Desmate cresce e governo anuncia pacote
O desmatamento na Amazônia Legal entre agosto e setembro foi de 804 km2, o maior nível do período nos últimos três anos, puxado pela seca intensa de 2012 e a expansão das áreas para plantio de soja, garimpo e pecuária. Apenas em agosto, o desflorestamento foi de 522 km2 (mais de duas vezes o tamanho da cidade do Recife), um aumento de 220% em relação ao mesmo período de 2011. Na série histórica, o pico só não foi mais alto que em julho de 2009, quando o total destruído chegou a 835 km2.
Os dados foram apresentados ontem pelos ministros do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e da Justiça, José Eduardo Cardozo, que anunciaram um pacote de medidas para intensificar a prevenção e o combate ao desmatamento. A atuação do governo se dará em cinco ações principais, sendo a mais importante a fiscalização permanente na região. Parte delas será oficializada até o fim da semana em decreto da presidente Dilma Rousseff.
Atualmente, os agentes federais trabalham principalmente no período de seca, de abril a outubro, quando os desmatadores atuam com mais facilidade e a falta de nuvens favorece o monitoramento por satélite. Porém, a derrubada de floresta vem ocorrendo mesmo em período chuvoso, apesar das dificuldades para a retirada de madeira, o que forçou uma reorientação na repressão.
A Força Nacional de Segurança criará uma companhia ambiental na Amazônia. As atividades de inteligência vão contar com o background militar. Será criado ainda o Proteger Ambiental, que voltará a estrutura e o efetivo das Forças Armadas para ações de proteção da mata. O governo classificou o pacote como um forte reforço, mas se negou a divulgar números. “Se eu disser o efetivo, dou munição para o bandido”, disse Cardozo.
Queda de árvores. Pará, Mato Grosso, Rondônia e Amazonas foram os Estados com maior desmate em agosto.
Apesar dos dados negativos, a ministra ponderou que o reforço na fiscalização já possibilitou a redução do ritmo da destruição em setembro, com 282 km2. “Houve o aumento do preço do ouro (o que estimula a abertura de garimpos) e da soja internacional. As pessoas estão desmatando por soja, pecuária, madeira e ouro”, disse Izabella.
Acordo tributário com Reino Unido depende do Congresso
Valor Econômico
O governo brasileiro está negociando acordos específicos de troca de informações tributárias com alguns países para contornar a ausência de tratados que impedem a bitributação. O objetivo é coibir crimes como sonegação de impostos e lavagem de dinheiro. No fim de setembro, o Brasil assinou um acordo com o Reino Unido. O documento, no entanto, ainda depende de aprovação do Congresso Nacional para começar a vigorar.
Esse é o segundo tratado para troca de informações assinado pelo Brasil. O primeiro foi fechado, em 2007, com os Estados Unidos. Por enquanto, essa parceria não está funcionando pois precisa ser confirmada pelo Senado Federal brasileiro. A expectativa da Receita Federal é de sejam assinados, ainda neste ano, acordos semelhantes com o Uruguai, Bermudas e duas ilhas do Canal da Mancha, Jersey e Guernsey.
O coordenador-geral de Relações Internacionais da Receita Federal, Flavio Araújo, disse ao Valor que esses tratados impedem que contribuintes fechem negócios em outros países com o objetivo de esconder operações. Essa é uma maneira de assegurar o cumprimento da legislação tributária e evitar sonegação de impostos, fraudes e lavagem de dinheiro, explicou o coordenador.
O tratado entre Brasil e Reino Unido foi assinado, no dia 28 de setembro. Na ocasião, o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, fazia uma visita ao país. O acordo prevê que as economias poderão solicitar informações, desde que respeitada a legislação de cada país, assim como o sigilo. Os dados não poderão ser repassados a terceiros. Além disso, as operações com indícios de irregularidades poderão ser informadas espontaneamente. O acordo prevê a possibilidade de recusar o atendimento de um pedido em casos como segredo comercial, empresarial e industrial ou processo comercial. Normalmente, conforme o coordenador da Receita Federal, o prazo para resposta é de cerca de 90 dias, podendo, dependendo da situação, ser estendido.
