Supremo conclui que PT comprou apoio político

O Supremo Tribunal Federal (STF) condenou ontem as primeiras quadrilhas do mensalão e confirmou que o esquema operado por Marcos Valério foi usado pelo PT para comprar apoio político para o governo Lula. Segundo os ministros, havia um grupo no PP e outro no PL (atual PR) unidos para receber dinheiro do valerioduto. A Corte também atestou que políticos do PTB e o ex-líder do PMDB José Borba foram corrompidos. Na fatia do processo que teve o julgamento concluído ontem, foram condenados 12 réus ligados aos partidos. Entre eles, o delator do esquema e presidente do PTB, Roberto Jefferson, e os deputados Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Pedro Henry (PP-MT). Os três foram enquadrados em corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Valdemar também foi condenado por formação de quadrilha.

O julgamento do processo começou em 2 de agosto. Desde então, foram condenados 22 dos 37 réus. Quatro foram absolvidos. A partir de amanhã, o relator, Joaquim Barbosa, começará a analisar a conduta de dez réus acusados de corrupção ativa (os pagadores da propina). Entre eles, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.

Na conclusão desta parte do julgamento, ministros descartaram a tese da defesa de que o dinheiro foi usado para alimentar o caixa dois dos partidos. Segundo os advogados, os recursos serviram para quitar dívidas da campanha de 2002 e programar os gastos com as eleições de 2004. No entanto, para o STF, o PT comprou apoio político de parlamentares para o governo Lula em votações importantes. O presidente da Corte, Carlos Ayres Britto, afirmou que não se pode falar de caixa dois, pois o dinheiro do mensalão era de origem pública, não privada.

– Não se pode sequer alegar formação de caixa dois com dinheiro público. Ao tipificar como delito eleitoral a prática do caixa eleitoral paralelo, (o legislador) somente trabalhou com a hipótese da natureza privada de recursos financeiros repassados informalmente a candidatos. Dinheiro privado que pode, desde que devidamente registrado, bancar campanhas, pré-excluído desse financiamento o dinheiro de natureza pública. Dinheiro público não pode circular, se não formalmente, sob rígido controle de órgãos igualmente públicos – afirmou.

Ministros afastam a tese do caixa dois

Marco Aurélio Mello também afastou o argumento da defesa:

– Essa corrupção não visou a cobrir deficiência de caixa dos diversos partidos envolvidos na espécie, mas sim a base de sustentação para aprovar-se determinadas reformas, sofrendo, com isso, a própria sociedade brasileira.

O ministro argumentou que os partidos têm “postura antagônica em relação uns aos outros”. Por isso, não comprou a versão da defesa de que o PT repassara quantias milionárias para outras legendas sem pedir nada em troca. Marco Aurélio acrescentou que o dinheiro foi mal aplicado:

– A meu ver, aqui se utilizou muito mal a prata, talvez por se tratar de um dinheiro fácil. Houve, sem dúvida alguma, a partir da entrega dos numerários, atos de ofício nas diversas votações procedidas na Câmara dos Deputados.

Entre os condenados, estão assessores parlamentares, donos de empresas usadas para escamotear a origem e a finalidade das cifras e cinco ex-deputados: Jefferson, Pedro Corrêa (PP-PE), Bispo Rodrigues (PL-RJ), Romeu Queiroz (PTB-MG) e José Borba (ex-PMDB-PR). Com exceção de Henry, os deputados e ex-deputados foram condenados por unanimidade por corrupção passiva. Também por unanimidade, foi absolvido o ex-assessor do PL Antônio Lamas por falta de provas, como pedira o Ministério Público.

Ontem votaram os ministros Dias Toffoli, Marco Aurélio, Celso de Mello e Ayres Britto. Os dois últimos, como Luiz Fux, na semana passada, e o relator, Joaquim Barbosa, condenaram todos os réus, menos Antônio Lamas, por todos os crimes dos quais eram acusados. O presidente do STF deu especial atenção a Marcos Valério, que não estava sendo julgado ontem.

