Europa diminui exposição a Brasil

Os bancos europeus reduziram em quase US$ 30 bilhões sua exposição no Brasil entre abril e junho, incluindo operações em moeda local, com o estoque no país atingindo o menor volume em um ano, revela o Banco de Compensações Internacionais (BIS).

Na outra direção, bancos brasileiros aceleraram suas operações externas em países desenvolvidos e na América Latina no mesmo período. Sua exposição no exterior cresceu US$ 21,6 bilhões, com alta de 24,3% em relação ao primeiro trimestre e superando a barreira de US$ 100 bilhões pela primeira vez.

Para analistas, a contração econômica, o aumento de calotes, a fragilidade no preço de ativos, a deterioração dos negócios e a intensificação de riscos financeiros ou políticos levaram os bancos da zona euro a continuarem reduzindo seus balanços.

Conhecido como “o banco dos bancos centrais”, o BIS mostra que em um ano, até junho, a exposição de instituições europeias declinou US$ 414 bilhões nos países em desenvolvimento, totalizando agora US$ 3,2 trilhões. Na América Latina, US$ 89,6 bilhões foram cortados pelos bancos europeus, com destaque para Brasil.

A posição de bancos estrangeiros no país diminuiu US$ 78,8 bilhões em um ano, até junho, ficando em US$ 507,5 bilhões. Grande parte da contração ocorreu nas operações domésticas. As operações externas sofreram baixa de US$ 11,5 bilhões.

No rastro da liquidez fornecida pelo Banco Central Europeu (BCE) no final de dezembro, os bancos europeus tinham elevado as operações no Brasil entre janeiro e março. Mas isso não durou e entre abril e junho houve retração de US$ 31,9 bilhões das instituições estrangeiras, dos quais US$ 29,2 bilhões por parte dos europeus.

A banca espanhola fez corte de US$ 17,6 bilhões na sua exposição no Brasil no segundo trimestre. Os bancos britânicos diminuíram as operações no país em US$ 9,2 bilhões e os japoneses, em cerca de US$ 2 bilhões. Já os americanos aumentaram o volume em US$ 800 milhões.

Assim, em um ano, até o final de junho, a retração de bancos espanhóis no Brasil somou US$ 40,8 bilhões. Os britânicos cortaram US$ 20 bilhões, enquanto os americanos mantiveram volumes estáveis.

Já bancos brasileiros continuaram sua expansão no exterior, agora com exposição de US$ 105 bilhões. Nos países europeus, as instituições brasileiras tinham US$ 30,1 bilhões ao final de junho, 30,3% a mais do que ao final de março. Em Portugal, a exposição brasileira subiu da média de US$ 1 bilhão em trimestres anteriores para US$ 4 bilhões entre abril e junho. Nos EUA, as operações cresceram 28%. Mas a maior alta percentual foi na Argentina, com bancos brasileiros elevando sua posição no país para US$ 14,5 bilhões, ou 178,8% a mais do que no primeiro trimestre.

Globalmente, os empréstimos internacionais caíram quase US$ 600 bilhoes entre abril e junho. A contração ocorreu basicamente nos países desenvolvidos. Os bancos europeus continuaram a reduzir fortemente operações na periferia em crise na zona do euro.

Em um ano, até junho, o corte de crédito externo para Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha e Itália foi de US$ 864 bilhões, sendo 80% feito pela banca europeia. O corte de financiamento ao setor público desses países prossegue. A exposição de instituições estrangeiras na Itália declinou de US$ 1,2 trilhão para US$ 834 bilhões em um ano. Por sua vez, bancos internacionais mantiveram fortes volumes de crédito para Alemanha e França.


Intenção de consumo cai em outubro

Valor Econômico

A Confederação Nacional do Comércio (CNC) espera que a disposição das famílias para comprar melhore em novembro e em dezembro em relação ao que foi observado em outubro, quando a Intenção de Consumo das Famílias (ICF) caiu 0,6% em relação ao mês anterior. O otimismo, diz Bruno Fernandes, economista da CNC, se deve à proximidade das festas de fim de ano.

“A confiança dos brasileiros apresentou comportamento moderado em outubro”, disse Fernandes. A CNC estima que o comércio cresça 8% em 2012 em relação a 2011, período em que a entidade projeta crescimento de 1,5% para o Produto Interno Bruto (PIB).

A atual moderação na confiança dos brasileiros, afirma o economista, se deve a incertezas em relação ao mercado de trabalho, geradas pelo ritmo moderado da economia brasileira. “Esse comportamento não é de agora, vem ocorrendo nos últimos meses. Isso não quer dizer que temos um resultado ruim do ICF”, disse o economista da CNC.

