Demanda fraca reduz ajuda do juro menor

O recuo da taxa de juros de longo prazo (TJLP) de 6% para 5,5% não será suficiente para acelerar o ritmo de consultas de empréstimos da iniciativa privada junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) este ano. Para economistas, o atual fraco ritmo de investimentos dos empresários não reflete ausência de crédito barato, e sim incerteza quanto a demanda em horizontes de médio e longo prazo.

“Com o recuo da TJLP, os juros reais [descontada a inflação] de empréstimos do banco realmente ficaram muito baixos, até próximos a zero em alguns casos”, observou o economista e diretor do International Growth Center, Claudio Frischtak. Embora tenha classificado o recuo como positivo, Frischtak fez algumas ressalvas sobre o efeito do corte nas operações do BNDES.

A cartas-consulta de crédito mostraram bom resultado nos primeiros meses do ano, crescendo 37% sobre 2011. Porém, na análise de Frischtak, mesmo um sinal positivo não apaga o quadro atual de investimentos. Atualmente, a formação bruta de capital fixo (FBCF) é de apenas 18,7% do Produto Interno Bruto (PIB), abaixo da meta desejada do governo, de 20%.

Historicamente, as empresas pegam empréstimos junto ao banco mais para realizar novos projetos, do que para capital de giro. Ou seja: o perfil de empréstimos do BNDES é de impulsionador da fatia da FBCF. Nesse contexto, facilitar empréstimos no âmbito do banco é uma boa estratégia para injetar novos recursos no ambiente macroeconômico, segundo ele. “Mas não é somente isso que vai elevar investimentos”, acrescentou o economista. “Não é falta de crédito barato que impede investimento. Empresas só realizam investimentos quando têm certeza de que haverá demanda. E não há essa certeza”, alertou Frischtak.

Na prática, o efeito da redução da TJLP no apetite dos empresários por recursos do BNDES poderia ser maior em um ambiente de crescimento econômico, na análise do economista-chefe da Confederação Nacional de Comércio (CNC) e ex-diretor do Banco Central (BC), Carlos Thadeu de Freitas. “O efeito [da redução da TJLP] na tomada de empréstimos no BNDES será muito pequeno”, afirmou.

Pedro Paulo Silveira, economista da TOV Corretora, também avalia que o impacto do aumento nas compras governamentais sobre o investimento neste ano será pequeno. “Para que essa medida surtisse um efeito relevante sobre a economia o aumento teria de ser pelo menos cinco vezes maior”, afirma Silveira.

“Claro que a medida é positiva, é uma tentativa bem-intencionada, mas não é isso que vai reativar os investimentos no país”, afirma o economista. Para ele, a trava dos investimentos está na confiança do empresário, que continua baixa, diante das incertezas decorrentes da crise na Europa.

Mesmo com trajetória crescente nas consultas de empréstimo do setor industrial junto ao BNDES até abril, a perspectiva de investimento da indústria nos próximos meses não é muito animadora, na avaliação do economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e responsável pela sondagem de investimentos da indústria da transformação, Aloísio Campelo.

Para ele, a queda da TJLP pode fazer alguma diferença, principalmente em empréstimos já tomados por empresas junto ao banco. Mas, em sua avaliação das mais recentes sondagens, o ímpeto de investimentos para novos projetos da indústria é, atualmente, fraco.

A redução da TJLP, aliada às demais medidas de estímulo do governo para reanimar a economia, dão maior conforto ao cenário de retomada da atividade no segundo semestre, mas o teto para o crescimento do PIB em 2012 continua sendo 2%, na avaliação de David Beker, chefe de economia e estratégia do Bank of America Merrill Lynch para o Brasil.

Para Beker, o corte de meio ponto na taxa de juros dos empréstimos do BNDES demonstrou preocupação legítima do governo com relação à fraqueza da economia e do investimento. A medida, no entanto, ressaltou o economista, não é a solução para o baixo crescimento brasileiro, assim como os demais incentivos que estão sendo concedidos pelo governo. O BofA prevê alta de 2% para o PIB neste ano, mas, segundo Beker, o avanço pode ser menor.

