BCs veem economia global perto da recessão

Apesar dos esforços de governos em todo o mundo, da criação do G-20, de reformas e planos, o mundo caminha para uma intensificação da crise. A desaceleração da economia internacional vai se aprofundar de forma significativa até o fim do ano e já não se exclui que o mundo passe muito perto de mais uma recessão.

Projeções feitas no domingo na Basileia pelos maiores bancos centrais e obtidas com exclusividade pelo Estado indicam que a nova crise será mais forte e mais prolongada do que se estimava, obrigando governos a se adaptarem a um novo período de intensa turbulência.

Presidentes dos principais BCs – entre eles, o do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi – participaram no fim de semana da reunião periódica do Banco de Compensações Internacionais (BIS), na Basileia. Dessa vez, porém, participantes da reunião admitem: o clima foi pesado, pessimista e com a constatação de que projeções oficiais de crescimento serão revistas, desmentindo versões oficiais. Para alguns, o que mais preocupa é que ninguém parece ver uma luz no fim do túnel.

Se o sentimento dos xerifes das finanças se concretizar, o mundo corre o risco de viver sua segunda recessão em menos de quatro anos, no pior dos cenários alertados por analistas. A primeira constatação dos BCs foi de que a economia global sofreu “deterioração” nos últimos dois meses. Mas o pior estaria ainda por vir. Indicadores apontam que o atual trimestre será marcado por um “enfraquecimento significativo da produção e demanda” nos países avançados.

Para os BCs, não há dúvida de que a situação na zona do euro continua “particularmente frágil”. Os presidentes dos BCs chegam a destacar em especial a situação da Alemanha, alertando que a maior economia da Europa poderá sofrer uma “desaceleração ainda maior”. Os BCs não deixam de destacar que a confiança dos empresários e os pedidos ao setor industrial estão em queda “contínua” desde maio.

Revisão. O resultado desse cenário será uma revisão do crescimento, tanto para 2012 quanto para 2013. A reunião ocorria ao mesmo tempo em que dados divulgados na China e na França confirmavam o pessimismo. As exportações da segunda maior economia do mundo cresceram menos do que se esperava em agosto (2,7%). Mas o que mais chamou a atenção dos BCs foi a queda no consumo interno chinês. As importações caíram 2,6%, sinal da perda de fôlego da economia chinesa e do consumo doméstico. Pequim vinha tentando compensar a queda nas exportações – provocada pela crise na Europa – com incentivos locais ao consumo.

Os dados confirmaram ainda uma tendência que já vinha sendo alvo de preocupação: a de que a produção industrial chinesa sofreu o maior freio em três anos. No fim de semana, o chinês Hu Jintao deu o alerta. “A economia mundial está hoje em lenta recuperação e ainda existem fatores desestabilizantes e incertezas. O impacto da crise ainda está longe de terminar.” Vladimir Putin, presidente russo, foi no mesmo caminho: “A recuperação da economia global está patinando”. Para os BCs, não há dúvida de que a economia global caminha para uma forte desaceleração.

Os bancos centrais estão preocupados com a incapacidade de governos de levar adiante as reformas e dos bancos de pôr as contas em dia. Para alguns deles, os governos perderam a chance de fazer os ajustes e, agora, terão de cortar gastos enquanto a economia volta a despencar.

Por enquanto, a projeção oficial do Fundo Monetário Internacional (FMI) é de que a economia mundial crescerá 3,5%. Mas a revisão das projeções na Europa, a desaceleração da Alemanha, a criação de postos de trabalho nos EUA abaixo do esperado e a situação na China já colocam pressão por novos números.

O FMI já apresentou em julho uma revisão do crescimento para 2013, de 4.1% para 3,9%. Segundo fontes de BCs, a entidade já está recalculando a taxa para 2012. Documentos internos da OIT também indicam desaceleração ainda maior nos últimos meses deste ano, quando as medidas de austeridade se traduziriam em perdas reais. A avaliação dos BCs, ontem, é de que o mundo caminha mesmo para nova desaceleração.


Cai encargo de energia e governo exige investimentos

O Estado de S. Paulo

Preocupada com o baixo crescimento e determinada a atacar o chamado “custo Brasil”, a presidente Dilma Rousseff detalha hoje o pacote de redução do preço da eletricidade. As concessionárias de energia, que terão a possibilidade de renovar seus contratos por mais 20 anos, deverão se comprometer, em troca, com um pacote de investimentos superior a R$ 20 bilhões. Haverá também um corte de pelo menos R$ 6,2 bilhões dos chamados encargos, que são taxas cobradas na conta de luz.

