Brasil é o maior mercado mundial de crack; de cocaína, só fica atrás dos EUA

Pelo menos 2,8 milhões de pessoas no Brasil usaram cocaína de forma inalada ou fumada – via consumo de crack ou de oxi – nos últimos 12 meses. Esses números transformam o País no segundo principal mercado consumidor de cocaína do mundo, atrás apenas dos EUA, onde 4,1 milhões usaram cocaína no último ano.

Caso sejam considerados só aqueles que consumiram crack, o total chega a 1 milhão de pessoas no País, o que torna o Brasil o principal mercado consumidor do planeta. Mas, como os demais países pesquisados não separam o consumo de cocaína inalada e fumada, é difícil apontar o tamanho do mercado consumidor de crack nas outras nações.

Os dados são da pesquisa feita pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e Drogas, apresentada ontem. Foram ouvidas 4.607 pessoas com mais de 14 anos em 149 cidades.

Em relação ao mercado de cocaína, o Brasil fica à frente, até mesmo, de continentes inteiros, como a Ásia, onde 2,3 milhões de pessoas usaram cocaína no período. No Reino Unido, que ocupa a terceira posição no número de consumidores, há 1,1 milhão de usuários.

Produção. Além de se destacar pelo tamanho da demanda, o Brasil tem uma oferta que torna o produto bastante acessível. Entre aqueles que consumiram cocaína, 78% acham fácil conseguir a mercadoria no Brasil. “Há 30 anos, o mercado de cocaína era quase inexistente. O Brasil foi um dos países com mais rápido crescimento do consumo de cocaína”, afirma o médico Ronaldo Laranjeira, organizador do estudo. “Esse trabalho mostra a necessidade de que haja um pensamento estratégico capaz de desmontar essa rede.”

Caso seja considerada a proporção da população que já usou cocaína, a situação brasileira se assemelha à dos demais países. Assim como nos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Itália e Austrália, 2% da população brasileira usou cocaína inalada ou fumada no último ano. Na Espanha e na Argentina, esse porcentual chega a 3%.

Recente. Outros números da pesquisa confirmam o crescimento recente no consumo de cocaína no Brasil. Nos Estados Unidos, por exemplo, quando os consumidores são questionados se já usaram cocaína na vida, o número chega a 15% da população. No Canadá, o total é de 11% e na Argentina e Espanha, 8%. No Brasil, esse total é de 4%, o que representa 6 milhões de consumidores. Os dados brasileiros só se destacam dos demais quando é considerado o consumo nos últimos 12 meses. “Isso mostra que o consumo no Brasil cresceu mais recentemente”, diz Laranjeira.

A psicóloga Clarice Sandi Madruga, da coordenação do estudo, ressalta que os resultados tendem a ser subestimados, principalmente em relação ao crack. Tanto que mais de 20% dos brasileiros conhecem pessoas com problemas com cocaína.


Após a indústria, setor de serviços recua pelo mundo

Valor Econômico

A degradação da atividade de serviços ampliou as inquietações sobre o crescimento econômico global, e a expectativa está agora em ações do Banco Central Europeu (BCE) hoje e provavelmente do Federal Reserve (Fed, o BC americano) na semana que vem.

O Índice de Gerente de Compras (PMI) composto (industrial e de serviços) de agosto caiu para 46,3 em agosto ante 46,5 em julho, no sétimo mês consecutivo de contração (número inferior a 50 indica contração da atividade e acima disso indica expansão).

A deterioração é encabeçada pelas manufaturas, mas os dados publicados ontem pela consultoria Markit mostram que o setor de serviços continuou a se contrair.

O índice de serviços para a zona do euro, China, Japão, Índia e Rússia indica coletivamente que a economia global toma o rumo de outro trimestre desapontador, liderado por um retorno da recessão nos países da moeda comum europeia, conforme a consultoria.

“O forte declínio em novas encomendas nos fornecedores de manufaturas e serviços, além de mais perdas de empregos, significa que há poucas possibilidades de melhora sustentável nas condições econômicas no curto prazo”, acha Rob Dobson, da Markit.

Na zona do euro, o PMI de serviços mostrou sinais de “declínio acelerado” na Alemanha. Com isso, todas as quatro maiores economias da zona do euro (Alemanha, França, Itália e Espanha) têm sólidas taxas de declínio da atividade – com situação mais grave na Espanha e na Itália.

