País mantém dependência do comércio com a China

A retração das exportações de commodities, como minério de ferro, à China, neste ano, foi insuficiente para reverter a crescente dependência do Brasil em relação ao mercado chinês, indica levantamento feito pela Associação de Comércio Exterior do Brasil. Entre janeiro e agosto, mais de 70% das vendas de US$ 15,6 bilhões em soja do Brasil foram para os chineses, que também absorveram um quinto dos US$ 14 bilhões de petróleo brasileiro exportado e pouco menos da metade das exportações de US$ 20,5 bilhões em minério de ferro.

Isoladamente, o superávit do Brasil no comércio com a China, de US$ 6,98 bilhões equivale a mais da metade de todo o saldo comercial brasileiro no período.

Os dados sobre o comércio exterior mostram crescimento constante da fatia da China nas exportações brasileiras de soja, desde o ano 2000, quando representavam pouco mais de 15% do total das vendas desse produto. No caso do minério de ferro, o crescimento da participação chinesa foi ininterrupto até 2009, quando o país chegou a representar quase 53% do total das exportações brasileiras do metal. Desde então, como a queda na demanda da China foi maior que a de outros mercados, como Japão, Coreia e Taiwan, a parcela chinesa nas exportações brasileiras do minério caiu, mas tem oscilado sempre acima de 46%.

A decisão do governo dos Estados Unidos de buscar fontes mais confiáveis de abastecimento fora do Oriente Médio fez com que os americanos assumissem um papel mais relevante como mercado para o óleo brasileiro, e a China passasse a absorver quantidades menores, caindo em participação, que, no entanto, ainda é expressiva: os chineses, que chegaram a comprar um quarto do petróleo exportado pelo Brasil em 2010, neste ano compraram, ainda, pouco mais de 20%. Para o governo, o peso da China no comércio exterior brasileiro reflete a maior presença internacional do país asiático.

“A participação chinesa é elevada nesse momento; evidentemente não convém a nenhum país no mundo a concentração elevada em um único parceiro”, reconhece a secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres, que, no entanto, não considera “especialmente preocupante” o peso chinês sobre a pauta de exportações. O que se vê no Brasil se repete em outros países e reflete o papel cada vez maior da China no comércio global, argumenta.

Tatiana diz que o governo vem acompanhando com atenção a evolução do comércio com os chineses e comenta que o impacto da retração chinesa – assim como a desaceleração em mercados da Europa – seria maior se o Brasil não tivesse buscado diversificar exportações e mercados.

No caso da própria China, que anuncia uma estratégia contra a crise baseada no incentivo ao mercado doméstico, o governo tenta buscar mercados para produtos diferentes das commodities que dominam a pauta comercial. Em novembro, uma missão possivelmente chefiada pelo ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, irá à China com 30 empresários, para buscar compradores de produtos alimentícios como carnes, vinho, café e alimentos processados.

“Nosso maior desafio lá não é desconcentrar nossas exportações em relação à China, mas diversificar a pauta com os chineses”, afirma a secretária.

Para o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, a queda nas exportações de commodities pode levar a uma ligeira redução da parcela da China no comércio exterior brasileiro, porque as vendas de manufaturas tendem a maior estabilidade no futuro próximo. Mas o peso dos chineses no mercado consumidor mundial de produtos do Brasil vincula o desempenho do comércio exterior ao desempenho econômico do gigante asiático.

A China, sozinha, passou a 18,2% do mercado para as exportações brasileiras, quase o mesmo tamanho ocupado por toda a América Latina ou pela União Europeia, ambos com fatias pouco superiores a 20%.

O que mais chama atenção, ao lado do peso da China sobre o desempenho comercial brasileiro é seu rápido crescimento relativo. A China consome 31% das vendas externas de produtos básicos do Brasil (como minério, petróleo e grãos); um percentual impressionante quando se compara com a situação de dez anos atrás, quando os chineses representavam pouco mais de 1,5% do mercado externo para essas exportações brasileiras. Dos manufaturados exportados pelo Brasil, apenas 2% vão para os chineses (0,5% no início da década).

As previsões para o mercado chinês e os desafios para o Brasil serão um dos principais temas do tradicional Encontro Nacional de Comércio Exterior (Enaex), promovido amanhã pela AEB. “Com a queda dos preços e nas quantidades vendidas das commodities, nossas vendas para a China devem cair entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões neste ano”, prevê Castro.


