G-20 propõe compromisso europeu para salvar o euro

O mexicano Felipe Calderón vai presidir a cúpula do G-20 em Los Cabos e não espera soluções imediatas para os problemas da Europa

Os principais países europeus deverão se comprometer a “salvaguardar a integridade da zona do euro”, usar “todas as fontes de financiamento” para recapitalizar os bancos e melhorar o crescimento, na cúpula do G-20 na segunda e terça-feira em Los Cabos (México).

O compromisso faz parte de um acordo que os líderes vão propor “para tratar de riscos de curto prazo e restaurar confiança”, conforme um “draft” ao qual o Valor teve acesso. Para os líderes das maiores economias desenvolvidas e emergentes, riscos significativos persistem com a crise da dívida soberana e bancária na zona do euro “e mais ação é necessária” para estabilizar a situação.

Esta semana, o presidente mexicano Felipe Calderón reconheceu que a cúpula que ele vai presidir dificilmente trará soluções imediatas para os problemas da Europa. Mas, como diz o texto, poderá pavimentar o terreno para “minimizar riscos econômicos afim de reforçar o crescimento e a confiança no curto prazo e maximizar o potencial de expansão global no longo prazo”.

A cúpula do G-20 ocorre um dia depois da eleição na Grécia, que poderá sinalizar a saída ou não do país da união monetária, além de eleição legislativa na França e presidencial no Egito.

Formado em 2008 para coordenar uma resposta global à crise financeira, o G-20 reúne economias que respondem por 80% do PIB mundial e 80% do comércio. É formado por Estados Unidos, China, Japão, Alemanha, França, Brasil, Reino Unido, Itália, Rússia, Canadá, Índia, Espanha, Austrália, Coreia do Sul, Indonésia, Turquia, Argentina, África do Sul, Arábia Saudita e União Europeia.

No plano de ação, que continuará em negociação a partir de hoje em Los Cabos pelos “sherpas” (representantes dos líderes), o grupo identifica a crise da zona do euro como um dos riscos mais significativos que precisam ser administrados na economia global, além do ritmo do ajuste fiscal, desemprego alto e em expansão, preço do petróleo e aterrissagem de algumas economias emergentes.

Nesse cenário, no plano, os membros da área do euro que fazem parte do G-20 – Alemanha e França de um lado, e Espanha e Itália do lado do contágio – se dizem “resolutamente comprometidos em salvaguardar a integridade da zona do euro e adotar todas as ações requeridas para alcançar esse resultado”.

O texto diz que “a zona do euro está comprometida a prosseguir com ações adicionais para reforçar sua estratégia de cinco pontos para resolver a crise da dívida soberana e bancária”.

A estratégia europeia inclui “assegurar a disponibilidade e máxima eficácia” do “firewall” (barreira de proteção) europeu para conter o risco de contágio, “usando todos os meios para quebrar os problemas de vínculo entre o setor bancário e as finanças públicas”. O mecanismo europeu é atualmente de € 500 bilhões.

Além disso, a ideia é agir fortemente para completar a recapitalização dos bancos até o fim do mês “usando todas as fontes disponíveis de financiamento, incluindo fundos públicos, se necessário”. O prazo dado pela autoridade bancária europeia é para que os bancos reforcem suas reservas de capital mínimo para pelo menos 9% dos ativos ponderados pelo risco.

Os europeus prometem também assegurar a “coerência e integridade do sistema de seguro dos depósitos na zona do euro”, sem entrar em detalhes.

Sob pressão, os europeus deverão fazer mais depois da cúpula do G-20. Para a cúpula europeia do dia 28, a França sinaliza que planeja propor que o Banco Central Europeu se encarregue da supervisão bancária e use o Mecanismo de Estabilidade Europeu para recapitalizar os bancos diretamente, o que é ainda rejeitado pela Alemanha.

No documento do G-20, os europeus repetem que vão reforçar crescimento e governança econômica com uma série de medidas, incluindo ajustar o déficit e o superávit de países da zona do euro, complementar o mercado comum, aumentar a capacidade do Banco Europeu de Investimentos (BEI), desenvolver “project bonds” para investimentos em infraestrutura e promover melhor uso de fundos estruturais e do orçamento da União Europeia. De maneira geral, o compromisso do G-20 é o de assegurar um “ritmo apropriado” de consolidação fiscal nas economias desenvolvidas para não sufocar uma recuperação.