– Um protagonista em especial confirma esse quase consenso de acusação e defesa quanto à materialidade dos fatos. Esse protagonista se chama Marcos Valério. Ele parece ter o dom da ubiquidade e o mais agudo faro desencavador de dinheiro. É praticamente impossível deixar de vinculá-lo a quase todos os réus desta ação penal – disse ele. – Era praticamente impossível não saber que lidar com Marcos Valério seria participar de um sofisticado esquema de corrupção, lavagem de capitais e formação de quadrilha, para dizer o mínimo.

No intervalo da sessão alguns ministros participaram do plantio de árvores no Bosque dos Ministros, uma tradição no STF desde 2000. O procurador-geral, Roberto Gurgel, também compareceu.


Mundo terá 1 bilhão de idosos em dez anos e falta estratégia, adverte ONU

O Estado de S. Paulo

O mundo terá 1 bilhão de idosos dentro de dez anos e os países devem adotar estratégias próprias, em especial na área de saúde, para assegurar o bem-estar presente e futuro desse segmento da população. O alerta é de um relatório divulgado ontem, em Genebra, pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA, na sigla em inglês).

De acordo com a ONU, 1 em cada 9 pessoas no mundo tem 60 anos ou mais (o equivalente a 11,5% da população mundial) e o envelhecimento, embora seja um fenômeno comum a nações ricas e pobres, está aumentando mais rapidamente nos países em desenvolvimento – onde vivem 2 de cada 3 pessoas idosas.

Na última década, o número de idosos no mundo aumentou em 178 milhões de pessoas. A cada segundo, 2 pessoas celebram o 60.º aniversário. O relatório atribui o crescimento dessa faixa a melhoras na nutrição, nos avanços da medicina, nos cuidados com a saúde, no ensino e no bem-estar econômico.

Esse conjunto de fatores fez crescer substancialmente a expectativa de vida no mundo – hoje, de 78 anos nos países desenvolvidos e de 68 anos nas regiões em desenvolvimento. Em 2050, a população idosa mundial deverá atingir 2 bilhões de pessoas.

A questão é como enfrentar esse crescimento. “As implicações sociais e econômicas deste fenômenos são profundas, estendendo-se para muito além do idoso e sua família, alcançando a sociedade inteira”, afirma o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

Por essa razão, o relatório sugere a adoção de novas políticas, estratégias, planos e leis específicos para os mais velhos. Hoje, 47% dos idosos e 23,8% das idosas participam da força de trabalho. O drama é quando eles deixarem de trabalhar. Apenas um terço dos países do mundo, que somam 28% da população mundial, conta com planos de proteção social abrangente para os idosos. Nos países em desenvolvimento, os custos com pagamento de pensão para a população idosa variam de 0,7% a 2,6% do Produto Interno Bruto (PIB).

Furo

No Brasil – que tem 23,5 milhões de idosos, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2011 -, a questão previdenciária também é apontada como o principal problema decorrente do envelhecimento, segundo o geriatra Fernando Bignardi, coordenador do Centro de Estudos do Envelhecimento da Unifesp. “Todo o processo foi calculado para pessoas que viveriam até 70 anos. Com o aumento dos anos de vida, está havendo um furo no cálculo. Agora é preciso pensar em como garantir uma renda mínima para as pessoas que estão envelhecendo”, diz.

O segundo problema, para ele, é que a medicina convencional não se preparou para atender os idosos. “A medicina convencional atribui a cada diagnóstico, um tratamento. Não é incomum encontrar um idoso com a prescrição de 80 cápsulas por dia.”

O relatório adverte que saídas precisam ser adotadas desde já. Hoje, apenas o Japão tem um índice de idosos que corresponde a mais de 30% da população. Por volta de 2050 – quando haverá mais idosos que crianças menores de 15 anos em todo o mundo-, outros 64 países farão parte deste grupo.


Brasil se defende culpando a crise

O Globo

Pressionado por seus grandes parceiros comerciais, como Estados Unidos, Europa e Japão, o Brasil contestou ontem, numa reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra, as críticas de que estaria se rendendo ao protecionismo, isto é, erguendo barreiras contra produtos estrangeiros, na contramão das regras do comércio internacional. O Brasil justificou suas ações, sobretudo na indústria automobilística, culpando a crise mundial e as medidas de incentivo adotadas pelos países ricos para escapar dela. E disse que tudo o que o governo fez foi o que os outros também fizeram: proteger sua indústria. Duas decisões brasileiras estão na mira dos parceiros: as regras para reduzir o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para carros, taxada de injusta, e as exigências e barreiras na abertura do mercado de telefonia de quarta geração (4G) no Brasil, considerada discriminatórios.

