Meta de superávit não será atingida este ano

Governo vai abater do resultado parte dos investimentos realizados no PAC e do Minha Casa, Minha Vida; tamanho do desconto ainda não está definido

A meta cheia de superávit primário do setor público, de R$ 139,8 bilhões, não será cumprida este ano, informou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em entrevista ao “Estado”. O governo vai abater do resultado parte dos investimentos realizados no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do Minha Casa, Minha Vida. O tamanho do desconto ainda não está definido.

Essa é a primeira vez que o ministro admitiu que não conseguirá atingir o esforço fiscal previsto. “De fato, está ficando mais difícil fazer a meta cheia de superávit primário em 2012.”

Mantega disse que três fatores levaram o governo a desistir de buscar a economia prevista para pagar os juros sobre a dívida pública: frustração da arrecadação, desoneração de tributos de R$ 45 bilhões até o fim do ano e dificuldade de Estados e municípios de fazerem a sua parte do primário. “Com essas três variáveis, já podemos concluir o abatimento da meta. Só saberemos (de quanto) em dezembro. Em outubro teremos um bom desempenho fiscal, mas, mesmo assim, não vamos fazer a meta cheia a qualquer custo.”

Conforme antecipou o Estado, desde o mês passado o governo abandonou a meta cheia e passou a considerar a possibilidade de usar o mecanismo legal que permite tirar da conta de despesas parte dos gastos com investimentos.

A equipe econômica concluiu que o superávit primário cheio já foi importante no passado para dar credibilidade internacional ao Brasil e permitir a queda da taxa básica de juros (Selic) no Brasil. Mas agora, com a economia patinando e os juros no menor patamar da história, usará o instrumento para não ter de sacrificar os investimentos.

Críticas

Os críticos do abatimento da meta argumentam que a medida pode jogar mais dinheiro no mercado e ter impacto na inflação. Mas, ainda assim, muitos analistas já admitem que essa é a saída em momento de crise internacional. Mantega fez questão de destacar que a decisão não significa mudança na política fiscal. “O governo continuará buscando metas e, fundamentalmente, a redução do déficit, que é nominal, e da dívida pública, objetivos perseguidos desde o início do governo Lula, desde que me tornei ministro da Fazenda.”

O ministro disse que 2012 é um ano excepcional e exige ações anticíclicas. Segundo ele, se não houvesse uma desoneração expressiva não seria necessário usar o abatimento. Ele garantiu, no entanto, que não abandonou o tripé macroeconômico – câmbio flutuante, política fiscal e meta de inflação. E disse que não há flexibilidade na meta de inflação ou na solidez fiscal, embora tenha admitido que o câmbio é administrado para não prejudicar a indústria. “Continuamos pregando no deserto pelo câmbio flutuante, mas os outros não estão nos ouvindo.”


A nova indústria da seca

O Globo

No Nordeste, benefício a agricultores é alvo de fraudes como cadastro irregular de servidoresCEDRO (CE) Francisco Romão da Silva, de 64 anos, vai devagar até uma das paredes da casa feita de taipa. Pega três garrafas PET que guardam grãos de feijão e fava, e as coloca no chão, na frente da equipe do GLOBO.

– Consegui tirar isso aqui – é a resposta do agricultor ao ser perguntado o que ele queria dizer quando afirmava ter perdido “tudo” com a seca que atinge o Ceará este ano.

Romão mora com a mulher e os quatro filhos em Cedro (CE), a cerca de 400 quilômetros de Fortaleza, no semiárido. Vivem com R$ 204 do Bolsa Família e mais uma aposentadoria por invalidez – há seis anos, o agricultor teve um AVC. Apesar da perda com a estiagem, até meados deste ano Romão afirmava não receber, há mais de dois anos, o Garantia Safra, benefício que o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) paga a agricultores familiares com renda familiar mensal de até 1 salário mínimo e meio, em municípios que perderam no mínimo 50% da produção com a seca.

Enquanto isso, em Cedro, o ex-secretário municipal de Agricultura e o ex-coordenador do Conselho Municipal de Desenvolvimento Social (CMDS), órgão que cuida da execução do programa lá, são réus em ação que corre na Justiça Federal, acusados de cadastrar beneficiários irregulares no programa – como servidores públicos, fornecedores da prefeitura ou prestadores de serviços a ela. As denúncias também foram alvo de operação da Polícia Federal e da Controladoria Geral da União com os MPs estadual e Federal.

