cálculo foi revelado pelo secretário estadual de Agricultura, Betinho Rosado. “A produção in natura, que foi seriamente prejudicada, representa 6% do nosso PIB, que é de R$ 25 bilhões. Se for considerado o beneficiamento desses produtos, como no caso do queijo, do iogurte e do álcool, a fatia passa para 35%.”

A quebra na produção de leite e, consequentemente, de seus derivados, é um dos principais golpes da seca na economia nordestina. Maior produtor da região, com 1,2 bilhão de litros em 2011, a Bahia deve registrar uma queda de 50% neste ano, mesmo percentual esperado para Pernambuco, que antes da estiagem vinha produzindo 2 milhões de litros por dia.

Sem ração e água para as vacas, em Sergipe a queda foi de 40%, segundo informações do secretário estadual de Agricultura, José Sobral. No Estado, somente com a cadeia do leite, dos grãos e da cana-de-açúcar, ele estima prejuízo de R$ 200 milhões até agora. Em Pernambuco, até maio, o prejuízo acumulado devido à seca estava bem próximo de R$ 1 bilhão, sendo R$ 856 milhões na pecuária (carne e leite) e outros R$ 140 milhões na agricultura.

De acordo com a secretaria nacional de Defesa Civil, ligada ao Ministério da Integração Nacional, 996 municípios estavam em situação de emergência no início de junho – em meados de abril, eram 458. Sobral lembra, no entanto, que a emergência humana não é a mesma que a econômica. “Muitas cidades têm água para o povo beber, por isso não são consideradas como emergência. Mas em termos econômicos, o número de regiões afetadas é bem maior”, explicou.

Considerado um dos Estados menos afetados, o Maranhão engrossou a lista de municípios em dificuldades, apesar de o pleito ainda não ter sido reconhecido pelo Ministério da Integração. Na quarta-feira passada, o governo estadual anunciou que 58 cidades estão em situação delicada, sobretudo no centro-norte do Estado, onde foi seriamente comprometida a produção de arroz e de milho, além do leite. De acordo com o secretário estadual de Agricultura, Cláudio Azevedo, os prejuízos ainda estão sendo calculados.

A Bahia tem o maior número de municípios sofrendo com a seca. De acordo com os levantamentos oficiais mais recentes, são 217 cidades atingidas, mas o governo estadual fala em 256. O tamanho do Estado, entretanto, ajuda a amenizar os efeitos econômicos da estiagem. As perdas de produção verificadas no semiárido devem ser compensadas pelo crescimento das lavouras no oeste baiano, região que não tem sofrido tanto com a seca.

“Acreditamos que a safra de soja, por exemplo, fique igual a do ano passado, devido ao crescimento no oeste. Mas na produtividade perderemos algo em torno de 15%”, explica o secretário estadual de Agricultura, Eduardo Salles. Para o algodão, outra cultura importante no Estado, ele estima queda de 10% a 15%. Na Bahia os prejuízos também não foram mensurados. A agropecuária responde por 24% do PIB local.

Segundo Estado mais afetado, com 196 municípios em situação de emergência, a Paraíba segue contabilizando as perdas superiores a 70% na safra agrícola, que representa 6% do PIB estadual. O secretário de Agricultura, Marenilson Batista, não vê grandes expectativas de melhora no cenário, a não ser que chova. “Nossa esperança ainda é o litoral, onde tem chovido. Pelo menos garante o abacaxi, a cana e se mantém uma parte do gado.” O Estado é o maior produtor de abacaxi do país.


Ministra defende consumo e critica ‘Miopia Ambiental’

O Estado de S. Paulo

A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, criticou ontem as discussões sobre indicadores socioambientais que não levam em conta questões de governança e gestão, ao defender as medidas do governo para estimular o consumo, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de carros. “Tem limite para a miopia ambiental”, disse Izabella a uma plateia formada principalmente por ambientalistas.

Segundo ela, as medidas de estímulo ao consumo não são incompatíveis com o debate da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), que começa amanhã, no Rio, e reunirá mais de cem chefes de Estado.

“Temos de debater como gente grande. Está na hora de debatermos as unidades de conservação, a regularização fundiária, o acesso à informação com conhecimento técnico e científico. Vamos acabar com o achismo ambiental”, disse a ministra durante o seminário Brasil Sustentável – O Caminho para Todos. Izabella repetiu a expressão que usa com frequência para designar as teses radicais de defesa do meio ambiente que não consideram aspectos de governo, administrativos, econômicos e políticos.

Sobre as medidas para estimular que a população consuma, a ministra afirmou, em entrevista, que “medidas de curto prazo não podem ser confundidas com a discussão de médio e longo prazo da Rio+20, em que será feito um debate para os próximos 20 anos sobre o futuro do planeta sem falar em crise, em guerra”.

Izabella justificou: “A questão do IPI é para solução de crise de curtíssimo prazo, temos empregos, a indústria que está em jogo”. Para a ministra, essas medidas emergenciais não impedirão um esforço dos países para “pactuar um novo padrão de consumo, já que é insustentável repetir os modelos atuais”.

