A maior retração desde 2009

A produção industrial brasileira fechou o primeiro semestre com um recuo de 3,8%, conforme pesquisa mensal divulgada ontem pelo IBGE. Comparados ao mesmo mês do ano passado, os resultados de junho mostram que o desempenho encolheu 5,5%, a maior queda desde setembro de 2009. Nem a pequena reação frente a maio – de 0,2% – foi capaz de reverter a expectativa negativa para a indústria este ano. Uma conta feita pelo próprio IBGE mostra que a indústria produz hoje o mesmo que fabricava há três anos.

A previsão é que o setor feche o ano com retração de 2%. Se a projeção se confirmar, será a primeira vez desde a crise global de 2009 que a indústria cortará produção no ano.

– Os dados mostram clara predominância de resultados negativos para o setor industrial no primeiro semestre. O crescimento de 0,2% verificado entre maio e junho representa uma interrupção nos recuos, mas ainda não é possível dizer que seja uma tendência – afirma André Luiz Macedo, gerente da pesquisa do IBGE.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que a produção industrial atingiu um ponto de virada, a partir do qual passará a apresentar resultados melhores que os das últimas pesquisas.

– Ela (a produção industrial) está dando uma virada. É um ponto de inflexão depois de ter crescimento negativo durante vários meses consecutivos. Vejo que, agora, é um ponto de virada. Daqui para frente, vamos ter resultados melhores – afirmou Mantega, ao chegar à sede do Ministério da Fazenda, em Brasília.

Mas até a reação chegar, os números são todos negativos. O fechamento do segundo trimestre de 2012 também aponta queda frente a 2011, de 4,5%. Em relação ao primeiro trimestre, o recuo é de 1,1%. A reação tímida de junho, embora positiva, foi muito abaixo do esperado pelos analistas: a expectativa era que a produção crescesse entre 0,8% e 0,9% no mês frente a maio.

– Nossa estimativa é que a produção industrial feche o ano com um recuo de 2%. Para chegar a dezembro estagnada, sem perdas, seria necessário crescer a uma taxa mensal de 2,1% de julho a dezembro, o que não é nenhum pouco factível – analisa o economista Rafael Bacciotti, da consultoria Tendências.

mais produção de carros

Três setores foram fundamentais para que o resultado de junho interrompesse a série negativa: o grupo que inclui aviões e motocicletas (denominado pelo IBGE como “de outros equipamentos de transporte”), com expansão de 12,5%; o farmacêutico, com alta de 8,6%; e o de veículos automotores, que com o avanço de 3% conseguiu recuperar parte do recuo de 3,6% acumulado de março a maio de 2012.

– A expectativa é que o ritmo da produção acelere de forma mais expressiva no segundo semestre – prevê Rodrigo Nishida, economista da LCA Consultores, que projeta recuo de 0,5% na produção industrial este ano.

A reação da indústria automotiva pode ser atribuída ao esvaziamento dos pátios das montadoras, reflexo das medidas de incentivo ao consumo lançadas pelo governo, como a redução do IPI e o corte nas taxas de juros. Em junho, o estoque, que era para 40 dias, baixou para 30 dias.

Também houve melhora na produção de bens duráveis, que saltou 4,8% em junho frente a maio. O crescimento é outro sinal de que as medidas do governo para estimular o consumo estão começando a aparecer no setor produtivo, já que o grupo engloba eletrodomésticos e móveis, também beneficiados com a prorrogação da redução do IPI.

Alcides Leite, economista da Trevisan Escola de Negócios, considerou que o crescimento do índice não é suficiente para representar uma virada.

– Essa melhoria resulta dos incentivos do governo. Mas a indústria está estagnada.


Cinco bancos detêm 80% do crédito

Valor Econômico

De cada R$ 100 emprestados no Brasil, R$ 80,34 foram desembolsados por apenas cinco bancos: Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco, Caixa Econômica Federal e Santander. Os números, que levam em conta o estoque de crédito atual, mostram o maior nível de concentração bancária dos últimos dez anos e, provavelmente, desde sempre. Há uma década, as cinco maiores instituições não tinham nem 60% do estoque de crédito do país. De cada R$ 100 desembolsados, eram responsáveis por R$ 58,66, segundo dados do Banco Central elaborados pelo Valor.

Não é apenas nos empréstimos e financiamentos que a predominância do “grupo dos cinco” é crescente. Em ativos totais e depósitos, o fenômeno se repete (ver gráfico na página C8). Mas é no crédito que a concentração costuma provocar mais chiadeira por parte dos tomadores.