Tema da terceira reportagem de série sobre fraudes em ações para o público do plano Brasil Sem Miséria que O GLOBO publica desde domingo, as denúncias são exemplo de que, apesar de novos projetos, o público-alvo desses programas sofre com irregularidades que revivem antiga tradição: a exploração da chamada indústria da seca.

Candidato à reeleição, o prefeito de Cedro, João Viana (PP), teve a candidatura barrada pela Lei da Ficha Limpa, ao ter contas de gestões anteriores reprovadas, e aguarda análise, pelo plenário do TSE, de recurso da oposição ao deferimento do registro de sua candidatura. Como o outro candidato, Francisco Nilson (PSB), que teve o maior número de votos (51,41%), também foi pego pela Ficha Limpa por contas rejeitadas, e também espera decisão do TSE, Cedro corre o risco de ter de passar por nova eleição.

Em fevereiro de 2011, a cidade viu agentes da PF, em conjunto com CGU e MP, realizarem buscas e apreensões em residências de servidores públicos, empresários e na prefeitura. Era a Operação Conífera, que constatou 163 cadastrados irregulares, como “secretários municipais, servidores municipais e seus parentes, arrendatário de hotel na cidade, comerciantes fornecedores da prefeitura”. Segundo a CGU, os acusados podem ser condenados por estelionato, formação de quadrilha e corrupção ativa e passiva.

Já a ação civil pública na Justiça Federal é por improbidade administrativa. Segundo o promotor de Cedro Leydomar Pereira, responsável pela ação inicial no MP estadual, após denúncia de vereadores da oposição, os réus da ação são Paulo Afonso de Lima e Silva Júnior, que era o presidente do CMDS; Francisco Alberto Fernandes de Sousa, que era secretário municipal de Agricultura e que se elegeu vereador este ano pelo PP; Fernando Borges de Souza, filho de Francisco Alberto e que assumiu a secretaria por um período quando o pai saiu candidato a vereador em 2008; e José Mendes de Lima, servidor da Agricultura “que tinha familiares que supostamente prestavam serviços para a prefeitura cadastrando pessoas para o Garantia Safra”.

– Eram funcionários fantasmas. Recebiam o salário sem ir ao trabalho – diz o promotor.

Após a Conífera, foi criada na cidade comissão para acompanhar os cadastros de beneficiários de 2010 e 2011, segundo vereadores da comissão. Mesmo com a nova comissão, porém, os cadastros continuam passando pelo crivo do CMDS e pela Secretaria de Agricultura.

Há 20 anos entregando água nas casas da cidade com uma carroça, Antônio Garcia, de 59 anos, é outro agricultor que diz não receber o Garantia Safra “faz anos”. No mesmo caminho para o poço onde Garcia ia pegar água, vinha o agricultor João Cordeiro:

– Já tentei me cadastrar três vezes – diz Cordeiro, sem o benefício pelo menos até julho.

Outro agricultor, Francisco Cleilson Lima diz ter pago pela adesão ao programa para as safras 2008/2009 e 2009/2010, e não ter chegado nenhum benefício até agosto deste ano.

Ao receber O GLOBO, o prefeito de Cedro negou todas as acusações sobre as supostas irregularidades na sua gestão. E disse que, no lugar de Paulo Júnior, quem respondia pelo CMDS agora era Maria Anamélia Castro, agente de Saúde. Mas foi Paulo Júnior quem o prefeito chamou para acompanhar a entrevista e para responder ao GLOBO sobre o programa.

– O que pode ter sido é que a pessoa (cadastrada) não é agricultor, mas tem marido agricultor, por exemplo. Não pode impedir ninguém de se cadastrar; se você se nega a cadastrar, cria um problema na comunidade – disse Paulo Júnior, ao lado do prefeito. – Então, pensamos, vamos cadastrar todos, e depois excluir quem não for (do perfil). Mas é ruim o relatório de exclusão.

