Faltam R$ 9 bi anuais para saneamento, diz CNI

O governo federal precisa investir cerca de R$ 17 bilhões por ano para conseguir universalizar os serviços de água e esgoto no país, porém, essas aplicações não passam de R$ 8 bilhões. Na avaliação da Confederação Nacional da Indústria (CNI), as deficiências na área de saneamento básico reduzem a produtividade dos trabalhadores, aumentam os custos de instalação de empresas e prejudicam o desenvolvimento de setores como o de turismo.

Os prejuízos para o setor produtivo serão discutidos hoje no seminário Saneamento Básico: Como Eliminar os Gargalos e Universalizar os Serviços, organizado pela CNI, em parceria com Instituto Trata Brasil e Associação Brasileira da Indústria de Base (ABDIB). No evento, a indústria defenderá a criação de incentivos, como desoneração dos investimentos, para aumentar a participação da iniciativa privada no setor. Atualmente, apenas 10% dos brasileiros são atendidos por empresas privadas de saneamento.

Um levantamento feito pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e Instituto Trata Brasil, com números referentes a 2009, mostra que a produtividade dos trabalhadores que têm acesso à rede de saneamento básico é 13,3% maior do que aqueles que vivem em cidades onde não há serviços de água e esgoto. Segundo estudo, a universalização poderia injetar R$ 41,5 bilhões na economia por ano devido ao aumento da produtividade do trabalhador, causado pela menor incidência de doenças e, consequentemente, de ausência no trabalho. Esse ganho mais que compensaria os investimentos que deveriam ser feitos para levar o saneamento básico a 47% da população brasileira (91 milhões de pessoas) que não têm acesso à rede de abastecimento de água e de coleta de esgoto.

Segundo o presidente do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos, o investimento em infraestrutura registrou crescimento nos últimos anos, porém, é insuficiente para as necessidades do país. Já o diretor de Políticas e Estratégia da CNI, José Augusto Fernandes, disse que no seminário quer chamar a atenção do governo sobre a necessidade de acelerar o ritmo dos investimentos. Além da desoneração do investimento, a CNI vai defender a melhora do sistema de regulação e a realização e choque de gestão e eficiência.

Para suprir a falta de investimentos, empresas privadas estão destinando recursos para melhoria do saneamento básico. A Veracel Celulose investiu em projeto de saneamento básico para beneficiar duas comunidades que vivem próximas as suas fábricas. Em Barrolândia, no município de Belmonte (BA), a companhia construiu 12 quilômetros de redes de esgoto 6 quilômetros de drenagem fluvial, além de uma estação de tratamento de esgoto. No distrito de Ponto Central, no município de Santa Cruz Cabrália (Bahia), a Veracel Celulose investiu, entre 2009 e 2010, na implantação do sistema de tratamento de água. Segundo o gerente de sustentabilidade da Veracel Celulose, Renato Gomes Carneiro Filho, o perfil dessas comunidades mudou com a melhoria de qualidade de vida devido à redução de doenças. Ele ressaltou que os investimentos nas cidades nas foram possíveis graças a parcerias com os governos estadual e municipal.


EUA e Brasil querem relações pragmáticas

Valor Econômico

Acordos para facilitar e apressar a concessão de patentes, acabar com a dupla tributação nos negócios entre Brasil e Estados Unidos e eliminar a necessidade de vistos de viagem entre os dois países formam uma estratégia “pragmática” dos empresários americanos e brasileiros, resumiu ontem o presidente da Embraer, Frederico Curado, também presidente da seção brasileira do Conselho Empresarial Brasil-EUA. O objetivo é garantir a aproximação comercial e de investimentos entre os dois países, disse, ao abrir ontem a reunião plenária do Conselho.

O presidente da Cargill, Gregory Page, também presidente da seção americana do Conselho, que reúne as empresas da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Câmara Americana de Comércio, chegou a defender a transformação do atual acordo “estratégico” Brasil-EUA em um tratado mais abrangente, com abertura de mercados, regras de compras governamentais, para barreiras técnicas ao comércio e para medidas sanitárias e fitossanitárias – padrão nos acordos de livre comércio dos EUA.

O presidente da Coteminas, Josué Gomes da Silva, disse ser “desejo antigo” dos empresários a formação de um acordo de livre comércio e investimentos que defendeu “como meta”. Curado esclareceu, porém, que, apesar do interesse no livre comércio, o Conselho Empresarial “abraça uma estratégia em etapas”.