As tarifas terão queda de 16,2% para os consumidores residenciais e de até 28% para as grandes empresas a partir de 2013, conforme adiantou a presidente em seu pronunciamento pelo Dia da Independência. Às vésperas das eleições municipais, o Planalto preparou uma festa da qual participarão representantes de donas de casa e dos consumidores, aos quais ela pedirá que fiscalizem as contas.

Os técnicos do governo, que trabalhavam nos últimos detalhes do pacote ontem à noite, preparam a extinção de dois encargos: a Reserva Global de Reversão (RGR) e a Conta de Consumo de Combustíveis (CCC). Apenas o fim da CCC representa renúncia fiscal de R$ 5,2 bilhões em 2013, enquanto a RGR deixará de render R$ 1 bilhão anuais.

Mas a principal perna do pacote é o compromisso das concessionárias em elevar os investimentos, afirmou ao Estado uma fonte graduada do Palácio do Planalto. “O governo quer reduzir o custo Brasil, e a ideia é aproveitar o fato de a concessionária já estar tocando o negócio para renovar o contrato sob novas bases, com tarifas menores aos consumidores, e uma carga de investimentos muito superior. Só com grandes investimentos que os preços vão cair”, afirmou uma fonte do governo.

A Cesp, por exemplo, que pretende renovar seus contratos, já discute internamente o que pode oferecer como contrapartida. Pode ser, por exemplo, a participação em grandes projetos, como Belo Monte, ou a criação de um programa de energia alternativa em São Paulo.

Dilma está tão empenhada em concretizar esses investimentos que pretende conversar pessoalmente com representantes das principais empresas que decidirem pela prorrogação. “O governo federal não tem como forçar a prorrogação, apenas induzi-la”, comentou uma fonte.

Mais de 70 hidrelétricas terão seus contratos de operação renovados, envolvendo quase 20 mil megawatts. Destas, 67 têm vencimento em 2015, e as demais contam com validade entre 2016 e 2017. O governo vai alterar a legislação, que não permite prorrogar muitos contratos, e definir novos marcos para depreciação dos investimentos já realizados.

Com o pacote Dilma fecha um ciclo iniciado em 2003, quando assumiu o Ministério de Minas e Energia. Desde então, um dos grandes debates do setor era o que fazer com as concessões.


Compra de carros do México dobra e já ultrapassa cotas

Valor Econômico

Pelo menos duas montadoras de automóveis no Brasil já esgotaram a cota de importações de carros do México ou têm, no máximo, o suficiente para trazer ao Brasil apenas um veículo, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento obtidos pelo Valor. Em março, para conter o crescimento das importações, a presidente Dilma Rousseff ordenou a renegociação do acordo automotivo entre Brasil e México, que permitia o livre comércio de automóveis entre os dois países e impôs cotas de importação. Neste ano, porém, as importações de carros continuaram subindo, e, de janeiro a agosto, já aumentaram, em quantidade, 108% acima do mesmo período do ano passado. Em valor, o aumento foi de 93%.

Na negociação com os mexicanos, foi fixado o limite de US$ 1,45 bilhão para as importações originadas do México de março de 2012 a março de 2013, e cada montadora recebeu uma cota individual. De janeiro a agosto deste ano, as importações de autoveículos (carros, ônibus, caminhões), já somaram US$ 2 bilhões. As empresas que superaram o valor das cotas só podem trazer carros ao país pagando tarifa de importação de 35% e adicional de dez pontos percentuais no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

O total de importações de automóveis mexicanos trazidos ao país fora da cota, com pagamento de imposto adicional, já soma US$ 164 milhões. Esses carros só não chegarão mais caros ao consumidor, se a empresa decidir absorver, no preço, o custo do imposto cobrado a mais. Caso as montadoras decidam repassar o imposto aos preços no varejo, consumidores podem ser surpreendidos: algumas montadoras, alegando falta de carro em estoque, estão vendendo automóveis para entrega até em dezembro, com cláusulas nos contratos que obrigam os compradores a pagar mais do que preço atual, em caso de reajuste no valor dos carros.

As montadoras pressionam o governo para renegociar as cotas, o que está, até agora, fora dos planos da equipe econômica. O acordo renegociado em março já prevê um aumento progressivo do limite total de importação, que passará a US$ 1,56 bilhão em março de 2013 e US$ 1,64 bilhão em março de 2014. As montadoras também tiveram previsão de aumento progressivo no número de veículos que cada uma poderá trazer ao país.