Perguntado sobre as acusações de que servidores ou fornecedores da prefeitura estavam entre os beneficiários, e se, nesse caso, a prefeitura já não saberia que essas pessoas não eram do perfil do programa, Paulo Júnior respondeu:

– Isso é muito subjetivo. Não é todo mundo que conhece todo mundo.

para o mda, irregularidades em 2% dos casos

Este ano, no Ceará, as perdas de produção agrícola com a seca já são de 70,3% da produção, segundo Walmir Severo, diretor técnico da Emater-CE. As previsões é que só volte a chover no Ceará a partir de janeiro. Cerca de 240 mil agricultores receberam benefícios do Garantia Safra no Ceará em 2012, quando o estado teve, de verba federal do programa, R$ 163,1 milhões.

No Garantia Safra, cada agricultor recebe cinco parcelas que no total, na safra 2011/2012, somam R$ 680 (mais as duas parcelas extras anunciadas ontem pela presidente Dilma Rousseff, o total vai a R$ 952); segundo o governo do Ceará, em 2013 o valor total no estado será reajustado para R$ 760. O Garantia Safra é pago com dinheiro de um fundo no qual entra verba federal, estadual, municipal e dos agricultores, que dão contribuição de R$ 6,90 por safra pela adesão.

O MDA afirmou que Cedro começa a receber o Garantia Safra este mês, e que as investigações na cidade não afetam o pagamento lá. Segundo o MDA, “ao longo de 8 anos foram encontrados 2% de possíveis inscritos irregulares” no programa no país: “se todos os 10.721 agricultores que estão sob análise não preencherem os requisitos de enquadramento no programa, o volume do potencial pagamento irregular pode chegar a cerca de R$ 12,6 milhões”.

A pasta destaca que “toda a aplicação do Garantia Safra é fiscalizada. A fiscalização inicia na inscrição dos potenciais beneficiários, nas comunidades rurais, no interior dos municípios. Nesse momento, técnicos da Assistência Técnica e Extensão Rural, das secretarias municipais de Agricultura, dos conselhos municipais e estaduais, fazem entrevista com os agricultores. Além disso, disponibilizamos relatórios públicos para que qualquer cidadão com acesso à internet possa fazer o acompanhamento do que acontece.”

Com orçamento em 2011 de R$ 180 milhões, o Garantia Safra já pagou este ano, pela safra 2011/12, benefício para cerca de 696 mil agricultores de 918 municípios no país.


Eleições nos EUA: Cenário imprevisível em país polarizado

O Globo

As vozes de Barack Obama e Mitt Romney ficaram roucas antes de que eles pudessem ter certeza de haver convencido a maioria dos americanos de que seu projeto para o país é o certo. Após US$ 2 bilhões em gastos e 318 dias de campanha, o presidente e seu rival republicano chegam hoje à eleição mais polarizada dos últimos 30 anos empatados estatisticamente: 48,5% para Obama, 48,1% para Romney. E diante da disputa apertada, o desafiante decidiu, numa manobra rara nos EUA, estender a campanha até hoje. Em vez de passar todo o dia em Massachusetts, onde vive, Romney vai visitar – mais uma vez – o disputado Ohio e a Pensilvânia. O presidente, por sua vez, teria pedido a um ex-assistente, Reggie Love, para organizar uma partida de basquete em Chicago neste dia de votação, uma espécie de ritual da sorte.

A disputa com divisões ideológicas profundas, na qual até a passagem do furacão Sandy acentuou visões opostas sobre o papel do governo, pode acabar decidida nos detalhes: o grau de comparecimento às urnas; o acerto na estimativa de mudanças demográficas e até, no pior dos cenários, a capacidade de vencer batalhas legais nos locais onde a margem for mais apertada.

REPUBLICANO FAZ DISCURSO DO “AMANHÔ

Oficialmente, a campanha começou no dia 3 de janeiro, na prévia republicana de Iowa, mas, na prática, Obama e Romney estão em campo desde o início de 2007, há quase seis anos, quando ambos se lançaram na empreitada da preparação para as primárias de 2008. A máquina de campanha que Obama montou e aperfeiçoou minuciosamente nos últimos quatro anos é o maior motivo da confiança exalada por seus assessores nos últimos dias. Segundo Jim Messina, coordenador da campanha pela reeleição, o exército de voluntários e funcionários atingiu, com visitas de porta em porta ou telefonemas (sem contar, ligações automatizadas) a incrível marca de 125.646.479 contatos com eleitores, o que equivale a abordar diretamente mais de um terço da população de 310 milhões de pessoas.

