Deputados terão jornada de 3 dias
Sem alarde, o plenário da Câmara dos Deputados aprovou ontem, em votação simbólica, projeto de resolução que altera o regimento da Casa e formaliza a prática de sessões esvaziadas às segundas e às sextas-feiras. As normas previam sessões ordinárias durante os cinco dias da semana, mas, quase sempre, as sessões deliberativas só acontecem entre terça e quinta-feira. O novo texto diz que sessões ordinárias serão realizadas de terça a quinta e que, às segundas e às sextas, haverá apenas sessões de debate, sem pauta de votações. O regimento manteve a possibilidade de convocação de sessões extraordinárias em qualquer dia.
– É a oficialização da gazeta. Agora, às segundas e às sextas, é gazeta para todo mundo. É um estímulo à desmoralização da Câmara – criticou o líder do PPS, Rubens Bueno (PR).
Segundo o projeto, a sessão de debate de segunda-feira será iniciada às 14h e a de sexta-feira, às 9h. No texto está escrito que as sessões de debates serão realizadas “de forma idêntica às ordinárias”, mas sem pauta de votações. A inclusão ontem do projeto, que não estava previsto na pauta, foi criticada em plenário pelo líder do PPS. A votação foi simbólica, ou seja, sem o voto nominal dos presentes, e só dependia do aval do plenário da Casa para ser validada. A norma entrará em vigor com a sua publicação.
Em nota, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), reagiu à frase de Bueno, classificando-a de “mais um devaneio” de quem desconhece o regimento e a prática legislativa: “Se o deputado Rubens Bueno tivesse inteligência emocional, procuraria se informar sobre o funcionamento do Parlamento em outros países e descobriria que o Legislativo brasileiro é um dos poucos que funcionam cinco dias por semana durante o ano todo”.
Também por meio de nota, Sérgio Sampaio, secretário-geral da Mesa Diretora da Câmara, informou que o projeto tem como principal objetivo adequar o texto do Regimento Interno às alterações decorrentes da aprovação da Emenda Constitucional 50, de 2006, que alterou os períodos de recesso parlamentar e a data de posse do Congresso.
Na prática, raramente há votações às segundas e às sextas-feiras. Às quintas, é difícil realizar sessões ordinárias de votação à tarde, por isso são convocadas extraordinárias pela manhã, e, normalmente, só para projetos de consenso, já que a maioria dos deputados marca presença bem cedo e imediatamente viaja para o seu estado, como já flagrou O GLOBO.
A modificação do texto, no entanto, tem o poder de evitar um outro questionamento. Hoje, para efeitos de corte nos subsídios dos salários, a Câmara considera apenas a falta em dias de sessões com votação, as chamadas deliberativas. A Constituição, no entanto, estabelece que um dos motivos de perda de mandato de deputado ou senador é a ausência em um terço das sessões ordinárias realizadas (deliberativas ou não), salvo em caso de licença ou missão autorizada. Embora hoje isso não seja considerado, a modificação do texto evitará qualquer tipo de questionamento futuro nesse sentido.
Uruguai é o primeiro país da América do Sul a descriminalizar o aborto
O Estado de S. Paulo
Com 17 votos a 14, o Senado do Uruguai aprovou ontem o projeto de lei que descriminaliza o aborto nas 12 primeiras semanas de gestação. A matéria havia passado pela Câmara dos Deputados há menos de um mês, em votação apertada (50 a 49). O presidente José “Pepe” Mujica anunciou a intenção de não vetar o texto aprovado, que requer regulamentação para entrar em vigor.
O Uruguai é o primeiro país sul-americano e o terceiro na América Latina a permitir o aborto, depois de Cuba e Guiana, além da Cidade do México. Nos demais países da região, a interrupção da gestação só é permitida em caso de risco de vida para a mãe, má-formação do feto ou quando a gravidez é consequência de um estupro.
O texto da lei uruguaia descriminaliza o aborto desde que seja realizado durante as 12 primeiras semanas de gestação e cumpra uma série de condições. Uma delas é a obrigatoriedade de a mulher comparecer perante uma comissão técnica para explicar sua decisão.
