Subsídios brasileiros voltam a ser questionados na OMC
A União Europeia, os Estados Unidos e outros parceiros continuam apresentando questões para o Brasil responder na Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre subsídios dados ao setor privado, alimentando suspeitas sobre vários programas. Antecedendo reunião do Comitê de Subsídios, que acontece hoje, o Brasil precisou responder a questões formuladas pela União Europeia sobre incentivos para o desenvolvimento da cadeia produtiva no setor farmacêutico, por meio do programa Profarma.
O Canadá pediu informações sobre o Profarma e sobre o programa Pro-Aeronáutica, pelo qual o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financia investimentos feitos por pequenas e médias empresas que participam da cadeia de produção da indústria aeronáutica. Também pediu esclarecimentos sobre o programa agrícola Prêmio para Escoamento do Produto.
Os fundos de investimentos para Amazonas, Nordeste e Espírito Santo e o cálculo do preço internacional do diesel para o setor pesqueiro também estão sendo questionados pelos parceiros comerciais do país.
Os EUA apresentam uma série de indagações sobre a reforma da lei de antidumping e apontam falta de detalhes sobre prazos para investigações, por exemplo, aparentemente suspeitando de maior liberdade da autoridade investigadora. A ironia é que os EUA são o país mais condenado na OMC pela flexibilidade com que aplica os instrumentos de defesa comercial.
As questões nos comitês da OMC são normais. O Brasil explica como funcionam os programas e procura argumentar que são compatíveis com as regras da OMC. Mas a evidência é que o Brasil vem sendo alvo de maior monitoramento dos parceiros, que já têm insistido que o país se torna mais protecionista.
Existe expectativa em relação ao relatório sobre protecionismo que a OMC divulgará na semana que vem. Dessa vez, por pressão do Brasil e outros parceiros, o monitoramento deve vir em outro formato, com a inclusão de medidas tomadas por países desenvolvidos, que até agora vinham sendo ignoradas.
Ontem, no Comitê de Salvaguardas, a União Europeia, a Austrália, a África do Sul e o Chile indagaram sobre o estágio da investigação que o Brasil faz para eventual salvaguarda contra o vinho estrangeiro. A resposta foi de que a autoridade investigadora continua examinando os dados que lhe foram apresentados. No Brasil, o Ministério do Desenvolvimento confirmou que não serão adotadas salvaguardas contra o vinho importado.
A maior preocupação no momento entre os membros da OMC, no entanto, é com o plano da Ucrânia de elevar as tarifas de importação de 371 produtos além do que é permitido pelos acordos internacionais, na maior ilustração da tendência protecionista que se propaga no mundo. Exportações de carnes e de dezenas de manufaturados brasileiros deverão ser submetidas a alíquotas mais elevadas para entrar no mercado ucraniano.
Os países têm até o começo de dezembro para decidir se pedem início de negociações por compensações com a Ucrânia. Mas até agora nenhum país acionou o mecanismo. A percepção generalizada em Genebra é de que a Ucrânia exagerou. A dimensão de seu plano é tão grande que traz uma ameaça ao próprio sistema da OMC e deve ser repelido.
Em Paris, o governo do socialista François Hollande deu um “upgrade” na visita que a presidente Dilma Rousseff faz a Paris nos dias 11 e 12 de dezembro. Em vez de visita oficial, foi elevada a visita de Estado, algo que só ocorre duas ou três vezes por ano entre os muitos chefes de Estado que passam pela capital francesa..
Assim, Dilma terá direito a desfile com bandeirinhas pela avenida Champs-Élysées, jantar de gala no palácio presidencial e discurso na Assembleia Nacional. Os franceses, porém, não parecem alimentar muita esperança de confirmação da compra de caças para a Força Aérea Brasileira, que vem se arrastando há anos e tem como competidores a francesa Dassault, a sueca Saab e a americana Boeing.
Pagamento de 13º injetará R$ 131 bi na economia
Valor Econômico
O pagamento do 13º salário a cerca de 80 milhões de empregados do mercado de trabalho formal, aposentados e pensionistas deve adicionar R$ 131 bilhões à economia do país até dezembro, de acordo com estimativa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Os R$ 131 bilhões correspondem a 2,9% do Produto Interno Bruto (PIB) estimado para este ano. O total é 10,5% maior que o pago em 2011, segundo o Dieese. O número de pessoas que receberá benefício é cerca de 2,5% superior ao calculado em 2011.
