Um milhão desiste de curso superior
Recentemente o Ministério da Educação (MEC) anunciou aumento de 5,7% nas matrículas do ensino superior, entre 2010 e 2011. O número, que superou a marca de 6,7 milhões de graduandos aliado ao dado de concluintes — 1.022.711 —, mostrou também a outra face da expansão da etapa escolar no país. Apesar de o leque ter se aberto para mais estudantes, o número dos que conseguem levar o curso até o fim ainda é baixo. Levantamento realizado pelo Correio mostra que de 2010 para 2011 praticamente um milhão de alunos não renovou a matrícula — taxa equivalente a 18%. Dos 5.398.637 de graduandos, somente 4.392.994 efetivaram a inscrição. Especialistas afirmam que a expectativa de conclusão do curso no Brasil gira em torno de 50%.
São diversos os motivos que levam alunos a desistirem dos cursos. O diretor do Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educação, da Ciência e da Tecnologia, Roberto Leal Lobo, especialista no tema, destaca a falta de motivação, de interesse, questões financeiras e até a qualidade da universidade. “Existe um mundo de possibilidades. Muitas instituições não conseguem fazer uma boa transição entre o que o estudante espera e o que ele vai encontrar no ensino superior. Também existem os que não têm base e se perdem na universidade, logo são desencorajados.”
Desistência
A técnica de segurança do trabalho, Cecília Nunes, 28 anos, faz parte da relação dos que tentaram seguir o caminho do ingresso na faculdade, mas deu errado. A estratégia não funcionou para a jovem que não conseguiu sair do primeiro semestre de turismo, em uma faculdade particular do Distrito Federal. “Gostava do curso, mas não tive condições financeiras”, conta. A solução foi o ensino técnico. Formada em segurança do trabalho, Cecília pensa em voltar a estudar. “Mas faria outro curso. Turismo não tem mais a ver com meu projeto de vida.”
Prejuízo
Alguns estudantes não necessariamente desistem da graduação, apenas mudam de área ou trancam o curso. Ainda assim, para especialistas, esses alunos entram na conta de investimento sem o lucro esperado. Segundo cálculos do Instituto Lobo, cada aluno custa cerca de R$ 15 mil ao ano nas instituições públicas e R$ 9 mil nas privadas. Para Roberto Lobo, o prejuízo não se restringe ao estudante e à instituição. “A sociedade também perde”. O número de desistências, hoje estimado em 18%, embora seja alto, já foi pior e está perto da média global. “O pico foi em 2008 e 2009, quando houve a expansão do ensino — chegou a 21%. Nos Estados Unidos, por exemplo, as boas universidades são as que colecionam índices baixos.”
Na opinião do assessor especial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e professor da Universidade Católica de Brasília, Célio Cunha, a qualidade do ensino oferecido é o motivo mais forte do baixo índice de renovação de matrículas, principalmente nas instituições públicas. Segundo ele, é fundamental que as universidades apostem em uma pedagogia que possa acompanhar os alunos mais de perto. “É importante ter uma política de orientação, como ocorre na pós-graduação”, acredita. O Ministério da Educação diz estar ciente dos dados e estuda a situação.
Metologia
Superior incompleto
A quantidade de estudantes que não renovaram a matrícula foi calculada pela reportagem do Correio com base no Censo da Educação Superior 2011. O levantamento do Inep mostrou que 6.379.299 de pessoas se matricularam em instituições de ensino em 2010. Excluindo os 980.662 formandos, mais de 5 milhões de pessoas deveriam ter feito a matrícula novamente. Em 2011, das 6.739.689 inscrições, 2.346.695 foram de calouros, totalizando 4.392.994 de estudantes remanescentes. Ao subtrair o número dos que se matricularam com os que deveriam ter se inscrito, a reportagem chegou aos 1.005.643 que ficaram para trás. Os dados, entretanto, não levam em consideração estudantes que mudaram de curso, trancaram provisoriamente ou morreram no período. O Inep promete para esta semana o lançamento dos microdados do Censo, capazes de precisar ainda mais a informação.