Segundo Araújo, o Brasil tem um pouco mais de 30 acordos internacionais para evitar bitributação com nações como África do Sul, Argentina, Canadá e Espanha. Nesse tipo de acerto já existem cláusulas que estabelecem regras mínimas para troca de informações. Porém, em muitos casos, essa negociação é demorada e para viabilizar, pelo menos o intercâmbio de dados, vários países estão optando por acordos específicos para troca de informações. Já foram fechados no mundo cerca de 800 acordos desse tipo. Sem tratado para evitar bitributação com os Estados Unidos e Reino Unido, o governo brasileiro recorreu ao tratado de troca de informações.
Na avaliação do coordenador, o país que se nega a fazer intercâmbio de dados acaba sendo mal visto pela comunidade internacional. Tanto é que países ou dependências considerados pela Receita Federal brasileira como um “paraíso fiscal” por ter uma tributação favorecida e regimes fiscais privilegiados, estão assinando acordos para troca de informações. Esse é o caso de Ilhas das Bermudas e Jersey, cujos tratados com o Brasil já foram negociados e precisam apenas ser assinados.
Produção industrial cresce no Nordeste, mas continua em queda na região Sudeste
Valor Econômico
A indústria do Nordeste se descolou do resto do país e encerrou os primeiros oito meses do ano com uma produção 2,2% maior do que a de igual período do ano passado. Na mesma comparação, a indústria de São Paulo registrou queda de 5,6%, enquanto a do Rio de Janeiro e a do Espírito Santo caíram mais de 6%, resultados que contribuiram para a retração de 3,4% na média nacional, segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nos últimos dois meses, essa dicotomia entre o Nordeste e o Sudeste arrefeceu.
Isolado, o mês de agosto mostrou uma recuperação mais disseminada da produção industrial nas regiões pesquisadas pelo IBGE, movimento que fortalece a visão de que o setor se enquadra num processo, ainda lento, de crescimento, segundo especialistas ouvidos pelo Valor.
De acordo com a Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF) Regional de agosto, 9 dentre 14 localidades apresentaram alta na produção na passagem de julho para agosto, feitos os ajustes sazonais. A média do país foi de avanço de 1,5% da produção industrial nessa comparação.
No intervalo anterior (passagem de junho para julho), a produção industrial tinha crescido 0,5%. No entanto, a produção recuou em 9 de 14 regiões – movimento oposto ao observado em agosto. A retomada da atividade industrial na comparação por regiões se soma a um dado que havia sido divulgado na semana passada. Entre os 27 ramos contemplados pela PIM no conjunto do país, 20 apresentaram alta na produção em agosto, ante julho.
Para Julio Gomes de Almeida, professor da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica da Fazenda, tais fatores ganham ainda mais relevância quando esse crescimento é acompanhado por Estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, que possuem parques industriais mais complexos e, portanto, refletem uma recuperação mais orgânica quando registram avanço na produção. “Isso nos dá um grau maior de certeza de que esse crescimento veio para ficar, pois ele está bem distribuído entre os segmentos da indústria e entre as regiões”, avalia.
Na passagem de julho para agosto, feitos os ajustes sazonais, a atividade industrial cresceu 2,7% em São Paulo e 3,3% em Minas Gerais. Outro importante e complexo parque industrial, segundo o professor da Unicamp, é o do Rio de Janeiro. Ali, a produção cresceu 0,6% na mesma comparação. “O fato de a produção crescer em regiões onde a indústria é mais diversificada é um sinal de que o miolo da indústria está se recuperando. Não se trata apenas de movimentos setoriais.”
O economista Alexandre Andrade, da Votorantim Corretora, discorda. Para ele, a recuperação vista na indústria em agosto é reflexo do bom desempenho apresentado por setores específicos. “Esse resultado foi bastante influenciado pelo desempenho de alguns setores, especialmente os que receberam benefícios fiscais do governo”, afirma o economista, segundo quem a recuperação da indústria ainda está calcada em bens duráveis.
“Vamos, aos poucos, superar a concentração em bens de consumo duráveis, como automóveis, móveis e eletrodomésticos, e espalhar a recuperação para bens duráveis, intermediários e, finalmente, bens de capital”, avalia Andrade.