Mudou o tripé da política econômica?

Valor Econômico

No dia 30 de agosto, ao explicar os parâmetros utilizados na elaboração da proposta de Lei Orçamentária Anual, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, destacou que estimar 4,5% para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2013 não era uma previsão, e sim uma meta a ser perseguida. Mesmo diante dessa “confissão”, oito economistas que compõem a rede de consulta do projeto de coleta de indicadores do Valor Data não consideram que o governo tenha adotado uma meta implícita, ou mesmo explícita, de crescimento para o país.

Esse consenso desaparece quando os mesmos economistas foram convocados a opinar sobre a mudança ou não do tripé macroeconômico adotado ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), composto por metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário. Para parte dos economistas (a minoria), esse tripé mudou, seja porque o Banco Central não persegue mais o centro da meta definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), seja porque o câmbio deixou de ser flutuante.

A maioria dos economistas, contudo, não sanciona a tese da mudança. Para o grupo majoritário, o mix da política econômica foi “aprimorado”, “adaptado às novas realidades mundiais”, ou está sob uma “condução menos rigorosa”. Para esse grupo, a essência continua a mesma.

Dentro do projeto de coleta de projeções dos principais indicadores econômicos do país, o Valor Data começa a fazer, de tempos em tempos, consultas mais “qualitativas” junto às consultorias e departamentos econômicos de instituições financeiras participantes.

Para essa rodada “qualitativa”, o Valor Data apresentou três questões aos participantes (ver quadro). O objetivo central das perguntas era entender se os economistas avaliam que há mudança no tripé que tem norteado a condução da política econômica brasileira há mais de uma década, e se o governo passou a mirar uma meta implícita de crescimento. Em resumo, os economistas não consideram que o governo passou a perseguir uma taxa específica de crescimento, a maioria acha que o tripé se manteve, mas a condução é hoje “diferente”. Para a maioria, também, BC e Fazenda atuam hoje de forma mais integrada.

Na avaliação de Marcelo Arnosti, economista-chefe da BB DTVM, o governo não tem uma meta de crescimento, mas julga que o potencial do país para crescer está hoje “em torno de 4,5%, 5%, bastante acima do ritmo apresentado no primeiro semestre”, que ficou abaixo de 1%. Por isso, diz Arnosti, “com margem para utilização de política fiscal e outros instrumentos, o governo tem buscado estimular a economia e trazer a taxa de crescimento para um ritmo mais próximo ao potencial.”

O diretor do departamento de pesquisas e estudos econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, lembra que “o crescimento do PIB é uma variável endógena, portanto ter meta de crescimento é uma impossibilidade técnica”. Metas de expansão do PIB, diz ele, “são praticamente impossíveis de serem cumpridas, uma vez que a política econômica não consegue controlar todas as variáveis que influenciam o crescimento, tanto pelo lado da oferta, quanto pelo da demanda, domésticas e externas.”

Barros reconhece, contudo, que “existe uma preferência revelada de política econômica por um crescimento maior, o que é legítimo e positivo diante do complexo cenário global”. E essa preferência, diz ele, tem como contrapartida um “grau de tolerância maior com um patamar um pouco acima do centro da meta [de inflação]”. É essa tolerância, acrescenta, que faz com que uma taxa de 5% a 5,5% de IPCA não gere hoje “a mesma reação de política monetária que ocorria no passado, quando o regime de metas estava se consolidando”.

Braúlio Borges, economista-chefe da LCA Consultores, argumenta que, se houvesse uma meta de crescimento, a taxa Selic “já estaria perto de zero”. Ele vê “uma maior coordenação entre as políticas monetária, fiscal e parafiscal com o objetivo de obter o maior crescimento possível, com inflação estável (no intervalo de 4,5% a 5,5%) e buscando nível real de juro civilizado. Ou seja, estabilidade macroeconômica, e não apenas estabilidade de preços.

O economista-chefe do banco Santander, Maurício Molan, também não avalia que o governo persiga um dado crescimento para o PIB, mas avalia que “o desconforto com o ritmo de expansão do PIB abaixo de 3% parece ser muito grande na conjuntura atual, ainda que esse crescimento mais moderado esteja associado a desemprego baixo e estável e inflação acima do centro da meta”.