Quando a presidente Dilma ordenou o cancelamento do acordo automotivo com o México, estava incomodada porque a importação de carros do país pelo Brasil havia aumentado 70%, em valor, em todo o ano de 2011.

O ministro de Relações Exteriores, Antônio Patriota, chegou a informar aos mexicanos que, como previa o acordo, o governo iria cancelar o livre comércio de automóveis com o México a partir de 2013. A pedido do presidente mexicano, Felipe Calderón, a presidente Dilma voltou atrás e aceitou renegociar os termos do acordo, que resultou nas cotas de importação.

Entre janeiro e agosto, entraram no Brasil 136,4 mil automóveis fabricados pelo México, mais que os 134,6 mil importados em todo o ano de 2011 e os 75 mil de 2010. Já foram registrados, em julho, casos de empresa que pediram licença de importação com as vantagens do acordo automotivo (sem imposto) acima do que permitia a cota e tiveram o pedido rejeitado.

Nos primeiros oito meses do ano, enquanto aumentavam as compras de carros do México, beneficiadas pelo acordo automotivo com o país, caíam as importações totais de automóveis. Desde janeiro, o governo brasileiro passou a cobrar um adicional de 30 pontos percentuais de IPI aos carros importados, isentando apenas montadoras com planos de investimento ou produção no país. A queda total nas importações de automóveis, de janeiro a agosto, em comparação com o mesmo período do ano passado, foi de 6,4% em valor e de 17% em volume.

Outros produtos, além de automóveis e veículos comerciais leves têm sido beneficiados pelo comércio automotivo com o México, que foi superávitário para o Brasil até 2010, quando os mexicanos passaram a ter superávit. A importação de autopeças originadas no México cresceu quase 33% de janeiro a agosto (em comparação aos primeiros oito meses de 2011); a de máquinas rodoviárias, quase 185%; e a de máquinas agrícolas, 266%.

Segundo apurou o Valor, nem todas as empresas que importam automóveis pagando adicional de imposto esgotaram a cota, porém, mas algumas decidiram, sem informar o motivo ao governo, trazer carros com a tributação, sem a isenção garantida pelo acordo automotivo. A redução do IPI no setor, neste ano, facilita a absorção do custo das importações de automóveis fora da cota.

Para um graduado integrante do governo, o pedido de renegociação das cotas feito pelas montadoras contraria a intenção oficial de estimular a produção de automóveis no país. A criação de um adicional no IPI dos automóveis importados, no fim de 2011, teve o objetivo de desestimular as importações e forçar as empresas a transferir a produção para o território brasileiro.

O principal alvo da barreira foram os carros chineses e, por força do acordo do Mercosul, o governo teve de isentar do aumento os carros com importação originada na Argentina e no Uruguai. Dilma irritou-se, porém, ao notar que o acordo com o México permitiu a montadoras – que reivindicaram a proteção contra os importados – trazer veículos do país, em escala crescente.


Pacote da China não terá efeito imediato

Valor Econômico

O pacote de investimentos em projetos de infraestrutura de mais de US$ 150 bilhões, anunciado pelo governo chinês para os próximos cinco anos, não tem efeito imediato para o Brasil, na visão de especialistas do comércio Brasil-China. Além disso, a medida tomada por Pequim deve ser lida mais como uma sinalização da mudança na política econômica do país oriental do que como um instrumento que vai alterar os níveis do comércio exterior entre os dois países.

Ao todo, o governo chinês prevê que cerca de 60 projetos ligados à infraestrutura – principalmente em rodovias e ferrovias – sejam executados. No entanto, ainda não há previsão de início dos trabalhos e do aumento da demanda por produtos primários pelas obras, de acordo com o ex-ministro e presidente do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), Sérgio Amaral.

Para o também ex-embaixador, três tendências previstas pelo governo chinês na ocasião do lançamento do 12º Plano Quinquenal, realizado ano passado, estão começando a se materializar: a diminuição dos níveis de exportações do país, o aumento dos salários, e a reversão de uma economia centralizada em produzir para o exterior para uma economia que começa a se voltar mais ao mercado interno.

“A China deve passar nos próximos anos de 50% de população urbana para 80%, o que representa mais 400 milhões de pessoas demandando moradia e alimentação. É razoável supor que a procura por alguns produtos brasileiros, como a soja e os itens do complexo de minério de ferro, terão um volume sustentável de demanda ao longo dos anos. Esse é o efeito maior que o movimento chinês pode trazer ao Brasil, e não uma oscilação em função de um anúncio em particular”, afirma.