Crise europeia começa a atingir economia alemã
O Estado de S. Paulo
A crise dá claros sinais de contaminar a Alemanha da chanceler Angela Merkel, já fazendo a Europa registrar a maior retração de sua atividade industrial desde o auge da crise, em 2009.
A publicação de estatísticas ontem por diferentes institutos europeus indicou que a recessão na zona do euro no final de 2012 pode estar se aprofundando e que uma recuperação esperada para 2013 poderia levar ainda mais tempo para ocorrer. No último trimestre do ano, a projeção é de uma contração do PIB europeu de mais de 0,5%.
A grande preocupação se refere à Alemanha e às indicações de que o país poderia estar caminhando para uma estagnação, o que afetaria toda a Europa. A confiança empresarial alemã registrou ontem a maior contração em mais de dois anos.
“As nuvens sobre a economia alemã estão se escurecendo,” alertou Hans Sinn, chefe da Ifo, a agência que promove o levantamento sobre o sentimento empresarial na maior economia da UE. Outubro, segundo ele, é o sexto mês consecutivo de queda na confiança do empresariado alemão. A redução fez com que o índice chegasse ao nível mais baixo desde fevereiro de 2010.
A queda no índice foi inesperada, o que acabou pesando nas bolsas de valores pelo continente. O euro também perdeu força.
Ao contrário de vários países da zona do euro, a Alemanha vinha resistindo a crise, em grande parte graças à competitividade de suas exportações.
“Os riscos de uma recessão na Alemanha estão crescendo”, indicou o banco ING. Depois de crescer 4,2% em 2010 e 3% em 2011, a projeção apontava para uma expansão de 0,8% neste ano.
Mas dados da empresa Markit apontaram ontem para uma séria contração da produção industrial alemã, afetando todo o continente. O levantamento indicou que o índice europeu caiu para 45,8 pontos em outubro. Taxas acima de 50 representam uma expansão no PIB e nas atividades industriais dos países. Mas a queda é a pior em 40 meses.
De forma inesperada, o índice de atividade industrial na maior economia da zona do euro caiu para 48,1 pontos e a desaceleração mostrou que a crise que está afetando o sul da Europa contamina a maior economia do bloco num ritmo mais rápido que se imaginava.
Abafar
O temor é de que uma contração da economia alemã volte a jogar todo o continente em um estado de alerta e abafar qualquer tentativa de retomada. Para Tim Moore, economista da Markit, um dos motivos foi a queda das exportações, por conta da desaceleração na Ásia e a redução na aquisição de bens de capital da Alemanha.
A redução nas vendas de carros também pesou. Ontem, a Volkswagen anunciou que seus lucros sofreram uma queda de 20% no trimestre. “A piora constante da situação econômica na Europa ocidental pressionou a indústria automotiva” entre julho e setembro, afirmou a montadora em seu relatório financeiro.
Para a fabricante de artigos esportivos, Puma, não há outra saída senão começar a cortar custos. No terceiro trimestre, a empresa registrou uma queda de 85% nos lucros. A Siemens já indicou que deve promover novas demissões.
BNDES prevê alta de 30% em financiamentos neste ano
Valor Econômico
O melhor desempenho do setor público neste ano dentro da área de transportes ficou por conta do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Segundo Dalmo Marchetti, gerente do departamento de transporte e logística do BNDES, os financiamentos liberados pelo banco para o empreendedor privado que atua em obras de transporte deverão apresentar um resultado 30% superior ao registrado no ano passado. Em 2010, o banco liberou R$ 3,9 bilhões em recursos para projetos do setor. No ano passado, o resultado chegou a R$ 4,7 bilhões. “Até o dia 18 de outubro, chegamos a R$ 4,3 bilhões. Devemos fechar o ano com cerca de R$ 6 bilhões”, disse Marchetti.
Apesar da ampliação dos desembolsos, as obras de ferrovias e rodovias perderam a dianteira nas linhas de financiamento. Do total de recursos contratados até agora, 38% estão ligados a projetos portuários. Segundo Dalmo Marchetti, o resultado deve-se a grandes projetos que avançaram em 2012, como o complexo industrial do Porto do Açu e o Porto Sudeste, empreendimentos realizados no Rio de Janeiro, pelo empresário Eike Batista.