Os EUA aceitarão, pelo menos no papel, “calibrar” o ritmo de sua consolidação fiscal no curto prazo às condições da demanda. E a “evitar uma forte contração” em 2013, por meio do fim de benefícios fiscais e cortes automáticos de despesas.

Os líderes do G-20 vão concordar que países com “flexibilidade” em seus planos de ajuste fiscal, como Alemanha, EUA, Austrália, Canadá e China, “considerem ações fiscais adicionais se as condições econômicas se deteriorarem bruscamente”. Ao mesmo tempo em que asseguram estabilidade de preços, as economias desenvolvidas acenam com maior flexibilização monetária, incluindo “medidas não convencionais”, para apoiar a recuperação econômica “onde for necessário”.

Embora o plano de ação não especifique quais “medidas não convencionais” poderiam ser adotadas, o principal nos últimos anos tem sido o afrouxamento quantitativo, ou compra de ativos financeiros para aumentar liquidez e estimular crescimento econômico.

Os países desenvolvidos prometem ser “vigilantes” para as consequências de suas políticas domésticas, incluindo o potencial impacto no fluxo de capital para economias emergentes. “Reiteramos que excessiva volatilidade e movimentos desordenados nas taxas de câmbio têm implicações adversas para a estabilidade financeira e econômica”, diz o documento. “Estamos alertas para os riscos associados com a recente alta na volatilidade e comprometidos em reduzir esses riscos”.

Quanto aos emergentes, se dizem prontos a ajustar suas políticas macroeconômicas, como as taxas de juros, se pressões inflacionárias aumentarem, ao mesmo tempo evitando uma forte desaceleração no crescimento. O documento menciona especificamente Brasil, Índia e Turquia.

Por sua vez, a China promete reequilibrar a demanda doméstica, acelerando a liberalização da taxa de juro, por exemplo. Sobre taxas de câmbio, os líderes vão de novo conclamar por rápido movimento em direção “de taxas mais determinadas pelo mercado e abster-se de desvalorização competitiva das moedas”.

Outro risco que exige “vigilância” é a alta do petróleo. O G-20 registra a promessa da Arábia Saudita de mobilizar mais de 2,5 milhões de barris por dia de capacidade ociosa. O plano lista também uma série de áreas prioritárias que o G-20 considera importante para sustentar a recuperação e reequilibrar a demanda global. Retoma no geral compromissos assumidos no ano passado na França.

No caso do Brasil, por exemplo, reduzir o peso tributário sobre o trabalho e promover investimentos na infraestrutura para acabar com gargalos que afetam a competitividade da economia.

Um levantamento discutido no G-20, conforme fontes, estimou que os países implementaram dois terços dos compromissos de reformas estruturais e 40% dos compromissos totais assumidos em outras cúpulas. Agora, para facilitar o acompanhamento dos compromissos nas áreas fiscal, monetária e cambial, os líderes vão mandar os ministros de finanças e presidentes de bancos centrais concordarem, na próxima reunião neste ano, em estabelecer medidas para avaliar, por exemplo, déficit e dívida governamentais relativos ao PIB, e taxas de câmbio real e nominal.


Ibre revisa alta do PIB de 3% para 1,8%

Valor Econômico

Silvia Matos, do Ibre: “O investimento está negativo há três trimestres, é o consumo que sustenta algum crescimento”

Após a divulgação do resultado das contas nacionais no primeiro trimestre deste ano, a equipe de conjuntura do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) revisou sua previsão de crescimento do PIB para 2012, de 3% para 1,8%. “O resultado ruim da indústria já não é novidade. O que mudou no cenário econômico brasileiro é que o setor de serviços dá sinais de perda de fôlego e o quadro de investimentos se agravou. Os investimentos estão muito fracos”, afirma Silvia Matos, do Ibre. No primeiro trimestre, a formação bruta de capital fixo no país recuou 1,8% em relação ao último trimestre de 2011.

