‘Efeito Argentina’ pode tirar 0,5 ponto do PIB brasileiro
O tombo das exportações para a Argentina pode tirar até 0,5 ponto percentual do crescimento brasileiro neste ano, contando os efeitos diretos e indiretos. De janeiro a setembro, as vendas para o país vizinho recuaram 20,2% em relação ao mesmo período de 2011, devido à combinação das barreiras comerciais implementadas pelo governo argentino e da forte desaceleração da economia. O consenso aponta hoje para uma expansão na casa de 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2012.
A LCA Consultores estima que o impacto direto do mergulho das exportações para a Argentina deve “roubar” 0,2 ponto do PIB brasileiro em 2012. Os efeitos indiretos sobre investimento, emprego e renda podem tirar mais 0,3 ponto, diz o economista-chefe da LCA, Bráulio Borges. Para o diretor do Departamento de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Giannetti da Fonseca, a forte queda das exportações para a Argentina fará o crescimento brasileiros ser 0,3 a 0,4 ponto menor neste ano.
Os dois ressaltam a importância da Argentina como destino de bens manufaturados brasileiros. “Em 2011, a Argentina comprou 22% dos manufaturados vendidos pelo Brasil”, diz Borges, apontando o efeito multiplicador do setor manufatureiro sobre o resto da economia, dado o maior valor agregado desses produtos.
Para calcular quanto o recuo das exportações para a Argentina tende a “roubar” de crescimento do PIB brasileiro neste ano, Borges considerou que as vendas externas brasileiras vão manter em 2012 inteiro o mesmo ritmo de janeiro a setembro. Nesse período, as exportações para a Argentina, em valor, recuaram os já mencionados 20,2%, enquanto as vendas para o resto do mundo, excluindo as destinadas ao país vizinho, caíram 3,5%. “Se as exportações para a Argentina tivessem neste ano o mesmo ritmo das vendas para os outros países, as exportações totais teriam uma variação 1,5 ponto percentual maior do que de fato terão.”
Para a contabilidade do PIB, o que importa são os volumes, mas por enquanto só há informações sobre quantidades exportadas no primeiro semestre deste ano. Nesse período, o volume exportado para a Argentina caiu 15,8% em relação ao primeiro semestre de 2011, sendo o grande fator que explica o tombo de pouco mais de 15% do valor das vendas – os preços tiveram alta de 0,7%, segundo a Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex)
Nos seus cálculos, Borges considerou para 2012 um recuo de 20% do volume exportado para a Argentina e de 3,5% para o conjunto dos outros parceiros, por entender que quase toda a queda das vendas se deve a quantidades menores, e não ao movimento de preços. Levando em conta que as vendas externas de bens representam cerca de 90% das exportações totais de bens e serviços, que têm peso de 11,9% no PIB, ele chega a um impacto direto negativo de 0,2 ponto sobre o crescimento neste ano. “Mas esse é apenas efeito direto, que ignora os impactos sobre o resto da economia e o fato de que as exportações para a Argentina têm valor agregado elevado. O impacto indireto pode chegar a 0,3 ponto”, diz Borges.
Para Giannetti, os analistas superestimam os efeitos do crescimento menor da China sobre o Brasil, deixando em segundo plano o impacto do tombo das exportações para a Argentina, um grande comprador de manufaturados.
Depois de crescer 8,9% em 2011, a economia argentina deve avançar 2,6% neste ano, segundo o FMI. Para explicar o recuo das exportações brasileiras, Giannetti ressalta o peso das restrições impostas pelo país vizinho, que enfrenta problemas no balanço de pagamentos. Segundo ele, há empresários que viram seus produtos levar até 250 dias para entrar na Argentina.
Arrecadação cai e ameaça cumprimento de meta fiscal
Valor Econômico
As medidas adotadas pelo governo federal para estimular o crescimento econômico ainda não trouxeram os resultados esperados e a arrecadação de impostos e tributos apresentou em setembro a quarta queda real consecutiva. No mês passado, a Receita Federal do Brasil recolheu R$ 78,215 bilhões em impostos, uma redução real (corrigida pelo IPCA) de 1,08% em relação a setembro de 2011. No acumulado do ano, a arrecadação somou R$ 751,791 bilhões, uma expansão real de 1,19% ante mesmo período de 2011.