Neste ano, a balança comercial entre os dois países, que, em 2011 apresentou déficit em torno de US$ 8 bilhões em favor dos EUA, deve mostrar melhoria para o Brasil, que terá reduzida à metade a diferença entre as importações dos EUA e as exportações ao país, segundo previu o presidente do Conselho de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Rubens Barbosa. De janeiro a setembro, as exportações brasileiras aos EUA cresceram 11%, ou, se excluídas as vendas de petróleo, 8,3%, “só atrás das exportações à China”, comparou a secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Tatiana Prazeres, ao explicar por que o Brasil acompanha com “expectativa” os sinais da economia americana.

Empresários e autoridades elogiaram a proximidade entre os dois governos. Em novembro, durante visita da presidente Dilma Rousseff a Washington, será anunciado um acordo abrangente de estímulo para integração de atividades industriais do setor aéreo dos dois países, segundo informou o diretor do Departamento de Estados Unidos e Canadá do Itamaraty, Carlos Henrique Abreu e Silva. Brasil e EUA também discutem iniciativas que podem aproximar produtores americanos e brasileiros em outros setores, como o têxtil, que discute investimentos comuns para produção no Haiti e exportação aos dois mercados.

Os representantes do setor privado mostraram interesse em aprofundar acordos de defesa da propriedade intelectual. Abreu e Silva foi cautelosos, porém, comentando que a relação bilateral exige modelos de acordo comercial diferentes dos tradicionais negociados internacionalmente – referência velada às dúvidas, no governo, sobre a vantagem de novos compromissos em proteção a patentes ou investimentos.

Antiga reivindicação dos empresários, o acordo sobre bitributação enfrenta resistências na Receita Federal. O primeiro passo para sua realização, um já acordo firmado pelos dois governos para intercâmbio de informações tributárias, não foi votado no Senado, onde é contestado pelo senador Francisco Dornelles (PP-RJ). Segundo avaliou o presidente da seção de São Paulo da Câmara Americana de Comércio, Gabriel Rico, o Brasil pode ser prejudicado se não aprovar o acordo até o início do ano que vem, quando entra em vigor a nova lei de transparência tributária dos EUA, criando ônus financeiro aos bancos que negarem ao governo dados sobre seus clientes, para fins fiscais.

Os dois governos estão discutindo a lei fiscal americana e os bancos brasileiros já foram alertados, disse Rico, que se diz otimista em relação à aprovação do acordo bilateral de transparência tributária.


A crise mundial e o agronegócio

O Estado de S. Paulo

O agronegócio assegurará, mais uma vez, o bom desempenho da balança comercial brasileira, mas, como outros setores da economia, já sente os efeitos da crise internacional. Nos nove primeiros meses do ano, as exportações do agronegócio alcançaram US$ 71,25 bilhões, um valor excepcional se comparado com as exportações totais do País. No período, o setor respondeu por 39,5% de tudo o que o País exportou, o que inclui minérios, matérias-primas em geral, produtos semimanufaturados e manufaturados, além dos seus produtos agrícolas e agroindustriais. Mas esse valor é apenas 0,5% maior do que o registrado nos nove primeiros meses de 2011 e, se o desempenho recente se repetir até dezembro, é possível que o total exportado pelo agronegócio em 2012 seja menor do que o do ano passado.

Gomo as importações do setor diminuíram 6,2% nos noves primeiros meses do ano na comparação com o mesmo período de 2011, o saldo comercial cresceu 2,0%, tendo passado de US$ 58,05 bilhões para US$ 59,22 bilhões, valor mais N do que suficiente para compensar com grande folga o déficit comercial registrado pelo setor industrial. Mas, como as exportações, também o saldo comercial do agronegócio tende a diminuir, embora, pelo valor que já atingiu, deva manter-se elevado nos próximos meses.

Em setembro, de acordo com dados divulgados pelo Ministério da Agricultura, as exportações do agronegócio alcançaram US$ 8,68 bilhões, 7,5% menos do que o valor exportado em setembro de 2011 e I,5% menor do que as exportações de agosto deste ano. Redução do volume exportado, queda dos preços internacionais ou a combinação desses fatores explicam a queda do valor exportado no mês passado.

As exportações do complexo soja (grão, farelo e óleo), principal item da pauta do agronegócio, caíram 30,8% em valor e 39,9% em volume na comparação com setembro de 2011. Um dos poucos setores que apresentaram aumento em relação ao ano passado foi o de carnes (de frango, bovina e de porco), com aumento de 3% em valor.