Os profissionais que compõem essa espécie de tribunal especial terão uma conversa com a mulher, na qual devem explicar os riscos existentes durante a intervenção cirúrgica e as alternativas ao aborto, como os programas de apoio à maternidade e a possibilidade de entregar o bebê à adoção. Após as explicações, ela terá um prazo de cinco dias para refletir sobre a decisão.
Ativistas antiaborto criticaram duramente a decisão do Senado. “O aborto mata uma pessoa, o bebê, e deixa a mulher totalmente mutilada”, afirmou María José Del Campo, engenheira de 37 anos e ativista da ONG Espaço Jovem Mais Vida, que assistiu a votação das galerias.
“Se coloca o problema no bebê, quando o verdadeiro problema é dar apoio e alternativas à mulher que engravidou. É verdade que abortos continuarão sendo feitos, legais ou não, mas precisamos trabalhar para reduzir esse procedimento, oferecendo alternativas”, acrescentou.
Prazos. Muitas ativistas pró-aborto criticaram o texto aprovado. “Isso atenta contra os direitos da mulher de decidir livremente quando e como ter filhos. É uma maneira tutelada que não queremos”, disse ao Estado Marta Aguñín, da ONG Mulher e Saúde no Uruguai (Mysu, pela sigla em espanhol).
Aguñín ressaltou ainda que o problema do prazo pode ser grave para as mulheres de baixa renda e que não dispõem de informações suficientes para obter o benefício da lei. Entre idas e vindas, desde o início da tramitação do processo até que possa ser concretizado o aborto, o prazo de 12 semanas pode ficar vencido. “A mulher mais vulnerável, do interior do Uruguai, pode perder os prazos e voltar ao circuito clandestino de aborto e ser punida por isso”, observou Aguñín.
No pequeno país de 3,4 milhões de habitantes, as ONGs estimam que são realizados mais de 30 mil abortos anuais de maneira clandestina, sem a atenção médica legal que pode colocar em risco a vida da mulher.
O senador Alfredo Solari, do Partido Colorado, de oposição, criticou a lei e a considerou “uma solução ruim para um problema médico e social vivido pelo país”.
Tesouro repassa mais R$ 20 bi para o BNDES
Valor Econômico
Para reforçar a capacidade de empréstimo de crédito o Tesouro Nacional repassou mais R$ 20 bilhões ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Essa é a segunda parcela dos R$ 45 bilhões previstos para 2012. Em junho, o BNDES já tinha recebido R$ 10 bilhões. Com isso, ainda restam R$ 15 bilhões, que não têm data certa para liberação.
Praticamente a metade do repasse foi feita com a emissão de Letras Financeiras do Tesouro (LFT) com vencimento em novembro. Segundo comunicado divulgado pelo Tesouro, foram emitidos R$ 9,99 bilhões desses papéis. Também foram colocados no mercado R$ 5,497 bilhões em Letras do Tesouro Nacional (LTN) com vencimentos em abril de 2014 (R$ 2,499 bilhões), janeiro de 2015 (R$ 1,499 bilhão) e 2016 (R$ 1,499 bilhão). Outros R$ 4,499 bilhões foram emitidos em Notas do Tesouro Nacional – Série F (NTN-F) com vencimentos em janeiro de 2018 (R$ 1,499 bilhão), de 2021 (R$ 1,5 bilhão) e de 2023 (R$ 1,5 bilhão).
Em 2011, outra medida provisória já tinha permitido ao Tesouro injetar R$ 55 bilhões no banco, parte dos quais só foi liberada no início de 2012.
De janeiro a agosto deste ano, a carteira de operações de crédito do BNDES, somando diretas e indiretas (por meio de outros bancos), cresceu 5,5%, fechando agosto em R$ 442,84 bilhões. A variação foi inferior à do saldo das operações do sistema financeiro como um todo, cuja expansão foi de 8,9% no período. Comparado ao do conjunto dos bancos públicos, o ritmo de crescimento dos empréstimos do BNDES foi ainda mais modesto. Com o esforço do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, mesmo com o desempenho mais fraco do BNDES, o sistema financeiro estatal viu sua carteira de crédito crescer 14,5% de janeiro a agosto, segundo o Banco Central.