As ferrovias ficaram com uma fatia de 24% dos desembolsos deste ano, enquanto as rodovias responderam por 22%. Os demais 16% estão divididos entre diversas iniciativas de logística aérea e de navegação, além de implementação de dutos.
“Estamos registrando uma forte expansão da infraestrutura e devemos ter uma participação relevante nos pacotes de concessão que estão por vir. Essa fotografia de financiamento vai mudar no ano que vem”, disse Marchetti.
O gerente do departamento de transporte e logística do BNDES refere-se ao plano anunciado pelo governo em agosto, o qual engloba a transferência para a iniciativa privada de 7,5 mil quilômetros de rodovias e a construção ou modernização de 10 mil quilômetros de linhas ferroviárias. Os empreendimentos preveem investimentos privados de R$ 133 bilhões nos próximos 25 anos, dos quais praticamente R$ 80 bilhões serão desembolsados nos primeiros cinco anos de contrato.
A perspectiva do BNDES é de que R$ 158 bilhões sejam investidos entre 2013 e 2016 em projetos de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. Desse total, o banco tem a perspectiva de atingir uma participação de até 40% em linhas de financiamento para o setor privado.
Dívidas da zona do euro batem novo recorde
O Estado de S. Paulo
Por mais que governos tenham ampliado programas de austeridade nos últimos dois anos, dados oficiais revelam que a dívida das 17 economias da zona do euro bateu novo recorde e, no segundo trimestre, atingiu 90% do PIB da região.
Sem crescimento econômico, a Europa vem descobrindo que as metas para reduzir as dívidas estão cada vez mais distantes. No primeiro trimestre, a taxa de endividamento era de 88,2% do PIB. Os dados são da Eurostat, agência de estatística da Europa.
O atual índice é o maior desde a criação do euro, em 1999. Naquela ocasião, a UE estabeleceu que países não poderiam ter dívidas acima de 60% de seu PIB.
A situação mais dramática é da Grécia. Em seu quinto ano de recessão, o país já acumula dívida de 150,3% do PIB. No início do ano, a taxa era de 136,9%. Mas, sem crescer, gerar renda ou recolher mais impostos, o país vê a dívida aumentar, mesmo que o déficit fiscal comece a ceder.
O segundo país mais endividado é a Itália, com 126%, seguido por Portugal, com 117%. Na Irlanda, que recebeu a ajuda do FMI, a dívida passou de 108% do PIB para 111%. Dos 27 países do bloco, apenas seis reduziram suas dívidas. Até a dívida da Alemanha cresceu, de 81% para 82,8%.
Draghi
Ontem, em Berlim, o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, voltou a defender seu programa de compra de papéis das dívidas dos países aos deputados alemães, que resistem em usar dinheiro público para salvar países em dificuldade. Para os alemães, além de premiar a ineficiência na gestão, a medida ameaça gerar a volta da inflação na região.
Ontem, Draghi tentou explicar sua ação, numa campanha voltada à opinião pública local. “Não colocarei em perigo a independência do BCE, não se assumirá riscos excessivos para o contribuinte e não se promoverá a inflação.”
De olho nos eleitores alemães, partidos conservadores fizeram questão de transformar a visita de Draghi em plataforma política. Um grupo chegou a pedir a demissão de Draghi. Já os partidos de centro-esquerda questionaram as condições de Draghi para a compra de papéis.
Montadoras chinesas anunciam investimentos no país
O Globo
O Salão de Automóvel de São Paulo foi aberto ontem ao público em meio a anúncios de investimentos, sobretudo de fabricantes chineses, motivados pelo anúncio de incentivos do governo, por meio do programa Inovar-Auto. Apesar de a maioria dos representantes das montadoras não ter mencionado números precisos, a chinesa Changan (ex-Chana) confirmou o aporte de US$ 600 milhões em duas unidades, mas os investimentos dependem de negociações.