Para vencer hoje, um dos candidatos precisa alcançar 270 votos no Colégio Eleitoral. O ligeiro favoritismo de Obama vem da vantagem, ainda que por pequenas margens, na maioria dos estados onde a situação ainda está indefinida: Ohio, Wisconsin, Nevada, Colorado, Iowa, New Hampshire e Virgínia. Romney, por sua vez, está na dianteira na Flórida, o maior dos estados-pêndulo, com 29 votos, na Carolina do Norte, e aposta na virada em todos os outros estados – já que quase todas as pesquisas estão dentro da margem de erro. Romney demonstra estar disposto a lutar até o último minuto por uma vitória que passou a estar a seu alcance, mais claramente, depois da vitória estrondosa no primeiro debate na TV, no dia 3 de outubro. Somente ontem, correu uma minimaratona por quatro estados: Flórida, Ohio, Virgínia e New Hampshire.

– Amanhã, nós começamos um novo amanhã, um amanhã melhor. Tenho uma mensagem clara e inequívoca: com a liderança correta, os EUA vão explodir de novo. Somos americanos; podemos fazer qualquer coisa – disse Romney em comício em Sanford, na também superdisputada Flórida.

Remando contra uma tsunami de anúncios da campanha democrata que, durante os meses do verão americano (de junho a setembro) o caracterizaram como um plutocrata sem coração que roubava empregos de trabalhadores para transformá-los em lucros para sua firma, a Bain Capital, Romney apresentou-se no debate como um empresário bem-sucedido e competente, o Mr. Fix-It, um Senhor Conserto, capaz de dar jeito na economia, em crise desde o último presidente republicano George W. Bush. Apresentou um plano de cinco pontos, mas não conseguiu enrolar os observadores: a reprovação à falta de detalhes e de clareza nos projetos de ambos os candidatos foi a crítica mais recorrente da campanha. Nenhum dos dois foi específico em seus planos ou particularmente inspirador ao apresentar sua visão para o futuro dos EUA.

Aparentemente, a longa e extenuante campanha serviu para aprofundar divisões e diminuir consensos. Obama entrou para a História em 2008 não apenas como o primeiro presidente negro, mas também por obter 52,9% dos votos, tornando-se um dos únicos quatro democratas a ultrapassar a marca dos 50%. Bill Clinton chegou, no máximo, a 49,2%, e John Kennedy teve 49,7%. Mas, quando terminar a contagem dos votos de hoje, ele pode ingressar em uma galeria bem menos nobre daquela em que entrou depois da campanha da “mudança” e da “esperança”: a dos presidentes que tiveram menos votos na campanha pela reeleição e/ou a dos presidentes de um mandato só. Nos últimos comícios, quando finalmente deixou a emoção aflorar, Obama reivindicou novamente a liderança.

– Eu lutei pela verdadeira mudança. Tenho as cicatrizes que comprovam isso, tenho os cabelos brancos que comprovam isso – disse ele em New Hampshire, no sábado.

DEMOCRATA ENCERRA COM SHOWMÍCIOS

Ontem, os últimos esforços de Obama ganharam ares de showmício em três estados. Em Wisconsin, o roqueiro Bruce Sprinsgteen recebeu o presidente no palco com um caloroso abraço. Em Columbus, Ohio, a tarefa ficou por conta do rapper Jay-Z, e em Iowa foi a vez de a primeira-dama, Michelle, reforçar o palanque em Des Moines.

– Nós progredimos, Ohio, mas há mais trabalho por fazer. Nossa tarefa ainda não terminou. Nós estamos todos juntos nisso. Vamos subir ou cair como uma nação, um povo – disse ele na capital do estado mais disputado deste pleito.

O presidente se bateu quatro anos com as condições adversas causadas pela crise financeira de 2008, que custou o mandato a quase todos os governantes ocidentais com quem contracenou, de Nicolas Sarkozy a Silvio Berlusconi, dos primeiros-ministros do Reino Unido ao do Japão. Se perder, o ex-presidente George W. Bush encabeçará a lista dos vilões do Partido Democrata. Outros culparão a teimosia de Obama em investir na reforma da saúde quando o país só se preocupava com empregos, sua incompreensível deficiência na comunicação com o povo ao longo de quatro anos, o dinheiro dos Super PACs que irrigou a campanha republicana (mas também a democrata).