A conclusão mais preocupante dos dados recentes sobre o comércio exterior do agronegócio é que estão em queda, rápida em alguns casos, as vendas para os principais mercados. Em setembro, as exportações para os dois principais blocos compradores de produtos brasileiros, que respondem atualmente por 55% do total das vendas externas do setor, a Ásia (excluído o Oriente Médio) e a União Europeia, caíram 16,9% e II,2%, respectivamente.

Para a China, o maior cliente do agronegócio brasileiro, as exportações em setembro foram 37,7% menores do que as de setembro de 2011. Nos nove primeiros meses do ano, as exportações para a Ásia ainda registram aumento expressivo, de 15,3%. No entanto, se se repetir a drástica redução das exportações para a China observada em setembro, essa variação diminuirá rapidamente, e poderá se tornar negativa.

As exportações para a União Europeia já registram redução de 6,9% no acumulado dos nove primeiros meses do ano e tendem a acentuar a queda, dada a persistência da crise pela qual passa o bloco e que afeta duramente todas as exportações brasileiras. Os resultados das exportações de outros produtos para a União Europeia são piores que os do agronegócio, pois as vendas totais do Brasil para o bloco em crise diminuíram 8,1%. Nota divulgada no início do mês pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior indica a queda das exportações de minério de ferro, produtos siderúrgicos, ouro em forma semimanufaturada, plásticos, produtos químicos e aparelhos eletrônicos, além de produtos exportados pelo agronegócio, como café, celulose e carnes.

Para o Brasil, este deverá ser o pior ano do comércio com a Europa em uma década. Mesmo assim, o resultado final ainda deverá ser um saldo comercial favorável ao Brasil, mas o superávit poderá ser o menor desde 2002. Através da balança comercial, a crise europeia afeta diretamente toda a economia brasileira, incluindo o agronegócio, que continua sendo o setor mais dinâmico do comércio exterior do País.


Eletrobras poderá vender suas distribuidoras regionais

O Globo

Diante das regras impostas pelo governo para renovação de concessões, a Eletrobras cogita vender ativos que são deficitários, principalmente distribuidoras regionais, para manter o retorno próximo aos níveis atuais. “A estatal terá que cortar na carne e pode atingir o osso”, disse uma fonte próxima à empresa. As concessões que estão por vencer até 2017 só poderão ser renovadas se a companhia aceitar retorno menor com esses ativos. A estatal teve lucro de R$ 2,6 bilhões no primeiro semestre, crescente em relação ao lucro de R$ 3,7 bilhões em 2011.

Desde o anúncio da medida, no mês passado, executivos da Eletrobras debatem com a União formas de manter sua saúde financeira diante do novo cenário. No governo, há quem entenda que a venda de ativos, sobretudo distribuidoras estaduais adquiridas pela estatal nos últimos anos, seja percebida como privatização e, politicamente, abale os créditos obtidos pelo governo com as medidas que reduziram a tarifa elétrica em média 16,2% para consumo residencial e até 28% para indústrias.

Para empresas, faltam informações

Até ontem, prazo limite para as concessionárias se manifestarem, todas as empresas do grupo Eletrobras tinham registrado junto à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a intenção de renovar as concessões que detêm sob as novas regras. O grupo poderia abrir mão de ativos, como fez a Cemig, mas preferiu mantê-los, embora ainda possa mudar de posição depois que todas as regras para a renovação ficarem mais claras com a tramitação da Medida Provisória (MP) 579 no Congresso.

A Cemig deixou fora do pedido de renovação de concessões as hidrelétricas São Simão, de 1,7 mil megawatts (MW), Jaguara (424 MW) e Miranda (408 MW), que ainda poderiam ser renovadas por vinte anos segundo as regras antigas. As usinas podem ser relicitadas.

A Eletrobras foi a empresa mais afetada com a redução das tarifas, porque tem mais concessões a vencer. Desde 20 de agosto – quando sua ação bateu em R$ 15,94, pico dos últimos meses, até ontem -, seu papel ordinário (ON) recuou 25%.

Ontem, o presidente da empresa, José da Costa Carvalho Neto, e o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, reuniram-se em Manaus e assinaram o contrato de criação da nova usina termelétrica Mauá, que será a maior do país.

Mesmo reclamando da falta de informações sobre as novas regras, as principais concessionárias de energia do país formalizaram ontem seus pedidos de renovação. Como forma de garantia, porém, entregaram à Aneel “condicionantes” para assinar os contratos.