Conteúdo nacional em 4G é alvo de críticas

Não há nenhuma ação formal na OMC – isto é, disputa – contestando as medidas brasileiras. Mas a pressão articulada pelos países ricos é um sinal de impaciência. EUA e Japão estão irritados com as regras para a telefonia 4G, que exigem conteúdo nacional mínimo de 60% para quem quiser participar das licitações para prestação de serviços, fornecimento de equipamentos e sistemas. O primeiro leilão foi em 12 de junho e movimentou R$ 2,9 milhões.

Num discurso lido pela diplomata Márcia Donner, o Brasil argumentou que as regras de licitação para o 4G foram desenhadas para “melhorar a competitividade num setor brasileiro conhecido por ser aberto”.

– Todo o procedimento foi não discriminatório e consistente com as regras da OMC – insistiu a diplomata.

Não satisfeitos, os Estados Unidos partiram para um jogo irônico de perguntas sobre como o governo define “tecnologia brasileira”.

– Que critério é esse? A tecnologia tem que ser desenvolvida no Brasil? Tecnologia desenvolvida no Brasil por uma empresa estrangeira ou por estrangeiros trabalhando para empresa brasileira é considerada tecnologia brasileira? – perguntaram representantes dos Estados Unidos.

Mas foi sobre as mudanças no regime automotivo – contestadas sobretudo por União Europeia (UE) e Austrália – que a diplomacia brasileira gastou mais tempo para se explicar.

Diplomata cita câmbio para defender medidas

E a defesa na OMC seguiu à risca a linha do discurso recente da presidente Dilma Rousseff na Assembleia Geral da ONU: ao reduzir o IPI para montadoras que façam investimentos e produzam seus carros no país, o Brasil não está discriminando as estrangeiras, mas sim se defendendo comercialmente.

– Taxas de câmbio também tiveram um impacto negativo no nosso setor automotivo, já que o real brasileiro continua sobrevalorizado em relação às moedas de seus principais parceiros comerciais, como no caso do euro e do dólar americano – disse Márcia Donner, no discurso.

Além disso, argumentou a diplomata, desde o início da atual crise econômica em 2008, o setor automobilístico brasileiro “teve que lidar com efeitos sistêmicos dos planos de recuperação adotados por vários países desenvolvidos para salvar sua própria indústria automotiva”. Márcia Donner passou boa parte do discuso explicando o novo regime automotivo – o Inovar-Auto – que será introduzido em 2013, frisando que ele não será uma mera extensão do atual.

– O novo regime é fundamentalmente diferente. Foi desenhado para permitir à indústria automotiva brasileira a recuperar sua competitividade -justificou.

As explicações brasileiras acabaram com o governo garantindo que todas as três categorias de empresas que poderão participar do novo regime automotivo – as que produzem carros no Brasil, as que comercializam carros no país e as que têm planos de investimentos – vão se beneficiar com incentivos do Inovar-Auto.


Governo vai receber R$ 2,8 bi de dividendos

Valor Econômico

O governo federal vai receber, pelo menos, R$ 2,76 bilhões em dividendos da Caixa Econômica Federal e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em setembro, para compensar a frustração de arrecadação de tributos. Em agosto, o Tesouro Nacional se utilizou do resgate antecipado de títulos de empresas estatais federais para alavancar o montante de dividendos recebidos.

A autorização da operação foi feita por meio de duas portarias, publicadas ontem no “Diário Oficial da União”, com a data de sexta-feira. O objetivo é que a entrada de dividendos impacte as contas públicas ainda em setembro, ajudando no cumprimento da meta de superávit primário.

De acordo com as portarias, a Caixa vai resgatar antecipadamente R$ 1,5 bilhão de Letras do Tesouro Nacional (LTN), que venceriam em 1º de janeiro de 2013. No caso do BNDES, o resgate será de R$ 1,26 bilhão em papéis atrelados a índice de preços.