Para três economistas, entre os oito consultados, o tripé de política econômica adotado há mais de dez anos mudou. Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, diz que “a meta de inflação não é a escrita pelo CMN [Conselho Monetário Nacional], e sim em torno de 5,5%; o câmbio decididamente deixou de ser flutuante e voltamos a trabalhar com bandas, entre R$ 2 e R$ 2,1, e cada vez mais há vontade explícita do governo de baixar o superávit primário.” Para Vale, “ter mudado o mix em nada ajudou o crescimento. Pelo contrário, assusta os investidores, porque coloca, de novo, um governo excessivamente intervencionista”.

Ao lado de Vale, Juan Jensen, da Tendências Consultoria, também diz que “claramente o tripé mudou”. Ele relaciona a existência de “bandas informais” para o câmbio, a atuação do BC, que “trata de maximizar o crescimento com restrição de que a inflação não extrapole o teto da meta (6,5%)” e mesmo o superávit fiscal (“ainda a variável mais robusta do tripé”), que começa a dar sinais de mudança. Para ele, a chamada “contabilidade criativa”, pela qual o governo faz um superávit fiscal sem esforço, usando, entre outras medidas, a antecipação de dividendos por parte do BNDES e da Caixa Econômica Federal, após as instituições serem capitalizadas pelo Tesouro, significa que “está ruindo a última perna do antigo tripé”.

A “contabilidade criativa” também é o argumento usado por Fernando Genta, da MCM Consultores, para justificar que a perna fiscal do tripé foi abandonada, mas ele também considera que o câmbio deixou de ser flutuante e o governo passou a trabalhar com “um piso explícito de R$ 2 para o dólar”. Quanto à inflação, Genta não classifica a mudança como um abandono, mas identifica “uma maior tolerância com inflação acima do centro da meta”.

Molan, do Santander, não acredita que houve uma mudança radical no modelo. “A novidade está em uma conjuntura global muito mais complexa, que levou os formuladores de política a utilizar um conjunto mais amplo de instrumentos, de forma a atingir objetivos múltiplos”, diz ele.

O cenário externo e as teses defendidas por Olivier Blanchard, economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, sobre o papel que deve ser desempenhado pela política monetária e a necessidade de que ela concilie várias metas e instrumentos, foram apontados por Barros, do Bradesco, e Borges, da LCA, como elementos do atual mix, que não mudou (na avaliação deles), mas passou a dar pesos diferentes para cada componente do tripé e os “adaptou” aos novos parâmetros das economias local e mundial.

Dentro dessa “filosofia”, Barros e Borges veem de forma diferente a condução da política fiscal no atual governo. Um superávit primário de 2%, diz o economista do Bradesco, já estabiliza a relação da dívida como proporção do PIB. Borges – que concorda que a política de capitalização do BNDES e de outros bancos públicos não pode ser uma política permanente, embora tenha sido válida na ação anticíclica de 2008/2009 – diz que o governo está usando o “espaço fiscal” construído ao longo de mais de uma década de ajuste (viabilizado por aumento da carga tributária) para finalmente desonerar o setor produtivo e melhorar sua produtividade. E concorda que juros menores abrem espaço para superávits primários menores sem comprometer a trajetória de queda da relação dívida/PIB.

O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, também não considera que o mix de política econômica tenha mudado. “O que não tem sentido é fingir que não ocorreu uma crise aguda, que ainda não acabou em sua fase crônica, e que ainda pode voltar a ser aguda. Desconsiderar isso é irresponsável e leviano. Não venha comparar [o Brasil] com “comparáveis”.

Para ele, a meta de inflação continua em 4,5% -“mesmo não tendo sido atingida em cheio faz três anos”. Todo mundo, argumenta, “sabe que a inflação tem um componente de choques, indexação e serviços”, e que o aumento na demanda por serviços com influência nos respectivos preços “decorre da mudança na distribuição de renda e em seu nível real nos últimos anos”. Também o câmbio, diz Lima Gonçalves, é “sujo” no mundo todo. “Ele surgiu como solução pragmática para o colapso de Breton Woods e vale até hoje. Todo mundo usa, do Japão à Suiça, principalmente em situações de fortes deslocamentos de liquidez em mercados abertos”.