Segundo o Ibre, que aposta em um crescimento de 0,7% do PIB no segundo trimestre sobre o primeiro, a expectativa de avanço de 1,8% no ano carrega certo otimismo, porque, para isso, será necessário crescer, em média, 1,3% nos últimos dois trimestres. A economista da FGV aposta que as medidas de estímulo à atividade promovidas pelo governo em vários setores produtivos e de concessão de crédito neste ano tenham impacto mais visível no segundo semestre.

“Acreditávamos que a indústria ia deslanchar no início do ano e que seriam maiores os efeitos da política monetária assumida pelo governo, o que resultaria num crescimento mais acelerado.” Nos primeiros quatro meses do ano, segundo o IBGE, a produção industrial recuou 2,8% na comparação com igual intervalo de 2011.

A economista da FGV diz que crescer pouco não é o maior problema para o Brasil. O principal, diz, é o descasamento entre o consumo das famílias e do governo frente à evolução do investimento. “O investimento está negativo há três trimestres e é o consumo que continua sustentando algum crescimento. É complicada essa armadilha”, afirma. A previsão do Ibre é que a taxa de investimentos cresça 0,4% em 2012.

O setor de serviços é o segundo grande fator que levou o Ibre a rever sua previsão para o PIB, segundo Silvia. O índice de confiança apurado pelo instituto, que tinha recuado 4,8% na comparação entre abril deste ano e abril de 2011, acentuou essa queda para uma variação negativa de 5,9% entre os meses de maio de 2012 e do ano passado. “O setor que mais emprega no país começa a ficar menos otimista. Se a economia não reagir, teremos um impacto sobre o emprego do setor e, esse fator, somado à alavancagem das famílias, que estão mais inadimplentes, pode se tornar um problema maior”, explica Silvia. “Temos um alerta.”

Na avaliação da economista da FGV, o estímulo aos investimentos deve ser prioridade da política econômica e deve alcançar o setor privada. “O governo federal precisa criar um ambiente favorável aos investimentos. Não basta liberar mais recursos através do BNDES. Os Estados e municípios têm conseguido uma performance melhor utilizando parcerias público-privadas. Essa pode ser uma saída, inclusive através de um programa mais rápido de concessões”, diz.


Patriota vê risco de barreiras comerciais

O Estado de S. Paulo

Diante de uma plateia de empresários na Rio+20, o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Antonio Patriota, afirmou que é preciso estar atento para não transformar objetivos futuros de desenvolvimento sustentável em barreiras comerciais. A afirmação foi feita em resposta à preocupação externada pelo presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, de que seja criado um “protecionismo verde”.

“Temos de advertir sobre esses riscos. Mas há um sentimento disseminado, não só no Brasil, de que estamos numa agenda positiva e não podemos criar condicionalidades, empecilhos e obstáculos”, disse. O ministro destacou que a agenda na Rio+20 é de objetivos que congreguem e, sobretudo, deem atenção às necessidades de países mais pobres.

O setor privado brasileiro participou ativamente das discussões para o documento entregue ao secretariado da ONU para a discussão dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS ) na Rio+20.

Apesar das dificuldades nas negociações e da crise internacional, Patriota diz que a Rio+20 já pode ser considerada histórica, não só pelo número de representantes governamentais e delegados, mas pelo modelo de inclusão, com os diálogos e eventos paralelos da sociedade civil.

A CNI entregou ao governo um documento que relata iniciativas de 16 setores, que representam 90% do PIB industrial, para reduzir o impacto de suas atividades no meio ambiente. Pelo texto, as iniciativas nas duas últimas décadas resultaram em “fábricas menos poluentes e mais eficientes no consumo energético, que encontraram soluções para o uso da biodiversidade”.

No evento, que reuniu centenas de empresários, o presidente da CNI ressaltou que o governo do País, e não a indústria brasileira, deve ser responsabilizado pela poluição no Brasil. “Hoje quem polui é a população, a sociedade”, disse, afirmando que é preciso cobrar investimentos públicos em saneamento, mobilidade urbana e infraestrutura.