O desempenho abaixo das expectativas levanta dúvidas sobre o cumprimento da meta de superávit primário, não só para este ano como também para 2013, porque os gastos do governo federal não param de crescer. O Banco Central, assim como o Ministério da Fazenda, acreditam numa recuperação da economia e, consequentemente, da arrecadação em 2013. A grande discussão, no entanto, é a política fiscal. Se ela se mantiver frouxa, segundo uma fonte de mercado, deve pressionar a inflação e, consequentemente, a taxa básica de juros (Selic), atualmente de 7,25% ao ano.
O secretário da Receita Federal, Carlos Alberto Barreto, defende que o impacto da medidas de estímulo deve aparecer nos próximos meses. Neste ano, segundo ele, a desaceleração econômica, que reduziu a lucratividade das empresas, e as desonerações feitas pelo governo foram responsáveis pela baixa da arrecadação.
O desempenho das receitas em dezembro vai ajudar o desempenho da arrecadação de janeiro. “Há uma defasagem de 30 dias, uma parte passa para o ano seguinte”, disse Barreto. O secretário projeta que o crescimento real de arrecadação será de apenas 1,5% em 2012, número que pode ser revisto em novembro.
O coordenador de previsão e análise da Receita Federal, Raimundo Eloi de Carvalho, disse sexta-feira que a arrecadação de impostos em setembro frustrou as expectativas, mas isso, segundo ele, não significa que a previsão de crescimento de 1,5% não será cumprida.
Segundo dados da Receita, a desoneração da folha de pagamento provocou uma baixa na arrecadação de R$ 1,7 bilhão entre janeiro e setembro na comparação com 2011. O maior impacto, de R$ 600 milhões, foi justamente nas contas de setembro, quando mais 11 setores foram beneficiados. Agora são 15. Em 2013, essa pressão continuará, pois mais 25 setores serão beneficiados.
A arrecadação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre automóveis somou R$ 3,343 bilhões no acumulado de janeiro a setembro, o que representa queda real de 41,45% ante igual período de 2011. O resultado é justificado pela redução do IPI de carros, adotada pelo Ministério da Fazenda em maio para estimular as vendas. Na semana passada, a presidente Dilma Rousseff anunciou a segunda prorrogação do benefício, agora válida até 31 de dezembro.
BNDES negocia com o governo o uso do Fundo Soberano para se capitalizar
O Estado de S. Paulo
Irrigado este ano com R$ 40 bilhões em empréstimos do Tesouro Nacional, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) começou a negociar com o governo uma capitalização efetiva para o início de 2013. Ao contrário dos recursos repassados como financiamento de longo prazo pelo Tesouro – R$ 285 bilhões autorizados desde 2009, dos quais R$ 270 bilhões já repassados -, o banco de fomento pleiteia o repasse de ações de estatais do Fundo Soberano Brasileiro (FSB).
Os papéis ingressariam no BNDES como capital efetivo, elevando o patrimônio de referência, usado como parâmetro para definição do limite de empréstimo a cada empresa ou projeto. No último balanço divulgado, o patrimônio de referência do BNDES é de R$ 94,041 bilhões.
O banco pode correr o risco de emprestar até 25% desse valor (R$ 23,5 bilhões) para apenas um projeto ou grupo empresarial. O governo já abriu exceções a esses limites, nos empréstimos aos setores de petróleo, mineração e elétrico, permitindo financiamentos maiores a Petrobrás, Vale e grupo Eletrobrás.
Segundo fontes ouvidas pela Agência Estado, a Caixa Econômica Federal, já capitalizada dessa forma em agosto, com R$ 1,5 bilhão em ações da Eletrobrás, estaria também reivindicando nova operação do tipo.
O BNDES também já recebeu recursos de forma semelhante. No início do mês, o banco incorporou no estatuto social um aumento de capital de R$ 6,783 bilhões, em operações de 2010 e 2011, com repasse de ações da Petrobrás. O capital social do BNDES é de R$ 36,340 bilhões.
