Alívio com eleição na Grécia dura pouco e Espanha volta a assustar o mercado

A lua de mel não durou mais do que algumas poucas horas e o aparente fim do suspense na eleição na Grécia não deu alívio à Europa. Ontem, a crise jogou a Espanha à beira de um precipício financeiro e mergulhou o continente numa indefinição até então desconhecida.

O resultado da eleição na Grécia no fim de semana foi recebido com alívio, com a vitória de partidos que defendem o acordo de resgate com a Europa e a aparente formação de um governo de coalizão entre a Nova Democracia e os socialistas. O resultado afasta a possibilidade de que um governo de extrema esquerda assumisse o poder e decretasse o fim dos acordos entre Bruxelas e Atenas, na prática expulsando a Grécia da zona do euro.

Para analistas, porém, a eleição fracassou em dar garantias ao bloco e deixou claro que a crise grega apenas encobria uma incerteza generalizada. A lua de mel nos mercados foi mais curta do que se esperava. O foco de instabilidade se transferiu para a Espanha e deixou evidente a falta de estratégia da UE para lidar com a crise e o fato de que a quarta maior economia do bloco ainda não tem solução para a crise.

“O mercado escancarou uma realidade que os europeus descobrem a cada dia: a de que resolver a situação de Atenas já não resolve a crise da UE”, disse um negociador europeu ao Estado.

Dia ruim. Ontem a Espanha viveu seu pior dia nos mercados financeiros desde o início da crise. O risco país bateu novo recorde e a bolsa de Madri despencou, numa indicação de que o país está a ponto de ver as portas do mercado de crédito se fecharem.

O dia começou com sinais positivos, com o resultado das eleições gregas. Madri chegou a ver a bolsa subir 2%. Mas o otimismo logo deu lugar a uma onda de tensão sem precedentes na Espanha desde a criação do euro.

Madri anunciou há dez dias que havia fechado um acordo para um resgate de até 100 bilhões para seus bancos. Mas ontem a própria UE admitiu que o pacote não estava pronto. Sem uma definição de quem receberia esse dinheiro, quais seriam os critérios, quem ficaria responsável e nem mesmo quando o dinheiro chegaria, o mercado reagiu. A bolsa fechou em queda de 2,9%, mesmo índice de Milão. Já a taxa de juros da dívida espanhola atingiu o recorde de 7,2%, o que, na prática, impede que o governo tenha acesso sustentável a um financiamento no mercado.

Ontem, o governo espanhol se limitava a tentar dar garantias ao mercado, em vão. Enquanto isso, no México, a nova onda de turbulência deixou a chanceler alemã Angela Merkel sob forte pressão do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e do restante do G-20, para que seja flexível em seu receituário para o continente e ofereça uma nova alternativa para superar a crise. Em ano de eleição, Obama não quer ver a crise europeia atingir as costas americanas.


Protesto reúne mais de mil indígenas diante do BNDES

O Estado de S. Paulo

Cerca de mil indígenas se reuniram em frente à sede do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na manhã de ontem, no centro do Rio, para protestar contra a participação da entidade financeira estatal em obras de infraestrutura realizadas em áreas indígenas no País, tais como a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (Pará).

Com roupas típicas, os corpos pintados e ostentando tacapes, arcos e flechas, eles exigiram que a realização dessas obras não prejudique o cotidiano das 3,5 mil tribos espalhadas pelo Brasil.

O protesto começou no Aterro do Flamengo – onde paralelamente à Rio+20 ocorre a Cúpula dos Povos. O grupo atravessou pistas de grande circulação apontando suas tradicionais armas em direção a motoristas e pedestres, dançando e cantando.

Houve confusão na chegada à sede do BNDES, quando alguns indígenas invadiram as laterais do prédio e pularam as grades que cercam o local. Os edifícios do banco e da Petrobrás, instalada nas proximidades, fecharam suas entradas principais.

Representantes da ONG Causa Indígena distribuíram panfletos afirmando que a ausência “de demarcação dos territórios aguça os conflitos”. Após meia hora de protesto, 12 lideranças indígenas foram recebidas pelo vice-presidente do BNDES, João Carlos Ferraz. Uma comissão com cinco representantes indígenas será formada para uma segunda reunião, que deverá ocorrer em julho, quando o banco pretende expor ações de diminuição de impactos socioambientais dos projetos que participa.

À tarde, a sede do banco voltou a ser palco de um protesto, quando cerca de mil pessoas participaram da “Marcha à Ré da Rio + 20”. Os manifestantes caminharam “de ré” em alguns trechos do percurso, que teve origem no Museu de Arte Moderna (MAM), no centro do Rio, para expor seu descontentamento com o que consideram retrocessos da política ambiental do governo Dilma Rousseff .

Mais cedo, também no centro do Rio, uma passeata organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e pela Via Campesina reuniu cerca de 3 mil pessoas contra o “capitalismo verde e mercantilização da natureza”.