Dos cerca de 80 milhões de brasileiros que devem receber o 13º salário neste ano, 30 milhões, ou 37% do total, são aposentados ou pensionistas da Previdência Social. Os empregados formais (49 milhões de pessoas) correspondem a 62% do total, dos quais quase 2 milhões (2,4%) são empregados domésticos com carteira de trabalho.
Do montante a ser pago a título de 13º, cerca de 20%, ou pouco mais de R$ 26 bilhões, irão aos beneficiários do INSS. Outros R$ 93 bilhões, ou 71% do total, irão para os empregados formalizados, incluindo os empregados domésticos. Aos aposentados e pensionistas da União, caberá o equivalente a R$ 6,4 bilhões (4,9%) e aos aposentados e pensionistas dos Estados, R$ 5,3 bilhões (4,1%).
No Estado de São Paulo, serão pagos a título de 13º salário cerca de R$ 39,4 bilhões, 30% do total do Brasil e 58,7% da região sudeste. Cerca de 21 milhões de pessoas receberão o benefício.
Segundo a pesquisa, o setor de serviços responde pela maior parcela (60,2%) dos R$ 131 bilhões que serão liberados com o 13º salário. Em sua metodologia, o Dieese incluiu a administração pública em serviços.
Do total de 47,4 milhões de trabalhadores em atividade no setor formal, de acordo com o estudo, 25 milhões estão no setor de serviços, e o 13º salário que lhes será pago deve injetar R$ 55 bilhões na economia, de um total de R$ 91,3 bilhões que serão acrescentados pelo setor formal – aposentados e pensionistas adicionarão cerca de R$ 37,8 bilhões à economia via pagamento do 13º salário.
Ainda considerando o mercado de trabalho formal, a contribuição da indústria será de 20,3%, com injeção de R$ 18,5 bilhões. Em seguida vêm comércio (R$ 11,4 bilhões, 12,5% do mercado formal), construção civil (R$ 4,6 bilhões, 5%) e agropecuária, extração vegetal, caça e pesca (R$ 1,7 bilhão, 1,9%).
O valor médio do 13º salário pago ao setor formal corresponde a R$ 1.926. Considerando o total de quase 80 milhões de pessoas que receberão o pagamento do 13º salário, incluindo aposentados e pensionistas, a média cai para R$ 1.632 em 2012. No setor formal, a maior média deve ser paga para os trabalhadores do setor de serviços (R$ 2.199). A indústria vem em seguida, com pagamento médio no valor de R$ 2.077.
A estimativa feita pelo Dieese leva em conta dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), ambos do Ministério do Trabalho e Emprego. Também foram consideradas informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2011.
Saldo da balança atinge US$ 17 bi no ano
Valor Econômico
A balança comercial brasileira registrou déficit de US$ 422 milhões na terceira semana de outubro, informou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. O saldo negativo resulta da diferença entre US$ 4,389 bilhões em exportações e US$ 4,811 bilhões em importações no período. No mês, o resultado das transações comerciais brasileiras ainda é positivo em US$ 1,309 bilhão. No ano, o saldo positivo é de US$ 17,033 bilhões.
A média diária de US$ 877,8 milhões nas exportações na terceira semana de outubro é 19,3% inferior à média até a segunda semana. Na comparação com outubro do ano passado a média diária de embarques caiu 8,5% em função da diminuição nas exportações de manufaturados e itens básicos.
Os manufaturados recuaram 5,9%, dos US$ 388,2 milhões de média diária em outubro de 2011 para US$ 365,2 milhões acumulados até a terceira semana de outubro deste ano. A redução foi resultado dos embarques menores de aviões, veículos de carga, automóveis de passageiros, máquinas para terraplenagem, combustíveis e lubrificantes, tratores e partes de motores para automóveis.
Para os produtos básicos a média diminuiu 14,1% na mesma comparação, passando de US$ 546,5 milhões em outubro de 2011 para US$ 469,4 milhões nas três primeiras semanas deste mês. A queda é reflexo de exportações menores de petróleo em bruto, café em grão, minério de ferro e soja em grão.
As exportações de semimanufaturados cresceram 6,1% na mesma base de comparação, de US$ 150,6 milhões para US$ 159,7 milhões, em grande parte pelo aumento de embarque de alumínio bruto, óleo de soja em bruto, ouro, açúcar em bruto, ferro fundido e ferro ligas.