Fundo
Administrado pelo Tesouro, o FSB detém ações de empresas como Eletrobrás, Petrobrás e Banco do Brasil. No caso do BNDES, o repasse de ações do BB seria de pouca serventia, pois não podem ser incluídas no patrimônio de referência, por ser tratar de instituição financeira.
A reivindicação do BNDES não é vista como urgente. Na verdade, a diretoria do banco tem negociação permanente pela capitalização. Nos últimos três anos, o Tesouro, único acionista do banco, repassa os empréstimos, mas não resolve em definitivo as necessidades do banco.
As operações do Tesouro com BNDES, Caixa e Banco do Brasil tiveram início como medida de exceção, no auge da crise internacional, mas se tornaram tática recorrente. Com a estratégia, o Tesouro capta recursos com emissão de títulos de dívida, em vez de retirá-los do Orçamento. Assim, aumenta a capacidade de emprestar dos bancos sem afetar o superávit primário (sem levar em conta juros da dívida) das contas públicas. O aumento de capital com ações da Petrobrás também preserva o superávit.
Porém, a estratégia gera custos: como a taxa paga pelo governo nos títulos é superior à cobrada pelo BNDES nos financiamentos, o governo sai perdendo na operação. Por isso, têm sido alvo de críticas de economistas. Há duas semanas, em palestra no Rio, o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco chamou a atenção para “um exagero de criatividade” do governo e classificou os artifícios contábeis de “quase pornográficos”.
Segundo o economista Mansueto Almeida Jr., especialista em contas públicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o estoque de dívida repassada aos bancos públicos chega a R$ 400 bilhões desde 2007 e já virou uma “bola de neve”. Ao “transformar parte da dívida em receita primária”, a estratégia não deixa claro o cálculo de custos e benefícios. “É mais fácil no Brasil construir o trem-bala do que aumentar os gastos com saúde e educação.”
Brasil é um dos líderes protecionistas, diz estudo
O Estado de S. Paulo
O Brasil foi um dos países que lideraram o movimento protecionista no mundo em 2012, adotando uma série de barreiras comerciais que acabaram afetando diversos setores da economia. O alerta faz parte de um levantamento realizado pela ONU, OCDE e OMC, a pedido do G-20.
Num esforço de identificar o comportamento dos governos diante da crise e monitorar a situação do comércio mundial, as entidades estimam que as pressões protecionistas têm crescido em todos os continentes e o informe também não deixa de apontar para a Europa como uma das regiões que têm contribuído para o protecionismo. O que também preocupa é que as barreiras, que prometiam ser temporárias, começam a se perpetuar.
O levantamento será publicado nessa segunda-feira, simultaneamente em Paris e Genebra. Mas partes de uma versão preliminar à qual o Estado obteve acesso revelam a preocupação das entidades em relação à incapacidade de a economia mundial voltar a se recuperar e o impacto disso para o comércio e investimentos.
Na avaliação da OMC, a expansão do comércio mundial será de no máximo 2,5% em 2012, depois de rever para baixo em duas vezes a previsão. Diante ainda de um desemprego recorde em vários países, a estimativa da entidade é de que governos continuam sofrendo pressões de setores atingidos para que sejam protegidos da concorrência estrangeira.
No caso brasileiro, medidas como a elevação de taxas de importação e programas para dar privilégios à produção nacional são listados como exemplos de atitudes contrárias à liberalização.
O Itamaraty insiste que elevar as tarifas aos níveis que legalmente tem direito na OMC não representa uma violação das regras internacionais e aponta que o País está apenas usando o espaço de política pública a que tem direito pelas regras.
Queixas
O que países ricos se queixam é de que, no âmbito do G-20, o Brasil firmou com os demais governos um compromisso para não elevar barreiras. Diplomatas europeus e americanos já se queixaram, em reuniões fechadas com o governo brasileiro, das novas medidas do País. Outros, como Canadá e Japão, preferiram atacar as barreiras em reuniões na OMC.