Arrecadação cresce menos que o previsto
O Estado de S. Paulo
Apesar dos sinais de retomada do crescimento econômico, a frustração com a arrecadação de impostos será ainda maior do que a prevista até agora pelo governo. O “Estado” apurou que a equipe econômica já trabalha com a perspectiva de fechar o ano sem aumento real no volume de dinheiro recolhido pela Receita Federal.
A última previsão oficial indicava um aumento, descontada a inflação do período, de 1,5% no total arrecadado pelo Fisco com a cobrança de impostos. Mas isso não deve ser alcançado porque a arrecadação está reagindo de forma mais lenta do que a atividade econômica, principalmente o Imposto de Renda cobrado das empresas.
No melhor cenário, os economistas do governo acreditam num crescimento real de, no máximo, 0,5% na arrecadação. No início do ano, a projeção era de um avanço de até 5% frente ao volume recolhido em 2011.
Diante desse cenário de estagnação das receitas, o governo deve oficializar o abatimento das despesas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da meta de superávit primário deste ano. O debate agora é quanto ao momento para realizar o anúncio.
Na semana que vem, o Fisco anuncia que entraram algo em torno de R$ 748 bilhões nos cofres públicos por meio do recolhimento de tributos entre janeiro e setembro deste ano. Esse resultado representa um avanço real de pouco mais de 1% em relação ao registrado nos primeiros nove meses de 2011. Com isso, parte da equipe econômica defende a oficialização imediata do abatimento das despesas do PAC do esforço fiscal deste ano.
Ao abater as despesas do PAC, o governo jogará a meta fiscal (a economia feita para o pagamento de juros da dívida pública) para um valor equivalente a 2,6% do Produto Interno Bruto (PIB). A meta, sem desconto, é de R$ 139,8 bilhões, o que corresponde a 3,1% do PIB.
Sem manobra. Entre os que advogam o anúncio do abatimento nos próximos dias, o argumento principal é que, ao reduzir o esforço primário, o governo evita novas manobras do Tesouro Nacional para cumprir a meta que tem comprometido a credibilidade da política fiscal brasileira. “O baixo desempenho da economia e, consequentemente, da arrecadação, permite um esforço menor”, avalia um técnico do governo. Outro argumento usado para defender o anúncio imediato é que está cada vez mais difícil “esconder” a frustração com a queda da arrecadação.
Os técnicos que defendem um pouco mais de tempo entendem que a manutenção do discurso de cumprimento da meta fiscal “cheia” abriria espaço para que o Banco Central (BC) promovesse mais um corte da taxa básica de juros, a Selic, na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) deste ano, em novembro.
O governo Dilma Rousseff defende uma política fiscal mais restritiva, por meio do cumprimento do superávit primário, como estratégia para abrir espaço para cortes na Selic. Este ano, o fraco crescimento econômico (em ritmo ainda pior do que o registrado em 2011) derrubou o recolhimento de tributos, o que criou dificuldades para atingir a meta.
O problema foi aguçado pelas desonerações adotadas pelo Ministério da Fazenda para estimular o PIB. A redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) – foco principal da política de estímulos fiscais adotada pela equipe de Guido Mantega – acabou reduzindo os repasses do Tesouro aos fundos de participação dos Estados (FPE) e dos municípios (FPM).
Com menos receitas e, ao mesmo tempo, estimulados pelo próprio governo federal a ampliar os investimentos, Estados e municípios têm reduzido seu esforço fiscal.
Da meta de poupar R$ 139,8 bilhões em 2012, governos estaduais e prefeituras são responsáveis por R$ 42,8 bilhões.
China divulga hoje novo freio na alta do PIB
O Estado de S. Paulo
A China divulga hoje o resultado do crescimento do PIB no terceiro trimestre, que deve ser o mais baixo do ano e o sétimo consecutivo de desaceleração da segunda maior economia do mundo. Mas dados sobre crédito e exportações divulgados nos últimos dias levaram analistas a prever estabilização ou leve reação da atividade nos próximos meses.
“O pior provavelmente ficou para trás”, disseram economistas do Credit Suisse em relatório sobre a situação do país divulgado na terça-feira. Mas eles ressaltaram que não há motivo para euforia: “Nós esperamos que o ímpeto de crescimento estrutural seja fraco e não prevemos um forte ritmo de recuperação”.