Para 2013, a entidade ainda não tem projeção de crescimento para o comércio, mas espera que, com a aceleração da atividade econômica, o varejo venha a melhorar seu desempenho, com vendas crescendo acima de 8%.


Atividade da indústria tem recuo forte em setembro

Valor Econômico

A atividade da indústria brasileira recuou significativamente em setembro, de acordo com a pesquisa Sondagem Industrial divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O índice de produção industrial cedeu a 47,1 pontos em setembro, de 54,7 pontos em agosto. Valores acima de 50 representam aumento da produção. A pesquisa também mostrou que o uso efetivo da capacidade instalada ficou bem abaixo do normal para o mês: o indicador caiu de 46,2 pontos em agosto para 43,8 pontos no mês passado, em uma escala na qual 50 pontos representam uso da capacidade igual ao usual para o mês e acima disso, utilização da capacidade maior que a normal.

A boa notícia é que a menor produção se traduziu em redução dos estoques, o que pode dar fôlego à indústria nos próximos meses (ler abaixo). O indicador do nível de estoque efetivo em relação ao planejado, por exemplo, caiu de 51,8 pontos em agosto para 50,6 pontos em setembro, aproximando do limite de 50 pontos – acima desse número, a indicação é de que há estoques indesejados.

O setor de veículos automotores teve a maior queda na produção entre os setores levantados pela CNI. O indicador apurado para esse ramo de atividade caiu de 58,1 pontos em agosto para 41,4 pontos em setembro deste ano, o que indica contração na produção. De acordo com o economista da CNI, Marcelo de Azevedo, tal queda se deve ao ajuste nos estoque das montadoras.

Apenas os indicadores para a indústria de bebidas e para a de derivados de petróleo apontaram em setembro que a utilização da capacidade instalada está acima no usual para o mês; sete, dos 28 setores pesquisados, apontaram índices abaixo de 40 pontos (uso da capacidade bem abaixo do normal), entre eles os de têxteis, automóveis e informática e aparelhos ópticos.

O setor de bebidas terminou setembro como o de melhor desempenho no país: seu indicador de evolução da produção chegou a 64,2 pontos, o de evolução no número de empregados foi a 56,8 pontos, e o de estoques, em relação ao planejado, caiu para 40,8. O setor tem a expectativa de demanda mais otimista da indústria, 70,5 pontos.

“A retomada do investimento vai se dar quando a demanda se recuperar”, previu Azevedo. Os indicadores mostram que, em todas as regiões e na maioria dos setores há, em outubro, expectativa de maior demanda, maior compra de matérias primas e manutenção ou aumento do número de empregados. Os empresários avaliam que sua margem de lucro operacional no terceiro trimestre foi negativa, mas o indicador elevou-se em relação ao trimestre anterior e é o maior do ano.

“Os investimentos vêm caindo por quatro trimestres consecutivos e essa duração da queda é preocupante”, disse o economista da CNI Marcelo de Ávila. “O investimento está mais barato, vai ter estímulo, mas primeiro é preciso aumentar a ocupação da capacidade instalada”, analisou o especialista. “Acreditamos que, em 2013, com o efeito das concessões de infraestrutura e da taxa de juros, haverá crescimento mais equilibrado criando um círculo virtuoso.”


Ainda é cedo para falar em retomada de investimentos

Valor Econômico

São duas as principais mensagens da Sondagem Industrial de setembro, divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI): ainda é cedo para falar em retomada dos investimentos que garantirão o crescimento sustentado; o ajuste nos estoques das empresas permite dizer que uma política que assegure a continuidade da demanda tem chances de estimular a ampliação do parque industrial – e os investimentos.

A produção recuou em setembro, na comparação com agosto. O indicador da CNI ficou em 47,1 pontos (numa escala em que 50 significa manutenção da produção, e acima disso, ampliação). Em agosto foi o contrário, a produção industrial estava bem acima do esperado (54,7). O mais notável foi o ajuste de estoques, cujo índice ficou em 50, apontando satisfação das empresas com a situação. “É uma excelente notícia: a queda da produção, diferentemente dos períodos anteriores, provocou ajuste nos estoques”, disse o analista da CNI Marcelo Souza Azevedo.

Apenas no Sul os estoques efetivos estão bem acima do planejado. No Sudeste estão um pouco além do que previam as indústrias, mas no Nordeste há equilíbrio, e no Norte e Centro-Oeste estão até abaixo. Em todas as regiões há capacidade ociosa e é sensível a queda de produção no Sudeste e no Sul. No Nordeste, há crescimento.