A preocupação com a Europa foi seguida ontem pela baixa no PMI de serviços para a China, de 53.1 para 52.0, confirmando estagnação da economia chinesa em agosto. Segundo a Markit, como os dados sugerem que o crescimento econômico pode diminuir de novo no terceiro trimestre, as autoridades chinesas podem revigorar em breve a economia. O premiê Wen Jinbao recentemente indicou que o governo está mais relaxado sobre estímulo adicional, diante da queda recente da inflação.

A situação dos serviços no Japão é menos negativa, e o índice subiu de 47,5 para 49,3 em agosto, mas isso vem no rastro de 16 meses de baixa. O PMI do setor na Índia também subiu ligeiramente, mas junto com o de manufaturas aponta um crescimento modesto do Produto Interno Bruto (PIB).

No caso da Rússia, houve melhora após resultado desapontador em julho, mas a Markit nota que a economia do país continua em marcha lenta.

Nesse cenário, as atenções estão voltadas para os bancos centrais. Mario Draghi, o presidente do BCE, deverá detalhar o plano de mais aquisições de títulos públicos, para ajudar países em dificuldade e preservar a zona do euro. Analistas se dividem sobre a possibilidade de novo anúncio hoje de corte de juro para apoiar a economia.

Nos EUA, certos analistas consideram como altamente provável que o Fed lançará a terceira rodada de compra de ativos na semana que vem, diante da persistência do desemprego no país. Uma possibilidade é de o Fed anunciar compra de pelo menos US$ 500 bilhoes de ativos, ou deixar um programa aberto e fazer compras de US$ 50 bilhões por mês até o momento em que julgar já ter havido suficiente progresso na redução da taxa de desemprego.

“Independentemente do que o Fed fizer, o crescimento provavelmente continuará sem brilho se não houver declínio no nível de desemprego”, avalia Paul Ashworth, da Capital Economics.


Suspensão do Paraguai no Mercosul criou problema jurídico, diz Patriota

Valor Econômico

O governo brasileiro, segundo reconheceu ontem o ministro de Relações Exteriores, Antônio Patriota, ainda não sabe como resolver um problema jurídico criado em junho com a suspensão do Paraguai no Mercosul e a incorporação da Venezuela – país cujo ingresso foi rejeitado em agosto pelo Senado paraguaio. Embora a decisão do Senado no Paraguai tenha efeito simbólico, porque o país está suspenso das atividades políticas do bloco, o veto à Venezuela criará um dilema, quando, como se espera, os paraguaios forem readmitidos no Mercosul, após realizarem suas eleições presidenciais, em abril de 2013.

“O assunto está sendo examinado em conjunto pelos membros do Mercosul e da Unasul (União das Nações da América do Sul)”, disse Patriota, à saída da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, onde ouviu críticas de deputados da oposição às mudanças no bloco econômico. O ministro explicou que, com a decisão inédita da suspensão do Paraguai, foi criado um grupo de alto nível com representantes dos três governos restantes para avaliar e monitorar a situação interna do país.

O grupo espera encontrar meios para a “normalização no mais breve prazo” da situação paraguaia, comentou Patriota, que admitiu não ter, ainda, como dizer como absorver a recusa do Senado paraguaio à entrada da Venezuela.

Patriota disse que o Paraguai é um vizinho de “primeira importância” para o Brasil e que está no centro da política externa brasileira restabelecer as relações políticas com o país. O governo brasileiro teve o cuidado de evitar danos à população paraguaia, mantendo os laços econômicos e de financiamento com o vizinho, comentou.

O ministro ouviu críticas duras ao governo por não se manifestar contra as violações de direitos humanos na Venezuela, como fez em relação à ruptura da ordem democrática no Paraguai. Patriota rejeitou a comparação dos dois casos, lembrando que o Brasil buscou adotar uma saída multilateral no caso paraguaio.

No Paraguai houve manifestação unânime de todos os governos da América do Sul, “inclusive de países com acordo de livre comércio com os Estados Unidos” contra o processo de impeachment do presidente Fernando Lugo em “rito sumaríssimo”. Na Venezuela não houve manifestação semelhante de nenhum país vizinho, e os venezuelanos têm participado ativamente dos esforços de negociação para desmobilizar a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), lembrou.