Em recente entrevista ao Valor, o presidente de uma grande distribuidora de energia comentou que a quantidade de grandes bancos ficou tão diminuta que as empresas não podem mais se indispor com nenhum deles, principalmente em momentos de turbulência.

Sempre que um banco compra ou se funde com outro, a reclamação das empresas é a mesma. Quando se fala em limite de crédito, a regra matemática não funciona: um mais um nunca é igual a dois. A disponibilidade de crédito dada por dois bancos separados não corresponde ao mesmo volume que eles passam a oferecer quando se unem. As empresas também avaliam que o poder de barganha delas em relação ao custo do dinheiro cai.

Desde 2008, não foram poucos – nem pequenos – os casos de fusão e aquisição no setor bancário que colaboraram para a maior concentração de ativos, crédito e depósitos nas mãos dos cinco maiores bancos do país. A largada foi dada quando o Santander assumiu o Real, em 2008. Pouco depois, Itaú e Unibanco fundiram suas operações, criando o maior banco brasileiro. Em seguida, o Banco do Brasil ficou com a Nossa Caixa e, em 2009, ainda comprou metade do Banco Votorantim.

Mais recentemente, em julho, Itaú e BMG se uniram em um novo banco para ofertar crédito consignado. O empréstimo com desconto direto na folha de pagamento era uma das poucas modalidades de crédito de varejo que ainda tinha bancos médios especializados como concorrentes, mas que está cada vez mais ficando nas mãos dos grandes bancos. O Cruzeiro do Sul, por exemplo, está sob intervenção do Banco Central e pode acabar sob o controle de uma instituição do “grupo dos cinco” ou liquidado.

Não são, porém, apenas as fusões e aquisições que explicam a concentração cada vez mais intensa do crédito. Dentro desse “grupo dos cinco”, os protagonistas da aglutinação são os bancos públicos, que cresceram principalmente de forma orgânica. Se, em 2002, Banco do Brasil e Caixa eram responsáveis por R$ 25,83 de cada R$ 100 emprestados, hoje eles respondem por R$ 39,08, ou R$ 13,25 a mais, sem se considerar o BNDES. No mesmo período, as três maiores instituições privadas avançaram bem menos juntas, R$ 8,43.

Até o fim do ano, a expectativa é que o quinhão dos bancos públicos cresça ainda mais. Em um ano de baixo crescimento econômico, em que o governo deflagrou uma batalha pela redução dos spreads no Brasil, Caixa e BB seguem crescendo mais do que a média de sistema financeiro, abocanhando – mesmo que temporariamente – fatias de mercado. (ler reportagem na página C8) Ao mesmo tempo, Bradesco e Itaú Unibanco reduziram a previsão de expansão do crédito no ano.

Apesar do rápido fortalecimento do “grupo dos cinco”, o Banco Central considera que a concorrência continua em “nível adequado”. Pelas métricas da autoridade, que seguem um cálculo internacional (Índice de Herfindahl-Hirschman), o patamar de concentração ainda está na categoria moderada. “O setor segue competitivo, gerando as eficiências que asseguram o seu regular funcionamento e a adequada prestação de serviços aos usuários”, afirma a autoridade por meio de uma nota.

Mas é inegável que a autoridade tem lançado mão recentemente de algumas medidas para evitar uma concentração excessiva. O Banco Central cita entre as decisões tomadas para estimular a concorrência bancária a padronização das tarifas cobradas, a portabilidade do crédito e a proibição de assinaturas de contratos de exclusividade na prestação de serviços. Em abril, a autoridade publicou uma circular explicitando que em fusões e aquisições pode exigir que os bancos aceitem determinações no sentido de eliminar efeitos anticoncorrenciais. Na aquisição da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil, o BC já chegou a atuar nesse sentido.

O “nível adequado” apontado pelo Banco Central brasileiro, entretanto, provavelmente deixaria muitos americanos de cabelo em pé. Nos Estados Unidos, onde muito se fala dos bancos grandes demais para quebrar – os chamados “too big to fail” -, as cinco maiores instituições financeiras possuíam ativos totais equivalentes a 51% do PIB daquele país em 2007, antes do estouro da crise financeira. Naquele mesmo ano, os ativos dos cinco maiores banco do Brasil representavam 57% do PIB doméstico.