Questionado se a indústria brasileira é poluidora, ele afirmou que as empresas vêm trabalhando para reduzir os impactos ambientais de suas operações para atender uma legislação rígida que “fecha fábricas” e também ao consumidor, que hoje prefere produtos sustentáveis. “Não é apenas uma questão de responsabilidade social, mas de sobrevivência.”

Transição. A ministra brasileira do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, defendeu que a proposta de criação de um fundo global para financiar a transição para uma economia verde seja analisada com olhos voltados para o médio e longo prazos. “A Rio+20 acontece no curto prazo, mas tem mandato para buscar soluções permanentes e concretas de médio e longo prazos”, disse a ministra.

No evento, o economista e professor de Harvard Dani Rodrik comentou que as dificuldades orçamentárias dos países da Europa impedirão que a ideia de criação do fundo avance na conferência. A proposta do G-77, bloco que reúne nações em desenvolvimento mais a China, é de criação de um fundo internacional de US$ 30 bilhões para financiar o desenvolvimento sustentável. “Acho que é uma ideia muito boa, mas, na prática, tornou-se mais remota em razão da crise fiscal dos países avançados.”

Crítico assumido de políticas de cooperação internacional, ele lamentou a possível frustração do fundo por acreditar que o mecanismo é interessante no caso do financiamento de tecnologias verdes e modernização tecnológica de antigas fábricas.

Questionada se os países desenvolvidos estariam irredutíveis em ceder em algumas das negociações em andamento na Rio+20, a ministra negou. “Cedem. Você já participou de alguma discussão internacional? Parece que não”, disse ela.

A norueguesa Gro Brundtland, criadora do conceito de desenvolvimento sustentável, alertou que na negociação em Copenhague, há três anos, proposta semelhante não progrediu por causa da crise iniciada com a quebra do Lehman Brothers. Apesar disso, Gro está otimista. “Creio que vá progredir. Talvez não tanto quanto imaginamos, mas conseguiremos algo razoável.”


Pedidos da indústria sobem 37% no BNDES

Valor Econômico

Impulsionados por projetos de petróleo e gás, os investimentos na indústria sinalizaram movimento de retomada em abril, nas palavras do superintendente da área de Planejamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Claudio Leal. Isso, segundo ele, é perceptível no mais recente desempenho do banco, divulgado ontem.

Apesar do resultado pífio dos desembolsos, que subiram apenas 1% no primeiro quadrimestre ante igual período em 2011, para R$ 34,2 bilhões, a entrada de consultas no banco opera em ritmo forte. Primeiro passo do empresariado para pedido de empréstimo junto ao banco e usadas como “termômetro” para medir o apetite das empresas por novos investimentos, as cartas consultas atingiram R$ 73,8 bilhões de janeiro a abril deste ano. O volume é 37% superior aos pedidos do primeiro quadrimestre de 2011. Somente as consultas da indústria cresceram 71% na mesma comparação, o maior nível de elevação entre os quatro setores investigados pelo BNDES.

Na análise do superintendente, o pacote de estímulos à indústria lançado pelo governo durante a divulgação do programa Brasil Maior, em abril, e a ampliação de prazos do Programa BNDES de Sustentação do Investimento (BNDES PSI) levaram a um novo ímpeto de investimentos na indústria. “Observamos uma tendência de reversão [na estagnação de investimentos]”, afirmou. Porém, a retomada não é uniforme em toda a cadeia industrial, admitiu o superintendente, sendo mais concentrada nos fornecedores do setor de petróleo e gás.

A fraca atividade industrial observada nos últimos meses é perceptível também nos números do BNDES, que atestaram queda de 46% nos desembolsos para a indústria em 12 meses até abril. “A indústria tem passado por dificuldades, e o nível de atividade tem sinalizado estagnação, nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)”, lembrou o superintendente. Entre os problemas que levaram à indústria ao quadro atual, citados por Leal, estão forte concorrência com importados, e tributação elevada.

Com desembolsos de R$ 9,4 bilhões, a indústria respondeu por 28% dos desembolsos totais do BNDES no primeiro quadrimestre do ano, abaixo da fatia de infraestrutura, responsável por 39% das liberações, com desembolsos de R$ 13,4 bilhões. Em infraestrutura, o BNDES projeta liberações de R$ 60 bilhões em 2012, levemente superior a 2011 (R$ 56 bilhões).