“Não existe mais tolerância ou aceitação de aventuras antidemocráticas na região, a democracia é o pressuposto do aprofundamento da integração”, disse o ministro, para quem a imprensa venezuelana, com forte presença da oposição, tem “plena liberdade”. “Todos os países (da América do Sul) tiraram seus embaixadores de Assunção, um gesto muito importante, de rechaço, repúdio”, comentou. “Isso aí não ocorre em relação a outros países da região, temos de ter a medida da importância da unanimidade.”

Patriota defendeu a entrada da Venezuela no Mercosul por trazer uma grande potência energética ao bloco, além de outras consequências econômicas e comerciais e argumentou que a inclusão do país caribenho serve, ainda, para mostrar que o bloco não beneficia apenas os Estados brasileiros da região sul. Durante a audiência na comissão, o ministro foi elogiado até por deputados da oposição que criticaram duramente a política externa pela reação ao golpe paraguaio e pelo relacionamento cordial com países como Venezuela e Equador. Ele anunciou que o Brasil, na presidência temporária do Mercosul, neste semestre, pretende fazer uma reunião com empresários dos países do Mercosul, para colher propostas capazes de facilitar a integração e o aumento do comércio no bloco.


Governo pode ter de gastar R$ 4 bi por ano para concessão de ferrovias vingar

O Estado de S. Paulo

No início do funcionamento do novo sistema de concessões de ferrovias, o Tesouro Nacional pode ter de desembolsar até R$ 4 bilhões ao ano, segundo admitiu o presidente da estatal Valec, José Eduardo Castello Branco, em entrevista à “Agência Estado”.

O modelo anunciado no mês passado prevê que a Valec comprará 100% da capacidade de transporte de carga das novas linhas férreas e as revenderá a empresas interessadas em transportar mercadorias ou pessoas em trens. Assim, se não houver interessados, o gasto ficará na conta do governo.

O risco de prejuízo, principalmente no início da operação das novas linhas, é abertamente admitido pelo governo porque não há, no País, uma grande quantidade de empresas operadoras de carga por trem.

“A Valec vai vender capacidade, mas vai vender para quem? Precisa ter um mercado que adquira essa capacidade. Então, é importante que esse mercado seja estimulado a existir”, afirmou.

“Não há, diferentemente da área rodoviária, um mercado consolidado de transportadores ferroviários. Só existem aqueles que já atuam nas concessões de hoje, que devem ser fortes candidatos a se tornar futuros operadores em locais onde ainda não atuam”, afirmou.

Para evitar sobrecarga ao Tesouro, estão em discussão medidas para estimular a formação de um mercado de operadoras de carga. O modelo ainda não está definido, disse o presidente da Valec.

“É uma coisa que está em estudo. Não há ainda nenhuma definição precisa sobre esse ponto, mas, como o assunto envolve muitas frentes de atuação, esse é um assunto que vai merecer atenção especial”, afirmou. “Vai ter de ter incentivo fiscal, IPI reduzido, algo do gênero. Vai ter de ter alguns mecanismos para esse mercado”, prevê.

Capacidade. O cálculo do potencial de prejuízo ao Tesouro toma como base os R$ 91 bilhões em investimentos previstos para construir e manter os 10.000 quilômetros de ferrovias a serem concedidos à iniciativa privada, pelo prazo de 25 anos. Dividindo-se o montante a ser investido pelo prazo da concessão, a cifra é de aproximadamente R$ 4 bilhões por ano.

“Se o governo não vender capacidade nenhuma, vai gastar todo ano R$ 4 bilhões”, explicou Castello Branco. “Se vender R$ 1 bilhão em capacidade, o Tesouro só precisará aportar R$ 3 bilhões.” O governo garante, porém, que as linhas terão demanda de usuários, pois vão passar por áreas de escoamento de produção de grãos e minérios.

“Temos de otimizar essa venda de capacidade para não ficar tudo nas costas do Tesouro. Claro que o governo não quer ter lucro com isso. Se der diferença para menos, o Tesouro cobre. Mas não podemos descuidar dessa questão. É preciso que tenhamos uma política comercial agressiva.”

Construtoras interessadas. Se ainda não existem operadores, as novas ferrovias já atraem o interesse de algumas construtoras. Castello Branco afirmou que empreiteiras como Andrade Gutierrez, Galvão Engenharia, Camargo Corrêa e Queiroz Galvão, que possuem contratos com a Valec, já manifestaram interesse nos novos projetos apresentados.