Arnosti, do BB DTVM, também está no grupo de economistas para quem é válido afirmar que o tripé permanece de pé, porém “sob uma condução algo menos “rigorosa” ou “conservadora””. A coerência do regime, diz ele, é mantida, mas sua condução ocorre “no limite de suas possibilidades”.

Entre as contradições que surgem nessa condução, Arnosti ressalta a flutuação da taxa de câmbio, mais “suja” que no passado. E administrar essa flutuação traz riscos, diz ele, como o de importar inflação externa. Para ele, em uma situação extrema, o governo “limitaria seu “intervencionismo” para preservar o tripé econômico.


Amazônia Legal tem alta de desmate em agosto

O Estado de S. Paulo

Dados divulgados ontem pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que no mês de agosto foi registrada a maior área de desmatamento da Amazônia Legal nos últimos três anos, Alavancada por altos índices nos Estados de Mato Grosso e Pará, a devastação do bioma foi de 522 km2 no período.

Recorde no ano, a degradação representa aumento de 220% em relação a agosto do ano passado. Desde julho de 2009, quando foram registrados 836 km2 de áreas desmatadas, a Amazônia Legal não havia atingido um nível tão alto – em 2012, o índice mensal não havia passado de 306 km2, em fevereiro.

Estados tradicionalmente com os maiores níveis de desmatamento da região amazônica, o Mato Grosso e o Pará tiveram uma variação drástica em relação a julho. No Pará, passou de 93 para 227 km2. No Mato Grosso, a alta foi ainda mais brusca e quadriplicou: de 50, chegou a 208 km2.

“Existe um afrouxamento deste controle do desmatamento em meio a questões como as mudanças no Código Florestal. E esses Estados são áreas de maior pressão para o desmatamaneto, pois é onde avança o agronegócio”, explica Miguel Scarcello, presidente da ONG S.O.S. Amazônia. “Em outras regiões, como no Acre, existem políticas públicas mais desenvolvidas para diminuir a degradação”, acrescentou.

Relatório. Os dados são fornecidos por um sistema de alerta chamado Deter, que ajuda a fiscalizar e controlar o desmatamento nos nove Estados da Amazônia. Segundo o Inpe, o relatório teve um alto grau de visibilidade – apenas 4% da floresta estavam cobertas pelas nuvens durante o monitoramento.

Os satélites são capazes de detectar áreas desmatadas a partir de 6,25 hectares.

O alto índice em agosto ocorre pouco após a Amazônia Legal ter obtido um feito histórico. Em junho, dias antes do início da Rio +20, o Ministério do Meio Ambiente anunciou que o País havia obtido o menor índice anual de desmatamento do bioma nas mais de duas décadas em que a medição é realizada (desde 1988).

Entre agosto de 2010 e julho de 2011, a região teve 6,4 mil km2 de florestas desmatadas, com redução de 8% em relação ao resultados apurado no mesmo período entre 2009 e 2010.

Nos oito primeiros meses deste ano, a Amazônia Legal teve degradação em uma área total de 1,5 mil km2. O número é ligeiramente menor (cerca de 2%) que o montante verificado no mesmo período do ano passado.


EPE prevê investimento de R$ 1 trilhão até 2021

Valor Econômico

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) prevê investimentos de R$ 1,097 trilhão no setor de energia brasileiro até 2021. Os dados constam da minuta do Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE 2021), colocada em consulta pública ontem.

A EPE estima que o setor de energia elétrica será responsável por R$ 269 bilhões desse total, sendo R$ 213 bilhões em geração e R$ 56 bilhões em transmissão.

A maior fatia deverá ficar, segundo a EPE, com o setor de petróleo e gás natural, com R$ 749 bilhões. Só o segmento de exploração e produção responderá por R$ 547 bilhões, seguido pelo refino e infraestrutura de transporte, com R$ 198 bilhões. A oferta de gás natural deverá receber outros R$ 4 bilhões.

A oferta de biocombustíveis líquidos deverá receber, até 2021, outros R$ 79 bilhões, sendo R$ 71 bilhões para as usinas produtoras de etanol, R$ 7 bilhões para a infraestrutura dutoviária e portuária e R$ 1 bilhão para as usinas de produção de biodiesel.