A perspectiva favorável por novos empréstimos junto ao banco também pôde ser observado no resultado mensal de abril. Somente no quarto mês do ano, as consultas subiram 36% contra abril do ano passado. Esse ritmo de elevação é maior do que o nível de crescimento de desembolsos, que subiram 10%, no mesmo período de comparação.

Os projetos já contabilizados sinalizam que os desembolsos de 2012 devem ficar em torno de R$ 150 bilhões, acima dos R$ 139 bilhões de 2011.


Resistente à desaceleração, setor de serviços perde fôlego

Valor Econômico

Os meses de estagnação da atividade parecem não ter deixado ileso o setor de serviços, que vinha se mostrando mais resistente à desaceleração da economia. Duas pesquisas recentes mostraram que também empresários do setor notam esfriamento da demanda e dão sinais de que o cenário à frente deixou de parecer tão promissor quanto há alguns meses.

O Índice Gerente de Compras (PMI, na sigla em inglês), calculado pelo HSBC, recuou 8,6% entre abril e maio, feitos ajustes sazonais, para 49,7 pontos, menor nível desde julho de 2009. Abaixo dos 50 pontos, o PMI indica contração da atividade.

No caso da Sondagem de Serviços, da Fundação Getulio Vargas (FGV), o Índice de Confiança recuou 5,9% em maio, na comparação com o mesmo mês do ano passado, o pior recuo nessa comparação desde agosto de 2009. A série histórica só passará a ser publicada com ajuste sazonal em junho. A queda mais forte foi resultado, em boa parte, da forte retração das expectativas. “A sequência de decepções sobre o presente chegou às expectativas”, afirma Silvio Sales, economista do Ibre, da FGV.

Tony Volpon, da Nomura Securities, avalia que a análise desses dados indica início da correção de um desequilíbrio setorial que marcou o desempenho da atividade doméstica nos últimos anos, principalmente se avaliados em conjunto com a desaceleração das contratações do setor de serviços e a moderação da inflação do setor.

Para Volpon, uma das explicações para o desemprego ter continuado a cair, apesar da forte desaceleração do crescimento econômico desde o fim de 2010, é a expressiva pujança do setor de serviços nos últimos anos, com crescimento relativo bem superior ao do restante da economia.

Ao contrário da indústria – setor mais aberto à competição externa e, por isso, com rápida resposta da oferta a pressões da demanda, via importações -, um aumento da disponibilidade de serviços tem que ser construída “do chão”, argumenta Volpon. Por ser um setor de mão de obra intensiva, o ímpeto de contratações foi forte.

No auge da série dessazonalizada pela Nomura, o “excesso” de vagas geradas no setor – em relação ao crescimento que deveria ser observado, caso fosse mantida a mesma tendência para o mercado de trabalho como um todo – foi de 18,6 mil vagas, em novembro de 2011. Em abril, último dado disponível, a diferença tinha diminuído para 12.000 postos formais, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

Em um setor que não enfrenta concorrência externa, forte abertura de vagas e crescimento da demanda elevaram a pressão sobre os salários, que foram, por sua vez, repassados aos clientes. Por isso, a inflação de serviços tem sido constantemente mais alta do que o índice geral. Com preços relativos mais altos, a rentabilidade do setor aumentou e atraiu empresários.

Desde o início do ano, no entanto, os preços dos serviços estão perdendo fôlego. “Começa a aparecer um encontro entre demanda e oferta no segmento. A inflação de serviços era o sinal de preços necessário para realocar recursos – capital e trabalho – para esse setor, em que a demanda existia. As consequências são muito importantes, porque permitem desaceleração da inflação do setor e queda relativa das contratações, o que deve aliviar as condições do mercado de trabalho”, afirmou Volpon.

O peso crescente da folha de pagamento, reclamação de longa data da indústria, passou para a lista de preocupações dos empresários do ramo. O PMI, do HSBC, mostrou que um dos pontos que está desfavorecendo o setor de serviços é o aumento dos preços dos insumos, especialmente a elevação dos combustíveis e das folhas de pagamento.