“A maioria delas demonstra interesse nesse novo modelo”, garantiu. Ele acredita ainda que os empreendimentos serão alvo também de construtoras internacionais.

“Diante desse cardápio de investimentos tão vasto, é possível que essas construtoras internacionais, por causa das dificuldades nos Estados Unidos e na Europa, venham a desembarcar aqui no Brasil. É a expectativa que temos.”


Governo manobra contas públicas com antecipação de dividendos de 2013

O Estado de S. Paulo

Sem alarde, o governo colocou em curso uma manobra para facilitar o cumprimento da meta de superávit primário (diferença entre receitas e despesas não financeiras) das contas do setor público em 2012. Um decreto e duas portarias publicados nos últimos dias permitiram que a Caixa Econômica Federal e o BNDES transferissem R$ 4,5 bilhões aos cofres do Tesouro Nacional em agosto, a título de resgate antecipado de títulos que venceriam em 2027 e 2035.

Esses títulos foram usados para que os dois bancos públicos pagassem antecipadamente dividendos à União que, na prática, só deveriam ser recolhidos no ano que vem. Assim, as receitas que ingressaram nos cofres do Tesouro no mês de agosto de 2012 receberam um reforço de R$ 4,5 bilhões, contribuindo para elevar o superávit. A Caixa entregou R$ 1,49 bilhão e o BNDES mais R$ 3,06 bilhões de papéis.

No caso da Caixa, a antecipação de dividendos ocorreu poucos dias depois de o banco haver recebido um aporte de capital de R$ 1,5 bilhão. O dinheiro para isso saiu do Fundo Soberano, onde estão aplicados recursos do Tesouro. Do ponto de vista contábil, essa operação não foi registrada como nova despesa, portanto não reduziu o superávit. Assim, o dinheiro da União foi para a Caixa e voltou, mas de uma forma que aumentou o resultado fiscal.

Com essa antecipação de receitas futuras, a equipe econômica volta a tirar “coelhos da cartola” para conseguir receitas adicionais e tentar fechar o ano com o cumprimento da meta integral de superávit primário, de R$ 139,8 bilhões – compromisso que vem sendo defendido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, para facilitar a queda dos juros pelo Banco Central.

Para possibilitar a manobra, a presidente Dilma Rousseff editou um decreto na semana passada, flexibilizado as regras para a União receber mais dividendos do BNDES. O decreto permitiu que a conta do BNDES que era destinada apenas ao aumento de capital fosse também usada para pagar dividendos ao Tesouro. Até então, os dividendos eram retirados somente do resultado do lucro apurado.

“Fator de ajuste”. O governo já havia avisado que usaria o recolhimento de dividendos das estatais como “fator de ajuste” das receitas, após a arrecadação federal haver ficado abaixo do esperado nos primeiros meses do ano. A despeito da perspectiva de menor lucratividade das estatais, a previsão das receitas com dividendos em 2012 foi elevada de R$ 19,8 bilhões para R$ 26,5 bilhões. Até julho, no entanto, o governo havia recebido R$ 10,3 bilhões em dividendos ante R$ 11,8 bilhões arrecadados no mesmo período do ano passado.

A prática de fazer ajuste no superávit com os dividendos tem sido comum nos últimos anos. Mas agora os superdividendos ocorrem num cenário em que as três principais empresas geradoras dessas receitas para a União – BNDES, Banco do Brasil e Petrobrás – tiveram quedas fortes nos seus lucros no primeiro semestre, diz o economista Fernando Montero, da Convenção Corretora. “Trata-se de uma manobra”, afirmou. Ele acrescentou que os dividendos, sozinhos, não serão suficientes para permitir ao governo atingir a meta.

Montero diz ainda que as manobras corroem o efeito sobre expectativas que Mantega tanto insiste obter com o cumprimento da meta fiscal. Para o economista, há pouca diferença entre chegar ao fim do ano atingindo o objetivo à custa desse tipo de expediente ou entregar um resultado um pouco menor, complementado com o abatimento dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do conjunto de despesas, como prevê a lei.

Procurado pela reportagem do Estado, o Ministério da Fazenda não quis se manifestar.


Fundos de pensão vão reduzir meta de rentabilidade

O Estado de S. Paulo

O Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC) deve analisar este mês uma proposta de redução da meta de rentabilidade dos investimentos feitos por fundos de pensão. Com a diminuição do rendimento das aplicações financeiras – reflexo dos cortes de juros -, tem sido cada vez mais difícil achar investimentos que garantam um ganho de 6% acima da inflação, que é a meta atual.