Apesar de elogiar a disposição da ministra em “abrir diálogo com a sociedade”, Adriana Ramos, secretária executiva adjunta da ONG Instituto Socioambiental, criticou a redução do IPI dos veículos. “É uma medida de curto prazo, sim, mas que se repete com uma frequência assustadora”, disse. “A indústria automobilística nunca reduz custos. Em vez disso, pressiona o governo para obter a redução de impostos. Ao ceder, o governo demonstra um descompasso com as metas ambientais.”

Há dois meses, a presidente Dilma Rousseff também foi enfática ao advertir ambientalistas de que o governo não mudaria seu projeto de aumento da oferta de energia e de desenvolvimento, ao defender a construção de hidrelétricas na Amazônia. “Pessoas contrárias (às hidrelétricas) vivem num estado de fantasia”, disse ela em maio, durante reunião com os integrantes do Fórum do Clima,

A posição do governo vai na contramão do que o Brasil precisa fazer para atingir as metas de redução das emissões de gases de efeito estufa – é justamente o crescimento do consumo de gasolina que deverá fazer o governo rever esses números.

Outras discussões. Izabella defendeu que após a Rio+20 o País se volte para seus próprios problemas e discuta, por exemplo, o uso dos recursos de fundos de meio ambiente e o papel das instituições. Ela criticou o fato de o Serviço Florestal Brasileiro estar voltado só para florestas da Amazônia. “É um equívoco.”

A ministra atenuou a ausência na Rio+20 de importantes chefes de Estado, como o presidente americano Barack Obama, a chanceler alemã Angela Merkel e o primiê britânico David Cameron. “A presença dos líderes é importante, mas veja que os Estados Unidos (que foram representados na Rio 92 pelo então presidente George Bush) até hoje não ratificaram a conversão da biodiversidade. Os países mandarão pessoas de alto nível, com poder de decisão. Entendemos o momento que os países estão vivendo, a crise.”


Mobilização por reajustes desafia Dilma

Correio Braziliense

O governo está preocupado com o aumento das pressões para que conceder reajuste aos servidores federais, incluindo os militares. Esse foi o principal assunto da conversa na manhã de ontem da presidente Dilma Rousseff com as ministras Miriam Belchior (Planejamento) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil), o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, e o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, no Palácio do Planalto. Na mesa, foram colocadas as dificuldades para o governo fechar o Orçamento de 2013, se tiver de conceder aumentos para todas as categorias que já começam a fazer campanha e greves. A proposta orçamentária tem que ser enviada ao Congresso até 31 de agosto.

O pessoal do Judiciário deve ser o primeiro da fila, e Miriam Belchior já sinalizou que o governo deve liberar algum percentual em 2013. Só o que eles pedem — reajuste linear de 56% — representará gasto adicional de R$ 7,4 bilhões por ano. O problema é que todos os servidores do Executivo estão com o pires na mão, mesmo os 937 mil — entre ativos e inativos — que estão sendo contemplados neste ano com aumento de até 31%, previsto na Medida Provisória 568.

Magistratura

Entre 2008 e 2010, o governo Lula distribuiu generosos reajustes para todos os servidores do Executivo, que chegaram a mais de 100%. A maior parte foi concedida em julho de 2008 e de 2009. Porém, boa parte já vai completar dois anos sem aumento. Não querem chegar em 2013 sem nada. A equipe econômica já terá que arcar com a elevação de 20,3% dos vencimentos da magistratura retroativo a janeiro deste ano, já aprovado pela Comissão do Trabalho da Câmara dos Deputados. Com isso, o teto do funcionalismo, o vencimento de ministro do Supremo Tribunal Federal, passará de R$ 26.723,13 para R$ 32.147,90. Isso significará reajustes para vários outros servidores do Executivo e do Judiciário, que recebem acima do teto e sofrem o corte no salário.

O governo nem cogita conceder um aumento linear para todos como querem os dirigentes sindicais, pois só aumentaria a distorção que existe hoje dentro do Executivo entre as diversas carreiras. No Orçamento de 2012, foram contempladas somente os 937 mil servidores. A MP 568 substituiu o projeto de lei 2.203/2011 enviado ao Congresso no ano passado com o texto orçamentário de 2012, que beneficia 15 categorias, entre elas as que integram o Plano Geral de Cargos do Poder Executivo (PGPE) e a Carreira da Previdência, Saúde e Trabalho (PST).

As lideranças da base governista no Congresso já estão se mobilizando para retirar do texto da MP a redução de 50% nos salários dos médicos e veterinários e de 70% nos rendimentos dos profissionais do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs). A expectativa dos líderes aliados é de serem recebidos por Dilma esta semana. O mais provável é que isso ocorra nesta sexta-feira, mas o Palácio do Planalto não confirmou o encontro.

Mais rapidez

A gestão das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foi o outro tema da reunião ontem da presidente Dilma com Miriam Belchior e as outras autoridades. A presidente cobrou mais eficiência e rapidez. Um levantamento do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) divulgado ontem revela que dos R$ 13,6 bilhões em investimentos autorizados nas estradas neste ano, apenas R$ 2,5 bilhões foram pagos até maio. A presidente viaja hoje para Belo Horizonte para visitar várias obras, entre elas, as de uma ferrovia da Vale e do anel viário da capital mineira.