As importações diminuíram 7% na terceira semana de outubro de 2012, com média diária de US$ 919,6 milhões, ante US$ 989,1 milhões em todo o mês de outubro de 2011. No comparativo, diminuíram os gastos, principalmente, com combustíveis e lubrificantes, veículos automóveis e partes, borracha e obras e siderúrgicos.
BC vai criar departamento para fiscalizar instituições financeiras
O Estado de S. Paulo
O diretor de Fiscalização do Banco Central (BC), Anthero Meirelles, disse que a instituição está estruturando um departamento para supervisão de conduta das instituições financeiras.
Com a ampliação desta unidade submetida à diretoria de Fiscalização e que deve ser concluída no próximo ano, segundo Meirelles, é possível que o nome atual do departamento seja alterado para Supervisão de Condutas. A vantagem que a reforma do Departamento de Controle de Ilícitos trará para o trabalho de fiscalização e monitoramento do sistema financeiro é que, em vez de a autoridade monetária olhar as informações isoladamente, passará a ter uma visão geral do todo.
Hoje, o BC recebe em tempo real as informações relativas às operações do sistema financeiro, mas a autoridade quer ter uma visão mais abrangente de todas as atividades do mercado ao mesmo tempo. “Às vezes, uma operação pode nem afetar o sistema financeiro, mas pode oferecer algum risco de imagem, por exemplo. Por isso estamos estruturando este departamento agora”, explicou Meirelles, que participou do 33º Congresso Brasileiro Auditoria Interna (Conbrian 2012).
O sistema de monitoramento do BC é dividido em sete itens: monitoramento do sistema financeiro, de crédito, de liquidez de mercado, monitoramento dos mercados financeiros, de câmbio, de risco sistêmico e detecção de fraudes. “O monitoramento de crédito se dá via nossa Central de Crédito, onde todas as operações de crédito devem ser registradas e essa base de dados trabalha tanto individualmente por instituição como também pela própria dinâmica do mercado de crédito, para dar subsídios para políticas de ações prudenciais”, explicou. Nessa Central de Crédito devem ser registradas todas as operações com valores de acima de R$ 1 mil. Antes, só eram registradas operações de crédito com valores superiores a R$ 5 mil.
“Ao passar de R$ 5 mil para R$ 1 mil, 99% de todas as operações de crédito passaram a ser registradas com detalhes, como localização geográfica e a renda do tomador do crédito. O outro 1% passou a ser registrado, mas não em detalhes”, disse Meirelles que falou para uma plateia formada por mais de 500 auditores internos.
Captações de empresas vão a US$ 40 bi e batem recorde
Valor Econômico
As grandes companhias brasileiras que acessam de forma recorrente o mercado internacional para se financiar, como Vale, Petrobras e Banco do Brasil, já atingiram seus objetivos orçamentários para o ano. Isso não significa, no entanto, que os bancos de investimentos deem o ano por encerrado.
Segundo executivos ouvidos pelo Valor, ainda são esperadas captações que somam algo entre US$ 5 bilhões e US$ 7 bilhões até o encerramento de 2012. Mas o volume de bônus corporativos emitidos já soma US$ 40,384 bilhões, até ontem, patamar recorde para o mercado empresarial brasileiro.
Nos próximos dois meses, os executivos acreditam que o mercado se tornará mais favorável para captações de empresas estreantes, ou mesmo para a antecipação de “funding” para investimentos programados para o próximo ano, já que as taxas se mantêm nos mínimos históricos.
Um exemplo de novata é a Caixa Econômica Federal, que visita investidores nesta semana para fazer sua primeira colocação externa, para captar algo entre US$ 1 bilhão e US$ 1,5 bilhão, com papéis de dez anos – em um programa que pode atingir US$ 5 bilhões. A Samarco Mineração também prepara um lançamento de títulos de dez anos para os próximos dias.
Já a Construtora Norberto Odebrecht acessou ontem investidores internacionais para captar mais US$ 450 milhões com papéis de 30 anos, em um reabertura. Foi um claro exemplo do que os especialistas chamam de uma operação de “oportunidade”, para se aproveitar de uma condição favorável de mercado, conseguindo taxa abaixo de 6%.