A maioria das projeções aponta uma expansão de 7,4% no período julho-setembro, abaixo dos 7,6% do trimestre anterior e da meta de 7,5% fixada pelo governo para o ano. Antes da divulgação do resultado, várias instituições já haviam reduzido suas estimativas de crescimento da China em 2012 para nível inferior a 8%, no que deverá o mais baixo índice desde 1990.
Na semana passada, o Banco Mundial reviu sua projeção para 7,7%, 5 pontos porcentuais abaixo dos 8,2% anunciados em maio. O Fundo Monetário Internacional espera alta de 7,8%.
Mas a expansão do crédito e o crescimento de 9,8% das exportações em setembro foram lidos como indícios de que a economia pode ter atingido o fundo do poço no terceiro trimestre e poderá reagir nos próximos meses.
O volume formal de empréstimos ficou em 623 bilhões de yuans (R$ 202,4 bilhões), abaixo dos 650 bilhões a 700 bilhões de yuans esperadas pelo mercado. Apesar disso, os dados provocaram otimismo porque houve mudança na composição dos financiamentos, com aumento da parcela dos contratos de médio e longo prazos, normalmente destinados a investimentos.
Esse tipo de crédito representou 44% do total em setembro, bem acima dos 25% a 30% no mês anterior, segundo estimativa de Wang Tao, economista-chefe do UBS na China.
Também houve aumento na captação de financiamentos fora dos canais oficiais. Stephen Green, economista-chefe do Standard Chartered, diz que a emissão de bônus pelas empresas atingiu o maior valor trimestral da história, com 735 bilhões de yuans (R$ 238,9 bilhões), enquanto outras formas de crédito que não entram no balanço dos bancos registraram expansão.
“Além da rápido aumento no crédito, nós esperamos que a recuperação na venda de terras e imóveis e a elevação no gasto fiscal em setembro sustente os investimentos”, escreveu Tao.
Os economistas do Credit Suisse destacam outros indícios que podem levar à reação do crescimento nos próximos meses, entre os quais a aceleração na aprovação de obras de infraestrutura, o aumento nas vendas imobiliárias e sinais de que as vendas de equipamentos de construção começam a se intensificar.
Outro indicador positivo foi o aumento de 9,9% nas exportações de setembro, que atingiram o recorde de US$ 186,4 bilhões, depois de uma expansão medíocre de 2,7% em agosto. Mas não há nenhuma garantia de que o desempenho se repita nos próximos meses, considerando a debilidade das economias dos Estados Unidos e da União Europeia – principais clientes da China.
A grande dúvida agora é se a segunda maior economia do mundo conseguirá fazer um “pouso suave” e sustentar um ritmo de expansão ao redor de 7,5% a 8% nos próximos trimestres. Mas está claro que o período de crescimento na casa de dois dígitos é coisa do passado.
Encontro da UE deve escancarar cisões no bloco
Valor Econômico
Líderes da União Europeia se reúnem hoje e amanhã para negociações que não se espera que rendam nenhum grande avanço, mas que provavelmente trarão à tona as profundas cisões dentro do bloco de 27 países sobre decisões que terão de tomar nos próximos meses – desde a criação de uma união bancária e o estabelecimento de uma autoridade bancária única, até a introdução de um orçamento central para os países do euro.
As trincheiras para a batalha sobre essas questões estão sendo definidas, indicaram vários funcionários da UE. O encontro acontece quando a Espanha está dando sinais de que está preparada para pedir um pacote de assistência mais amplo, além de um socorro que já foi prometido para seu setor bancário, e também quando líderes da zona do euro e o Fundo Monetário Internacional ainda estão tentando resolver a equação de manter a Grécia funcionando sem lhe dar ajuda adicional. Líderes da UE podem, às margens da cúpula, discutir a situação desses dois países e emitir um comunicado curto e genérico sobre a Grécia, mas nenhuma decisão específica é esperada, disseram funcionários.
A parte mais contenciosa da agenda vai ser o cronograma para lançamento de uma autoridade bancária única sob o Banco Central Europeu para os 17 países da união monetária e para outros países interessados em adotar o euro. Segundo várias autoridades da zona do euro, pelos menos cinco países do grupo, liderados pela Alemanha, estão fazendo campanha para adiar o prazo final, fixado para o fim do ano, num sinal de que eles querem que as negociações sejam focadas na qualidade do projeto e não na rapidez.