Para o ano, o Tesouro Nacional projeta receber R$ 29 bilhões em dividendos – um recorde. De janeiro a agosto, as empresas estatais federais já transferiram aos cofres públicos R$ 16,125 bilhões. Considerando os R$ 2,76 bilhões, autorizados por portarias publicadas ontem, esse valor sobe para R$ 18,885 bilhões. Ou seja, entre setembro e dezembro, ainda serão repassados R$ 10,115 bilhões ao Tesouro. Boa parte dos dividendos estão sendo pagos pelos BNDES que, com a operação de ontem, já contribuiu com R$ 10,620 bilhões. A Caixa repassou mais R$ 3 bilhões.

Na semana passada, o secretário do Tesouro, Arno Augustin, afirmou que “não há novidade nenhuma” no nível de dividendos pagos pelas empresas ao governo. O que está diferente, segundo ele, é que as empresas públicas davam prejuízo e agora dão lucro.

A antecipação do pagamento de dividendos é um mecanismo adotado pelo Tesouro Nacional para compensar a perda de receitas causada pela menor lucratividade das empresas e pelo impacto de medidas de estímulo econômico como a desoneração da folha de pagamento. No próximo ano, por exemplo, 40 setores econômicos serão beneficiados com a desoneração da folha o que implicará a renúncia de R$ 12,830 bilhões.

De janeiro a agosto deste ano, a perda de arrecadação foi de R$ 34 bilhões, segundo o quarto relatório bimestral de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias, divulgado no mês passado pelo Ministério do Planejamento.


Planos de previdência devem substituir R$ 24 bi em títulos públicos

O Globo

A decisão do governo de limitar a parcela de títulos pós-fixados e de curto prazo nas mãos de fundos de previdência privada abertos (PGBL e VGBL) deve envolver a substituição de aproximadamente R$ 150 bilhões em ativos, sendo apenas R$ 24 bilhões de títulos públicos. Essa é a estimativa feita por fontes do mercado, a partir de um levantamento junto à parte da indústria de fundos. As regras para essa substituição estão em negociação e um projeto final deve ser levado à apreciação do Conselho Monetário Nacional (CMN) na próxima reunião, prevista para o dia 25 de novembro.

O patrimônio dos fundos de previdência aberta, classificados de “fundos de investimento especialmente constituídos”, soma R$ 336 bilhões, sendo que R$ 240 bilhões estão aplicados em ativos de renda fixa e R$ 96 bilhões em outros ativos. Foi feito um levantamento com um grupo de instituições que respondem por 87% da indústria e o que se observa é que, do volume destinado à renda fixa, R$ 64 bilhões são títulos públicos e privados indexados ao CDI – sendo R$ 20 bilhões apenas em títulos públicos.

Existe ainda uma parcela de R$ 57 bilhões aplicados em operações compromissadas, que é afetada pela medida por causa do prazo médio baixo. Ou seja, R$ 121 bilhões – ou 60% – dos ativos desse grupo do mercado são passíveis de ajuste pelas novas regras.

Estima-se, assim, que a indústria toda tenha cerca de R$ 150 bilhões de seus ativos desenquadrados, seja pelo tipo de indexador, seja pelo prazo a vencer. Mas o volume de títulos públicos indexados à Selic – as Letras Financeiras do Tesouro (LFTs) – envolvidos representam uma parcela minoritária, estimada em aproximados R$ 24 bilhões.

A tendência é que, gradativamente, esses papéis sejam substituídos por NTN-Bs, títulos de longo prazo indexados ao IPCA, ou prefixados como NTN-Fs, que também são mais longos. De todo modo, como há um vencimento grande de LFT para ocorrer entre 2013 e 2015, a expectativa é que a substituição aconteça sem gerar pressões sobre os preços dos títulos.

Ainda há pontos em debate entre representantes dos fundos de previdência e o governo em torno do projeto que será levado à apreciação do CMN. Um deles é se qual deverá ser o limite para a parcela de pós-fixados dentro da carteira dos fundos e qual o prazo médio mínimo a ser cumprido. O que parece estar decidido é que os fundos terão um prazo superior a um ano para se enquadrar.