“Ainda estamos com um “pipe-line” bastante robusto”, diz Paulo Rogério Caffarelli, vice-presidente de atacado do Banco do Brasil. O banco que já incomoda os privados em diversos setores se tornou agressivo também nesse nicho e assumiu recentemente a segunda posição do ranking da Anbima, atrás apenas do J.P. Morgan e desbancando líderes tradicionais desse segmento como HSBC e Santander além, é claro, dos brasileiros Itaú e Bradesco.
As captações de recursos realizadas pelas empresas brasileiras no exterior neste ano já superaram todo o volume do ano passado (US$ 37,206 bilhões).
O avanço se deu em meio à piora das condições internacionais ao longo do primeiro semestre, quando o quadro da crise da dívida soberana se agravou na Europa. O desempenho mostra, portanto, que o apetite por papéis brasileiros não foi tão afetado pelo aumento da aversão ao risco global.
A demanda pelos papéis é um bom termômetro. Das operações realizadas neste mês, o Banco do Brasil e a OAS tiveram procura da ordem de cinco vezes superior à oferta, enquanto a BR Malls atraiu mais de US$ 1 bilhão para uma emissão de US$ 175 milhões.
Vale ponderar que os bônus ganharam força neste ano ao tomarem o lugar dos empréstimos sindicalizados, que até 2011 representavam quase metade dos recursos externos (US$ 28,6 bilhões).
Essa alternativa praticamente secou em 2012 (US$ 2 bilhão) devido aos problemas dos bancos europeus – os mais ativos nesse segmento – e também pela taxação imposta pelo governo para linhas inferiores a cinco anos (depois reduzida para dois anos). Os pré-pagamentos de exportação, que também serviam a empresas atuantes no comércio internacional, também foram limitados pelo Banco Central a um ano de prazo.
Para André Silva, chefe de mercado de dívida do Deutsche Bank em Nova York, as empresas que ainda planejam emitir bônus neste ano devem esperar o fim do período de divulgação de balanços nas próximas duas semanas – chamado de “blackout”.
“Veremos, até o fim do ano, mais empresas boas acessando o mercado”, acrescenta. “Uma vez que estejam liberadas de obrigações de divulgação de resultados, acredito que haverá nova onda de emissões, justamente para tirar proveito das condições favoráveis.”
O momento de fato é positivo. Além dos juros nos Estados Unidos estarem próximos das mínimas históricas, os principais bancos centrais do mundo estão em meio a programas de afrouxamento monetário para estimular suas economias ainda vacilantes, injetando recursos diretamente nos mercados monetários.
O Federal Reserve, banco central americano, lançou recentemente a terceira etapa do “quantitative easing” (QE3), prometendo a recompra de papéis do mercado imobiliário, enquanto o Banco Central Europeu (BCE) e o Banco do Japão também estão bastante atuantes para prover liquidez.
Para o Brasil, no entanto, o fluxo de moeda estrangeira tem se mostrado modesto. Desde agosto, o país registra saídas líquidas de capital que somam R$ 2,7 bilhões. Apenas em outubro, até o dia 11, as saídas superam as entradas em US$ 1,3 bilhão.
Parte desse movimento na contramão se deve aos controles cambiais impostos pelo governo brasileiro à entrada de capital, além da forte atuação recente do Banco Central para manter a cotação do dólar ao redor de R$ 2 como forma de favorecer a balanço comercial brasileira.
Até por isso, os investidores que pretendem alocar seus recursos em ativos brasileiros de renda fixa preferem aplicar em títulos lançados diretamente no exterior neste momento.
Mas o apetite dos investidores em meio ao excesso de liquidez não está restrito ao Brasil. No mesmo dia em que a OAS emitiu US$ 500 milhões com bônus para 2019, a Pemex, gigante mexicana do setor petroleiro, emitiu US$ 1 bilhão em dívida com vencimento em 2044 e a Eslovênia colocou US$ 2,25 bilhões em títulos soberanos de dez anos.
Ainda assim, o Brasil é o país emergente que mais fez emissões até agora no ano, com 11,6% de todas as colocações de dívida no mundo, de acordo com dados da Dealogic, empresa que compila dados financeiros mundiais. Na sequência vem Rússia (9,6%), Coreia do Sul (8,3%), China (7,3%) e Hong Kong (6,6%). As emissões de dívida corporativa atingiram US$ 1,68 trilhão globalmente, volume 12% maior que o total emitido durante todo o ano de 2011.