Ainda assim, um rascunho das conclusões da cúpula – geralmente preparado antecipadamente, mas sujeito a mudanças – reitera a meta de completar o trabalho sobre a autoridade bancária “como uma prioridade” até o fim do ano.
O prazo do lançamento desse órgão supervisor poderia determinar quando o Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM, na sigla em inglês), o fundo do bloco para socorros financeiros, estaria apto a injetar dinheiro diretamente nos bancos. Na cúpula anterior, em junho, líderes da UE concordaram que o ESM poderia recapitalizar os bancos diretamente uma vez que um supervisor comum exista.
Espanha, Irlanda e outros países que devem se beneficiar dessa instituição porque têm dívida de socorro bancário em suas contas estão querendo a implementação rápida da decisão de junho. O primeiro-ministro italiano, Mario Monti, também reivindicou rapidez nesse quesito num discurso na semana passada – posição apoiada pelos franceses, segundo funcionários da UE. Mas a Alemanha e outros países ricos da zona do euro já indicaram que o plano não deveria se aplicar a países que já estão em um programa de resgate.
Outra questão espinhosa é a criação de algum tipo de orçamento central para os países da zona do euro. Essa é uma das propostas incluídas num relatório do presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, a ser finalizado em dezembro.
O relatório de Van Rompuy será a peça central das discussões nos próximos dois dias, e autoridades dizem que a Alemanha e a França apoiam sua proposta para uma “capacidade fiscal” da zona do euro – um fundo comum de verbas para os 17 países. O dinheiro poderia ser usado para ajudar países a lidar com choques assimétricos – crises que afetam alguns, mas não todos – e para prover incentivos financeiros a membros que se comprometam com reformas. Mas o plano ainda não está claro, disse um funcionário de governo da zona do euro, acrescentando que um debate sobre como criar e usar esses fundos já estava começando.
Em separado, espera-se que a Alemanha, o trem pagador da união monetária, tente obter apoio para uma proposta de criar um chefe de orçamento dentro da Comissão Europeia, um “comissário da moeda com um alto nível de autonomia”, segundo um assessor de alto escalão da chanceler alemã, Angela Merkel. Uma ideia similar já foi bloqueada anteriormente pela França e outros países que não toleram a noção de abrir mão da soberania sobre seus orçamentos.
Também se espera que países de fora da zona do euro expressem preocupações na cúpula, em particular sobre como conciliar a supervisão bancária pelo conselho diretor do BCE – no qual não têm representação – e o papel de seus próprios supervisores nacionais.
Líderes da UE, seus ministros das Finanças e especialistas terão até a próxima cúpula, em dezembro, para chegar a um acordo em algumas dessas questões. É nessa reunião que Van Rompuy vai apresentar uma versão final de seu relatório sobre o futuro da zona do euro. “Dezembro vai decidir quantas dessas ideias de fato vão decolar”, disse um funcionário de alto escalão da zona do euro.
Ganho de bancos com tarifas cresce 33%
O Estado de S. Paulo
O ganho dos bancos com tarifas ponderado pelo número de clientes cresceu 33% entre junho de 2011 e junho de 2012. É o que revela um levantamento do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), obtido com exclusividade pelo “Estado”. Os dados, compilados pela economista Ione Amorim, mostram que o tíquete médio (resultado da divisão da renda com tarifas pela quantidade de clientes) saiu de R$ 52,43 para R$ 69,86.
As receitas das instituições financeiras com tarifas estão no foco do governo Dilma Rousseff, que já fez forte pressão pela redução das taxas de juros cobradas dos clientes e do spread bancário (diferença entre o que banco paga na captação do dinheiro e o que cobra no empréstimo).
O Banco do Brasil (BB) e a Caixa Econômica Federal anunciaram cortes em alguns tipos de tarifas nas últimas semanas. Ontem, foi a vez do Itaú, líder do ranking entre os privados (ver mais na pág. B3).