Se Romney perder, alguns botarão a culpa no furacão Sandy, que teria desviado atenções e contido o ímpeto de ascensão do republicano. Mas o principal vilão será o próprio candidato, considerado moderado demais por alguns, ou a pessoa certa na hora errada, um milionário de Wall Street na era do “Somos os 99%”. Para conquistar um Partido Republicano cada vez mais conservador, Romney disse que os imigrantes deveriam praticar a autodeportação. Queria derrotar o governador do Texas, Rick Perry, mas acabou perdendo o voto dos latinos. As pesquisas mostram que os imigrantes de origem hispânica preferem Obama numa proporção de 70%. Se comparecerem em massa, eles podem decidir hoje as eleições em vários estados. Em assuntos como aborto, reforma da saúde, energia limpa, Romney fez um ziguezague de posições que levou o jornal “Financial Times” a endossar, em editorial publicado ontem, a reeleição de Obama: “A persona mutante de Romney se baseia mais em pesquisas de mercado do que em qualquer filosofia política”.

Em entrevista à revista “Rolling Stone” que acaba de chegar às bancas, Obama deixou o tom cuidadoso e falou das mudanças do adversário, chamando-o de bullshiter (mentiroso):

– Se você não consegue dizer “não” a certos elementos de seu partido, se você não tem princípios pelos quais está disposto a lutar, mesmo que não seja conveniente politicamente, você vai ter dificuldades neste Gabinete.


Elétricas terão grandes baixas nos balanços

Valor Econômico

Apesar de questionar o valor apresentado pelo governo para a indenização e a tarifa para a renovação das concessões que vencem até 2017, a Eletrobras já traça planos para se adaptar ao novo cenário, no qual prevê um corte de R$ 8,5 bilhões na receita anual por conta das novas regras. Entre as medidas em estudo, está a venda de participação nas distribuidoras do grupo.

“Estamos melhorando muito a redução de perdas e de inadimplência [das distribuidoras]. Mas isso poderia ser feito numa velocidade maior. Num esquema societário um pouco diferente, a gente pode ter um resultado ainda melhor”, afirmou o presidente da companhia, José da Costa Carvalho Neto, ao Valor. “Estamos abrindo algumas hipóteses para apresentar ao nosso conselho de administração e aos nossos acionistas”, completou.

A venda das distribuidoras da Eletrobras é considerada um tabu, desde que o PT assumiu o governo federal, em 2003, e estancou o processo de privatizações no setor elétrico. A estatal possui seis distribuidoras, nos Estados do Amazonas, Rondônia, Roraima, Acre, Piauí e Alagoas, conhecidas por terem indicadores operacionais e financeiros ruins, embora a holding tenha elevado recentemente o investimento nessas companhias. A Eletrobras também está em fase de conclusão da aquisição de 51% da distribuidora goiana Celg.

Segundo Carvalho Neto, a eventual negociação desses ativos é uma medida de médio e longo prazo para o novo contexto operacional da empresa. No curto prazo, o remédio será mesmo a redução agressiva dos custos. A expectativa da Eletrobras é que seja necessário um corte de 30% nos custos operacionais, para que a estatal continue operando no azul.

Nesse sentido, entre as ações previstas, estão cortes em contratos de publicidade e redução de contratação de serviços terceirizados. A companhia também está elaborando um programa de desligamento voluntário incentivado para os funcionários. Segundo o executivo, dos cerca de 28 mil empregados do grupo, 8 mil já estão em condições de se aposentar.

Embora o executivo não confirme, tudo indica que a Eletrobras aceitará renovar a concessão das usinas e linhas de transmissão que vencem até 2017, mesmo sob as condições impostas pelo governo na última semana. De acordo com o Ministério de Minas e Energia, a Eletrobras terá direito a indenização de R$ 14 bilhões, menos da metade dos R$ 31 bilhões esperados pela estatal. A companhia tem até 4 de dezembro para assinar a renovação dos contratos.

O presidente da Eletrobras afirmou que, mesmo nesse cenário desfavorável, a companhia não trabalha com a hipótese de rever o seu plano de investimentos para os próximos anos. A empresa prevê investir entre R$ 10 bilhões e R$ 12 bilhões por ano e manter sua participação de mercado de 35% na geração e 56% na transmissão.