Diante do ambiente externo conturbado, a grande dúvida do analista em relação ao segundo semestre persiste no investimento em capital fixo, principal surpresa negativa nos resultados do PIB do primeiro trimestre. Segundo Beker, a incerteza em relação à recuperação da atividade, somada às perspectivas de baixo crescimento global, ainda devem inibir investimentos, a despeito do corte da TJLP. Entre janeiro e abril, mencionou o economista do BofA, a média de desembolsos do BNDES cresceu apenas 1% frente igual período do ano passado, nível muito inferior à meta de 8% da instituição para o ano.


BC injeta mais de R$ 10 bi em bancos

Correio Braziliense

Escassez de dinheiro em instituições para fechar as contas obriga autoridade monetária a agir

O Banco Central foi obrigado a socorrer o sistema financeiro nos últimos dois dias, movimento que causou apreensão em muitos agentes do mercado. Na terça-feira e ontem, injetou mais de R$ 10 bilhões no caixa dos bancos, que se depararam com uma seca de recursos que há tempos não se via. Sem o reforço do BC, as instituições não fechariam as contas, o que exigiria uma ação mais enérgica da autoridade monetária. Segundo fontes do governo, a escassez de recursos vai durar até amanhã, mas não há motivos para preocupação.

“Foi uma falta eventual de dinheiro. A partir de segunda-feira, tudo voltará ao normal”, assegurou um técnico da equipe econômica. Ele ressaltou que, no início da próxima semana, o Tesouro Nacional fará um regaste de cerca de R$ 130 bilhões em títulos públicos que estão em poder do mercado. Ou seja, entregará os recursos em troca dos papéis. “Será uma quantia suficiente para corrigir qualquer distorção, como ocorreu em 30 de dezembro de 2011, última vez que o BC havia colocado dinheiro no sistema financeiro”, completou

Os técnicos do governo alegaram ainda que parte da escassez de recursos no caixa dos bancos decorre da menor entrada de dólares no país.

Excessos

Antes do agravamento da crise europeia, havia uma enxurrada de capital estrangeiro no Brasil, o que obrigava o BC a comprar os excessos, para evitar o derretimento da moeda norte-americana. Com isso, injetava reais na economia. Mas, para não deixar esse dinheiro circulando livremente, o que pressionaria a inflação, agia também na outra ponta, vendendo títulos públicos. Conseguiu, com essas operações, “esterilizar” R$ 460 bilhões que estava circulando. “Agora, o BC está devolvendo uma parte do que tirou do mercado”, explicou um assessor do Ministério da Fazenda.

Nesse novo cenário, o governo acredita que, todo fim de trimestre, o sistema financeiro poderá conviver com falta de dinheiro, o que será resolvido imediatamente pelo BC. “Será uma  escassez pontual, não um sinal de que bancos podem estar com problemas para se financiarem no mercado”, assegurou o assessor da Fazenda. O economistra-chefe da Prosper Corretora, Eduardo Velho, endossou essa visão. “Tudo está funcionando normalmente. As intervenções do BC são normais, tanto para retirar quanto para injetar dinheiro no mercado”, disse.


Consumo interno de máquinas sobe 16% em maio

Valor Econômico

O consumo aparente de máquinas e equipamentos cresceu em maio 16,1% em relação ao mesmo período do ano passado, atingindo R$ 10,9 bilhões, de acordo com levantamento divulgado ontem pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Mario Bernardini, assessor econômico da presidência da Abimaq, ressalta que, como esse aumento da demanda doméstica foi abastecido principalmente pelas importações, sem ser acompanhado pelas vendas internas de bens de capital, é cedo para afirmar que os dados são indícios de que o investimento está reagindo às medidas do governo. O consumo aparente é a soma da produção local e das importações, excluindo as exportações.