China passa os EUA em vendas para o Brasil
Valor Econômico
Mesmo com a freada no desembarque de veículos chineses em território brasileiro, a China tornou-se em 2012 o país que mais exporta para o Brasil. Os chineses tomaram o lugar que era historicamente, até o ano passado, dos Estados Unidos. A nova classificação dos chineses, segundo economistas, veio para ficar. A liderança é resultado de uma mudança estrutural de longo prazo na pauta de exportação da China. Além disso, a elevação dos investimentos chineses no Brasil deverá alavancar nos próximos anos o comércio intracompanhias, ainda pequeno entre brasileiros e chineses.
Em 2002 a China era o sétimo fornecedor mais importante do Brasil no mercado internacional, respondendo por 3,3% das importações brasileiras. De lá para cá, a fatia chinesa nos desembarques brasileiros aumentou a cada ano. Em 2012, no acumulado até setembro, a China atingiu participação de 15,2%, com R$ 25,1 bilhões. No mesmo período os Estados Unidos venderam ao Brasil o total de R$ 23,8 bilhões. Os americanos, que tinham fatia de 21,8% há dez anos, têm hoje participação de 14,4% nas importações brasileiras. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic).
Welber Barral, ex-secretário de comércio exterior, diz que a pauta de exportação da China para o Brasil se diversificou muito mais que a dos americanos. Em 2002, aviões, helicópteros e suas partes, além de turborreatores estavam entre os principais itens que os brasileiros compravam dos Estados Unidos. Esses bens continuam entre os mais importantes na lista dos itens comprados dos americanos. Há dez anos, o coque e a hulha estavam entre as importações brasileiras mais representativas com origem da China. Atualmente esse produtos deram lugar a manufaturados, como eletrônicos e suas partes, além de material de transporte.
O comércio entre o Brasil e os Estados Unidos, argumenta Barral, mudou menos porque é mais dependente do comércio intracompanhias. A pauta da exportação dos chineses para o Brasil, de forma diferente, reflete a diversificação de produção que aconteceu no país asiático.
Barral estima que os chineses continuarão liderando a exportação ao Brasil, principalmente quando os investimentos do país asiático em território brasileiro amadurecerem. Além da pauta diversificada de exportação dos chineses, a corrente de comércio entre Brasil e China passará a contar também com as trocas intracompanhias. Segundo dados da Renai, orgão do Mdic, a China, em 2011, foi o 12 º país com maior valor em investimentos anunciados no Brasil. A China ficou com 3,8% do valor dos anúncios do ano passado.
O avanço chinês com o comércio intracompanhias, diz José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), deverá se intensificar de forma acelerada nos próximos anos. “O ritmo será alto porque os investimentos chineses estarão em crescimento, bem diferente dos investimentos americanos, que já estão quase todos maturados.”
Castro também chama atenção para a mudança da pauta de exportação do país asiático. As vendas da China para o exterior, que antes eram de produtos de baixo valor agregado, ficaram cada vez mais sofisticados, com maior intensidade tecnológica. “As importações da China não são mais de quinquilharias, ou de produtos têxteis e de calçados. Hoje importamos bens de capital chineses.”
Dados do Mdic mostram que em 2002 os bens de capital representavam 13,4% das importações brasileiras “made in China”. Essa fatia avançou e atualmente alcança 23,4%. Os bens intermediários, que eram 67,3% há dez anos, hoje representam 56,6%. Esse avanço da China nos produtos mais intensivos em tecnologia, inclusive máquinas e equipamentos, diz Castro, foi propiciado pelo crescimento do país asiático em ritmo muito acima da média exatamente nos últimos dez anos. Os Estados Unidos, ao contrário, tiveram ponto alto de crescimento perto de 2002 e viram várias empresas deslocando produção para o território chinês, em razão do baixo custo de mão de obra e de outros fatores de produção. O crescimento americano na última década atingiu o pico em 2004, com alta de 3,5%. O ponto mais alto da China foi em 2007, com 11,2%. Para este ano, o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê para a China crescimento de 7,8% e, para a os Estados Unidos, 2,2%.
Especialista em comércio exteriod, Fernando Ribeiro, técnico de pesquisa e planejamento do Instituto de Pesquisa Econômico Aplicada (Ipea), faz ressalva semelhante. “Não é só a questão do crescimento da China. O desempenho das empresas americanas no período também foi fraco.”