Mas, embora os EUA tenham sido o epicentro da crise e visto uma série de fusões entre instituições de grande porte antes e depois da quebra do Lehman Brothers, a desalavancagem que se sucedeu fez com que os cinco maiores bancos daquele país tivessem, em março, ativos que correspondiam a 56% do PIB de 12 meses até a mesma data, indicando uma pequena elevação ante 2007. No Brasil, o aumento da concentração foi muito maior, com a fatia dos ativos do “grupo dos cinco” atingindo 86% do PIB brasileiro, uma alta de quase 30 pontos percentuais.


Efeito do IPI foi positivo, mas produção não cresceu com desoneração da folha

Valor Econômico

Os resultados da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF) de junho mostram que o desempenho dos setores beneficiados pela redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) foi muito melhor do que o dos demais segmentos, inclusive daqueles beneficiados pela desoneração da folha de pagamentos. Entre os segmentos beneficiados pelo IPI menor, mobiliário e linha branca cresceram mais do que automóveis. Nesse setor, a recuperação só ocorreu em junho. Já calçados e vestuário – atingidos pela medida que eliminou a contribuição patronal ao INSS e substituiu por um percentual do faturamento – encerraram o semestre com produção inferior a de igual período do ano passado.

Para o gerente da coordenação de indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), André Luiz Macedo, os efeitos positivos da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis – medida anunciada em 21 de maio – não ficaram “evidentes” na Pesquisa Industrial Mensal-Produção Física (PIM-PF) de junho.

Na avaliação do especialista, houve um “descasamento” entre os dados de produção e de licenciamento de veículos. De acordo com a PIM-PF, a produção de automóveis caiu 0,6% em junho em relação a igual mês de 2011. Em maio, a queda foi de 5,3%, no confronto com igual mês de 2011. Já os dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) apontam que o licenciamento de veículos nacionais leves subiu 23,6% em junho ante igual mês do ano passado.

Por trimestres, a produção de automóveis caiu tanto no primeiro como no segundo trimestres, em relação ao mesmo período do ano passado. Por outro lado, a produção de móveis cresceu 13,9% no segundo trimestre, um pouco mais do que nos primeiros três meses do ano.

O mesmo efeito positivo foi observado na produção de linha branca, para a qual a redução do IPI ocorreu no início de dezembro. Esse segmento cresceu 8,5% no segundo trimestre de 2012 ante igual período de 2011, levemente abaixo do registrado no trimestre anterior, quando a produção da linha branca havia crescido 9% frente a igual período de 2011. Já o segmento de linha marrom – televisores e aparelhos de som e vídeo – sofreu com a migração do consumidor para a linha branca. Depois de crescer no primeiro trimestre, a produção encolheu no segundo.

“A diferença do efeito da redução do IPI ocorre porque são produtos com valores diferentes. Além disso, o setor de automóveis estava mais estocado do que o de mobiliário e linha branca. Sobre o setor de automóveis também pesam mais questões como inadimplência e endividamento das famílias”, diz Macedo, do IBGE.

Se a redução do IPI ajudou os setores beneficiados, o mesmo impulso não apareceu nos segmentos beneficiados pela desoneração da folha de pagamentos. A produção em 2012 foi menor tanto para calçados como para vestuário. Dentro do mesmo grande segmento de bens semiduráveis, a fabricação de têxteis – indústria cuja desoneração da folha só começa agora – cresceu nos dois trimestres de 2012 em relação ao mesmo período de 2011.

Se em junho, os incentivos concedidos pelo governo tiveram peso predominante sobre o resultado menos sofrível da produção, economistas ouvidos pelo Valor esperam que uma conjuntura mais aquecida também dê impulso ao setor a partir do segundo semestre, com famílias menos endividadas, inadimplência e juros menores e destravamento do crédito. Também estão sendo aguardadas mais medidas para reativar o setor, embora o cenário externo conturbado continue sendo considerado fator negativo para a evolução da indústria.


Governo despreparado para vazamentos de óleo

Correio Braziliense

Nos últimos nove meses, três grandes vazamentos de petróleo aconteceram no país. O principal deles ocorreu em novembro do ano passado, no Campo do Frade, na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro.

Falha no funcionamento dos poços operados pela norte-americana Chevron resultou no derramamento de 3,7 mil barris de petróleo no mar. Na última terça-feira a Justiça deu prazo de 30 dias para que a Chevron e a Transocean, que opera na plataforma, suspendam as atividades no país por causa do vazamento. Acidentes desta proporção evidenciam a falta de preparo do Brasil para lidar com os riscos da produção e exploração de petróleo em alto mar. O governo federal nem sequer tem um Plano Nacional de Contingência (PNC), em estudo há mais de dez anos.