Mas a Eletrobras ainda arriscará uma última cartada, a fim de elevar o valor das indenizações estabelecido pelo governo. Até quinta-feira, a companhia vai apresentar à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) cálculos que comprovem que ela tem direito a uma indenização maior do que a prevista na portaria divulgada pelo Ministério de Minas e Energia (MME) na última semana.

“Estamos aprofundando instalação por instalação, mostrando isso com clareza, para ir aos órgãos que fizeram esses cálculos e confrontar os nossos cálculos com os deles. Tenho convicção que chegaremos a um bom termo”, disse o executivo. “O objetivo do governo de reduzir o custo da energia no Brasil é perfeito na essência. O que estamos vendo são alguns detalhes da dosagem”, completou.

A Eletrobras é a companhia mais afetada pelo processo de renovação das concessões. Ontem, no primeiro dia de negociação no mercado após a publicação da portaria do MME, as ações ON e PNB da Eletrobras recuaram 4,66% e 8,21%, respectivamente. No ano, as ações acumulam perdas de 32,61% e 37,44%, respectivamente.


Racionado, crédito atende só a 38% das vendas de veículos

Valor Econômico

Grande vilão do resultado dos bancos neste ano, o crédito de veículos vem reduzindo sua contribuição à venda de automóveis e motos. Embora os incentivos do governo para venda de veículos tenham ajudado a impulsionar o crédito na modalidade desde abril, há uma queda nítida da parcela de carros que foi comprada com algum tipo de financiamento de um ano para cá, sinal de que persistem os critérios mais rígidos dos bancos para essa modalidade.

No terceiro trimestre de 2012, as vendas financiadas de veículos (que incluem carros, motos e veículos pesados) responderam por 38% do total comercializado, ante uma parcela de 45% no mesmo período do ano passado. Só no mês de setembro, a fatia financiada das vendas caiu de 43,2% em 2011 para 34,9% em 2012, o menor percentual desde 2007.

Os dados são da unidade de financiamentos da Cetip, que registra as operações de crédito de veículos dos bancos nos departamentos estaduais de trânsito. O restante das vendas está dividido em pagamento à vista, consórcio e leasing, mas a Cetip não divulga a fatia de cada modalidade.

Considerando apenas carros e motos, a queda é menos acentuada, mas segue a mesma tendência. No acumulado de 2011 até setembro, 44,5% das vendas de carros e de motocicletas foram financiadas, percentual que caiu para 39,6% em igual período deste ano.

“Aumentou um pouco quem faz consórcio, mas o que cresceu mesmo foi o cliente que não financia”, afirma Marcelo Jallas, da concessionária Amazon, que revende Fiat e Volkswagen. Na loja, 58% das vendas de carro zero quilômetro são financiadas, ante um padrão histórico de 70%. “Não vejo sinais de que isso vá mudar tão cedo.”

A menor fatia de vendas financiadas reflete a maior seletividade das instituições financeiras em conceder crédito para veículos. A inadimplência, contrariando o que esperavam alguns bancos, vem resistindo a cair. A taxa de atrasos superiores a 90 dias no crédito de veículos da pessoa física estava em 6% em setembro, dado mais recente do Banco Central. Esse nível, o mais alto da série histórica, vem se mantendo desde abril.

“Hoje, quem tem “ficha” de crédito fraca já nem sai de casa para comprar carro. As pessoas cansaram de receber não quando pedem crédito para carro”, conta Evandro Garms, da concessionária Germânica, que revende Volkswagen. “Acho que alguns clientes viram que a poupança estava rendendo menos e aproveitaram o IPI reduzido para comprar à vista.”

Há quem espere, porém, que a parcela financiada das vendas volte a crescer nos próximos meses. “Acho que a queda é uma questão de momento e as vendas financiadas devem voltar a aumentar”, afirma Décio Carbonari de Almeida, presidente do Banco Volkswagen e da Anef, associação que reúne bancos de montadora. Ele defende que há espaço para que o percentual de vendas de veículos financiadas no Brasil chegue próximo ao do mercado americano, em que 90% das vendas usam crédito.

Com base nas informações de seus associados, a Anef divulga um indicador de vendas à vista de veículos que mostra um avanço bem mais discreto que o da Cetip. No acumulado do ano até setembro, 39% das vendas foram à vista, ante 38% em 2011 todo. Os carros entregues por consórcio foram 8% do total neste ano, ante 7% em 2011.