Apesar da estagnação da produção industrial no Nordeste em agosto, ante julho, a região diverge do restante do país no acumulado do ano. Entre janeiro e agosto, a produção industrial da região cresceu 2,2% na comparação com igual período de 2011. O saldo total da indústria, contabilizando, inclusive, o Nordeste, é de recuo de 3,4% nessa mesma comparação.
Para Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, o resultado da região está diretamente ligado à robustez de seu mercado consumidor. “O reajuste de 14% do salário mínimo em 2012 pode ter dado um empuxo de demanda, o que ajudou o setor industrial ao longo do ano. O mercado doméstico está impulsionando o Nordeste”, diz Vale.
Dois segmentos se destacam na abertura dos dados da indústria do Nordeste. Contribuem para o avanço de 2,2% no acumulado do ano os setores de produtos químicos, que responde por 1,8 ponto percentual dessa alta, e de alimentos e bebidas, que responde por 0,74 ponto.
Andrade, da Votorantim, acrescenta que, principalmente no setor de alimentos e bebidas, são as vendas no varejo que alavancam a produção industrial. “O comércio varejista no Nordeste nos últimos anos tem mostrado um desempenho acima da média nacional. Isso tem a ver com o aumento de poder aquisitivo das famílias.”
Apesar da recuperação em agosto, os Estados da região Sudeste ainda acumulam queda entre janeiro e agosto, na comparação com igual período de 2011. Em São Paulo, o recuo da produção é de 5,6%. No Rio, de 6,5% e, em Minas Gerais, de 0,4%, sempre na comparação entre 2012 e 2011, no acumulado até agosto. No Brasil, a queda nessa análise é de 3,4%.
Gregos contra Merkel
Correio Braziliense
A chanceler alemã, Angela Merkel, foi recebida ontem por manifestações de protesto em sua primeira visita à Grécia desde que a crise da dívida explodiu, em 2009. Em reunião com o primeiro-ministro, Antonis Samaras, ela pediu ao governo local que mantenha as medidas de austeridade para equilibrar as contas e assegurou apoio à permanência do país na Zona do Euro.
Por sua postura radical em defesa do equilíbrio orçamentário, Merkel se converteu em uma personalidade odiada na Grécia. Fortemente endividado, o país se viu obrigado pelos credores a aplicar drásticos cortes de gastos públicos, que acentuaram a recessão, em troca de um programa de resgate financeiro.
Mais de 6 mil policiais foram destacados para patrulhar o centro da capital durante a visita da líder alemã, que durou apenas seis horas. Cerca de 25 mil pessoas participaram dos protestos. Os agentes dispararam bombas de gás lacrimogêneo para dispersar grupos de manifestantes que tentavam derrubar uma barricada que protegia um dos acessos do local da reunião entre Merkel e Samaras.
Duas bandeiras nazistas foram colocadas em uma barreira de metal próxima ao Parlamento e incendiadas. Na manifestação era possível ler cartazes como: “Fora Merkel, a Grécia não é uma colônia” e “Não ao 4º Reich”.
Momento crucial
“Estou profundamente convencida de que estes esforços valem a pena e que a Alemanha quer ser um bom sócio”, disse Merkel, depois do encontro com o primeiro-ministro grego. “Muito foi alcançado, mas ainda há muito por fazer e Alemanha e Grécia trabalharão juntos”, acrescentou. Samaras respondeu que a “Grécia está determinada a cumprir com seus compromissos” e afirmou que o povo grego sangra, mas está determinado a vencer a batalha da competitividade.
A visita de Merkel acontece em um momento crucial para Atenas, que está finalizando com a troika de credores (União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) um novo pacote de cortes fiscais de ao menos 13,5 bilhões de euros para continuar recebendo ajuda financeira internacional. Segundo o Ministério de Finanças, o próximo lote, de 31,5 bilhões de euros, que Atenas espera há meses, será recebido até o fim de novembro.