BC projeta PIB menor

Correio Braziliense

O Banco Central deverá reduzir a sua estimativa de crescimento para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, dos atuais 3,5% para algo entre 2,5% e 3% — o anúncio oficial será feito no fim deste mês. Esse é o consenso entre os analistas, que ontem voltaram a mostrar pessimismo em relação ao desempenho econômico do país, ao reduzirem, pela sexta vez consecutiva, as projeções para a expansão da atividade. Em vez de 2,53%, agora eles apostam em um tímido salto de 2,30%. A tendência é de que esse número continue baixando nas próximas semanas, reflexo da desconfiança que está minando o PIB brasileiro, conforme alertou o presidente do BC, Alexandre Tombini, em entrevista ao Correio no último domingo.

Diante desse quadro desolador, os especialistas passaram a crer em cortes ainda mais acentuados da taxa básica de juros (Selic). Segundo a pesquisa realizada semanalmente pelo BC, o indicador, que está em 8,50%, deverá ceder mais uma pontos percentuais, para 7,5% ao ano. Até então, o consenso era de apenas um corte de 0,5 ponto da Selic, para 8%. “No geral, os dados se mostram comportados no tocante à inflação. E isso abre margem para a autoridade monetária focar, com mais tranquilidade, em outros aspectos da política econômica”, disse André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.

Os analistas observam, contudo, que, em 2013, o quadro de preços da economia não será tão confortável para o BC como neste ano e a Selic terá de ser mais uma vez elevada, pelo menos 9% ao ano. As projeções para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) estão em 5,54% para o próximo ano e em 5% para 2012. Em relação ao PIB, as previsões endossam o discurso governista e mostram que o Brasil só deverá acelerar no segundo semestre e, apenas em 2013, crescer mais próximo de seu potencial, ao redor de 4,5%.

No entender de Tombini, as medidas de estímulo dadas pelo governo à economia, incluindo o corte de quatro pontos percentuais na taxa de juros desde agosto do ano passado, devem demorar mais tempo que o normal para mostrar resultados. Motivo: tanto os consumidores quanto os empresários estão assustados com os problemas da Europa e dos Estados Unidos. Segundo o presidente do BC, a crise internacional aumentou esse “tempo de transmissão” e o Brasil deve dar uma arrancada mais para o fim do ano. Até lá, os dados da indústria e do comércio continuam a rodar em ritmo aquém do ideal.


Crédito do BNDES para os Estados pode sair até 2014

Valor Econômico

Apesar da expectativa do Palácio do Planalto de que a linha de financiamento especial a ser criada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para os Estados ajude a impulsionar a atividade da economia doméstica imediatamente, parte dos recursos poderá ser liberada apenas em 2013 e 2014. A medida, que tenta combater os efeitos da crise financeira global, foi anunciada sexta-feira, depois de reunião da presidente Dilma Rousseff com os governadores.

Questionado se o lançamento da linha teria algum impacto nas projeções de desembolsos do banco para este ano, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, ponderou que o ano de 2012 já está na metade e as contratações demandam algum tempo. “O impacto mais substancial será em 2013, e talvez um pedaço em 2014. Não antevejo um estresse sobre o funding do banco para 2012.”

De acordo com Coutinho, o governo discute os critérios para dividir entre os Estados os R$ 20 bilhões liberados. “Reuniões técnicas estão sendo feitas em Brasília. O que se discute de mais importante são os critérios de alocação dos recursos, combinando redistribuição para os Estados mais pobres e com maior população, que é o critério do Fundo de Participação dos Estados (FPE), com o outro lado, que é a eficácia. Existem Estados que têm carteiras de projetos mais maduras e, portanto, mais viáveis a curto prazo. O que se deseja é combinar as duas coisas”, explicou o presidente do BNDES.

Segundo fontes do Palácio do Planalto, o governo quer ver esses R$ 20 bilhões despejados na economia o mais rápido possível. Caso algum governo estadual não tenha projeto pronto, o governo deixou aberta a possibilidade de que esses recursos possam ser usados para pagar as contrapartidas dos Estados em obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) já contratadas e em andamento.

Coutinho disse ainda, depois de participar do Fórum de Sustentabilidade Empresarial, na Rio+20, que um clube de bancos de fomento ao desenvolvimento sustentável, do qual o BNDES participa, anunciará hoje uma carta de compromisso. “Temos uma instituição chamada International Financial Development Club. São 19 bancos de vários países e temos trabalhado em conjunto, no sentido de pactuar um comprometimento das instituições com o desenvolvimento sustentável e inclusivo”, disse o presidente do banco.