Em maio, o faturamento da indústria de máquinas e equipamentos caiu 1% em comparação com o mesmo período do ano passado, enquanto a receita com vendas de bens produzidos internamente recuou bem mais, 9,3%, segundo a pesquisa da Abimaq.

Já o volume de importações de bens de capital foi de US$ 3,6 bilhões, alta de 14,9% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com o boletim da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex).

Para Bernardini, é mais provável que, com a recente desvalorização do real em relação ao dólar e o conturbado cenário externo, as empresas tenham antecipado compras que estavam agendadas para os próximos meses, como forma de se proteger. Por isso, diz, a tendência ficará mais clara apenas em junho.

Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora, acredita que a avaliação de que o dólar não deve voltar no curto prazo ao patamar de R$ 1,90 contribuiu, de fato, para aumentar o volume de compras externas de máquinas no mês passado. No entanto, diz, a reação do consumo doméstico de bens de capital em maio é também um sinal pontual de avanço. “Após três trimestres consecutivos de queda do investimento em capital físico, era natural que em algum momento houvesse uma pequena melhora”, diz ele.

Para o economista, é por esse motivo que o investimento deve ter evolução positiva no segundo trimestre deste ano, em comparação com os primeiros três meses de 2012, mas o prognóstico continua pouco animador. Para Velho, os efeitos das medidas de estímulos já anunciadas pelo governo só devem ficar claros em 2013, quando houver reação também da economia global. Para este ano, diz, mesmo com forte retomada no segundo semestre, o crescimento não deve superar 2,5%, como quer o governo.


Para Itamaraty, é prematuro falar em acordo comercial com China

Valor Econômico

A aliança estratégica entre a China e os três sócios plenos do Mercosul – Brasil, Argentina e Uruguai – não deve evoluir tão rapidamente para algum acordo de natureza comercial. Essa é a opinião do chefe da Divisão de Negociações Extrarregionais do Mercosul II do Itamaraty, Francisco Peçanha Cannabrava. Para ele, “é muito prematuro” pensar no início de negociações para um acordo de livre comércio.

A aliança estratégica foi anunciada na segunda-feira pelo primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, em uma teleconferência organizada pela presidente argentina, Cristina Kirchner, na Casa Rosada, com a participação de Dilma Rousseff e do presidente uruguaio, José Mujica. Em seu pronunciamento, Wen deixou claro seu objetivo de, com a aliança, abrir caminho para um acordo de livre comércio. Ao se manifestar, na ocasião, Dilma evitou tratar dessa possibilidade e o Itamaraty também não se manifestou sobre o assunto.

“A China é um parceiro muito importante para o Mercosul, mas a proposta de diálogo do governo chinês aconteceu literalmente há poucas semanas e há vários elementos a serem analisados”, disse Cannabrava, durante evento na Câmara Americana de Comércio (Amcham), ontem em São Paulo. Ele lembra que há uma grande preocupação das indústrias brasileiras em relação a algum acordo desse tipo com a China, em razão da forte importação nacional de manufaturados com origem no país asiático. Para ele, a intensificação de relações com a China pode começar com compromissos sem caráter comercial, como de cooperação técnica, por exemplo.

Para Cannabrava, a suspensão do Paraguai do Mercosul em razão do “impeachment” do ex-presidente Fernando Lugo não deve ser motivo para paralisar os trabalhos do bloco em relação a acordos já em discussão. Um exemplo é o acordo Mercosul-União Europeia.

Cannabrava diz, porém, que a troca de ofertas entre os dois blocos, necessária para um avanço das negociações, ainda não tem data definida. Ele não comentou sobre a possibilidade de ser discutida a integração da Venezuela ao Mercosul enquanto a participação do Paraguai no bloco está suspensa.

Por enquanto, diz Cannabrava, o Brasil analisa a possibilidade de iniciar a negociação de acordo de livre comércio com o Canadá. Segundo ele, os dois países concluíram recentemente um “diálogo exploratório”. “A princípio vemos isso com simpatia, mas a decisão será tomada após análise de custos e benefícios”, acrescentou.