O presidente da BMW, Henning Doernbusch, também foi uma exceção, anunciando que a montadora vai investir ¬ 300 milhões em nova fábrica nos arredores de Joinville (SC), gerando três mil empregos diretos e indiretos para uma produção potencial de 30 mil unidades anuais. O número, porém, é considerado baixo para os padrões da indústria, mas o executivo rebateu afirmando que se trata de um planejamento inicial.
– Começamos na China com uma capacidade inferior a esta – disse Doernbusch.
suzuki mostra jipe nacional
Após uma entrevista coletiva em que executivos se confundiram com números, a Changan confirmou a abertura da unidade de Linhares (ES), onde será feita a linha de comerciais da marca Star, que inclui van, furgão e picape. Quanto à linha de Anápolis, para automóveis de passeio, Abdul Ibraimo, presidente da Districar, representante da marca, não foi categórico:
– Tem tudo para ser mantido o investimento.
Esta unidade da Changan receberá US$ 300 milhões em investimentos, e já foram até assinados acordos com o governo de Goiás. Mas a Changan espera mais definições do governo antes de anunciar quais modelos fará por lá. A fábrica capixaba, por sua vez, também terá aporte de US$ 300 milhões e poderá produzir até 70 mil unidades/ano. Mas a linha é uma joint-venture com a chinesa Haima e a sul-coreana SsangYong, com participação societária da Districar, que também representa essas duas marcas.
A Chery anunciou que sua unidade de Jacareí (SP) produzirá os compactos Celer. A fábrica tem capacidade para 150 mil unidades por ano e obteve investimentos de US$ 400 milhões.
A Nissan informou que a sede da marca japonesa será transferida para o Rio de Janeiro. Sua unidade de Resende produzirá os compactos March e Versa e um terceiro modelo a ser definido. Já a Suzuki aproveitou o salão para mostrar seu primeiro exemplar nacional: o Jimny. O jipinho começou a ser produzido em Catalão (GO), em um investimento de R$ 150 milhões e capacidade de apenas 7 mil unidades/ano.
Economia dos EUA tem ritmo moderado
O Estado de S. Paulo
O Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Federal Reserve Bank, o banco central dos Estados Unidos, manteve ontem sua avaliação sobre a economia do país, que está se expandindo em um ritmo “moderado”, e prometeu manter suas políticas de estímulo até que o mercado de trabalho melhore.
Os integrantes do Fomc reconheceram que houve uma alta nos gastos das famílias e um fortalecimento no mercado imobiliário, mas disseram que os programas de compras de ativos serão mantidos e voltaram a afirmar que as taxas de juros permanecerão em níveis mente baixos.
O Fed adotou uma terceira rodada de relaxamento monetário (QE3, na sigla em inglês) em setembro e planeja fazer uma avaliação sobre o programa de compras de ativos na última reunião deste ano, em 11 e 12 de dezembro. Os elaboradores de políticas ainda estão recolhendo evidências sobre a eficácia dos programas.
Dos 12 membros do Fomc, 11 votaram a favor de continuar com as compras de US$ 40 bilhões por mês em bônus lastreados em hipotecas. O único que votou contra foi o presidente do Fed de Richmond, Jeffrey Lacker. A medida é uma tentativa de impulsionar o mercado imobiliário e reduzir as taxas de juros de longo prazo, para incentivar os gastos e os investimentos.
O Fed manteve as taxas de juros de curto prazo entre zero e 0,25%, nível na qual elas estão desde o fim de 2008. Os integrantes do Fomc reiteraram que as taxas devem permanecer em níveis excepcionalmente baixos até pelo menos meados de 2015, mesmo que a recuperação econômica comece a acelerar. Essa previsão é parte dos esforços do Fed para reduzir as taxas de juros de longo prazo, que refletem parcialmente as expectativas dos investidores sobre a direção para qual as taxas de curto prazo estão se movendo.