O avanço chinês nas importações, argumenta Ribeiro, não se restringe ao Brasil. “Trata-se de uma mudança estrutural na qual a China tornou-se, ao longo do tempo, a principal fornecedora de diversos países, com ganho de “market share” no mercado mundial.”
Aos poucos, diz o pesquisador do Ipea, a China passou a fornecedora de produtos mais simples até bens mais sofisticados, ganhando o mercado de fornecedores tradicionais de bens de capital, como os Estados Unidos, Alemanha e demais países europeus.
Dados da Abimaq, que reúne as indústrias de máquinas e equipamentos, mostram que a China em 2002 era o 14º fornecedor externo de bens de capital mecânicos ao Brasil. Na época, os chineses venderam menos de US$ 100 milhões nesse tipo de bem para os brasileiros. Neste ano, no acumulado até agosto, a China é a segunda origem mais importante dessas mesmas máquinas, com US$ 2,8 bilhões em vendas ao Brasil. Os americanos ainda continuam no topo da lista, com US$ 5 bilhões, mas perderam terreno. Em 2002, os Estados Unidos eram responsáveis por 38% dos bens de capital mecânicos desembarcados no Brasil. Agora essa fatia é de 25%. O desempenho chinês já deixou para trás os alemães, que tradicionalmente eram o segundo fornecedor estrangeiro das máquinas. A Alemanha, no acumulado até agosto, vendeu US$ 2,5 bilhões em máquinas ao Brasil.
Para Ribeiro, a tendência da China como principal fornecedor do Brasil já está dada e deve se manter. “As exportações da China crescem mais rápido que a média mundial há muito tempo e isso não deve mudar no curto prazo”, diz. O economista lembra que, mesmo com a desaceleração da sua economia, a China ainda permanecerá com crescimento relativamente alto.
Atividade tem recuperação em outubro
Valor Econômico
Depois de um setembro fraco, com queda expressiva nas vendas de automóveis e estimativa de recuo da produção industrial, a atividade econômica mostra uma recuperação moderada neste mês, segundo empresários e líderes de associações setoriais. Divulgada ontem, a prévia de outubro do índice de confiança da indústria da Fundação Getulio Vargas (FGV) também confirma essa melhora da atividade – subiu 1,3% em relação a setembro, na série livre de influências de sazonais (ler abaixo).
O presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), Carlos Loureiro, vê um outubro “um pouco melhor” para o setor do que setembro, mas não aposta em “grande crescimento” neste mês. As vendas em setembro ficaram em 341 mil toneladas, 10% inferiores a agosto. A média por dia útil, contudo, foi 8% superior.
Segundo Loureiro, os setores de veículos, autopeças e máquinas agrícolas têm feito encomendas mais expressivas. Já os pedidos de empresas ligadas à construção civil e de bens de capital estão mais fracos, um sinal pouco animador para o investimento. “O pior já ficou para trás, mas não vejo a perspectiva de um crescimento forte”, diz Loureiro, para quem que a indústria vive um ano sofrível. Ele, que já apostou em alta de 6% para a distribuição de aço neste ano, prevê hoje expansão de apenas 2%.
Um bom termômetro para as encomendas da indústria fora da cadeia automobilística, o setor de papelão ondulado aposta em resultados mais expressivos no fim do ano. O presidente da Associação Brasileira de Papelão Ondulado (ABPO), Ricardo Trombini, não viu a queda em setembro com preocupação, já que agosto foi um mês recorde, com expedição de 300,9 mil toneladas, e setembro teve quatro dias úteis a menos do que o mês anterior. Em setembro, as vendas domésticas recuaram 6% em relação a agosto – uma queda de 1,5% nas contas da LCA Consultores, na série com ajuste sazonal. Na média diária, as vendas avançaram 5%. “Já percebemos um ritmo melhor do nível de atividade.”
Os ramos industriais que mais demandam no momento são os de alimentos e bebidas e higiene e beleza, mas o presidente da ABPO diz que segmentos com incentivos do governo, como eletroeletrônicos, móveis e linha branca, mantêm seu perfil de consumo em nível que considera satisfatório. No começo do ano, a entidade previa aumento de 2,5% nas vendas em relação a 2011, percentual já atingido no acumulado de janeiro a setembro. Com a redução do IPI para alguns setores e encomendas mais fortes, Trombini acredita que esse avanço pode chegar a 3%.