Para iniciar um eventual processo de negociação, diz Cannabrava, o Canadá precisaria concordar em negociar abertura maior de mercado nas áreas agrícolas, que contam com forte proteção. Segundo ele, em 2011 cerca de 40% das exportações brasileiras ao Canadá foram de manufaturados. A venda de produtos agrícolas brasileiros, porém, é pequena. O Canadá, diz, é o sexto maior importador agrícola do mundo, mas a participação do Brasil nas importações canadenses de produtos agrícolas é de apenas 2,9%.

A negociação de acordos comerciais bilaterais, lembra Cannabrava, passa necessariamente pelo Mercosul, mas ele acredita que o assunto ainda deve amadurecer antes de ser levado à discussão com os demais sócios do bloco.


Inadimplência das empresas sobe 17,5% no ano

O Estado de S. Paulo

O Indicador de Inadimplência das Empresas, divulgado ontem pela Serasa Experian, registrou alta de 9,4% em maio em comparação com o mês anterior. Em relação a maio de 2011, o aumento foi de 13,2%. De janeiro a maio, o aumento acumulado já chega a 17,5% em relação ao mesmo período do ano passado.

Os economistas da empresa especializada em crédito atribuem a evolução da inadimplência em maio à sazonalidade do mês, mas desta vez a alta teria sido “potencializada” por uma série de entraves econômicos, como atividade econômica fraca, o baixo nível de crédito externo, a forte inadimplência dos consumidores e a queda nas exportações provocada pela crise global.

O indicador é nacional e considera as variações no número de cheques sem fundos, títulos protestados e dívidas vencidas com instituições bancárias e não bancárias. Para a Serasa Experian, a forte expansão mensal dos protestos de títulos (19,4%) antecipa um provável aumento do número de requerimentos de falências.

Em relação a abril, a inadimplência das empresas subiu 0,5% nas dívidas não bancárias, 2,5% nas dívidas com bancos e 20,2% nos cheques.

Nos cinco primeiros meses de 2012, as dívidas não bancárias (cartões de crédito, financeiras, lojas em geral e prestadoras de serviços como telefonia e fornecimento de energia elétrica e água) tiveram um valor médio de R$ 775,74, o que representou um crescimento de 4% em comparação a igual período de 2011.

O valor médio das dívidas com bancos subiu 4,3% e chegou a R$ 5.269,13 em média. Em relação aos títulos protestados, o valor médio ficou em R$ 1.914,33 (alta de 11,1%). Já os cheques sem fundos ficaram com o valor médio de R$ 2.191,88, o que significou aumento de 6,5% na comparação o acumulado de janeiro a maio de 2011.

Estabilidade. O economista da consultoria Austin Rating, Felipe Queiroz, pondera que, pelos dados do Banco Central (BC) divulgados nesta semana, a inadimplência das empresas está estável, em 4,1%, desde fevereiro, para atrasos acima de 90 dias. Para prazos inferiores, está em 2,3%, também mostrando estabilidade. “São metodologias diferentes”, comenta Queiroz, comparando os resultados aos apresentados pela Serasa Experian.

Na opinião do economista, não há, no momento, um cenário de descontrole nos pagamentos das pessoas jurídicas. Os índice mais elevados de calote no setor, segundo dados do BC, foram verificados no fim de 2000 e início de 2011, quando chegaram a 5,6% e 5,8%. “Hoje, o maior problema das empresas não é a inadimplência, mas a demanda interna retraída”, afirma.

Famílias

O perfil do endividamento das famílias melhorou em junho, segundo estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor divulgada ontem apontou que o porcentual de famílias brasileiras com dívidas passou de 55,9%, em maio, para 57,3%, em junho, mas 12,4% se disseram muito endividados em junho, contra 13,9% em maio – indicando melhora no perfil, de acordo com a economista Marianne Hanson. O nível de “muito endividados” deste mês é inferior aos 16,6% de junho do ano passado.