Frota das capitais quase dobra em 10 anos; SP ganha 3,4 mi de veículos

O Estado de S. Paulo

A frota das 12 principais capi tais do Brasil praticamente do brou em dez anos. O cresci mento médio no número de veículos foi de 77%, sem que a infraestrutura viária e os ór gãos de controle do trânsito acompanhassem o ritmo. Em São Paulo, a metrópole que mais ganhou carros em núme ros absolutos, as ruas recebe ram 3,4 milhões entre 2001 e 2011. As 12 principais metrópo les somam 20 milhões de veí culos, o que corresponde a 44% da frota nacional.

A conta é do Observatório das Metrópoles e usa dados do De partamento Nacional de Trânsi to (Denatran). Segundo o elaborador do estudo, o pesquisador Juciano Martins Rodrigues, fo ram analisadas informações de 253 municípios. “Usamos os cri térios do IBGE (Instituto Brasilei ro de Geografia e Estatística) para selecionar as capitais de Estado que formavam regiões metropo litanas”, afirma.

São Paulo e Rio, capitais que já tinham as maiores frotas de car ros do País, ficam nas últimas po sições do ranking elaborado pe lo estudo – que classifica o cresci mento de frota de acordo com o crescimento relativo, ou seja, pe lo porcentual de aumento do nú mero de carros. O Rio é o lanter na: crescimento de 67%, embora isso signifique acréscimo de 1 mi lhão de carros no período. Já São Paulo teve crescimento popula cional de 7,9% na década, segun do dados da Fundação Seade – e o porcentual de aumento de car ros foi de 68,2%.

Com o critério porcentual, a região metropolitana de Ma naus é a campeã. O aumento da frota foi de 141,9%. A cidade ganhou 209 mil veículos (saltou de 147 mil, em 2001, para 357 mil).

As capitais não estavam prepa radas para receber tantos carros a mais. Em São Paulo, por exemplo, em 2001 havia 1,2 mil agen-tes da Companhia de Engenha ria de Tráfego (GET) orientando trânsito nas ruas. De lá para cá, mesmo com dois concursos pú blicos para marronzinhos, esse número não chega a 2 mil. A principal obra viária no período foi a ampliação da Marginal do Tiete, que trouxe mais três pistas para a via expressa. Nesse período, a velocidade média dos carros no horário de pico, medida pela CET no Corredor Eusébio Matoso-Rebouças-Consolação, caiu de 17,9 km/h para 7,6 km/h.

O crescimento da frota de veículos é um fenômeno que vem sendo notado há alguns anos, mas ainda não havia sido analisa do como o Observatório das Metrópoles fez. Para especialistas e autoridades, o avanço resulta de três fatores: aumento da renda da população (especialmente da classe C), reduções fiscais do go verno federal e facilidades de cré dito promovidas pelos bancos.

O gerente aposentado Pedro Manzoni, de 73 anos, é um exemplo. Dono de um Corsa zero-quilômetro, diz trocar de carro a ca da vez que o veículo atinge 20 mil km rodados. Já cheguei a ter cinco em casa, quando os filhos moravam comigo. Hoje, tenho apenas o meu, mas os filhos con tinuam com os deles”.

Redesenho

O arquiteto e urba nista Benedito Lima de Toledo, professor da Facuidade de Arqui tetura e Urbanismo (FAU-USP), afirma que, em São Paulo, o nú cleo viário central da cidade não acompanhou o crescimento da frota. “E isso não é desejável”, afirma. Para ele, a cidade não po de ser redesenhada para se ade quar ao número de carros. “Isso tem um preço social altíssimo, e a conta é paga por todos, não só por quem tem carro.”

Para Toledo, os ajustes que precisam ser feitos para minimi zar o trânsito caótico passam não só pelo aumento da malha do Metrô, mas por um replanejamento das áreas de paradas metroviárias.

“As estações precisam ter co mércio, prestação de serviço. Não ser uma 25 de Março, mas lojas que atendam às necessida des básicas das pessoas.”


Desempenho de manufaturados ameniza queda das exportações

O Globo

O desempenho da exportação de manufaturados está contribuindo para os embarques totais caírem menos. Em setembro a exportação de manufaturados teve elevação de 2,9% em relação ao mesmo mês de 2011, levando em conta a média diária, enquanto básicos e semimanufaturados tiveram redução de 7,9% e de 15,6%, respectivamente.