A Companhia Energética de São Paulo (Cesp), por exemplo, quer receber indenização de cerca de R$ 8 bilhões por investimentos ainda não amortizados. Segundo a Cesp, a Aneel quer indenizar a empresa em R$ 1 bilhão.

partes têm Diferentes critérios

O presidente da Associação Brasileira das Concessionárias de Energia (Abce), Alexei Macorin, explica que, por serem “muitos dados, muitos números e muitas empresas, divergências podem ocorrer” entre empresas e governo. Já o presidente da Associação Brasileira das Grandes Empresas de Transmissão de Energia Elétrica (Abrate), José Claudio Cardoso, diz que os critérios de avaliação serão diferentes, o que “fatalmente vai gerar divergência de números”.

– É preciso que haja boa vontade dos dois lados. Se houver intransigência, algumas empresas não vão assinar os contratos. As concessionárias querem continuar com suas operações, mas é preciso ter condições para isso. Por isso os condicionantes – disse Macorin.

O cronograma do governo prevê a divulgação das novas tarifas e indenizações para 1º de novembro. Depois disso, as empresas terão até 4 de dezembro para assinar os contratos. A assinatura também depende da aprovação, no Congresso, da MP 579 sobre a renovação antecipada das concessões. Para o setor, confirmar o interesse em renovar a concessão sem informações ou aprovação da MP poderia trazer insegurança jurídica à operação.

Se as divergências de fato ocorrerem, o processo de renovação das concessões deve ter uma etapa extra, a de negociações, avalia Macorin.


BNDES pode elevar desembolsos a R$ 160 bi

O Estado de S. Paulo

O presidente do Banco Nacio nal do Desenvolvimento Eco nômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, disse ontem que os desembolsos do banco oficial poderão ser elevados de um patamar ao redor de R$ 150 bilhões em 2012 para uma mar ca em torno de R$ 160 bilhões em 2013.

“Isso vai depender das condi ções gerais da economia, não se trata de uma meta, é apenas uma previsão”, destacou Couti nho durante seminário em Tóquio.

Segundo o presidente do BNDES, um dos carros-chefe desse avanço deverá ser os financiamentos para infraestrutura, cuja previsão de cresci mento é de 25% no próximo ano, de uma marca ao redor de R$ 64 bilhões para R$ 8o bilhões.

A liberação de recursos pelo BNDES para projetos de longa maturação, entre eles em rodo vias, portos e saneamento bási co, superou neste anoa concessão de financiamentos do ban co para a indústria.

Coutinho fez os comentá rios ao participar de um semi nário de comemoração dos 50 anos de cooperação entre o BNDES e o JBIC, o banco de desenvolvimento do Japão.


70% da alta do crédito vem do BB e da Caixa

O Estado de S. Paulo

Os bancos públicos responderam por 71% do aumento do estoque de crédito no País em 2012, enquanto os privados nacionais tiveram participação de 17% e os privados estrangeiros, de 12%. Os dados, extraídos do relatório de política monetária e crédito do Banco Central (BC) de agosto, foram compilados pelo economista Roberto Luís Troster, que durante anos dirigiu a área econômica da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

A diferença no desempenho repete o cenário de 2008 e 2009, quando as instituições controladas pelo governo federal também expandiram os empréstimos em velocidade muito superior à dos concorrentes privados. Para muitos analistas, porém, as semelhanças param por aí. Eles argumentam que, lá atrás, a conjuntura era de crédito travado em razão da crise global. Hoje, o dinheiro circula normalmente.

O abismo entre os números é explicado pela estratégia distinta adotada pelos dois ramos da indústria financeira em 2012. Por meio do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, o público vem atuando conforme a orientação do governo de 1) estimular a atividade econômica com mais crédito e 2) aumentar a concorrência no setor financeiro.

Os privados, de seu lado, sofreram durante boa parte do ano com o aumento da inadimplência, que os levou a ficar mais cautelosos na concessão de empréstimos. A tendência para os calotes, aliás, é de queda neste último trimestre do ano, de acordo com especialistas.

“O problema é que os índices de eficiência das instituições públicas é pior e elas não suportam as reduções de taxas de juros (aos clientes) como as que têm sido feitas”, argumenta Troster. “A conta vai chegar e será necessário mais reforços de capital. Quem pagará é o contribuinte. Há uma socialização do prejuízo.”