Compras do governo favorecem área militar

O Estado de S. Paulo

A formalização das compras e investimentos do governo nos programas de produção e desenvolvimento dos blindados Guarani, da Iveco, e dos lançadores múltiplos de foguetes e mísseis Astros 2020, da Avibrás, supera o efeito imediato, da aplicação de dinheiro a curto prazo – a rigor, a inclusão dos projetos no PAC consolida a administração federal como protagonista dos negócios no setor da Defesa. O valor do pacote, que envolve também 5.070 caminhões de diversos tipos, chega a R$ 1,527 bilhão.

Segundo Sami Hassuani, presidente da Avibrás, “o governo assumiu compromissos com a produção. É uma vitória extraordinária”.

Os dois projetos estratégicos, do blindado Guarani e do lançador Astros, vão receber R$ 588,4 milhões. Os 40 veículos da Iveco terão R$ 342,4 milhões. O produto da Avibrás, cobrindo 30 unidades da configuração 2020, vai levar R$ 246 milhões. Em 2011, a empresa recebeu um contrato no valor de R$ 160 milhões.

Os restantes R$ 939,6 milhões vão custear a encomenda de 5.070 carretas e transportadores mais leves para o deslocamento de tropas e usos gerais. As Forças já estavam autorizadas a comprar no mercado nacional 900 unidades às quais se somarão, agora, outras 4.170.

Produtos

A Avibrás é a principal beneficiada pela MP dos equipamentos. O grupo de São José dos Campos vive sob regime de recuperação extrajudicial. Após receber um aporte do Ministério da Defesa em 2011, iniciou efetivamente o programa Astros 2020, quinta e mais avançada configuração do Astros, para fogo de saturação de área com alcance entre 9,5 e 90 quilômetros.

No novo conceito, a arma passa a incorporar um míssil de cruzeiro com alta precisão e alcance de 300 quilômetros, o AV-TM, e munições com maior poder de fogo. O principal avanço, todavia, é na área eletrônica, toda digital. Em julho de 2011, durante exercício de instrução no campo de Formosa (GO), a 80 quilômetros de Brasília, foram empregados pela primeira vez os blindados de comando e controle que farão parte do conjunto.

O investimento total no projeto é de R$ 1,2 bilhão – valor distribuído ao longo de seis anos. O material que a Força está comprando é composto por 49 viaturas. Além de incorporar o míssil AV-TM, 0 2020 emprega o modelo FOG, antiblindagem.

O Guarani mede 6,9 metros de comprimento, 2,7 metros de largura. Tem uma torre móvel, de acionamento elétrico, para receber vários tipos de armas, e atingirá a velocidade de 90 km por hora em estrada. Também será equipado com navegador GPS, sistema ótico de visão noturna.


Fuga de moedas emergentes atinge empresas mundiais

Valor Econômico

As moedas dos mercados emergentes estão passando por sua maior venda em massa em uma década. Essa turbulência começa agora a repercutir no mundo corporativo. O Standard Chartered Bank se tornou a mais recente empresa multinacional a advertir sobre o impacto da significativa queda registrada este ano pelas moedas dos mercados emergentes. O banco disse ontem que o crescimento do lucro e do lucro antes dos impostos cairá para menos de 10% no período de seis meses encerrados em junho, devido à desaceleração da economia na Ásia e à queda das moedas asiáticas, notadamente a rúpia indiana, no câmbio com o dólar americano.

A observação do Standard Chartered ocorre depois de a fabricante de produtos de consumo Procter & Gamble e a fabricante de cigarros Philip Morris International terem advertido sobre o impacto das oscilações cambiais dos mercados emergentes. A turbulência sofrida pelas divisas dos mercados emergentes causará outras. A rúpia e o rublo russo caíram em cerca de 11% no segundo trimestre de 2012, período em que o declínio do real brasileiro alcançou 12%.