A minuta traz ainda a estimativa de que a capacidade de geração elétrica crescerá 57% até 2021, passando de 116,5 gigawatts (GW), no ano passado, para 182,4 GW. Pela projeção da EPE, o incremento na geração será maior, de 34,9 GW, até 2016. Entre 2017 e 2021 serão outros 31 GW. A energia hidráulica vai ter o maior peso nesse aumento do parque de geração conectado ao Sistema Interligado Nacional (SIN), com 33,2 GW, atingindo o total de 116,8 GW de capacidade instalada em 2021. A seguir virão, pelas estimativas da EPE, a energia eólica, com 14,2 GW de aumento no parque de geração; a energia térmica, com 8,9 GW; a biomassa, com 5,7 GW; as pequenas centrais hidrelétricas, com 2,5 GW; e as usinas nucleares, com 1,4 GW.

O documento colocado ontem em consulta pública mostra ainda que a participação das fontes renováveis na matriz energética brasileira saltará dos atuais 43,1% para 45% em 2021.

A EPE ressalta que o crescimento da fatia das fontes renováveis será liderado pela expansão da oferta de derivados de cana-de-açúcar, que passarão de 16,4% para 21,2% da matriz energética entre 2011 e 2021.

Entre os combustíveis fósseis, a participação de petróleo e derivados na matriz cairá de 38,5% para 31,9%. O segmento de gás natural representará 15,5% da oferta de energia do país em 2021, frente aos 11% atuais.

Já a oferta de carvão mineral e derivados permanecerá com uma participação de 6,1% ao longo dos próximos dez anos, segundo a EPE.

As projeções da EPE levam em conta um crescimento do consumo de energia de 4,7% ao ano até 2021. A previsão foi feita baseada em uma estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 4,7% ao ano até 2021.


Argentina perto do ‘cartão vermelho’ do FMI

O Globo

A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, disse ontem que espera que a Argentina possa evitar sanções do Fundo por seus dados econômicos precários e voltou a afirmar que o país tem três meses para melhorar a qualidade de suas estatísticas de crescimento e inflação.

– Agora eles levaram cartão amarelo e têm três meses para evitar o vermelho – disse Lagarde em audiência em Washington. – Se não houver progresso, será aplicado o cartão vermelho.

O discurso mais duro vem após mais de um ano de espera para que o governo de Cristina Kirchner pare de fornecer dados distorcidos ao Fundo, destacou a agência de notícias AFP.

Economistas dizem que o governo subestima de forma patente a alta dos preços no país. No início de setembro, informe mensal do governo informou uma taxa de inflação anual para agosto de cerca de 10%. Já especialistas previram que o índice seria de 24%.

“dia d” em 17 de dezembro

Na semana passada, o Fundo alertou oficialmente a Argentina de que ela poderia enfrentar sanções se, até 17 de dezembro, não apresentasse dados em ordem. Nessa data, a diretoria da instituição vai se reunir e avaliar se o país deu passos adicionais.

Em 68 anos de história, nenhum país foi sancionado pelo FMI pela qualidade de seus dados, afirmou a AFP.


Dívida pública recua a R$ 1,867 trilhão

O Globo

A dívida pública federal alcançou R$ 1,867 trilhão em agosto, uma redução de 0,51%, ou R$ 9 bilhões, frente ao mês anterior. Foi a segunda queda do ano, informou ontem o Tesouro Nacional. Em julho, a dívida somou R$ 1,876 trilhão. Fernando Garrido, coordenador-geral de Operações da Dívida, explicou que o governo fez um resgate líquido de R$ 28,32 bilhões. Na prática, o Tesouro pagou mais empréstimos do que emitiu papéis. E as despesas com juros totalizaram R$ 18,79 bilhões.

A dívida interna recuou 0,53%, para R$ 1,778 trilhão. Já a externa cresceu 0,02%, para R$ 88,43 bilhões. O governo projeta que a dívida pública feche o ano entre R$ 1,95 trilhão e R$ 2,05 trilhões. Em 2011, subiu 10%, para R$ 1,86 trilhão.