A notícia é boa porque, com estoques ajustados, após um processo iniciado em maio, pressões adicionais de demanda terão reflexo imediato no aumento da ocupação das fábricas, reduzindo a capacidade ociosa e gerando incentivos ao investimento. Em setembro, o indicador da utilização de capacidade industrial efetivo em relação à capacidade instalada ficou em 43,8. Em agosto, tinha sido de 46,2 e, em julho, 43,4.

Claro, a situação não é igual em todos os setores: os fabricantes de vestuário, calçados e produtos de informática e ópticos ainda se queixam de estoques acima do desejado, além de 54 pontos.

Chamam a atenção os indicadores negativos sobre situação financeira das indústrias: no terceiro trimestre, ela melhorou em 16 dos 28 setores pesquisados, mas apenas um segmento, o de bebidas, mostra-se satisfeito com seu lucro operacional, e só o setor de biocombustíveis não se queixa de dificuldades no acesso ao crédito. As empresas não apontam mais os juros como grande problema, mas têm dificuldades em obter financiamento, aparentemente devido à maior cautela dos bancos, temerosos com o aumento da inadimplência. A ação dos bancos estatais pressionando a oferta de crédito pode ter um papel importante para enfrentar esse problema.

Os economistas da CNI tinham expectativa de melhoria da situação da indústria neste ano. Agora acreditam que o trimestre que começa neste mês poderá finalmente mostrar uma mudança na situação, reflexo das medidas de incentivo governamentais e da queda nas taxas de juros. Mas, devido à persistência da alta capacidade ociosa, ninguém se arrisca a apostar no crescimento dos investimentos em curto prazo, embora se mantenha a expectativa de boas notícias, em ritmo lento, nesse campo a partir de 2013.


PIB do agronegócio cai 1,77% até julho, diz CNA

Valor Econômico

O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio teve queda de 1,77% de janeiro a julho, conforme levantamento da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) feito em parceria com o Cepea/Esalq. Segundo a entidade, a agricultura registrou uma retração de 2,18%, enquanto a pecuária cresceu 2,76%.

O estudo explica que a queda foi influenciada pela redução da produtividade de diversas culturas e pela seca que atrapalhou o desenvolvimento das lavouras.

Entretanto, a alta das cotações de importantes produtos agrícolas, como soja, milho, trigo e café, ajudou o PIB a não amargar uma retração ainda maior.

O estudo também mostrou que o faturamento do setor agropecuário deve crescer 8,7% em 2012 e chegar aos R$ 357,3 bilhões. O Valor Bruto da Produção (VBP) foi revisado para cima levando em conta a elevação dos preços das principais commodities agrícolas.

Somente o faturamento bruto da agricultura atingirá R$ 225,3 bilhões, com expansão de 12,3% na comparação com o ano passado, influenciado, entre outros fatores, pelo aumento da receita da soja. A oleaginosa deve ter desempenho 20,8% superior ao de 2011, alcançando uma cifra de R$ 68,3 bilhões, diante da previsão de uma safra menor no Brasil e nos Estados Unidos. Conforme o estudo, os preços da soja no mercado doméstico não tiveram fortes altas durante o mês, mas se manteve em patamares elevados em relação ao ano anterior.


Mantega admite ‘flutuação suja’

Valor Econômico

O país está vivendo uma “revolução” cujos efeitos ainda estão por vir, avalia o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao referir-se à queda da taxa básica de juros de 12,5% para 7,25% ao ano e à desvalorização da taxa de câmbio obtida nos últimos seis meses.

No início, os efeitos dessas duas mudanças podem ser até negativos, disse ele, seja porque o rendimento das aplicações financeiras fica baixo, ou porque empresas que serão beneficiadas por um câmbio mais competitivo também tinham dívidas em moeda estrangeira. “Tem o custo de adaptação a esses novos preços, mas já começamos a sentir os primeiros efeitos do câmbio na reação das exportações de produtos manufaturados”, indicou, em conversa com o Valor.

Do tripé da política econômica, formado pelo regime de metas para a inflação, superávit fiscal e câmbio flutuante, Mantega considera “permanentes, fundamentais” apenas dois: a meta de inflação, ” que tem que ser mantida sob controle e não tem conversa” – e a política de solidez fiscal. Sobre esse último, ele disse que continua em busca do superávit primário das contas públicas de 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB), mas com a prerrogativa de poder descontar uma parcela dos investimentos de acordo com o comportamento da arrecadação e da necessidade de fazer desonerações de tributos.

Para o ministro, a economia está reagindo e retomando o nível de atividade compatível com um crescimento de 4% a 4,5%. Salientou que houve menor ritmo de expansão em setembro comparado com agosto, porque também houve, no mês passado, apenas 19 dias úteis contra 23 dias úteis em agosto. Dessazonalizando os dados, ele sustenta que houve crescimento.