Troster ressalva que concorda com o argumento dos dirigentes dos bancos públicos de que é possível reduzir taxas as taxas cobradas dos clientes. “Mas, para tanto, é preciso reduzir custos e não subsidiar preços baixos.”

O analista de instituições financeiras da Austin Rating, Luís Miguel Santacreu, também tem uma visão crítica em relação à estratégia dos bancos públicos, ainda que menos ácida que a de Troster. “A exposição dessas instituições ao risco aumentou”, afirmou.

Ele observa que, se houver um problema econômico inesperado, como o recrudescimento da crise global, os bancos públicos poderão ter problemas. “Só então saberemos se a política de crédito do BB e da Caixa hoje está sendo bem feita.” Santacreu lembra que, hoje, não é possível saber. “Em um primeiro momento, os índices de inadimplência de quem expande fortemente o crédito tendem a se manter estáveis ou até melhorar.”

Defesa da estratégia

Em conversa com o Estado, o vice-presidente de Negócios de Varejo do Banco do Brasil, Alexandre Abreu, defende a estratégia da instituição e rebate os críticos. “Discordo veementemente da ideia de que estamos elevando o risco de nossas operações”, disse. “Não alteramos em nada nossa política de concessão de crédito, embora estejamos crescendo mais do que os concorrentes.”

Abreu destaca dois dados. O primeiro deles é uma medida que aponta, mês a mês, o porcentual de operações de crédito que registraram atrasos já na terceira prestação do financiamento. “Esse indicador tem mostrado estabilidade, até com uma certa melhora”, afirmou. “Se percebêssemos alguma piora, certamente faríamos ajustes em nossa operação.”

O segundo dado é o que mede o risco dos clientes do banco. Uma resolução do Banco Central (BC) define que um cliente do sistema financeiro nacional deve ser enquadrado conforme uma escala que começa com AA e termina com H. “No nosso caso, a participação de clientes no intervalo AA até C vem aumentando trimestre após trimestre, o que significa que a qualidade da carteira está até melhorando”, garante.

De acordo com Abreu, essa melhora em meio à forte expansão do crédito é explicada por dois fatores: clientes que não tomavam empréstimos passaram a fazê-lo por causa do custo do dinheiro mais baixo; e as taxas de juros inferiores abriram espaço na renda dos clientes para mais endividamento.

O vice-presidente de finanças da Caixa, Marcio Percival, também rechaça as críticas. “Estamos crescendo com responsabilidade, com qualidade”, disse. Assim como Abreu, ele destaca alguns pontos para sustentar seu argumento. Em primeiro lugar, afirma que a Caixa está crescendo sobretudo em linhas de menor risco – imobiliário e consignado. Em segundo, lembra que o banco vem crescendo nesse ritmo desde 2008. “E não tivemos alta da inadimplência”, disse.

O terceiro ponto, segundo Percival, é que o banco adota modelos de avaliação de risco “extremamente conservadores” e monitora frequentemente os dados de inadimplência. Por fim, o executivo cita que o crescimento da base de clientes tem se dado nas faixas de menor risco de clientes – de AA a C, como no Banco do Brasil. “Eu convido os analistas a se debruçar com profundidade sobre os balanços da Caixa.”


PIB pode perder força depois do 3º tri reforçado

Valor Econômico

Principal vetor de aceleração da economia no terceiro trimestre, a redução do Imposto de Produtos Industrializados (IPI) para veículos foi eficaz para desovar estoques, reanimar a produção nas fábricas e provocar recorde de vendas, mas tornou-se fator de incerteza para uma retomada gradual da atividade. Mesmo que o benefício fiscal seja prorrogado até o fim do ano, economistas apontam que a antecipação de compras gerada pelo imposto menor não irá se repetir no quarto trimestre, perda de fôlego que também deve se refletir sobre a indústria do setor.

Tendo em vista esse movimento de saturação, alguns analistas já apostam em uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) mais fraca no último trimestre do ano em relação ao período anterior, feitos os ajustes sazonais, após um crescimento que, impulsionado pelo IPI reduzido, pode ultrapassar 1% no terceiro trimestre. Mesmo no grupo de economistas que projetam ritmo melhor nos últimos três meses do ano, o “efeito ressaca” do IPI é colocado como uma possível ameaça à concretização desse cenário.