Investimento não decola
Correio Braziliense
Nenhum pacote ou medida parece ter sido suficiente para impulsionar mais fortemente o crescimento da economia. A avaliação de integrantes da equipe econômica é de que o empresariado não está disposto a tirar projetos da gaveta a uma velocidade adequada para incrementar a taxa de investimentos do país em 2013. Segundo esses técnicos, se o ritmo do setor privado não se alterar nos próximos meses, essa taxa pode ficar próxima do que o mercado espera para 2012, algo ao redor de 18% do Produto Interno Bruto (PIB), ou pouco acima disso.
Dados da Fundação Getulio Vargas (FGV) reforçam a percepção de que os empresários ainda não estão à vontade para bancar novos projetos ou ampliar suas operações. A previsão é de que, no terceiro trimestre, a taxa de investimento recue 1% e termine o ano com retração de 1,5%. O diagnóstico do governo e de economistas independentes é semelhante: sem investimentos, o país não crescerá a uma taxa mais robusta.
“Embora haja melhora dos fundamentos e algumas evidências de crescimento mais disseminado, a incerteza permanece elevada”, observou Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco. Segundo ele, há possibilidade de um desempenho fraco no quarto trimestre do ano e a contribuição do setor automobilístico, no período, tende a ser menor. “Logo, os investimentos precisam acelerar para que a expansão do PIB se mantenha mais alta, mesmo com menor crescimento do consumo”, ponderou.
Além dos investimentos, especialistas alertam para outros fatores que têm travado o Brasil. “Destaco como causa do crescimento brasileiro ter ficado abaixo das expectativas, a piora do cenário externo e dos reflexos, ainda discretos, da substantiva redução da Selic”, explicou Sidnei Nehme, economista e diretor-executivo da NGO Corretora. Na visão dele, os efeitos da queda da taxa de juros, que recuou de 12,5% ao ano para 7,5%, foram mais fracos devido à inadimplência dos consumidores.
O cenário de fraqueza econômica é evidenciado pelas constantes revisões das projeções do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o Brasil e para o mundo. Na reunião que ocorre esta semana em Tóquio, economistas das duas entidades devem fazer um alerta para as economias emergentes, que dificilmente conseguirão se proteger da desaceleração dos países ricos.
“Até a Alemanha”
Em artigo publicado recentemente, o megainvestidor húngaro-americano George Soros prevê que até mesmo a poderosa Alemanha deve entrar em recessão dentro de seis meses. Além disso, a China, maior parceiro comercial do Brasil, tem se apresentado como um problema a mais com o que tem sido chamado de “pouso suave do dragão” — ou seja, a queda do ritmo de expansão da economia chinesa.
Esse cenário de incerteza já levou o governo a fazer seguidas revisões das projeções econômicas. A última estimativa do Banco Central aponta para uma alta de apenas 1,6% do PIB neste ano. Na segunda-feira, foi a vez do FMI revisar números. Para a instituição, o Brasil não avançará 2,5% em 2012 como projetado em julho, mas apenas 1,5% — um dos piores desempenhos da América Latina e também entre os países que foram a sigla Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Previsão de aumento da arrecadação federal cai à metade
O Globo
As previsões de uma expansão menor da economia brasileira e as desonerações fiscais realizadas pelo governo para estimular o consumo devem se refletir em crescimento menor na arrecadação de impostos em 2012. Nas palavras do secretário da Receita Federal, Carlos Alberto Teixeira, os efeitos da desaceleração da atividade econômica e das benesses fiscais devem reduzir a projeção de alta de 5% (feitas no início do ano) para 2,5% em termos reais. No começo do ano, a estimativa do governo para o Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos) era de crescimento de 4%. Hoje, já é consenso que não deve superar 1,6%.
– Essa previsão até o final do ano (de 5%) deve se reduzir à metade. Quando colocamos esse nível de crescimento em relação ao ano anterior, estávamos ainda considerando outros indicadores que serviram de balizamento para essas estimativas. Com a mudança dos indicadores macroeconômicos, nossa previsão é que haja uma redução à metade dessa previsão, chegando a 2,5% – disse Teixeira.
Depois de registrar uma queda de 12,26% de julho para agosto na arrecadação federal – de R$ 87,94 bilhões para R$ 77,07 bilhões -, Teixeira salientou que os dados da Receita mostram que já em setembro poderá haver uma ligeira recuperação da arrecadação na comparação com o mês anterior, mas ele não arriscou de quanto será essa melhora.