Na avaliação de Ione, o aumento do tíquete médio decorre de três fatores. O primeiro é o número de clientes, que saiu de 153,2 milhões para 168,3 milhões no período analisado. A segunda razão é o reajuste nos preços de tarifas avulsas e de pacotes. Por fim, ela destaca que os bancos estão mais eficientes na cobrança desses serviços.
Apesar das reduções recentes, Ione lembra que as grandes instituições de varejo no Brasil estão em busca de saídas para compensar o provável encolhimento do lucro com operações de crédito em um ambiente marcado pela redução das taxas de juros.
Um dos caminhos passa justamente pelo preço dos serviços bancários, entre os quais as tarifas. Por isso, a economista do Idec sugere que o governo aprimore a regulamentação desse segmento. Em abril de 2008, o Banco Central (BC) pôs em vigor uma norma que padronizou as tarifas bancárias no País.
O objetivo era organizar a cobrança, que crescia de forma expressiva ano após ano. No entanto, de lá para cá, os bancos criaram novos serviços e os incluíram em pacotes. Ione acredita que essa nova realidade voltou a confundir o cliente.
“É preciso mais transparência. É preciso explicar melhor essas mudanças para o consumidor”, defende a economista do Idec. “No ano passado, o Banco do Brasil, por exemplo, descontinuou vários pacotes de serviços. Como foi a migração para os novos planos? Será que o consumidor foi informado corretamente?”, indaga Ione.
Migração. Em nota, o Banco do Brasil confirma que acabou com alguns pacotes em abril do ano passado. Sobre a migração de planos, informa que “não realiza migração automática de pacotes”.
“Os clientes que adquiriram os pacotes descontinuados podem optar por migrar para qualquer outro pacote oferecido, assim como manter a contratação do pacote anterior, ou optar por utilizar tarifas avulsas, se melhor lhe convier.”
Em relação especificamente ao custo das tarifas, Ione destaca a importância dos pacotes. “A maioria dos clientes não paga pelas tarifas avulsas, mas sim pelos pacotes. Por isso, é preciso ter atenção aos cortes promovidos pelos bancos, observar se não estão concentrados nas tarifas avulsas”, argumenta.
No âmbito dos pacotes de serviços, o Idec fez outro levantamento, que compara os preços em abril de 2011 e agosto de 2012.
Nesse período de 16 meses, em que a inflação medida pelo IPCA (índice oficial do País) subiu 6,5%, os pacotes dos seis maiores bancos (Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, Caixa, Santander e HSBC) sofreram reajustes de até 36%.
As instituições, em sua maioria, contestam o período do levantamento e afirmam que não mexiam nas tarifas desde 2010.
País pode triplicar oferta de gás até 2020
O Estado de S. Paulo
O Brasil pode triplicar para 120 milhões de m³/dia a oferta de gás ao mercado até 2020, considerando basicamente novos projetos do pré-sal, segundo estimativas preliminares da Agência Nacional do Petróleo (ANP) apresentadas ontem pela diretora-geral Magda Chambriard.
Com o gás não convencional, as reservas podem ser multiplicadas em várias vezes, segundo palestrantes reunidos ontem no seminário “O Futuro do Gás Natural”, realizado pelo Grupo Estado com patrocínio da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace).
No entanto, sem infraestrutura de escoamento adequada, investimento em tecnologia e formação de uma indústria para consumir o combustível, o País pode correr risco de se ver na inusitada posição de precisar reinjetar gás nos campos do pré-sal ou deixar de desenvolver suas reservas de gás não convencional.
“Tenho certeza de que o mercado encontrará um equilíbrio”, disse Magda. “Não sou tão pessimista quanto algumas pessoas que estão aqui”, afirmou, em referência a discursos céticos sobre o mercado de gás não convencional apresentados no evento.
O gerente do departamento de petróleo e gás do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luiz Daniel Wilcox de Souza, acredita ser cedo para avaliar se o Brasil poderá repetir o exemplo bem-sucedido dos EUA, onde o gás de xisto baixou o preço do insumo a recordes históricos. “Nossa malha está toda na costa. Se comparar com a base das possíveis bacias (localizadas no interior do País), há uma incongruência.”
Souza diz que o banco ainda tenta verificar se o bem-sucedido exemplo americano poderá ser replicado no Brasil. Ele lembra que nos EUA havia uma experiência antiga na área e boa malha de dutos para distribuição.