Garrido destacou que, mês a mês, o governo tem melhorado a composição da dívida pública, que passa a ter custos menores e prazos mais longos de vencimento. Em agosto, a participação dos papéis prefixados passou de 35,86% para 37,37%. Já a fatia dos títulos que acompanham a inflação caiu de 34,98% para 33,35%.

José Luís Oreiro, professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), lembrou que os prefixados dão maior previsibilidade às contas públicas:

– Quando a maioria é ligada à taxa de juros, isso reduz a eficácia da política monetária. Ao aumentar a Selic, os investidores ganham mais e podem consumir, pressionando a inflação. E aí o governo tem de elevar os juros de novo.

O Tesouro informou ainda que a participação dos estrangeiros no estoque da dívida atingiu recorde: 13,34%. Para Garrido, a elevação de 4% para 6% do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) contribuiu. A taxação maior evita aplicações de curto prazo.

O programa de compra de títulos da dívida por pessoas físicas, o Tesouro Direto, ganhou 4,3 mil participantes em agosto, para o total de 313.919.

– Isso reforça a percepção de que o programa é um investimento seguro – disse Garrido. (


Estrangeiro amplia fatia em estoque da dívida pública federal

Valor Econômico

Uma variação marginal fez com que o investidor estrangeiro encerrasse o mês de agosto com uma participação recorde no estoque da dívida pública interna. O não residente respondeu por 13,34%, ou R$ 237,39 bilhões, do estoque da dívida, ante 13,22% em julho. Mesmo em situação de crise, o governo não vê esse aumento de presença estrangeira com preocupação. O coordenador-geral de operações da dívida pública, Fernando Garrido, disse que o governo “está bastante confortável”.

Primeiro, porque o percentual estrangeiro na dívida ainda é baixo na comparação internacional e, mais importante do que isso, o perfil desse investidor estrangeiro é de longo prazo, formado por fundos de pensão, fundos soberanos e seguradoras. “São investidores menos propensos a retirar seus recursos. Atravessamos um recente período de turbulência e não vimos fuga de recursos”, disse.

Entre os maiores financiadores do governo, o estrangeiro aparece em quarto lugar. A liderança segue com os bancos locais, com 28,85%, ou R$ 513,15 bilhões, da dívida em agosto, contra 28,82% em julho. Na sequência estão os fundos de investimento, com 25,24% (R$ 448,92 bilhões), ante fatia de 25,57% em julho.

Segundo Garrido, a queda de participação dos fundos decorre de um vencimento de Notas do Tesouro Nacional – Série B (NTN-Bs) no período, que pesou de forma mais relevante na carteira desses agentes.

Os fundos de previdência aparecem em terceiro, com 16,69% da dívida (R$ 296,88 bilhões) – em julho a participação era de 16,42%. Tal fatia dos fundos também é recorde. “Esse é um setor que se ajusta às suas necessidades. Seus passivos são de longo prazo, então, é necessário que os ativos também sejam”, disse o coordenador.

Outro recorde registrado em agosto foi o alongamento do prazo da dívida pública, que subiu de 3,99 anos de julho para 4,05 anos, superior, portanto, ao patamar máximo estabelecido pelo PAF, de 3,8 anos. Segundo Garrido, o alongamento registrado no mês passado é pontual. Para ele, o fato de haver um segundo semestre com vencimentos mais baixos e o maior interesse dos investidores pelos papéis de longo prazo explicam o recorde. No entanto, a estimativa do Tesouro é de que o prazo médio feche 2012 em torno do limite superior. Somente a longo prazo o governo espera um alongamento para um intervalo de 5 a 6 anos.

O documento divulgado ontem revelou ainda que de julho para agosto a Dívida Pública Federal (DPF) caiu em termos nominais 0,51%, para R$ 1,867 trilhão. A dívida interna recuou 0,53%, indo a R$ 1,788 trilhão. A dívida externa mostrou leve alta de 0,02%, para R$ 88 bilhões (US$ 43,41 bilhões).

As emissões de dívida em agosto somaram R$ 39,95 bilhões, já os resgates ficaram em R$ 68,53 bilhões. Disso resulta um resgate líquido de R$ 28,58 bilhões.

O vencimento de R$ 48 bilhões em NTN-Bs alterou o perfil da dívida no mês. A fatia dos papéis atrelados a índices de preços caiu para 33,35% da DPF contra 34,98% em julho. Assim, aumentou a fatia dos ativos pré-fixados, de 35,86% para 37,37%, e aqueles de taxa flutuante, para 24,68% ante 24,57% em julho.