Sales, do Ibre, sugere que o aumento do salário mínimo, que contribuiu para aumentar a renda nos primeiros meses deste ano e segurar a demanda, também é um custo importante para o segmento, principalmente aqueles direcionados às famílias, como hospedagem, alimentação fora de casa e serviços pessoais.

Como são empreendimentos de pequeno e médio porte, a folha salarial tende a pesar mais na composição dos gastos. A valorização do piso, avalia Sales, pode estar por trás da forte queda da percepção em relação à situação atual dos negócios desse segmento. Sempre na comparação com o mesmo mês do ano anterior, o índice recuou 13,1% em março e 13,5% em abril. Em maio, a queda foi novamente intensa (13,2%), o que prejudicou também as expectativas do segmento. Após queda de 0,4% em abril, o indicador recuou 8,6% em maio, sempre na comparação com igual período de 2011.

Para Sales, é possível que os preços relativos ainda altos observados no setor de serviços e um relativo esfriamento da demanda estejam se refletindo na percepção menos otimista dos empresários. Em todos os segmentos pesquisados pela FGV, aumentou o número de entrevistados que consideraram a demanda insuficiente em maio, sempre na comparação com o mesmo período do ano anterior.

Para André Loes, economista-chefe do HSBC, ainda serão necessários mais indicadores para tornar possível a afirmação que esse indicador retrata uma nova tendência, “mas é o primeiro sinal de que a fraqueza do setor industrial se espalhou também para o setor de serviços”, disse em nota.

José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, sugere que não só o pífio comportamento da indústria afeta as perspectivas, mas também o recente movimento de queda mais forte dos investimentos e das exportações líquidas. No entanto, embora os dados recentes apontem para desaquecimento do setor, “a resistência do consumo, ao menos no PIB, alivia um pouco esta consideração”.

Volpon, no entanto, diz que esse pode ser o início de reversão de um processo de desequilíbrio setorial. “Em função do câmbio menos apreciado, que parece ser algo mais permanente, esse pode ser um ambiente mais propício para que a indústria saia do atoleiro”. A desaceleração do setor de serviços, que responde por mais de 60% do PIB, afirma Volpon, deve consolidar a projeção de crescimento de 1,9% em 2012, além de reduzir também o potencial de crescimento brasileiro.

Sem o real valorizado, que contribuiu para baratear bens industriais, e com um mercado de trabalho em acomodação em função de um setor de serviços menos propenso a contratar, o poder de compra da população tende a diminuir, observa Volpon. Para a indústria, o cenário foi inverso. A crise mundial estancou a demanda em mercado importantes e oferta excedente foi deslocada para o Brasil. Com o câmbio apreciado e forte valorização dos salários, a indústria precisou concorrer com o setor de serviços por mão de obra.


Custo da dívida espanhola é recorde

Valor Econômico

O custo dos empréstimos da Espanha subiu e voltou a atingir nível recorde ontem, após uma agência avaliadora de risco ter rebaixado as dívidas do país, em meio aos crescentes temores de que o pacote de resgate aos bancos domésticos possa não ser suficiente para evitar um caos econômico.

As taxas (ou rendimentos) dos bônus referenciais de dez anos da Espanha alcançaram ontem nível recorde, batendo em 7% – maior patamar desde a adoção do euro pelo país e que muitos analistas consideram insustentável.

A agência de rating Moody”s rebaixou a classificação dos títulos de dívidas soberanos da Espanha em três notas, de “A3” para “Baa3”, na quarta-feira à noite. A Moody”s atribuiu a decisão à oferta de até € 100 bilhões pelos líderes da região do euro para a Espanha fortalecer seu fragilizado setor bancário, que acabará aumentando consideravelmente os encargos do país com dívidas.

Como consequência do rebaixamento, menos investidores vão comprar títulos espanhóis, porque determinadas instituições, como os fundos de pensão, são obrigadas a evitar ativos com classificações tão baixas. A Espanha não vai colapsar de imediato por causa do nível das taxas, mas atingir esse patamar traria dificuldades para o leilão de títulos marcado para terça.