União executa só 50% do investimento em rodovias
Valor Econômico
O governo não conseguiu apertar o acelerador dos investimentos públicos que havia planejado para o setor de transportes. Os desembolsos previstos para obras em rodovias, ferrovias e hidrovias, ações encaradas como principal antídoto contra a estagnação econômica, não decolaram na velocidade desejada. O ano de 2012 chega ao fim carimbado como uma das piores execuções orçamentárias do setor de transportes nos últimos tempos. Esse cenário é revelado a partir de informações do Sistema de Administração Financeira (Siafi). Os dados foram estruturados pela coordenação de infraestrutura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
O plano desenhado para as estradas federais previa a execução total de R$ 13,627 bilhões ao longo deste ano. Até esta semana, apenas 48,3% desse montante – R$ 6,581 bilhões – havia sido executado. O cenário projetado até 31 de dezembro é pouco estimulante. Se confirmada a média histórica dos últimos anos relativa aos desembolsos feitos no último bimestre, a projeção aponta para uma execução de apenas 57,9% do total previsto para as estradas federais, chegando a R$ 7,897 bilhões no ano. É preciso destacar ainda que quase 70% dessa execução deve-se, exclusivamente, à quitação de restos a pagar, ou seja, pagamento de contratos que foram firmados antes de 2012. Trata-se do resultado mais tímido registrado pelas rodovias desde 2008 (ver quadro).
A situação não é diferente nas ferrovias. O transporte sobre trilhos, que contava com R$ 2,751 bilhões para investimento neste ano, só recebeu R$ 740 milhões até agora, o que equivale a apenas 26,9% do planejado. Dada a média histórica de suas execuções anuais, chegará a 31 de dezembro com menos de um terço do total previsto, cerca de R$ 888 milhões, o pior resultado desde 2007, quando teve início o segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Mais complicada que a situação de estradas e ferrovias é a realidade encarada pelas hidrovias. As estradas de água, que já chegaram a ter um pacote de projetos idealizado pelo governo, acabaram praticamente excluídas das prioridades do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2). As ações para melhorar o transporte pelos rios começaram 2012 com previsão de R$ 817,6 milhões em investimento público. Chegaram a esta semana com execução de R$ 309 milhões (37,8% do total) e devem concluir o ano com, no máximo, 45,4% do previsto. Será o resultado mais fraco dos últimos oito anos.
“O governo iniciou o ano falando muito da necessidade de se ampliar os investimentos em infraestrutura, mas o cenário mostra, claramente, que ele não conseguiu deslanchar”, diz Carlos Campos, coordenador de infraestrutura econômica do Ipea.
O Ministério dos Transportes faz uma avaliação diferente deste cenário. Por meio de nota, a pasta declarou que, até o fim deste exercício, seu desempenho financeiro “se situará dentro da média anual de execução” do setor. “Cabe destacar que diversas obras prioritárias foram concluídas e outras de igual importância para o país estão em andamento, tais como a duplicação da BR-060/GO (Goiânia -Jataí) e a construção da BR-448/RS, BR-116/RS, BR-163/PA, empreendimentos cujo volume de execução é bastante satisfatório”, informou o ministério.
“Devem-se considerar ainda as novas obras de manutenção, construção, duplicação e adequação de capacidade que serão contratadas e que permitirão um grande avanço nos níveis de investimento”, declarou a Pasta dos Transportes, sem detalhar essas informações.
Segundo o ministério, o ano se valerá ainda dos resultados que vêm sendo alcançados com a “atuação destacada do Fundo da Marinha Mercante”, unidade vinculada à pasta, que vem promovendo o financiamento de embarcações para a Marinha Mercante. “Atualmente há 257 embarcações contratadas, além da geração significativa de empregos”, afirmou o ministério.
No ano passado, a execução de obras de transporte foi prejudicada por causa da crise de corrupção no setor, que explodiu em junho, levando à queda da cúpula do ministério e até à paralisação temporária, por determinação da presidente Dilma Rousseff, de contratações de obras públicas. “Esperava-se que neste ano os projetos retomassem o ritmo, mas uma série de problemas com a baixa qualidade de projetos de engenharia, a necessidade de fazer desapropriações e as dificuldades para obtenção de licenciamento ambiental impactaram no resultado”, avalia Carlos Campos, do Ipea.