A ausência de diretrizes específicas no caso de um vazamento é ainda mais séria diante da postura agressiva que o país tomou a partir da descoberta das reservas do pré-sal. A estimativa do Executivo é de que, até 2020, o Brasil deixe a 17ª posição no ranking mundial para se tornar um dos 10 maiores produtores de petróleo. O investimento previsto para os próximos anos é de mais de R$ 500 bilhões.

O projeto em estudo do Plano Nacional de Contingência foi formulado por 16 ministérios, em conjunto com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). A coordenação foi dos Ministérios de Minas e Energia, Meio Ambiente — por meio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) — e Defesa, representada pela Marinha. O plano já está assinado pelos ministros do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, de Minas e Energia, Edison Lobão, e da Defesa, Celso Amorim. De acordo com fontes do governo federal, dentro de um mês o PNC deve ser publicado no Diário Oficial da União. Porém, antes de ir à sanção presidencial, o Ministério da Defesa e a Casa Civil ainda precisam analisar o documento.

O diretor de campanhas do Greenpeace, Sergio Leitão, comenta que o plano é uma promessa antiga do governo federal. “A última data que eles disseram que lançariam foi durante a conferência Rio+20, em junho. Mais uma vez, eles descumpriram o prazo. Hoje, não temos nem como medir se o país está preparado para combater e prevenir acidentes de pequeno, médio ou grande porte”, avalia. Para ele, o documento representará um roteiro para que a sociedade possa cobrar medidas do Executivo no caso de vazamentos. “O Brasil está acelerando a produção em todo o litoral. Hoje já são mais de 10 mil plataformas em alto mar. No entanto, o país já mostrou que é incapaz de combater um vazamento.”

Atraso

Em novembro do ano passado, durante audiência pública no Senado, após o primeiro vazamento da Chevron, o governo federal afirmou que reformularia o PNC em até 15 dias para incluir nas estratégias de controle de acidentes petrolíferos também os de pequeno porte. Segundo o governo federal, o atraso na aprovação do plano foi causado, justamente, por causa de medidas que eles precisaram tomar para sanar os problemas recorrentes do vazamento da Chevron.


Mais de 90% das cidades estão sem plano para o lixo

O Estado de S. Paulo

Mais de 90% dos municípios brasileiros não produziram um plano para tratamento do lixo e de resíduos industriais, o que coloca em risco a meta do País de eliminar em dois anos os lixões. Previsto em lei, o documento passa a ser exigido pelo governo federal a partir de hoje como contrapartida para liberar recursos da União.

Dados do Ministério do Meio Ambiente mostram que apenas 291 cidades aprovaram um plano municipal de resíduos sólidos, enquanto 197 municípios ainda analisam projetos. Portanto, 488 das 5.565 prefeituras se habilitam a receber dinheiro federal para manejo do lixo, o que equivale a 8,8% das cidades.

Por amostragem, a Confederação Nacional de Municípios estimou que 49% das cidades nem sequer iniciaram a preparação do plano e outros 42% ainda não o finalizaram. O levantamento, divulgado ontem, foi feito no mês passado com 3.457 municípios. Entre as cidades que ainda não começaram, os principais motivos alegados foram a falta de recursos financeiros e técnicos e o desconhecimento da lei.

Os números são especialmente preocupantes, na visão de analistas, pois cabe aos municípios a gestão do lixo. Segundo a lei, os documentos devem ter metas de coleta seletiva e um cronograma para a destinação adequada de resíduos hospitalares e industriais. A elaboração do plano não é obrigatória, mas o governo federal exige o documento para liberar verbas da União.

Sem esse dinheiro, não há chance de as cidades eliminarem os lixões até agosto de 2014, afirmou Simone Nogueira, sócia do Siqueira Castro Advogados responsável pela área de meio ambiente em São Paulo. “Foi muito ingrato o prazo escolhido, cai no momento em que fecham as gavetas para mudanças nas prefeituras. Isso faz com que as administrações municipais não tenham se preocupado.”

O presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, acusa o governo federal. “Enquanto Brasília continuar fazendo leis inexequíveis, que criam expectativa, vai gerar frustração. Não adianta fazer a lei artificialmente, ela não vai ser cumprida.”