Outras moedas intensivamente negociadas se saíram um pouco melhor. A coroa tcheca recuou 10% no trimestre, o rand sul-africano, 9%, o zloty polonês, 8,6% e o peso mexicano, 5,5%.

De modo geral, segundo dados reunidos pela “Blooomberg”, o segundo trimestre de 2012, ao que parece, será o pior já registrado para as moedas dos mercados emergentes desde a crise financeira asiática de 1998.

O fato de três das quatro economias dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) estarem encabeçando essa tendência é especialmente alarmante, porque esses grandes países dominam os mercados emergentes e se constituíram, coletivamente, no maior estímulo ao crescimento mundial durante a crise econômica pós-2008.

Mesmo a China, o maior dos Brics, desacelerou os esforços destinados a impulsionar o yuan e permitiu que a moeda recuasse nos últimos três meses, embora apenas 1%. Esses declínios drásticos são puxados principalmente pela fuga dos investidores para a segurança representada pelo dólar americano, em vista da crise do euro. Os exportadores de commodities, principalmente a Rússia, também foram afetados pela queda dos preços dos metais e dos produtos energéticos.

Mas há o crescente temor de que o recente período de uma década de crescimento econômico superacelerado dos mercados emergentes possa ter ficado para trás. Os investidores parecem ter concluído que a China e outros Brics não conseguirão representar um recomeço para a economia mundial como fizeram após o colapso, em 2008, do Lehman Brothers.

“Acho que as pessoas mudaram de ideia sobre toda a experiência com os Brics”, disse David Bloom, diretor de estratégia cambial do HSBC.

A venda maciça de contratos de câmbio referentes a Brasil, Rússia e Índia foi maior do que os vinculados às moedas dos mercados emergentes que tradicionalmente sofrem as maiores oscilações, como México, África do Sul e Polônia. Isso se deve em parte ao fato de as moedas de economias maiores terem maior liquidez, e serem, portanto, mais fáceis de alienar numa venda em massa, e em parte às esperanças maiores dos investidores de que os Brics, com seus grandes mercados internos, suportarão a crise melhor do que seus concorrentes de menor porte. “Os países em que as pessoas estavam mais entusiasmadas [com as perspectivas] foram os que mais sofreram”, diz Bloom.

Com tantas dúvidas pairando sobre os mercados, é impossível saber quanto tempo essa mudança de sentimento deverá durar. Embora se mantenha o consenso de que os mercados emergentes no longo prazo vão crescer de forma mais acelerada do que os países desenvolvidos, os próximos meses – ou anos – poderão ser difíceis. Como diz Sébastien Barbé, diretor de câmbio do Crédit Agricole: “As pessoas olham para os mercados emergentes e dizem que vem aí um novo padrão. Assim, os mercados estão tentando precificar o novo padrão”.

Para a China isso pode significar um crescimento anual do Produto Interno Bruto (PIB) de 7%, em vez de 10%. Para países menores voltados para a exportação como a Tailândia, poderá significar maior volatilidade da economia, além de um crescimento mais lento. Para quase todas as economias, esse fator traz a incerteza, que, num ambiente avesso ao risco, preocupa os investidores.

Algumas autoridades da área econômica dos países emergentes, que estavam até recentemente satisfeitos, na maioria, em ver suas moedas se livrar de parte das rápidas altas registradas na recuperação pós-2009, tentam agora deter o descenso. O Brasil, por exemplo, reduziu este mês o imposto incidente sobre os empréstimos externos. A Índia cortou no mês passado o lucro que as empresas externas podem deter em moeda estrangeira, a fim de estimulá-las a transferir recursos para seus países de origem, e elevou este mês os tetos dos investimentos estrangeiros em bônus governamentais. Brasil, Rússia e Índia intervieram nos mercados para dar sustentação às suas moedas.