A ideia do CNPC é fixar uma meta atuarial menor, ajustada à realidade de juros mais baixos da economia brasileira. A meta vale como regra geral (teto máximo) para as fundações. Cada fundo pode definir a sua referência, desde que respeitado o teto. Com uma meta menor, os gestores dos fundos evitariam assumir riscos desnecessários, ao buscar a todo custo um rendimento muito alto para as aplicações, que pudessem comprometer o pagamento dos benefícios de seus participantes no futuro.

O diretor de Assuntos Atuariais, Contábeis e Econômicos da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), Edevaldo Fernandes, informou ao Estado que uma minuta de projeto para a redução da meta será analisada na reunião de setembro do Conselho.

“Até 2007, as entidades compravam títulos públicos e garantiam qualquer meta atuarial, porque as taxas de juros eram muito maiores do que a meta de 6% ao ano”, disse. Agora, a realidade é outra.

Das 292 fundações ativas no País, 57% já se anteciparam e fizeram a revisão da meta. Na média, esses fundos reduziram o indicador para um patamar entre 5,5% e 5% de rentabilidade. Mas já há algumas entidades que trabalham com uma meta entre 4,5% e 4%.

Adequação. Se a mudança for aprovada pelos integrantes do CNPC, as fundações que ainda não revisaram suas metas terão que se adequar ao novo parâmetro. Como a meta é utilizada para o cálculo do valor presente dos pagamentos futuros, uma redução pode implicar aportes maiores de recursos pelos participantes.

Segundo Fernandes, como os fundos têm um colchão de solvência, com recursos garantidores em volume bem maior do que as obrigações, e ativos comprados a taxa superiores das praticadas hoje no mercado, o CNPC não precisará ser tão agressivo na redução da meta.

Para o diretor da Previc, os fundos de pensão estão se preparando para o atual quadro de juros menores e destacou que o processo de migração dos ativos vem sendo feito com segurança. “As entidades não podem, não devem e não estão ficando acomodadas”, disse.

O diretor destacou que as fundações formaram ao longo dos últimos sete anos uma carteira de ativos bastante qualificada. “Elas possuem um colchão de liquidez em títulos públicos que dá qualidade e um retorno até diferenciado vis a vis os preços hoje de mercado”, disse. Em 2011, ressaltou, na média os fundos não conseguiram obter o retorno previsto, mas ao longo dos últimos anos já tinham acumulado um ganho 29% superior à rentabilidade esperada de 2002 para cá. “Eles já têm essa gordura, porque acumularam reservas que têm provido ganhos superiores à meta atuarial”, explicou.

Funcef. O fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal (Funcef) vai avaliar ainda este ano a possibilidade de redução da sua meta atuarial. Desde 2008, a meta aplicada pela fundação é de 5,5%.


Crise nas incorporadoras de imóveis

Valor Econômico

A incorporadora Rossi prepara um aumento de capital de R$ 500 milhões, com recursos dos acionistas controladores e potenciais investidores, para melhorar a estrutura de capital. O plano, divulgado ontem, é semelhante ao anunciado por outras duas empresas do setor – PDG e Brookfield -, que recentemente também buscaram o apoio de seus sócios. Ao todo, o aporte de recursos nas três construtoras deve somar R$ 1,7 bilhão.

Depois de mais um trimestre de resultados ruins e abaixo do esperado, com nova rodada de revisão de orçamentos, redução de margens, consumo elevado de caixa e queda de lançamentos e vendas, o setor de incorporação viu os níveis de endividamento subirem. As empresas em situação mais complicada têm pelo menos mais dois trimestres de desafios pela frente para que consigam, de fato, um alívio financeiro, segundo analistas.

Considerando os balanços do segundo trimestre, as construtoras aparecem em posição de destaque entre as companhias com pior situação de endividamento medida pelo indicador dívida líquida sobre lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês), bastante utilizado como termômetro da saúde financeira das empresas em geral. Outro indicador, de dívida líquida sobre o patrimônio líquido, também piorou na comparação com 2011.