A antecipação da demanda é uma das razões elas quais as projeções do PIB para o ano continuam caindo na coleta feita pelo Banco Central (o boletim Focus), apesar dos bons dados do terceiro trimestre. Ontem, o Focus apontou nova queda na projeção para o PIB de 2012 de 1,57% para 1,54%.

Fabio Ramos, da Quest Investimentos, afirma que as medidas de incentivo tiveram impacto muito forte sobre a atividade no terceiro trimestre, especialmente em agosto – mês em que, com a perspectiva de aumento de preços, foram vendidos mais de 405 mil carros, recorde histórico da série da Fenabrave, entidade que reúne as concessionárias do país. Em setembro, porém, mesmo com o IPI reduzido ainda em vigor (o benefício foi prorrogado até 31 de outubro), as vendas recuaram para 127,9 mil unidades, volume 31,5% abaixo do registrado no mês anterior.

Segundo Ramos, os dados piores sinalizam que os estímulos concedidos à economia “vão cobrar seu preço” no quarto trimestre, período para o qual estima alta de 0,7% para o PIB, desaceleração frente aos 1,2% projetados para o terceiro trimestre. “A expansão será menor não porque o governo vai remover o IPI, mas sim porque, quando os preços foram reduzidos com prazo de término, a demanda foi “empurrada” para o terceiro trimestre”, explicou.

Com a intensa freada nas vendas, o fôlego no crescimento deixado por setembro para o quarto trimestre (o chamado “carry over”) deve ser menor, diz Thiago Carlos, economista da Link Investimentos, o que já diminui a capacidade de crescimento da economia no período. Ele calcula que esse repasse de junho para o terceiro trimestre foi de 0,5 ponto percentual, número que deve ser reduzido pela metade na virada de setembro para outubro. Ele pondera, porém, que essa estimativa é controversa e o impacto negativo pode ser compensado se outubro for um mês de reação nas concessionárias.

Para Luís Otávio Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, outubro pode mostrar novo repique nas vendas, mas dificilmente o pico de agosto será atingido. Ele avalia que o corte do imposto foi positivo por acelerar o processo de limpeza de estoques – que eram de 43 dias de vendas em maio, situação mais crítica desde a crise de 2008. Mas, ao contrário de mudanças estruturais, como o aumento da oferta de crédito e da renda, diz Leal, desonerações fiscais não são suficientes para criar “demanda nova” e, por isso, têm efeito limitado sobre a atividade econômica.

Assim, o analista acredita que, após aumento que pode chegar a 1,5% no terceiro trimestre sobre o segundo, o crescimento do PIB deve voltar para algo próximo a 1% no trimestre final de 2012. “Antes da redução do IPI, tínhamos um cenário de recuperação mais linear, que agora foi descartado”, afirmou Leal, destacando que medidas de incentivo causam oscilações no ritmo da economia.

Variáveis como melhora na confiança do empresariado, ajuste de estoques e recuperação mais espalhada entre os setores industriais devem sustentar um avanço maior do PIB no quarto trimestre, de acordo com Aurélio Bicalho, economista do Itaú Unibanco, mas, para isso, é preciso que comércio e produção de veículos continuem em alta. Em seu cenário principal, Bicalho conta com alguma retomada nas vendas após o tombo de setembro, mas pondera que desonerações tributárias elevam a incerteza sobre o ritmo de atividade.

O analista do Itaú observa que o setor automobilístico tem peso de cerca de 30% nas vendas do varejo ampliado, que incluem veículos e material de construção, e representa 13% da produção industrial do país, apenas diretamente. Assim, pondera Bicalho, uma evolução mais desfavorável desse ramo é o principal risco à sua projeção de expansão de 1,3% da economia entre o terceiro e o quarto trimestres.

Segundo Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, o IPI menor para carros deve ser estendido até o fim do ano e dinamizar a atividade em outubro e dezembro, mas a renovação não será suficiente para garantir crescimento de 1,7% do PIB no último trimestre, projeção anterior da MB que foi revisada para 1% de forma preliminar. “A volatilidade de dados deve continuar, mas os picos e pisos ficam cada vez menores. O pico de 405 mil veículos vendidos não vai se repetir”, disse Vale.

Flávio Combat, economista-chefe da Concórdia Corretora, nota que, além dos bens duráveis, outros produtos devem ter suas vendas afetadas pela forte antecipação de consumo no terceiro trimestre, já que as famílias que compraram automóveis comprometeram parte considerável de sua renda com empréstimos. “Provavelmente o consumo das famílias no PIB não virá tão forte como nos trimestres anteriores”, diz ele.

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