Com a queda das divisas, alguns investidores estão batendo em retirada, notadamente na Rússia, onde a fuga de capitais tem sido um desafio constante, ao alcançar, por exemplo, um valor líquido de US$ 46,5 bilhões nos cinco primeiros meses do ano, comparativamente aos US$ 80 bilhões correspondentes a todo o ano de 2011.

Com a desaceleração das economias e a queda das moedas os tomadores de recursos externos nos mercados emergentes enfrentarão um grande gargalo. Empresas da China, Hong Kong, Rússia e México, grandes tomadoras no ano passado, se retraíram em 2012. Mas as empresas brasileiras multiplicaram seu endividamento externo, ao tomar US$ 19,9 bilhões no primeiro semestre de 2012, em relação aos US$ 23,6 bilhões absorvidos no ano passado como um todo, segundo a gestora de investimentos Dealogic. Quando alguns desses grupos publicarem seus dados financeiros de 2012, a advertência do Standard Chartered sobre a pequena magnitude dos lucros será rapidamente esquecida.


Brasil é o 2º maior emissor privado externo nos EUA

Valor Econômico

O Brasil tornou-se o segundo maior emissor estrangeiro de bônus empresariais nos Estados Unidos, com as firmas brasileiras aproveitando o apetite dos investidores por ativos de alto rendimento. As colocações das maiores empresas brasileiras, como Petrobras, Banco do Brasil e Vale, ampliaram a participação do país no mercado americano para cerca de 11% das emissões internacionais totais de títulos de dívidas denominados em dólar no acumulado desde janeiro, segundo dados da Dealogic.

“Alguns desses bônus empresariais brasileiros são muito atrativos, particularmente em um cenário de baixas taxas de juros”, afirmou Sabur Moini, gestor de carteiras de alto rendimento da Payden Rygel, que detém bônus de empresas do Brasil. “Eles oferecem retornos que um gestor de bônus normalmente não conseguiria com companhias dos EUA de classificações similares.”

As empresas brasileiras sentem-se atraídas pelo mercado nos EUA por sua grande concentração de fundos de investimentos de longo prazo e pelas taxas de captação, as menores na história, em patamares particularmente favoráveis quando comparados aos altos juros domésticos no Brasil.

Embora os juros estejam em declínio no Brasil, a taxa básica está em 8,5%, nível que limita o desenvolvimento de um mercado para grandes bônus mantidos em carteira por períodos de cinco a sete anos ou mais.

A maior parte dos US$ 21,3 bilhões de títulos empresariais brasileiros vendidos no ano veio de empresas com classificação de crédito de “grau de investimento”, com rendimento médio superior a 5%. Em comparação, os juros médios pagos pelas empresas dos EUA com ratings similares são de 3,2%, de acordo com o Barclays.

“Faz muito sentido vir aos mercados dos EUA em busca de financiamento para algumas dessas grandes companhias brasileiras que focam o dólar”, disse Rodrigo González, diretor de mercados de capitais de renda fixa na América Latina do Standard Chartered.

“Aqui elas têm a oportunidade de travar taxas em seus menores patamares históricos. E, ao mesmo tempo, diversificam seu conjunto de investidores.”

As empresas com sede no Reino Unido continuam como as maiores emissoras estrangeiras de dívidas em dólar, mas a participação das brasileiras quase dobrou desde 2010, segundo a Dealogic.

A dependência das companhias estrangeiras em relação ao mercado de dólar dos EUA intensificou-se neste ano, à medida que a crise das dívidas soberanas europeias piorou.

“Hoje, o tamanho das companhias no Brasil e sua diversidade as levam a estar promovendo emissões mínimas de US$ 500 milhões”, afirmou João De Biase, diretor global de mercados de capitais de renda fixa no banco de investimento brasileiro Itaú BBA.

Segundo De Biasi, embora a liquidez seja forte no mercado doméstico brasileiro, os EUA ainda são uma opção melhor para emissões grandes e de longo prazo, como o bônus de US$ 7 bilhões lançado pela Petrobras neste ano. Foi a maior colocação de títulos de dívida de uma empresa brasileira na história.