Hoje, são raros os casos de obras do setor que não param nas malhas do Tribunal de Contas da União (TCU) ou do Ministério Público Federal (MPF). É o caso das prometidas obras de recuperação, restauração e manutenção das BRs 163 e 364, no Mato Grosso, principais rotas de escoamento da agroindústria do país. O orçamento total das obras chegava a R$ 247 milhões. Depois de analisar os editais e projetos, o TCU encontrou falhas nos estudos, que levariam a um superfaturamento superior a R$ 28 milhões. Nas duas rodovias, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) estimou uma largura média de dois metros para os acostamentos, mas o próprio projeto licitado apontava para uma medida inferior. A licitação acabou suspensa em março pelo Dnit. Na semana passada, a autarquia publicou um novo edital para contratação das obras. A concorrência será realizada por meio do Regime Diferenciado de Contratação (RDC), com o propósito de acelerar a execução. Alguns trechos da BR-163 têm obras em andamento.
Nas ferrovias Norte-Sul (FNS) e Oeste-Leste (Fiol), tocadas pela Valec, as obras pouco avançaram neste ano, por conta de problemas semelhantes, além de uma enorme dificuldade para desembaraçar o nó de milhares processos de desapropriações que se situam no traçado dos trilhos.
Grécia anuncia mais 2 anos para pagar as contas
O Estado de S. Paulo
O governo grego anunciou que o país ganhou mais dois anos para pôr as contas em ordem e que um pacote de ajuda estaria prestes a ser liberado. Mas líderes europeus classificam a declaração como “especulação”, enquanto a Alemanha sugere que Atenas seja colocada sob tutela internacional, adiantando que só aprovaria um acordo depois de ver os relatórios preparados pela troica, grupo formado pela Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional (FMI). Pelo projeto, os gregos terão de demitir 25 mil funcionários públicos em menos de dois anos.
Caminhando para o sexto ano de recessão seguido, com a economia encolhendo quase 20% nesse período, os gregos têm tido sérios problemas para reduzir as dívidas. Pelos acordos com Bruxelas, as contas do país teriam de estar nos limites estabelecidos pela Europa até 2014.
A confusão em torno da ajuda para a Grécia começou ontem quando o ministro de Finanças Yannis Stournaras anunciou que a extensão do prazo para 2016 havia sido aprovada. Com isso, os novos cortes nos gastos públicos para os próximos dois anos seriam de 13 bilhões, e não 18,5 bilhões como inicialmente estabelecido. Além disso, a Grécia receberia uma parcela de ajuda internacional de 31 bilhões, dinheiro que evitaria a falência do país.
Para o governo grego, um novo corte de gastos, salários e demissões no ritmo que pediriam os europeus acabaria de sufocar a economia local, com efeitos políticos e sociais profundos. Hoje, 25% da população está sem trabalho. O pacote seria votado pelo Parlamento na semana que vem. “Conseguimos a extensão”, declarou Stournaras aos deputados. Segundo ele, a informação seria divulgada hoje aos ministros da zona do euro.
Dúvida
No restante da Europa, a declaração do ministro foi recebida com hesitação. O presidente do BCE, Mario Draghi, disse que nada havia sido finalizado. “Progressos foram feitos. Mas algumas partes precisam ser definidas.” Para o ministro de Finanças da Alemanha, Wolfgang Schaueble, foi categórico: “Isso é especulação. Não posso confirmar nada ainda”.
Um acordo sobre o pacote é considerado fundamental nos esforços da Grécia para desbloquear novas parcelas do resgate que recebeu de Bruxelas, principalmente diante da constatação de que o governo pode ficar sem dinheiro para pagar suas contas em meados de novembro.
No início do ano, o segundo resgate incluía um perdão da dívida grega de 106 bilhões. Mas com o fracasso no processo de privatização para levantar recursos e a recessão, membros do próprio governo já indicam que a Grécia pode precisar de um terceiro pacote de ajuda.
Intervenção
A imprensa grega revelou ontem documentos internos do governo alemão indicando que a Grécia poderia ser colocada sob tutela internacional, com suas contas controladas por Bruxelas. Para aprovar qualquer novo envio de dinheiro aos gregos, o Ministério de Finanças da Alemanha sugere na prática uma suspensão da soberania financeira de Atenas. Parte da receita do governo grego com impostos, segundo o projeto, iria diretamente para uma conta fora do controle do Estado.