“Quem atrasou a entrega de obras e ainda não está com a execução de projetos em dia tem o recebimento de receitas postergado, o que aumenta consideravelmente o nível de alavancagem”, afirma Wesley Bernabe, analista do Banco do Brasil. “Assim, precisam buscar solução, como o que fez a Rossi.”

A alavancagem do setor aumentou muito nos últimos anos. A diretora da área de avaliação de empresas da Fitch Ratings, Fernanda Rezende, diz que as companhias apresentaram expansão muito forte logo após a abertura de capital, em 2007, e para apoiar essas taxas de crescimento tiveram de aumentar bastante a alavancagem. “E trata-se de um setor que demanda muito financiamento de longo prazo, inclusive para a produção.”

O problema é que o setor passou por um desaquecimento nos últimos trimestres e os custos dos empreendimentos ficaram acima do orçado, com impacto direto no Ebitda. “O que a gente espera ver a agora é que as empresas não continuem a se endividar como nos últimos três anos”, afirmou Fernanda. Outro ponto importante é que, dado o longo ciclo do setor, as atitudes que as companhias tomam num curto prazo demoram para refletir nos resultados. “Então, medidas que estão sendo tomadas agora para melhorar a eficiência e as margens vão gerar resultado aos poucos.”

A Tecnisa tem a pior relação dívida líquida sobre Ebitda no segundo trimestre dentro do setor, sem considerar a Rossi, que ainda não divulgou o balanço auditado do trimestre de abril a junho. O indicador da Tecnisa passou de 3,3 vezes em junho de 2011 para 306 vezes agora. O indicador de dívida sobre o patrimônio também piorou, mas em menor escala. Passou de 55% para 82,1%.

“Não vamos fazer nenhuma emissão de ações. A posição de liquidez e endividamento da Tecnisa é adequada”, diz Thomas Brull, diretor financeiro da Tecnisa. Para ele, a melhor forma de medir a situação financeira da companhia é acompanhar o indicador de endividamento corporativo líquido, que exclui o financiamento da produção, dividido pelo patrimônio. “Nesse caso, nosso número é de 28% quando o limite previsto nas emissões é de 80%”, ressalta.

“O endividamento da Tecnisa está alto porque o Ebitda foi muito afetado pela revisão de custos das obras”, explica Bernabe, do BB, lembrando que são eventos extraordinários, que podem não se repetir nos outros trimestres. “Os próximos resultados devem ser melhores porque a empresa já decidiu lançar menos [e com mais qualidade] e tem entregas para 2012, o que deve gerar caixa.” O projeto Jardim das Perdizes, um dos maiores do setor, também contribui para melhores expectativas para a empresa.

O indicador dívida líquida sobre Ebitda nem sempre é a melhor métrica para analisar o setor, pois não reflete tão bem a geração de caixa quanto em outros segmentos. E o indicador normalmente já é maior em construção, por causa do alto volume de contratos voltados ao financiamento da habitação. De qualquer forma, chama a atenção a evolução dos números.

Vale destacar ainda que várias empresas aparecem com um indicador “fora de curva” da trajetória histórica no segundo trimestre. Isso porque a performance ruim do período derrubou o Ebitda e, como consequência, o indicador de endividamento explodiu.

Independentemente do motivo, a elevação dos indicadores pode levar à renegociação de cláusulas de contratos de dívida, como debêntures, que normalmente limitam a situação financeira da empresa. Sem realizar o aumento de capital, a Rossi, por exemplo, poderia ter de negociar “covenants” de emissões, diz o analista do BB.

A Brookfield e a PDG também tiveram uma piora na situação financeira (veja quadro ao lado).

O aumento de capital preparado pela Brookfield é de R$ 400 milhões. A operação, que será aprovada pelos acionistas no dia 17, visa dar fôlego financeiro à companhia, que tem R$ 1,23 bilhão em empréstimos com vencimento em até um ano contra apenas R$ 548,8 milhões em caixa. Entre abril e junho, a empresa registrou prejuízo de R$ 353 milhões, por conta, principalmente de estouros nos orçamentos das obras.

A captação de R$ 800 milhões da PDG foi concluída na semana passada. A maior parte, ou R$ 483 milhões, resultou de um aporte negociado com a Vinci Partners.


Apesar do IPI reduzido, preços dos carros sobem

O Estado de S. Paulo

Os automóveis novos ficaram 0,34% mais caros em agosto, mesmo sob o regime de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). O avanço nos preços foi causado pelo aumento da demanda de consumidores, gerado pelo próprio benefício do governo para estimular o setor, informou o IBGE.