O presidente da Indústria São Roberto, Roberto Nicolau Jeha, também relata um outubro melhor do que setembro. Empresa de papelão ondulado, a São Roberto registra boas encomendas dos setores de alimentos, bebidas e limpeza, muitas delas ligadas às festas de fim de ano. “Mas o ano está difícil”, diz Jeha, prevendo uma expansão de 1% a 2% para a companhia em 2012. Câmbio e juros em níveis mais adequados ajudam a economia, mas o crédito ainda não deslanchou e a infraestrutura continua muito ruim, afirma ele.
No setor químico, após um agosto forte, a expectativa de Fátima Ferreira, diretora de economia da associação do segmento (Abiquim), é que setembro tenha mantido o ritmo do mês anterior e outubro também mostre bom desempenho. Fátima afirma que o terceiro trimestre é o melhor período do ano para o setor químico, marcado pelas encomendas de fim de ano da indústria, mas avalia que uma conjuntura mais favorável também está por trás dos resultados mais robustos. “A partir de agosto, sentimos uma melhora do ambiente. Alguns clientes da nossa indústria que estão se beneficiando com a desoneração da folha de pagamento estão consumindo mais.” A economista também avalia que o câmbio de R$ 2 foi positivo para o setor. De janeiro a agosto, o volume importado no setor encolheu 5,2%, enquanto a produção cresceu 2,4%.
No segmento de materiais de construção, agosto pareceu indicar um quadro de retomada colocado em xeque por setembro, segundo Walter Cover, presidente da associação da indústria do setor (Abramat). Descontados os fatores sazonais, as vendas do setor encolheram 6,7% em setembro, após alta de 8% na medição anterior. Cover credita parte do desempenho ruim ao menor número de dias úteis de setembro e à greve dos bancos, que, de acordo com ele, diminuiu o volume de negócios. Ele afirma, contudo, que o comportamento do varejo – com peso de cerca de 50% nas vendas do segmento – continuou deixando a desejar, enquanto o setor de infraestrutura seguiu em ritmo lento e o de incorporações imobiliárias perdeu fôlego. “O crédito está melhorando, mas ainda há problemas.”
Para os meses finais do ano, a expectativa da Abramat é que as vendas registrem crescimento nas comparações mês a mês, puxadas pelo varejo, que pode ter aquecimento adicional devido ao destravamento do crédito pelos bancos públicos. Cover observa, porém, que os três meses finais não devem salvar o resultado de 2012, para o qual a associação espera crescimento de 3,4% “É um número baixo. No começo do ano, esperávamos algo na faixa de 4,5%.”
A Lupo é outra empresa que, depois de um setembro fraco, tem um desempenho melhor neste mês. O inverno mais quente que o usual e a falta de chuvas prejudicaram os resultados da empresa em setembro, quando o faturamento recuou 8% sobre o mesmo mês do ano passado, desempenho muito aquém da meta da empresa de 12% de crescimento. Valquírio Cabral Júnior, diretor-comercial da Lupo, acredita que setembro pode ter sido o pior mês do ano, período marcado por estoques mais altos que o planejado no varejo e consequente queda na produção. Outubro, no entanto, já dá sinais de recuperação: nos primeiros 18 dias do mês, o faturamento avançou 17% sobre igual período de 2011. “As lojas começaram a escoar a mercadoria em estoque e acreditamos que no último trimestre do ano, vamos crescer 10% em relação ao mesmo período do ano passado, salvando o ano.” Para ele, parte dessa projeção reflete a sazonalidade, mas também uma melhora da economia no fim do ano.
O presidente da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel), José Luiz Diaz Fernandez, diz que o nível de ociosidade das empresas associadas foi reduzido em cerca de 20% na passagem do segundo para o terceiro trimestre como reflexo de encomendas mais firmes do varejo para o fim do ano. Desde agosto, o setor conta com a desoneração da folha de pagamento. Segundo Fernandez, a medida está começando a refletir agora nos preços finais, aumentando o efeito do corte de impostos. Devido aos incentivos do governo e às condições mais favoráveis do crédito, ele acha que o setor, que cresceu 2,5% de janeiro a agosto, crescerá 4,5% no ano.