“Não foi só a penetração de financiamentos que caiu. Os prazos e o tíquete médio das parcelas também encolheram neste ano”, afirma Roberto Dagnoni, vice-presidente da unidade de financiamentos da Cetip. Ele sinaliza, porém, uma recuperação do crédito de veículos em outubro. Após queda de 8% no número de financiamentos registrados pela empresa entre agosto e setembro, outubro trouxe crescimento de 8,3% também na comparação mensal.

Procurados, Itaú Unibanco, Santander, Bradesco, Banco do Brasil e Caixa não quiseram se manifestar.


Comércio está voltando a ficar otimista, aponta FGV

Valor Econômico

A recuperação da confiança do empresário do comércio esta em ritmo mais acelerado, segundo o consultor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), Jorge Braga. A instituição informou ontem que o índice de Confiança do Comércio (Icom) mostrou queda média de 0,7% no trimestre encerrado em outubro. Embora negativo, o desempenho é melhor do que a queda de 3,1% observada no resultado anterior do indicador, referente ao trimestre finalizado em setembro.

Braga informou ainda que, no desempenho mensal, o Icom subiu 3,4% ante outubro do ano passado. Isso, na prática, reflete uma combinação de fatores favoráveis ao setor do comércio. Ele observou que no quarto trimestre do ano a demanda é, historicamente, mais aquecida, o que contribuiu para uma queda mais amena no indicador. Assim, os empresários já estariam se preparando para o aumento característico de vendas observado nos últimos meses do ano. “Mas não foi somente isso” acrescentou Braga. Ele salientou que o mercado doméstico tem sido favorecido por medidas de estímulo ao consumo lançadas pelo governo em meados deste ano. É o caso da prorrogação do IPI reduzido para veículos e produtos da linha branca — que reduziu preços e provocou antecipação de compras de bens duráveis.


Brasil terá nova bolsa de valores

Correio Braziliense

Depois de a Bats Trading desistir de abrir uma nova bolsa de valores no Brasil, o país pode estar perto de ter uma concorrente para a BMF&Bovespa, que hoje detém, na prática, o monopólio do mercado de ações no Brasil. A NYSE Euronext (Bolsa de Nova York), e o Americas Trading Group (grupo financeiro norte-americano) anunciaram ontem que pretendem desembolsar US$ 100 milhões para criar uma outra plataforma de negociação por meio da empresa ATS Brasil, a ser fundada.

A princípio, a empresa afirmou que não vai concorrer com a BM&F Bovespa, “apenas dará mais liquidez e impulsionará as negociações de ações de maneira complementar”. A estimativa é de que os volumes negociados no país com ações e títulos de empresas cresçam 15% depois de a ATS Brasil entrar em operação.

Durante uma entrevista a jornalistas ontem no Rio de Janeiro, Fernando Cohen, presidente executivo da ATS, e Arthur Machado, diretor executivo, explicaram que a ATS Brasil permitirá que clientes da NYSE Euronext e outros investidores realizem pedidos internacionais. A empresa deve operar no mercado de balcão organizado e, apesar de negar concorrência, pode atrair negócios que são realizados na BM&F Bovespa, e também na Cetip, onde se compram e vendem títulos privados.

Para operar, porém, a ATS Brasil precisará de uma clearing, uma central complexa que liquida as operações do dia. De custo elevado, isso tem se mostrado um entrave para o surgimento de novas bolsas. Por isso, a BM&FBovespa se mantém única no país. O objetivo dos sócios da ATS é alugar esse sistema da bolsa brasileira, contrária a ajudar uma empresa que pode vir a se tornar concorrente.

A BM&F Bovespa, no entanto, pode ficar sem opção. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), do Ministério da Fazenda, estuda obrigá-la a liberar a clearing para outros usuários. Segundo um técnico que não quis se identificar, estudo sobre o tema está em estágio avançado. A ideia é que é importante para o país uma nova bolsa para diminuir custos para os investidores e ampliar o volume financeiro.

A ATS Brasil, segundo seus sócios, será controlada pela ATG, com 80% da empresa. Os 20% restantes serão da NYSE Euronext. Cohen e Machado, no entanto, não deram detalhes de como deve funcionar o aluguel da clearing. Outros detalhes ainda precisam de aprovação do regulador, a CVM. No entanto, até o momento, o órgão ainda não recebeu qualquer pedido de autorização para abertura de uma nova bolsa no país.

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