– Não tenho este número (de setembro em relação a agosto) até o momento – disse ele, logo depois de participar de seminário em São Paulo.
Teixeira lembrou, no entanto, que na comparação entre outubro e setembro, a arrecadação mostrará crescimento, por conta da retomada da atividade econômica no segundo semestre do ano e do menor impacto das desonerações fiscais, sobretudo do IPI menor para o setor automotivo.
Buraco fiscal cresce e ameaça a Espanha
Valor Econômico
O buraco negro no orçamento da Espanha cresceu mais rápido do que a tentativa do primeiro-ministro Mariano Rajoy de reduzi-lo, pressagiando a mesma turbulência que inferniza a Grécia.
A mais dura austeridade desde o retorno à democracia, em 1978, não foi capaz de conter o déficit e a economia está se afundando cada vez mais em recessão. O déficit cresceu no primeiro semestre do ano, assim como nos últimos 12 meses. Mesmo após um aumento nos impostos sobre o consumo e cortes no atendimento de saúde terem sido postos em prática neste trimestre, o déficit ainda poderá aproximar-se dos 9,4% do Produto Interno Bruto (PIB) registrados no ano passado, disse Ignacio Conde-Ruiz, economista da Fundação de Pesquisa Econômica Aplicada, um instituto independente madrilenho.
As consequências fiscais e políticas da exigência de austeridade em uma economia cada vez menos aquecida ressaltam o dilema de Rajoy. Para receber uma tábua de salvação financeira europeia, ele poderá ter de impor cortes ainda maiores, repetindo o padrão observado na Grécia, Portugal e Irlanda.
“Não há nenhuma chance de que a Espanha alcançará suas metas”, disse Megan Greene, diretora de economia europeia na Roubini Global Economics, em uma entrevista por telefone. “As metas para o déficit são um suicídio econômico.”
Rajoy conseguiu aprovar mais de € 100 bilhões (US$ 130 bilhões) em aumento de impostos e cortes de gastos em um período de desaquecimento econômico que está esvaziando sua base de receitas e empurrando o desemprego para 25%. O primeiro-ministro de 57 anos também está enfrentando uma ameaça de secessão da Catalunha, crescentes protestos populares e instabilidade em regiões forçadas a conter seus próprios gastos.
Entre julho e setembro, a economia espanhola provavelmente se contraiu pelo quinto trimestre consecutivo, de acordo com o banco central. A produção não retornará ao nível de 2008 até pelo menos 2017, dizem as previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI). Em consequência, o programa de consolidação orçamentária que a União Europeia (UE) originalmente definiu para a Espanha em 2009 está indo de marcha a ré.
“Mesmo com os cortes, a diferença entre os gastos e as receitas é cada vez maior”, disse Jonathan Tepper, sócio da firma londrina Variant Perception.
No ano passado, quando o governo anterior fixou uma meta de 6% para o déficit, o buraco no orçamento ultrapassou o déficit de 9,3% em 2010, depois que o ministro do Orçamento, Cristobal Montoro contabilizou cerca de € 5 bilhões em prejuízos devido ao socorro aos bancos. Esses custos – que a UE trata como itens excepcionais – mais que dobrarão neste ano, em que a meta é de 6,3%, disse ele.
Em seu relatório “Panorama Econômico Mundial”, o FMI prevê que o déficit da Espanha será de 7% neste ano, excluindo o custo do socorro aos bancos. O déficit do próximo ano será de 5,7%, contra uma meta de 4,5%, disse o Fundo.
“O que é importante para o governo espanhol é continuar com seu programa de reformas, reduzir o déficit orçamentário e então dissipar todas as dúvidas sobre o futuro da zona euro”, disse ontem o ministro da Economia Luis de Guindos a jornalistas em Luxemburgo, onde se reuniu com colegas europeus. “Essa é a questão fundamental.”