No acumulado de janeiro a setembro a exportação de manufaturados – que inclui desde óleo combustível a máquinas industriais – apresenta queda, mas menor que as demais classes de produtos. Enquanto os básicos, como minério de ferro, e os semimanufaturados, como açúcar e celulose, tiveram redução de 5,4% e de 11%, respectivamente, manufaturados caíram 2,4%. O comércio exterior superou, em setembro, os efeitos das greves na fiscalização sanitária e na Receita Federal, e registrou um saldo positivo de US$ 2,56 bilhões. Neste ano, o superávit acumulado é de US$ 15,7 bilhões.

Para economistas, o bom desempenho das vendas aos Estados Unidos, segundo destino mais importante do Brasil, contribuiu para a evolução dos manufaturados. No acumulado até setembro a exportação brasileira aos americanos cresceu 11% enquanto as vendas totais do Brasil ao exterior caíram 4,9%. Cerca de 45% dos embarques brasileiros aos Estados Unidos são de manufaturados. Rodrigo Branco, economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), lembra outros fatores que também contribuíram. Os manufaturados foram menos afetados pela queda de preços e, além disso, os produtos da indústria de transformação começaram a mostrar, mais recentemente, reação nos volumes exportados em alguns segmentos.

A forte queda no preço internacional de minério de ferro, de US$ 129 por tonelada no ano passado para US$ 100 em média neste ano provocou a frustração, nas exportações, de receitas equivalentes a US$ 6,7 bilhões, segundo a secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres. Apesar da queda de 23,5% nas exportações em relação a setembro do ano passado, as vendas de US$ 1 bilhão em soja em grão, somadas às exportações de US$ 606 milhões em farelo de soja (um aumento de 30%) surpreenderam especialistas, que imaginavam queda maior, já que boa parte da safra teve vendas antecipadas com a melhoria dos preços no início do ano.

Uma única operação, a venda de equipamento para fabricação de celulose para a Venezuela, por US$ 145 milhões, influenciou no desempenho de exportações de manufaturados, que foi impulsionada principalmente pelo aumento nas vendas de óleos combustíveis (US$ 325 milhões, 184% acima do valor de setembro de 2011), etanol (US$ 331 milhões, um aumento de 150%, principalmente aos Estados Unidos) e motores e geradores elétricos (US$ 215 milhões, 53% a mais que no mesmo mês do ano passado).

“É notável o aumento de exportações de manufaturados, e compensa em parte a queda nas vendas à Argentina”, comentou o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. “Já devemos estar sentindo os efeitos de medidas como a desoneração das folhas de pagamento, o Reintegra, a desvalorização do real”, avaliou o diretor titular do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Roberto Giannetti da Fonseca. O Brasil teve queda, porém, na venda de aviões (-14%) e motores e partes para veículos (-11%).

Com aumento principalmente das exportações de produtos como suco de laranja, etanol e motores e turbinas de aviação, mas também de produtos industrializados, o Brasil aumentou em quase 5% as vendas aos EUA, que ampliaram sua fatia no mercado mundial para produtos brasileiros, de menos de 10% entre janeiro e setembro de 2011 para 11,5% neste ano. Já a Argentina reduziu em pouco mais de 25% as compras do Brasil em setembro, em comparação a setembro do ano passado. Acumulou uma queda de 20% nas importações de mercadorias brasileiras neste ano e reduziu sua participação no mercado para o Brasil de quase 9% nos primeiros nove meses de 2011 para 7,5% neste ano.

Para Tatiana Prazeres, a forte retração do mercado argentino se deveu à desaceleração na economia mundial, à queda de preços internacionais e às barreiras impostas pelo governo vizinho a importações, como forma de garantir uma melhoria nas contas externas do país.

A secretária argumentou que, embora não se possa falar de uma normalização no comércio bilateral, desde julho, quando autoridades dos dois governos se reuniram para evitar uma guerra comercial, as importações argentinas vêm crescendo, mês a mês. Em setembro, o aumento nas vendas brasileiras ao vizinho foi de 7,4%.

Calculando-se pela média diária, o Brasil reduziu em 4,7% as importações de bens duráveis, principalmente pela queda de 14% nas importações de automóveis, mas aumentou em 2% a compra de máquinas e equipamentos para investimento na indústria e em 7,5% a importação de bens de consumo não duráveis, principalmente produtos de toucador, alimentos e remédios.

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