Num estudo que será também publicado nos próximos dias pela entidade Global Trade Alert, financiada pelo Banco Mundial, o Brasil aparece com um dos países que menos visaram as empresas estrangeiras ao adotar barreiras comerciais, pelo menos entre as sete maiores economias do mundo. Japão e Europa estariam entre aqueles que mais medidas tomaram que acabam discriminando empresas estrangeiras. Esse grupo adotou quase 900 das 1,5 mil barreiras comerciais criadas por governo desde a eclosão da crise internacional, em 2008.
Impacto
Outra constatação é que, desde 2008, pelo menos 3% do comércio mundial foi afetado por medidas protecionistas e políticas que governos prometiam que seriam temporárias acabaram se consolidando como novas realidades.
Em termos de investimentos, o levantamento chama a atenção para a proliferação de medidas protecionistas. “Vemos com preocupação o aumento de medidas relacionadas aos investimentos com um cunho nacionalista”, afirmou James Zhan, diretor do Departamento de Investimentos da Unctad e um dos responsáveis pela elaboração do levantamento.
Sobre a decisão do governo brasileiro de ampliar o prazo para a redução do IPI pelo menos até o final do ano, Zhan estima que o “julgamento ainda está em aberto” para determinar se o impacto será positivo ou não. “Temos visto várias empresas anunciarem que vão investir no Brasil na produção de veículos”, disse. “Eu classifico esses investimentos como uma espécie de estratégia para saltar as barreiras impostas.”
BMW e Volvo foram algumas das montadoras que anunciaram investimentos em produção no Brasil. No primeiro semestre do ano, a ONU constatou que o fluxo de investimentos no mundo caiu em 8% diante da desaceleração da economia mundial. Zhan, porém, alerta que o principal fator que vai determinar o fluxo no médio prazo de investimentos é a proliferação de medidas nacionalistas por governos.
Crédito pode crescer 16,3% em 2013
Valor Econômico
Se o ano que vem promete uma melhora significativa do crescimento da economia em relação a 2012, o crédito, por enquanto, não parece que terá um desempenho tão superior. A projeção de 31 instituições financeiras ouvidas pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) é que o avanço do estoque será de 16,3% em 2013. Nos 12 meses encerrados em setembro, o crédito cresceu 15,8%.
Ainda que sugira certa estabilidade, economistas apontam em uma diferença crucial para o cenário de crédito do ano que vem: que a inadimplência, enfim, mostrará tendência de queda, ainda que o recuo seja modesto. Por enquanto, porém, isso custa a se firmar. A taxa de atrasos acima de 90 dias em setembro foi de 5,9%, patamar em que resiste há três meses.
“A redução da inadimplência tem demorado mais do que se esperava. Nossa expectativa é que ela fique clara no quarto trimestre e no primeiro do ano que vem”, avalia Maurício Molan, economista-chefe do Santander, que trabalha com estimativa de avanço de 15% a 20% do crédito no médio prazo.
Ele afirma que na medida em que os spreads de crédito brasileiros se aproximem dos padrões internacionais, a tendência é que a taxa de inadimplência faça o mesmo, e que as variáveis reforcem a queda uma da outra. “Estamos no início de um processo permanente de redução da inadimplência.”
“A inadimplência está se acomodando, mas a redução depende também de uma retomada do ritmo de concessão do crédito”, diz Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi, associação que reúne as financeiras. “Sem novas concessões, o estoque leva mais tempo para se renovar e a inadimplência demora para cair”, afirma. Para ele, essa é a explicação dos bancos terem ampliado esforços de renegociação de dívidas nos últimos meses.
Cálculos da LCA Consultores apontam que a média diária das concessões de crédito com ajuste sazonal atingiu R$ 9,3 bilhões em setembro. O dado representou uma queda de 1,9% ante agosto, completando o terceiro resultado negativo seguido. Na pessoa física, o recuo das concessões foi de 3% em setembro, após ajuste.
A LCA, que estima crescimento de 16,5% do crédito no ano que vem, trouxe uma das poucas boas notícias recentes do crédito. Em agosto, pela primeira vez desde a segunda metade de 2011, os setores do comércio varejista ligados ao crédito tiveram desempenho superior àqueles ligados à renda.