Agora em setembro, segundo Garrido, haverá um vencimento de cerca de R$ 26 bilhões de Letras Financeiras do Tesouro (LFTs) que terá impacto sobre o perfil da dívida.


Europa quer fundo de resgate de mais de 2 tri

O Estado de S. Paulo

Os governos da zona do euro estão planejando aumentar o poder de fogo do fundo de resgate permanente do bloco, o Mecanismo de Estabilidade Europeu (ESM, na sigla em inglês), para mais de 2 trilhões (US$ 2,6 trilhões), usando alavancagem, para fornecer uma potencial rede de segurança à Itália e à Espanha, afirma a revista alemã “Der Spiegel”.

De acordo com os planos, os governos efetivamente vão ampliar os 500 bilhões do ESM por meio do uso do fundo para comprar apenas os bônus mais arriscados emitidos pela Espanha, por exemplo, segundo a revista. Investidores privados poderão, então, entrar com o restante do dinheiro porque teriam de assumir apenas uma quantidade limitada de risco.

Os planos se baseiam nas regras do fundo de resgate temporário da zona do euro, a Linha de Estabilidade Financeira Europeia (EFSF, na sigla em inglês), que dá oportunidades similares para alavancagem, diz a revista.

No entanto, embora os planos sejam vistos de forma favorável pelo ministro de Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, um acordo rápido no Eurogrupo – o grupo de ministros de Finanças da zona do euro – foi bloqueado pela Finlândia. O governo finlandês está preocupado com o fato de os planos representarem uma grande transgressão do tratado do ESM e, por isso, precisarem ser aprovados pelo Parlamento do país, segundo a Spiegel.

Ampliação. Olivier Bailly, porta-voz da Comissão Europeia, afirmou que ainda estão em andamento as discussões sobre se haverá ou não uma ampliação do fundo de resgate permanente da zona do euro por meio do uso de dois veículos de alavancagem criados pelos governos do bloco no ano passado.

Os dois veículos, que têm como objetivo atrair investidores oferecendo a cobertura de uma parte das perdas no caso de uma reestruturação de dívida, foram acrescidos ao ESM no fim do ano passado para aumentar o poder de fogo do fundo. No entanto, na semana passada o Wall Street Journal afirmou que objeções da Finlândia bloquearam o acordo para transferir os dois veículos para o ESM a tempo de seu lançamento, em 8 de outubro.

“Estamos em uma fase de transição da EFSF para o ESM”, afirmou Bailly. “Os países-membros e nós mesmos estamos discutindo a possibilidade de usar os dois instrumentos financeiros que atualmente são atrelados à EFSF e ligá-los ao ESM. Essas discussões estão em andamento.”

Segundo Bailly, os países da zona do euro e a Comissão “estão checando ponto por ponto” o que pode ser transferido para o ESM, que até agora tem capacidade de empréstimos de 500 bilhões.


Por meta de superávit, BNDES prepara novo aporte ao Tesouro

O Estado de S. Paulo

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) fará um novo aporte de dividendos ao Tesouro para reforçar o caixa do governo federal e ajudar no cumprimento da meta de superávit primário (economia de recursos para pagamento da dívida) das contas públicas.

O reforço dos dividendos do BNDES vai ajudar o governo a alcançar R$ 29 bilhões de receitas com dividendos, previsão que consta no último relatório do Orçamento da União, divulgado na semana passada.

Decreto publicado ontem no Diário Oficial da União autoriza o Conselho de Administração do BNDES a repassar à União dividendos, chamados de intermediários, referentes ao lucro líquido do balanço encerrado no primeiro semestre deste ano. Os valores estão sendo apurados pelo BNDES, mas o banco já informou que houve lucro líquido de R$ 2,7 bilhões no período.

Segundo a área técnica do Ministério da Fazenda, não se trata de antecipação de receitas e o repasse dos dividendos intermediários está previsto no estatuto do BNDES de 2002. O governo diz que o pagamento desses dividendos não afeta as receitas do ano que vem. Está mantida a previsão de arrecadar R$ 26 bilhões de dividendos em 2013.