Porém, ele afirmou que o BNDES está pronto para financiar projetos de gás não convencional. “O banco está preparado para apoiar, tem instrumentos para tal”, disse, citando exemplos anteriores no mercado de gás de exploração e infraestrutura.
A diretora-geral da ANP diz que o Brasil pode triplicar a oferta de gás ao mercado até 2020, dos atuais 40 milhões de m³/dia, já descontando o consumo da Petrobrás e de suas refinarias, levando em conta o gás convencional, em especial do pré-sal.
A Abrace lembra que as reservas não convencionais do Brasil, o chamado shale gas ou gás de xisto, podem representar 300 anos do atual consumo de gás do Brasil. Embora sejam potencialmente gigantes, as reservas ainda não estão confirmadas. Tampouco está garantida a viabilidade comercial delas, o que só será comprovado à medida que os poços forem perfurados. Nenhum poço foi perfurado até hoje no Brasil. “O mercado pode crescer a um ritmo chinês de 10% ao ano, mas precisa vencer alguns desafios”, disse o presidente da Abrace, Paulo Pedrosa.
A Petra Energia será a primeira a perfurar poços de shale gas no Brasil. O presidente da empresa, Winston Fritsch, diz que é preciso vencer os desafios ligados a custos, financiamento e monetização.
Posse de cartões chega a 75% da população
O Estado de S. Paulo
A posse de cartões de crédito, débito e de rede de lojas na população aumentou de 68% em 2008 para 75% em 2012, revelou a 5.ª edição da pesquisa anual sobre o mercado de cartões, encomendada pela Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) ao Instituto Datafolha.
Nos estabelecimentos comerciais, os meios eletrônicos de pagamento também ganharam mais espaço e respondem pela maior fatia de faturamento, com 58%. O cheque foi o meio de pagamento que mais perdeu espaço nos estabelecimentos comerciais, caindo de 7% em 2008 para 3% em 2012.
O estudo ouviu consumidores e estabelecimentos comerciais de 11 capitais brasileiras durante os meses de junho e julho de 2012, registrando a opinião de, aproximadamente, 4 mil pessoas. A pesquisa está sendo apresentada pelo presidente da Abecs, Claudio Yamaguti, durante o 7.º Congresso de Meios de Pagamento (Cmep).
O cartão de débito é o que apresenta maior representatividade entre consumidores em diversos indicadores, como posse, hábito de uso, preferência e participação nos gastos mensais do consumidor. Nos últimos quatro anos, a posse dos cartões de débito foi a que mais cresceu, de 53% em 2008 para 62% em 2012.
O cartão de crédito vem em seguida, tendo crescido de 48% em 2008 para 52% em 2012, enquanto a posse do cartão de loja/rede avançou de 26% em 2008 para 28% em 2012.
Nos estabelecimentos comerciais, os meios eletrônicos respondem por mais da metade do faturamento dos estabelecimentos e sua participação tem aumentado a cada ano, atingindo 58% em 2012. O cartão de crédito é o meio que possui a maior fatia, com 37%, seguido pelo dinheiro em papel (32%) e pelo cartão de débito (21%).
Berlim prevê crescer menos
Valor Econômico
A Alemanha reduziu de 1,6% para 1% sua projeção para o crescimento do PIB do país em 2013, além de melhorar levemente a estimativa de expansão para este ano, de 0,7% para 0,8%.
Os números foram anunciados ontem pelo ministro da Economia do país, Philipp Roesler. Na apresentação, Roesler disse que a crise da dívida prejudica o crescimento local. Porém, afirmou que a economia da zona do euro está mostrando sinais de estabilização, apesar da recessão em alguns países.
“A Alemanha está navegando em águas turbulentas por causa da crise da dívida soberana da Europa e do enfraquecimento econômico dos países emergentes da Ásia e da América Latina”, afirmou o ministro.
As previsões do governo anunciadas oficialmente ontem já haviam vazado pela imprensa do país. As estimativas anteriores também estavam desalinhadas com as dos economistas.
O relatório do governo baseia-se em uma pesquisa dos institutos econômicos mais importantes da Alemanha.