A inflação não está sob risco, acredita o ministro. A taxa vinha convergindo para o centro da meta quando, em julho, os preços das commodities agrícolas subiram no mercado internacional, configurando-se um choque de oferta. ” Não há o que fazer com choque de preços de alimentos”, disse, olhando os dados de uma tabela de maneira minuciosa e identificando o que já está retrocedendo: ” Veja, os preços das hortaliças e legumes já cederam, caíram 5,8% em quatro semanas”, comentou. Os índices gerais de preços também estão se acalmando, reflexo da acomodação no atacado e em um ou dois meses, calcula ele, isso vai se refletir nos preços do varejo. O choque de oferta é passageiro, garante o ministro, e a margem de tolerância de dois pontos na meta de inflação de 4,5% é para acomodar esses eventos.

Para ele, o sinal vermelho da política de controle da inflação acende no governo muito antes de ela apontar para o teto da meta, que é de 6,5%, e não há risco de um recrudescimento dos índices de preços no ano que vem. ” O Banco Central olha as tendências e, tirando o risco eventual de choques de oferta, não há pressão inflacionária vinda de fora. O cenário externo é mais de deflação.”

A crise na zona do euro, na visão de Mantega, também não será tao prolongada quanto alguns imaginam. ” A contração lá não se sustenta. Não tem sustentação política nem social”, acredita, vislumbrando mais uns dois anos de baixo crescimento.

Não há certeza de que o governo poderá cumprir a meta fiscal de 2013, em princípio de 3,1% do PIB. “Quando se pensa em política fiscal, estamos sempre perseguindo a meta cheia, mas temos a prerrogativa de abater uma parte dos investimentos. O que não é tolerável é deduzir gasto de custeio.”

A política fiscal é anticíclica desde 2007-2008, e o que o governo persegue é a redução da dívida como proporção do PIB e do déficit nominal. “No passado, ela não era anticíclica e o governo mirava apenas o resultado primário. Nós aperfeiçoamos o conceito da política fiscal, pois você pode fazer um belo superávit primário e ainda assim ter deterioração fiscal, com aumento do déficit nominal”.

Com o reforço fiscal de 2011, criou-se condições para o Banco Central aproveitar a crise das economias maduras para reduzir os juros básicos (a Selic). O corte de 5,25 pontos percentuais da Selic devolve a título de juros, para o governo, algo como R$ 50 bilhões, mencionou o ministro.

O objetivo da política econômica tem que ser compatibilizado, de forma que a inflação continue sob controle, o governo consiga obter uma taxa mais razoável de crescimento e consiga, também, um câmbio que seja competitivo para a indústria local. “Se exagerarmos em alguma dessas variáveis, não conseguiremos cumprir esses objetivos. temos que compatibiliza-las”, disse Mantega.

“A meta de inflação e o superávit fiscal são básicos, fundamentais. Não dá para não cumpri-los”. Ele não admite que o governo esteja relaxando a meta de inflação, permitindo algo na casa dos 5,5% e não buscando o centro da meta, de 4,5%. “Não está sendo relaxada, não”, assegurou, atribuindo o aumento do IPCA ao choque de preços das commodities agrícolas, decorrente da seca nos Estados Unidos, e problemas decorrentes de seca também aqui. Quanto à taxa de câmbio, reiterou que o governo optou por uma gestão ativa. ” O câmbio não depende de nós. O regime depende do mundo, dos nossos parceiros”.

Mesmo com a depreciação do real frente ao dólar americano nos últimos seis meses, uma taxa ao redor de R$ 2 ainda estaria apreciada em cerca de 22% diante de uma cesta de moedas.

O tripé, que tem sustentado a estabilidade econômica há 13 anos, não é um dogma. “Você pode ter o tripé sendo rigorosamente cumprido e não crescer. Pode cumprir a meta de inflação com uma política monetária contracionista. Poderíamos estar com juros reais de 5%, com a inflação rigorosamente no centro da meta, mas sem crescimento”. Num período de crise glocal, porém, a política monetária tem que ser flexível, disse.

Ele está confiante de que o crescimento econômico virá pelo aumento do investimento, como fruto do conjunto de medidas de redução de custos de produção, da retomada das concessões de serviços públicos para exploração do setor privado, pelo setor privado. Mantega atribui a demora da reação da atividade econômica à crise externa. Os mercados da Europa pioraram substancialmente este ano e os EUA continuam andando de lado. Mas as mudanças protagonizadas pelo governo vão reverter o quadro.

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