O encarecimento do produto foi verificado no IPCA de agosto. Os preços dos automóveis usados também aumentaram no mês, 0,15%, depois de 10 meses consecutivos de queda.

“Com a prorrogação da isenção do IPI, as vendas aumentam, mais pessoas vão comprar e essa maior demanda sobre esses bens fez com que houvesse algum aumento”, disse Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE, explicando que as concessionárias aproveitaram para aumentar a margem de lucro.

Mas o encarecimento dos veículos novos já tinha sido constatado na “porta de fábrica” pela leitura de julho do Índice de Preços ao Produtor (IPP), também divulgado pelo IBGE. No IPP, que mede a inflação da indústria da transformação, a alta no preço do automóvel novo na porta de fábrica em julho foi explicado por um aumento na margem de lucro das montadoras.

À época da redução do IPI, em vigor desde 23 de maio de 2012, foi anunciado que as montadoras se comprometiam a reduzir margem de lucro e evitar demissões. Mas um levantamento da Agência Estado sobre os preços médios de veículos no mercado nacional apurados pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) confirmou que os automóveis ficaram mais baratos logo após a concessão do benefício, mas recuperaram parte da redução nos preços em agosto. O fenômeno se repetiu em modelos das quatro montadoras pesquisadas: Fiat, Ford, GM-Chevrolet e Volkswagen.

Exemplos. Segundo os dados da Fipe, um automóvel Fiat Palio Celebration 1.0 0km saía, em média, a R$ 26.998 em maio, antes da isenção do IPI, que só passou a vigorar no fim do mês. Em julho, o mesmo modelo custava R$ 25.054. Entretanto, em agosto, o preço subiu para R$ 25.477.

Em maio, um Ford KA 1.0 0km era vendido a R$ 26.397. Com a redução do imposto, o modelo passou a R$ 23.492 em julho, mas aumentou para R$ 24.009 em agosto. O mesmo movimento ocorreu com o modelo Agile LT 1.4 0km da GM-Chevrolet


Votação de MP do Código Florestal é adiada

O Estado de S. Paulo

Sem acordo entre os ruralistas e o governo, a Câmara adiou ontem a votação da medida provisória do Código Florestal, colocando em risco a validade das regras mais flexíveis para a recuperação de áreas desmatadas ilegalmente às margens dos rios. A MP voltará à pauta da Câmara no próximo esforço concentrado, no dia 18. Para não perder a validade em 8 de outubro, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), terá de convocar extraordinariamente a Casa durante o recesso branco para votar a MP.

A chamada “escadinha” prevê faixas de recuperação das áreas proporcionalmente ao tamanho do imóvel rural. O texto original da presidente, com mais faixas, foi alterado na comissão especial do Congresso para beneficiar os médios e grandes proprietários, que terão de recuperar áreas menores de vegetação que o previsto na MP de Dilma Rousseff.

A votação de ontem foi impedida por deputados ruralistas. Eles querem aprovar o texto da comissão com a garantia de que a presidente não vetará esse item. “Essa garantia, a bancada não tem e nunca terá”, disse o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), ao defender a votação. “Peço aos deputados que confiem. A presidente não autorizou a negociação (na comissão), mas não disse se vai vetar ou não.”

Uma das propostas em discussão seria mudar novamente as faixas. Essa hipótese, porém, é questionável regimentalmente. Deputados ruralistas apostam na possibilidade de a presidente editar uma nova MP para corrigir a lacuna, com um texto modificado – a reedição da MP nos mesmos termos é proibida pela Constituição.

O líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), afirmou que, caso a MP perca a validade, estarão valendo as regras do Código Florestal sancionado por Dilma. “A consequência será que todos – pequenos, médios e grandes produtores – que tenham desmatado as áreas antes de 2008 ficarão sujeitos às regras mais gerais do Código, mais duras”, disse.


Peso da importação no PIB já alcançou o da indústria

Valor Econômico

O anúncio do governo sobre o aumento do imposto de importação tem como pano de fundo a participação crescente das compras externas na economia brasileira em detrimento da perda de espaço da produção doméstica. No segundo trimestre de 2012, o pedo das importações no Produto Interno Bruto (PIB) praticamente alcançou a participação da indústria de transformação e da extrativa, somadas.