A dívida pública vai saltar 17 pontos percentuais, para 85% do PIB, em 2012, depois que o Estado absorver os custos do socorro aos bancos, ao sistema de eletricidade e a empreiteiras contratadas pelo setor público. Isso adicionará pelo menos € 10 bilhões aos custos dos empréstimos da Espanha no próximo ano, anulando os ganhos projetados com o aumento dos impostos sobre o consumo.
“Estamos em uma tendência totalmente insustentável”, disse Dario Perkins, diretor para economia mundial na Lombard Street Research, em Londres, em entrevista por telefone. “A economia doméstica implodiu totalmente.”
O déficit de 4,3% no primeiro semestre foi 0,5 ponto percentual superior ao do mesmo período no ano anterior, segundo Conde-Ruiz, um assessor econômico no governo socialista anterior e o professor de economia Juan Rubio-Ramirez, na Duke University.
Em média, nos últimos quatro anos, os déficits no segundo semestre ultrapassaram os do primeiro em € 15 bilhões, segundo eles. As projeções (para as contas) do governo central e do sistema de seguridade social em 2013 deverão fazer com que o déficit ultrapasse em 12% os € 35 bilhões previstos no orçamento deste ano.
Os repetidos insucessos no programa de austeridade espanhol colocam em questão a doutrina que a UE e o BCE estão impondo aos países em dificuldades situados na periferia da zona do euro, dizem economistas como Perkins.
Antes de a crise ter provocado o estouro da bolha imobiliária na Espanha, as finanças do país estavam em ordem. Em 2007, a Espanha tinha uma relação dívida/PIB de 36% e um superávit orçamentário de 1,9%.
Por ora, diz Tepper, a única maneira de evitar um desastre na área do euro é o BCE intervir mais agressivamente – uma perspectiva já rejeitada por seu presidente, Mario Draghi, bem como por líderes alemães.
“Tudo depende de quanto dinheiro o BCE quer imprimir”, disse Tepper. “A Espanha e os outros países periféricos estarão no mesmo caminho da Grécia, se o BCE não monetizar sua dívida.”
Indústria já faz governo temer pelo PIB de 2013
Correio Braziliense
A demora da economia para reagir aos estímulos concedidos pelo governo começa a lançar sombras sobre o próximo ano. No Palácio do Planalto, a preocupação é que o baixo ritmo de investimentos do setor privado comprometa a previsão de que o Produto Interno Bruto (PIB) deverá crescer entre 4% e 4,5% em 2013. Dados do setor industrial, divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), reforçam esse receio. Mesmo com todas as medidas já adotadas para incentivar o segmento, a indústria continua em recessão.
Nove de 14 regiões pesquisadas pelo IBGE acumulam desempenho negativo no ano até agosto. São Paulo, o maior polo industrial do país, tem perdas de 5,6% no período. Com esse desempenho, analistas ponderam que nem mesmo a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para diversos produtos pode salvar 2012. A projeção do mercado é de que a produção encolha 2% neste ano — uma previsão que piora a cada semana.
“A indústria deveria estar apresentando números melhores, mas ainda pesam sobre ela muito fatores desfavoráveis”, explicou Rafael Bacciotti, economista da Tendências Consultoria. Segundo ele, a baixa demanda externa e o ritmo ainda expressivo de importações, têm prejudicado as fábricas. “Como a indústria teve trajetória de queda nos seis primeiros meses do ano, 2012 deve fechar com recuo de 2% mesmo com alguma recuperação nos próximos meses”, disse. “E para que se obtenha esse resultado no fim do ano é preciso uma evolução positiva de setembro a dezembro.”
A capacidade da indústria de concorrer com competidores externos está reduzida ainda pela baixa qualificação e inovação do setor. Os investimentos em tecnologia para aumento de competitividade são quase nulos e os trabalhadores chegam ao mercado de trabalho sem conhecimento adequado. “A mão de obra tem pouco treinamento e, comparada aos nossos pares, tem baixa produtividade, porque a qualidade da educação no país é ruim”, argumentou José Márcio Camargo, economista-chefe da Opus Investimentos.
FMI alerta para riscos da forte expansão do crédito
Valor Econômico
O Brasil é um dos países emergentes com risco de crédito mais sensíveis às turbulências na Itália, Portugal, Irlanda e Espanha, aponta o Fundo Monetário Internacional (FMI) em seu Relatório de Estabilidade Financeira Global, divulgado em Tóquio. Só as economias do Leste Europeu estão numa situação menos confortável.