José Augusto de Castro, presidente em exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), corrobora com a visão de que está havendo uma mudança no perfil da economia chinesa observada por Sérgio Amaral. Para Castro, mesmo se a maior demanda por minério de ferro causar impacto na exportação brasileira, ela ocorrerá somente no ano que vem.

“Por enquanto é apenas uma sinalização ao mercado. As obras podem ajudar a aumentar o preço do minério e do aço, que vem caindo neste ano. Também pode crescer o volume da nossa exportação. Mas o fato é que neste ano vai haver efeito zero”, diz.


Ação do Fed afetará menos os emergentes

Valor Econômico

Uma nova rodada de afrouxamento monetário (“quantitative easing” ou QE) pelo Federal Reserve deve reforçar o apetite pelo risco, mas dificilmente terá o mesmo impacto sobre os mercados emergentes, comparado a ações precedentes, acreditam analistas.

Quando o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) implementou o QE1 e o QE2, vários emergentes reclamaram que países industrializados estavam inundando seus mercados com liquidez. Fluxos excessivos de capitais voláteis provocaram inflação nos preços dos ativos e valorização de moedas, trazendo riscos para a estabilidade e afetando a competitividade de suas exportações.

No mercado, as atenções estão voltadas para a reunião da diretoria do Fed nesta semana, com expectativa de novas compras de pelo menos US$ 500 bilhões de um misto de ativos ou um programa contínuo sem magnitude específica de aquisições.

Desta vez, porém, Heiner Flassbeck, economista-chefe da Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), se diz cético sobre o impacto de QE3 nos fluxos de capitais para emergentes, considerando, por exemplo, a desaceleração econômica também nesses países.

“Sempre há riscos de bolhas, mas o fluxo de capital para emergentes tem muito a ver com outras coisas, como expansão da economia e taxa de juros”, disse Flassbeck ao Valor.

Em seu relatório “Capital Market Monitor” deste mês, o Instituto Internacional de Finanças (IIF), que representa os maiores bancos do mundo, nota que no período entre o QE1 (novembro de 2008) e o QE2 (novembro 2010) houve correlação entre a ação do Federal Reserve e altas nos preços de ativos (em quase todos os lugares) e de várias moedas de emergentes, mas também houve o fator relativo a essas economias: seu forte crescimento comparado ao de países desenvolvidos, no rastro de importante expansão do crédito doméstico.

Já nos 22 meses depois do anúncio do QE2, não houve essa correlação entre o mecanismo de liquidez e os preços de ativos, diz o IIF.

Para a entidade, levando em conta que as taxas de juros nos EUA já são extremamente baixas e a liquidez é abundante, “mesmo se pobremente distribuída nos sistemas financeiros e com os emergentes também desacelerando, não está claro se o QE3, quando implementando, tenha muito impacto nos emergentes”.

Com relação à liquidez, o IIF exemplifica a abundância atual com o fato de bancos dos EUA e da Europa guardarem mais de US$ 1 trilhão de excesso de reservas em seus bancos centrais.

Para Philip Poole, chefe de estratégias de investimentos do HSBC Global Asset Management, cada rodada sucessiva de QE “tem menos e menos efeito”. Ele disse que o instrumento perdeu seu “valor de choque”. Acha que nos EUA e na Europa o mecanismo de transmissão da política monetária para a economia real “ainda está quebrado e levará tempo para ser consertado”. Poole acredita que “na margem” o afrouxamento quantitativo pelo Fed será positivo para a atividade econômica, “só que não muito poderoso”.

O economista Paul Ashorth, da consultoria Capital Economics, “suspeita” que as críticas internacionais contra uma nova rodada de QE serão muito mais baixas “já que as economias chinesa e brasileira agora precisam de toda ajuda que possam obter”.

Em nota a clientes, o analista Christian Lawrence, do Rabobank, da Holanda, ao mesmo tempo em que destaca a importância de um novo afrouxamento quantitativo americano, estima que a moeda brasileira, em relação ao dólar, deve permanecer entre R$ 2,02 e R$ 2,05 pelos próximos meses.

Para Nick Chamie, chefe global para mercados emergentes do RBC Capital Markets, do Canadá, somente o tempo dirá se os esforços do Banco Central Europeu (BCE) e do Fed para reforçar a liquidez global serão bem-sucedidos. Se forem, os preços de commodities podem ter impulso, ampliando os retornos nos mercados emergentes “pelo menos no curto prazo”. Outros economistas acham que uma nova rodada de QE continuará a beneficiar títulos da dívida pública de países com alto rating de crédito.