No segundo trimestre de 2011, as duas indústrias representaram 18,6% do PIB total. No mesmo período deste ano, esse índice caiu para 17%. Em contrapartida, o peso das importações, passou de 14,2% para 16,6% na mesma comparação. Entre os dois períodos, a diferença entre importação e produção doméstica, portanto, caiu quatro pontos percentuais.

A falta de investimentos produtivos na indústria é um dos principais fatores que explicam esse aumento das importações, na avaliação de Mariano Laplane, presidente do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), ligado ao Ministério da Tecnologia e Inovação. “Boa parte desse aumento dos últimos três anos tem a ver com o fato de não termos tido investimento em escala necessária para acompanhar o ritmo de crescimento da demanda.”

Laplane explica que, conforme o PIB per capita cresce no país, a exigência e a demanda dos consumidores quanto a produtos mais tecnológicos também aumentam. “A queda da taxa de juros e a correção do câmbio muito apreciado criam um clima mais propício para o investimento”, avalia. Para ele, os fatores preço e baixa competitividade são os principais responsáveis pelo ganho de peso que as importações têm tido no PIB do país.

Para Thais Zara, economista-chefe da Rosenberg Consultores Associados, o aumento do imposto de importação anunciado na terça-feira pelo governo não dará acréscimo de competitividade à indústria brasileira. “Aumentar o imposto não puxa a competitividade, isso é protecionismo. O que esse aumento faz é abrir espaço para o avanço de setores da indústria que sofrem com preço. O que realmente dá competitividade à indústria é a redução das tarifas de energia que está por vir. Tudo que reduz o custo aumenta a competitividade”, avalia.

A economista da Rosenberg acredita que o avanço das importações, a ser combatido com o aumento do imposto, é muito mais uma questão de preço do que de falta de capacidade para produzir internamente. “São poucos os setores que estão perto de um esgotamento da capacidade instalada. A indústria tem espaço para crescer”, diz.

Mais do que um aumento de imposto temporário, retomar a confiança para que haja investimentos produtivos é o caminho para devolver competitividade à indústria, segundo Nelson Marconi, coordenador do curso de graduação em economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) em São Paulo. “Muitas empresas mudaram sua estrutura e passaram a importar durante o longo período de câmbio apreciado. Para desmontar esse quadro, o país precisa voltar a investir, e a indústria não vai investir enquanto não tiver perspectivas de que o câmbio no patamar de R$ 2 é uma tendência”, explica.

Laplane, do Ministério de Tecnologia, concorda e acrescenta que, se o país não passar a investir mais em tecnologia e inovação, perderá competitividade não somente devido aos preços, mas também por falta de capacidade de atender a demanda interna. Ele acredita que o aumento do imposto é positivo no curto prazo, apesar de não resolver os problemas de competitividade do Brasil no médio prazo. “Essas são medidas protecionistas que o mundo inteiro está tomando neste momento de crise, é emergencial e temporário. Todos os países estão preocupados em manter o equilíbrio no balanço de pagamentos. Eu estaria preocupado se fingíssemos que não existe uma crise internacional e não reagíssemos a ela”, pondera.

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, avalia que o caráter temporário de outras medidas, como a redução do IPI e a desoneração da folha de pagamentos, não incentiva o aumento dos investimentos na indústria. “É preciso lembrar que grande parte da nossa importação é feita de insumos e bens de capital que ajudam a melhorar a competitividade das indústrias que estão aqui. Um país que quer exportar cada vez mais tem que fazer uma abertura comercial não somente para as exportações, mas também para as importações, porque elas permitem acesso a bens de capital efetivamente mais baratos”, diz.

O economista lembra que entre 2004 e 2008 o Brasil viveu um período intenso de crescimento industrial, que foi acompanhado por um forte avanço também nas importações. “Quando o governo tenta proteger o país das importações, a única consequência é aumentar o preço do produto. Isso afeta a capacidade da indústria de comprar mais barato e, eventualmente, ainda paga mais caro por produtos nacionais de qualidade pior que a dos importados.”

Marconi, da FGV, acrescenta que quem mais tem aplaudido os estímulos dados pelo governo ao consumo são os importadores. “Quando você cria um estímulo ao crédito, e outros como a redução do IPI, você está estimulando o consumo. E quem tem suprido essa demanda cada vez mais são os produtos importados. Isso contribui para aumentar a importância das importações no PIB”, avalia.

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