Mais bancos vendem crédito ‘podre’

Valor Econômico

Em meio ao cenário de alta da inadimplência, mais bancos começam a mostrar disposição para vender carteiras de créditos em atraso, atividade sem grande tradição no país. No fim do ano passado, Itaú BBA e Pine testaram esse mercado, segundo apurou o Valor. O Banco Mercantil do Brasil tem feito leilões desses chamados créditos podres há pelos menos dois anos, ajudando a engrossar uma lista que antes estava restrita a instituições financeiras internacionais, como Santander, Citi e HSBC.

A depender do crescimento do estoque de crédito (e da inadimplência) e de mudanças da regulamentação bancária, o grupo de instituições com inclinação para vender financiamentos em atraso só tende a aumentar.

O pequeno volume das operações feitas por Itaú BBA e Pine indica que os bancos ainda estão tateando esse mercado. No caso do Itaú BBA, foram 15 financiamentos que totalizaram cerca de R$ 80 milhões – valor de face dos ativos de crédito. O Pine fez quatro ou cinco operações que somaram aproximadamente R$ 25 milhões. Procurados, os bancos não atenderam à reportagem.

Segundo fonte ouvida pelo Valor, dois grandes bancos de varejo que nunca venderam suas carteiras chegaram a conversar com potenciais compradores para suas dívidas vencidas há mais de 180 dias este ano, mas não fecharam negócio. A sondagem por parte das instituições cresce principalmente em torno das carteiras de veículos, uma das modalidades em que a inadimplência mais avançou.

Alguns dos motivos que mantiveram os bancos nacionais afastados do comércio de créditos podres são a falta de tradição, vontade de manter a operação do cliente (corporativo, principalmente) e o estigma de “pouca solidez” a que um banco estaria sujeito a carregar caso optasse por se desfazer dos empréstimos vencidos – como se a venda revelasse uma suposta necessidade de levantar recursos. Os estrangeiros, já acostumados a lançar mão desse expediente lá fora, vêm alimentando essa indústria no Brasil. Santander, o mais ativo deles, vendeu no primeiro trimestre deste ano uma carteira de R$ 700 milhões, entre créditos de varejo e para empresas.

Daqui para frente, porém, dois fatores devem estimular um número maior de bancos a vender créditos em atraso: a fiscalização mais rigorosa do Banco Central sobre formas alternativas de concessão de financiamentos e a implementação das regras de Basileia 3, que definem os parâmetros de capital das instituições financeiras.

No caso da fiscalização mais rigorosa, o incentivo para a venda de créditos podres deve ter maior apelo entre bancos de médio porte, que costumam recorrer a fundos de investimentos em direitos creditórios (FIDCs) para alavancar a capacidade de empréstimo. A partir de 2013, a autoridade vai exigir que as instituições reservem capital para as operações de crédito que estiverem fora do balanço. Portanto, os bancos que não quiserem arcar com provisões “extra” para créditos contabilizados dentro de fundos de investimento, por exemplo, estariam mais propensos a vender esses ativos em atraso.

Já o acordo de Basileia 3 tem potencial para trazer para esse mercado os grandes bancos de varejo, detentores de volumes bilionários de créditos tributários. Pelas novas regras, que entram em vigor gradualmente de 2013 a 2018, a maior parte dos créditos tributários produzidos a partir da constituição de provisões para devedores deixará de ser contabilizada como patrimônio de referência, o que acabaria por reduzir a capacidade de oferta de financiamento.

Diante da iminente “perda” desses ativos fiscais do capital, os bancos, hoje avessos à venda de créditos podres, devem passar a considerar melhor a possibilidade. Quando créditos podres (já provisionados) são vendidos, normalmente por um valor muito inferior ao de face, o banco realiza um prejuízo. Isso permite acessar o crédito tributário para abater Imposto de Renda (IR) e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).

Hoje, quando créditos acima de R$ 5 mil ficam em atraso por mais de um ano, os bancos declaram perda contábil mas a Receita Federal não permite que o valor seja abatido dos impostos até que se esgotem todas as tentativas de recuperação, inclusive judiciais, o que pode levar anos. Com as novas regras de Basileia 3, carregar esses créditos tributários no balanço significará consumir mais capital.

O mercado de créditos podres no Brasil está aquém do potencial. Pelos cálculos de Salvatore Milanese, sócio responsável pela área de reestruturação da KPMG, que organiza a venda de carteiras vencidas para empresas e bancos, o volume de financiamentos com atraso de 60 a 360 dias e daqueles que já foram baixados para prejuízo (e estão nas contas de compensação dos bancos) gira em torno de R$ 440 bilhões. Em anos auspiciosos para a indústria de créditos podres como foi 2011, o montante comercializado, de R$ 27 bilhões, não chega a representar 7% do estoque de créditos em atraso.

“Matéria-prima é o que não falta”, observa Milanese. Para o especialista, a adesão de mais bancos à venda de carteiras vencidas é questão de tempo. “O crédito responde só por 50% do PIB. À medida que esse volume for aumentando, os bancos passarão a ir a mercado [vender crédito podre]”, diz.