“O relógio está correndo”, disse o analista Michael Hewson, da CMC Markets. O resgate dos bancos tem como propósito recapitalizar o sistema bancário espanhol e suavizar a crise das dívidas europeias. Em vez disso, os investidores parecem ter ficado preocupados com o fato de o governo estar assumindo dívidas extras, o que pressionou o rendimento dos bônus espanhóis para cima – sinal do nervosismo do mercado – durante toda a semana.

O ministro da Economia da Espanha, Luis de Guindos, disse que o país tem “um mapa de estradas” para resolver a crise e pediu tranquilidade. Já o ministro das Relações Exteriores, José Manuel García-Margallo, comparou a união monetária a estar em um navio. “Se o Titanic afundar, leva todos juntos, mesmo os que estão na primeira classe”, afirmou.

A Moody”s destacou que a capacidade de o governo espanhol para levantar dinheiro nos mercados internacionais está sendo limitada pelos altos juros, uma situação que o levou a aceitar os recursos da região do euro para resgatar seus endividados bancos.

Alguns detalhes sobre como será o pacote de socorro começaram a emergir ontem. As autoridades europeias estudam liquidações – venda dos ativos de um banco – como parte do plano para fortalecer o setor bancário espanhol, segundo um porta-voz do comissário de concorrência da União Europeia (UE), Joaquín Almunia.

“A liquidação sempre é avaliada”, disse o porta-voz Antoine Colombani. “Preferimos liquidar quando isso é mais barato para o contribuinte.” A alternativa foi rechaçada em comunicado do Fundo de Reestruturação Ordenada Bancária (Frob), do governo espanhol.

O fundo informou “não ter planos para iniciar procedimentos de insolvência ou liquidar nenhuma instituição de crédito sob sua administração ou controle”.

Como o acordo do fim de semana para salvar os bancos consiste em, primeiramente, emprestar o dinheiro para o governo da Espanha, há preocupações de que os contribuintes acabarão correndo o risco pelas más decisões dos bancos. Os investidores temem que o acordo eleve os níveis de endividamento e déficit da Espanha.

A Eurostat, agência de estatísticas da União Europeia, divulgou ontem que ainda é incerto quando o déficit do país aumentará, porque isso depende de como o governo emprestará o dinheiro aos bancos. Parte dessa decisão dependerá dos juros que serão cobrados dos bancos. Se forem baixos demais, a operação poderia ser considerada mais um “presente” do que um empréstimo, o que pesaria contra o déficit.

Colombani disse que de acordo com um dos planos em consideração, os juros mínimos seriam de 8,5%. A Eurostat não respondeu de imediato se tal taxa seria um patamar alto o suficiente para evitar que os empréstimos agravassem o déficit.

Um grupo de investidores iniciou procedimentos legais na Corte Nacional da Espanha para investigar se ex-diretores do Bankia agiram ilegalmente ao vender ações pouco tempo depois de a instituição pedir auxílio financeiro de € 19 bilhões. O advogado Juan Moreno Yagüe afirmou que abriu procedimentos em nome dos investidores para que um juiz investigue se os diretores “apresentaram contas falsas para assegurar que acionistas investissem em uma empresa que eles sabiam estar, na verdade, quebrada”.

A resposta errática do governo espanhol à crise irritou os líderes da UE, segundo o principal jornal espanhol, “El País”. O periódico informou que o primeiro-ministro Mariano Rajoy está sob fortes críticas em círculos da UE por ter apresentado o pacote como uma medida “leve” e uma vitória para a Espanha e o euro. A atitude provocou reclamações de outros países, como Portugal e Irlanda – que receberam pacotes austeros e tiveram de lidar com pesados controles fiscais impostos externamente -, para que recebessem tratamento similar.

Em discurso ao Parlamento alemão, em Berlim, ontem, a primeira-ministra do país, Angela Merkel, insistiu: “A Espanha está adotando as reformas adequadas. O primeiro-ministro espanhol está fazendo isso com grande coragem e grande determinação”, acrescentou. Merkel voltou a elogiar a decisão da Espanha de solicitar fundos europeus para recapitalizar seus bancos. “Quanto mais rápido a Espanha fizer a solicitação, melhor”.