Plano paulistano. A capital paulista publicou anteontem seu plano, mas sem as especificidades exigidas por lei, como metas para coleta seletiva. A pressa em não perder acesso ao dinheiro da União pode sair pela culatra porque o governo Dilma Rousseff promete aceitar somente os documentos que cumpram todos os requisitos.

“Nós, do Ministério do Meio Ambiente, não achamos que é importante fazer cópia e cola de plano só para atender à exigência, tem de pegar mesmo o conteúdo mínimo”, disse o diretor de Ambiente Urbano, Silvano Silvério. Para a pasta, a exigência dos planos municipal e estadual entra em vigor hoje, mas os municípios que não os concluíram poderão apresenta-los mais à frente, no momento em que pedirem verbas da União.

A interpretação do governo foi elogiada por Simone. “É uma interpretação da realidade, uma adaptação do texto da lei à pratica, senão inviabilizaria. Já vejo o ministério flexibilizando, caso contrário seria inviável, porque os municípios não teriam como fazer”, disse Simone.


Piora global pode exigir ação dos BCs

Valor Econômico

A economia mundial, que já vinha de forte contração no segundo trimestre, começou o terceiro fracamente e sinalizando sérias dificuldades tanto em países desenvolvidos como em emergentes. Para analistas, os bancos centrais terão de examinar seriamente suas opções para estimular a economia nos próximos meses.

O Índice dos Gerentes de Compras (PMI), indicador antecedente de atividade industrial, ficou em julho abaixo da marca de 50 (limite entre contração e expansão) pelo segundo mês consecutivo. O índice caiu para 48,4 ante 49,1 em junho, registrando seu mais baixo nível desde junho de 2009.

A Europa continuou a ser a principal fonte de fragilidade em julho, enquanto o desempenho de EUA, Brasil e boa parte da Ásia foi lento na melhor hipótese. “A China foi a única grande economia a qual esperamos que o crescimento se acelere no segundo semestre, mas em ritmo bem fraco”, diz o analista Andrew Kenningham.

O volume de comércio internacional contraiu no maior ritmo desde abril de 2009. Novas encomendas declinaram pelo segundo mês. Houve mais perdas de emprego e as pressões de custos também diminuíram globalmente.

O resultado do índice do J. P. Morgan e da consultoria Markit é consistente com um PIB global crescendo 2% em termos anualizados, bem abaixo das projeções iniciais de 3%. “A fraca demanda e o ajuste nos estoques empurraram a produção manufatureira global a uma maior contração no começo do terceiro trimestre”, diz David Hensley, do J. P. Morgan, sobre o índice divulgado ontem.

O PMI industrial para a zona do euro e no Reino Unido afundou a seu mais baixo nível em três anos, um 44 “alarmante” e consistente, com queda de 10% na produção manufatureira da zona do euro neste ano. Sem surpresa, as economias da periferia, como Grécia e Espanha, tiveram o pior desempenho. Mas a pesquisa aponta queda particularmente forte na produção industrial da Alemanha. O Reino Unido teve quase um colapso nos mercados de exportação. O Leste Europeu aparece ligeiramente menos ruim, com deterioração na Polônia e República Tcheca.

Nos Estados Unidos, com 28% do PIB mundial, o índice da produção industrial permanece em torno de 49,8, bem melhor que na zona do euro. Mas ficou abaixo de 50 pelo segundo mês consecutivo, significando que os EUA não conseguiram sair da baixa de junho. O PIB americano caminha para crescimento de 1,5% anual.

Taxas de contração aceleraram em Japão, Coreia do Sul, Taiwan e Vietnã, mas se atenuaram no Brasil e na China. Houve melhora em Canadá, Índia, Indonésia, Irlanda, México, Rússia e África do Sul.

A desaceleração global começa a derrubar mais economias asiáticas altamente dependentes de exportações. Companhias da Ásia relatam deterioração não vista desde abril de 2009 em Japão, Taiwan e Coreia do Sul, por exemplo. Somente o PMI da Índia e o da Indonésia sinalizam melhoras nas condições de negócios. Mas mesmo a Índia teve a primeira deterioração nas exportações desde outubro.

Para boa parte dos analistas, a desaceleração econômica nos EUA pode não ser aguda o suficiente para o Federal Reserve lançar nova liquidez (QE3), e o Banco Central Europeu (BCE) pode decepcionar hoje sobre as medidas anticrise na zona do euro. Mas os BCs vão precisar agir até o fim do ano para dar algum ritmo na recuperação econômica.