O FMI, que realiza seu encontro anual em Tóquio nesta semana, calculou o quanto o prêmio de risco de um conjunto de 24 economias emergentes é sensível à deterioração do prêmio de risco desses quatro países da periferia da zona do euro. O Brasil aparece como o quarto mais vulnerável, atrás apenas de Bulgária, Polônia e Hungria.
Uma alta de um ponto percentual no spread de risco de crédito dos países da periferia europeia – medido pelos “credit default swaps” (CDS), contratos de derivativos que agem como seguro contra a inadimplência – leva a uma alta de cerca de 0,45 ponto percentual no spread de risco do Brasil. No caso de Bulgária, Polônia e Hungria, a alta fica em um pouco mais de 0,5 ponto percentual.
Outros dois países latino-americanos, Colômbia e México, não estão muito melhores do que o Brasil. Seus spreads de riscos de crédito sofrem uma elevação de cerca de 0,4 ponto percentual quando o CDS dos países da periferia da Europa são pressionados. A Ásia, em geral, se mostra menos sensível, segundo o documento do FMI. Hong Kong, por exemplo, sofreria um impacto de cerca de apenas 0,05 ponto.
O relatório do FMI mostra, porém, que o Brasil está relativamente menos vulnerável a uma fuga de capitais estrangeiros de sua dívida soberana, comparado com outros países emergentes. O principal risco que ronda o Brasil é a sua rápida expansão de crédito, que pode se tornar o epicentro de uma crise no caso de uma desaceleração econômica mais forte que leve ao aumento da inadimplência.
Num dos exercícios apresentados no relatório, o FMI investiga o que ocorreria se todo o capital investido por estrangeiros desde a quebra do banco Lehman Brothers, em 2008, nos mercados locais de dívida em nove economias emergentes batesse em retirada de uma só vez.
No caso do Brasil, isso representaria uma fuga de US$ 62 bilhões. Uma das conclusões é que esse movimento dificilmente provocaria uma crise cambial, já que o volume de recursos em questão representa aproximadamente 17% das reservas internacionais brasileiras. No caso do México e da África do Sul, o volume representa cerca de metade das reservas.
Os exercícios do FMI mostram que investidores domésticos brasileiros, como fundos de pensão, fundos de investimentos e bancos, teriam boa capacidade para ocupar o espaço dos estrangeiros no financiamento da dívida pública. No caso de México, Polônia e Indonésia, os bancos teriam que aumentar sensivelmente suas carteiras de títulos públicos, possivelmente reduzindo a oferta de crédito ao setor privado.
Nesta edição do relatório, o FMI volta a expressar preocupação com o rápido avanço de crédito bancário e com a elevação no preço dos imóveis no Brasil e outras economias emergentes. “O crédito bancário se expandiu a uma média anual de 15% nos últimos anos na Ásia e na América Latina, com crescimento particularmente rápido em Brasil, China, Hong Kong, Cingapura e Vietnã”, afirma o relatório.
“Nos quatro anos seguintes a 2007, os preços de imóveis subiram perto de 100% acima da inflação nas maiores cidades do Brasil”, diz o relatório de estabilidade financeira. O Fundo também volta a chamar atenção para o recente aumento da inadimplência bancária no Brasil. E assinala que as empresas estão mais alavancadas, com dívidas que superam 100% do seu capital em ações.
“Episódios passados de crises indicam claramente que alta alavancagem e queda de lucratividade aumentam a probabilidade de inadimplência de empresas numa desaceleração econômica”, afirma trecho do relatório.
O FMI pondera que, para lidar com sinais de superaquecimento de sua economia, o Brasil subiu seus juros básicos e implementou medidas prudenciais mais rígidas. Embora ainda existam riscos e parte desse aperto regulatório tenha sido revertido recentemente, diz o Fundo, a estratégia está se mostrando eficaz. Mesmo assim, o organismo recomenda vigilância redobrada dos supervisores bancários e medidas anticíclicas para preservar a resistência do sistema financeiro.