Novo pacote de R$ 50 bi

O Globo

Em uma nova empreitada para estimular a economia, o governo está finalizando um pacote na área de portos e aeroportos, com potencial para atrair pelo menos R$ 50 bilhões em investimentos. As medidas na área dos portos estão mais adiantadas e devem sair em até duas semanas. Além das licitações de terminais novos e antigos com licença vencida e da construção de três novos portos com participação privada no Amazonas, no Espírito Santo e na Bahia, está em discussão no Palácio do Planalto um modelo que prevê a participação da iniciativa privada na gestão dos portos, por meio de sociedades de propósito específico (SPEs).

Por esse modelo, as companhias de docas perderão parte da autonomia que têm hoje. Elas atuariam em parceria com o setor privado na gestão portuária, o que seria viabilizado com a criação dessas SPEs.

– Estamos falando em algo na linha de redefinição de responsabilidades e choque de gestão – explicou uma fonte que participa da finalização do pacote.

O governo avalia que as companhias de docas, empresas subordinadas ao Ministério dos Portos, mas que costumam ser comandadas por políticos dos estados, têm sérios problemas de gestão. A Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern), por exemplo, apresentou prejuízos nos últimos anos, o que reflete as dificuldades na gestão financeira em todos os portos que administra na Região Nordeste. Com melhor gestão nas docas e nos portos, o governo quer elevar a participação aquaviária na matriz de transportes, dos 13% da carga registrados em 2010 para 29% em 2025.

aproveitamento pleno dos terminais

Uma ala do governo defende a privatização das docas, mas a ideia não tem encontrado eco dentro da equipe da presidente Dilma Rousseff. Por enquanto, o que o governo indica é a vontade de criar um ambiente mais competitivo para os recursos privados. Faz parte dessa estratégia tanto dar sinais de que não permitirá excessos, como cobranças de tarifas abusivas, quanto de que vai amparar eventuais descompassos nas receitas dos concessionários – um exemplo seria oferecer novas desonerações quando achasse necessário.

– Queremos garantir que os benefícios que estão sendo concedidos cheguem aos clientes desses serviços, no setor produtivo – disse um integrante do governo.

Nessa redefinição de responsabilidades na área de portos, também deverão reformulados os Órgãos de Gestão de Mão de Obra (OGMO) e os Conselhos de Autoridade Portuária (CAPs). Esses organismos regionais deverão ter seu papel incorporado a uma nova entidade federal.

O governo quer, ainda, garantir que a capacidade plena dos terminais já existentes seja, de fato, aproveitada, sem permitir a existência de brechas para que os concessionários de terminais discriminem clientes. A avaliação é que em terminais de uso privado no Porto de Sepetiba, por exemplo, são criadas dificuldades para o aproveitamento de espaço disponível que acabam prejudicando a competitividade da indústria brasileira – recentemente, em ação similar, uma medida governamental foi adotada a fim de assegurar o aproveitamento máximo das ferrovias.

Transporte marítimo, opção ecológica

No pacote de portos, o governo quer criar incentivos também para a navegação de cabotagem, aquela que é feita entre portos nacionais. Os técnicos que estão formatando o pacote entendem que é mais viável, tanto econômica como ecologicamente, por exemplo, levar cargas da Zona Franca de Manaus para o Rio Grande do Sul pelo mar do que por rodovias. De acordo com dados do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos), o custo logístico no Brasil – que inclui transporte, estoque e armazenamento – é de 10,6% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país) brasileiro, enquanto nos Estados Unidos esse percentual é de 7,7%.

Apesar de pressões contrárias à navegação de cabotagem – como de motoristas de ônibus e ferroviários, que temem a concorrência -, o governo já estuda oferecer incentivos tributários e de fomento para viabilizar esse transporte. Isso porque que esse tipo de navegação exige navios específicos, menores do que aqueles para exportações, e tem remuneração diferenciada para os terminais. Estes preferem movimentar os volumes mais expressivos e lucrativos das exportações.

Pacote se soma aos R$ 165 bi para rodovias

Há mais de um mês, o ministro Leônidas Cristino, da Secretaria Especial dos Portos, vem participando quase que diariamente de reuniões na Casa Civil e na Presidência da República para definir o novo modelo de gestão dos portos. Nessas reuniões também estão presentes representantes dos ministérios dos Transportes e da Fazenda.

O pacote de R$ 50 bilhões previsto para portos e aeroportos deve se somar aos R$ 165 bilhões já anunciados para ferrovias e rodovias. O objetivo é a criação de um sistema de logística nacional no qual os modais concorram entre si para oferecer melhores soluções de transporte de carga no país. Isso ajudaria a reduzir o chamado Custo Brasil, elevando a competitividade da indústria brasileira em uma economia global.

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