Entrada de dólares volta a superar a saída

O Estado de S. Paulo

A entrada de dólares voltou a superar a saída na semana passada. Dados divulgados ontem pelo Banco Central registraram ingresso líquido de U6S$ 487 milhões entre 23 e 27 de julho. Apesar do alívio, foi insuficiente para reverter o saldo do mês, que segue no vermelho, com saída líquida de US$ 1,46 bilhão.

Na semana passada, o ingresso líquido de dólares foi exclusivamente pelo mercado financeiro. Operações como aplicações em ações e renda fixa, empréstimos e investimentos diretos foram responsáveis por US$ 800 milhões. O movimento reverte trajetória das três semanas anteriores, quando prevaleceu a saída de recursos.

A inversão de tendência coincide com a mudança de humor do mercado na semana passada, após declarações do presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, de que fará “o que for necessário para sustentar o euro”. A frase provocou uma onda de otimismo nos mercados internacionais. Na Bovespa, o índice subiu 2% na quinta-feira e teve alta superior a 4% na sexta.

Com o retorno dos recursos, o fluxo de dólares no segmento financeiro, que registrava saída de US$ 354 milhões nas três primeiras semanas, passou a apontar entrada de US$ 446 milhões em julho. No segmento comercial, porém, a conta continua negativa.


Fed tenta evitar a recessão nos EUA

Correio Braziliense

Diante dos persistentes sinais de fraqueza da economia, o Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos Estados Unidos) decidiu manter a taxa básica de juros norte-americana entre zero e 0,25% ao ano. A instituição constatou que a atividade perdeu fôlego no primeiro semestre e, por isso, reiterou que os juros deverão se manter excepcionalmente baixos até o fim de 2014. Ao contrário do que parte dos analistas esperava, o Fed não anunciou novas medidas de estímulo monetário, embora tenha indicado, em nota distribuída ao fim de uma reunião de dois dias, que poderá, nos próximos meses, promover uma nova rodada de compra de títulos privados para injetar dinheiro no mercado e apoiar a recuperação dos negócios.

Por enquanto, a instituição comandada por Ben Bernanke vai continuar monitorando os dados para avaliar a intensidade da desaceleração econômica e a necessidade e o momento de intervir. No segundo trimestre, a maior economia do planeta havia reduzido a taxa anual de expansão para apenas 1,5%. Em julho, o setor industrial cresceu no ritmo mais lento em quase três anos, segundo o Índice de Gerentes de

Compras (PMI, na sigla em inglês), calculado pelo Instituto Markit. O indicador, que não é oficial, caiu para 51,4, ante 52,5 no mês anterior, o resultado mais baixo desde setembro de 2009. Números acima de 50 indicam expansão da atividade.

Segundo o economista-chefe do Markit, Chris Williamson, a indústria poderá registrar contração no terceiro trimestre, se a queda das exportações e a demanda doméstica mais fraca persistirem. “As empresas estão sendo afetadas pela contínua crise da Zona do Euro, pelo crescimento econômico global mais lento e pela crescente inquietação sobre a demanda no mercado doméstico conforme as eleições se aproximam e pesam as incertezas sobre as políticas monetária e fiscal”, afirmou.

Lentidão

O mercado de trabalho tampouco  deu sinais de melhora mais firme. As companhias norte-americanas contrataram, no mês passado, 163 mil trabalhadores, número maior do que o previsto, mas menor do que os 172 mil de junho, de acordo com relatório elaborado pela ADP, uma processadora de folhas de pagamento.

“Os Estados Unidos continuam a ter um crescimento consistentemente positivo do emprego no setor privado, mas com uma dolorosa e lenta taxa”, disse o vice-presidente e gerente de portfólio da Eaton Vance Management, em Boston, Eric Stein.

Pressão sobre os europeus

Na véspera de uma reunião crucial do Banco Central Europeu (BCE), os Estados Unidos aumentaram a pressão sobre os líderes da Zona do Euro para que ajam de forma decisiva para resolver a crise da região. Em entrevista à Bloomberg TV, o secretário do Tesouro norte-americano, Timothy Geithner, disse que é preciso “diminuir as taxas de juros para os países que estão fazendo reformas e garantir que o sistema bancário possa fornecer o crédito que essas economias precisam”. O recado foi levado na segunda-feira ao ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schaeuble, e ao presidente do BCE, Mario Draghi.