Essa é segunda vez este ano que o governo publica decreto para garantir aumento dos dividendos do BNDES. Em agosto, o banco já repassou cerca de R$ 4 bilhões de dividendos à União. Desse total, R$ 3 bilhões foram pagos com títulos públicos com vencimento em 2035. O restante foi transferido em dinheiro. Esses dividendos foram entregues depois que decreto permitiu que o BNDES utilizasse a conta destinada apenas ao aumento de capital também para pagar dividendos ao Tesouro.

Ao longo deste ano, o governo já elevou em R$ 9,17 bilhões a previsão de dividendos, mesmo com a redução da lucratividade das empresas estatais. O BNDES e Caixa Econômica Federal, que não têm ações em bolsa, ajudaram a reforçar esse caixa.

Manobra. O governo diz que não há manobra no repasse dos dividendos, mas o aumento dessas receitas num ano em que as estatais têm queda na lucratividade é visto com desconfiança. A avaliação dos analistas é que essa política de garantir “superdividendos”, como vem sendo chamada no mercado, enfraquece os efeitos da política fiscal. A previsão de receitas e dividendos cresceu para acomodar a queda na estimativa de arrecadação.


Mercado externo se fecha para bancos médios

Valor Econômico

O calote recente do Cruzeiro do Sul disseminou forte desconfiança entre investidores estrangeiros quanto a novos títulos de dívida de bancos médios brasileiros, especialmente aqueles que operam com crédito ao consumo, mesmo nicho do Cruzeiro.

Com a liquidação do Cruzeiro decretada pelo Banco Central no dia 14, quem tinha bônus do banco deve entrar na Justiça para tentar reaver parte dos investimentos. O banco deixou US$ 3,3 bilhões em dívida lá fora, e o quanto será recuperado é difícil prever. O desenrolar deve ser parecido com aquele dos detentores de notas do Banco Santos, liquidado em 2005 e cujos títulos começaram a ser pagos apenas no ano passado.

Ao se considerar as notas subordinadas, com vencimento para 2020, as chances de recuperação são baixíssimas. Títulos seniores têm mais chances, mas o retorno deve ficar bem abaixo do deságio médio de 49,3% que o Fundo Garantidor de Créditos tinha proposto. Por conta disso, a estimativa de especialistas é que esse mercado se feche totalmente para novas captações de bancos médios.

Para Rodrigo Cabernite, diretor do Standard Chartered que acompanha de perto as operações de emissão, os bancos médios devem se aproveitar da mudança de regras dos depósitos compulsórios anunciada no dia 14 pelo BC, o que diminui, no momento, a necessidade de emissão de novas dívidas lá fora.

Paralelamente, acredita ele, os bancos que pretendem emitir no futuro precisam se esforçar para deixar claro ao mercado externo quais são os nichos de atuação de cada um, e explicar a diferença entre quem atua principalmente com crédito consignado e quem é focado em crédito corporativo. “O investidor será forçado a fazer uma análise mais profunda, entender melhor o que está comprando”, disse Cabernite.

“Até por uma dificuldade de idioma, não conseguimos entrar em detalhes de balanço, por isso confiamos nos reguladores locais”, disse Carlos Legaspy, gestor da Precise Securities, com sede em San Diego, Califórnia, e que terminou com “alguns milhões de dólares” em bônus do Cruzeiro em mãos, segundo ele próprio.

“Os bancos são mais difíceis de analisar”, afirma Andrew Feltus, vice-presidente sênior da gestora americana Pioneer. “Tendemos a ser muito mais cuidadosos com bancos do que com outros ativos.”

O mercado secundário também mostra mau humor com os bônus de outros bancos médios. Os títulos de dívida do banco BVA com vencimento em 2014 perderam 12,24% de seu valor desde o período pouco anterior à intervenção no Cruzeiro, em junho, até ontem, segundo dados da Bloomberg compilados pelo Valor Data. Outros bancos que também sentiram o impacto foram BicBanco, com perda de 6,15% do valor do bônus para 2020, e Pine, com queda de 6,52% do preço dos títulos para 2017, em intervalo de tempo parecido.

Esse cenário, entretanto, não afeta os grandes bancos brasileiros, que seguem como opções atrativas para alocação de recursos na visão de gestores.

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