Barreiras argentinas e PIB do Brasil preocupam Mercosul

O baixo crescimento do Brasil, as barreiras protecionistas da Argentina, a suspensão temporária do Paraguai e a demora da Venezuela em abrir plenamente seu mercado são fatores que causam uma onda de desânimo nos empresários do Mercosul. Quase todos apontam a dificuldade em transformar o potencial de negócios em aumento efetivo do comércio e dos investimentos.

Um dos alvos preferenciais das queixas é o protecionismo argentino. “As nossas vendas para a Argentina, até novembro, caíram 15% na comparação com mesmo período do ano passado”, disse o presidente da União dos Exportadores do Uruguai, Álvaro Queijo. Para ele, a crise internacional acentuou a tendência do bloco de impor barreiras ao comércio, mesmo entre seus próprios sócios.

“Ninguém está satisfeito com o ritmo em que o Mercosul vem caminhando”, completou o uruguaio. Ele pediu que os governos do bloco preservem os países vizinhos de barreiras erguidas para evitar a entrada de produtos asiáticos. E cobrou o principal membro do Mercosul: “Reconheço que o país tem suas lutas internas, entre os Estados, mas o Brasil também deveria imprimir mais velocidade na sua liderança.”

De acordo com Luis González Arias, representante da União Industrial Paraguaia (UIP) e ex-embaixador do Paraguai no Brasil, a suspensão temporária do país do Mercosul dificultou ainda mais a entrada de seus produtos na Argentina. Ele relatou que embarcações paraguaias transportando contêineres para a Argentina, por rio, têm sido parados na fronteira para uma inspeção de segurança que é cobrada dos exportadores e atrasa a entrega das mercadorias.

“Não há nenhum diálogo com o governo argentino”, protestou González Arias, que defende a legalidade do processo de destituição do ex-presidente Fernando Lugo, fato que gerou a suspensão do Paraguai. “Nem sequer a diretora paraguaia da aduana é recebida oficialmente pelos argentinos. É um disparate”, concluiu.

O presidente da seção venezuelana da Câmara de Comércio e Indústria Venezuela-Brasil, Nelson Quijada, destacou a possibilidade de crescimento dos negócios entre os dois países, mas reclamou do desequilíbrio na balança comercial. No ano passado, o Brasil exportou US$ 4,5 bilhões para a Venezuela, mas comprou apenas US$ 1,2 bilhão. “Nenhuma relação tão desbalanceada se sustenta por muito tempo”, afirmou.

Para Rubens Gama, diretor do departamento de promoção comercial e investimentos do Ministério de Relações Exteriores, é necessário ter uma maior integração produtiva entre as nações do bloco e o fortalecimento de pequenas e médias companhias.

Gama avalia que ainda há muito potencial de comércio entre os países do Mercosul. No caso brasileiro isso ocorre principalmente em relação a produtos manufaturados – setor em que o país é “mais competitivo” frente às outras economias do bloco.

Paralelamente à cúpula de chefes de Estados do Mercosul, foi realizado o 1º Fórum Empresarial do Mercosul, uma forma de que o encontro não fosse apenas governamental.

As discussões foram centradas em quatro áreas: agronegócio, energia, inovação e infraestrutura. Gama destacou que o setor empresarial aponta a necessidade de melhorias, principalmente, em logística para aumentar a integração internacional.

Estudo feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que, se R$ 12,9 bilhões fossem investidos em oito eixos de transporte de cargas do Mercosul até 2020, os gastos com logística cairiam R$ 1,8 bilhão por ano. O eixo rodoviário Buenos Aires-São Paulo foi uma das obras citadas.

Além disso, com problemas econômicos internos, a Argentina passou a adotar uma política cambial e medidas que mudaram o comércio internacional do país, de acordo com Soraya Rosar, gerente-executiva de negociações internacionais da CNI. “O Brasil tem sido um dos países mais afetados, tendo em vista que temos um grande comércio com a Argentina”. Outra demanda dos empresários é a redução de burocracias nas fronteiras.


Atividade ganha ritmo na China

O Estado de S. Paulo

Vários indicadores da economia chinesa de novembro mostram aceleração da atividade, mas com alta moderada da inflação ao consumidor. Já os preços no atacado não foram pressionados e até recuaram.

No mês passado, a produção industrial cresceu 10,1% em relação a novembro de 2011, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas da China. O resultado superou a expectativa e indica que houve aceleração em relação a outubro, quando a alta anual havia sido de 9,6%.

Ocorreu também aceleração no ritmo da indústria na comparação mensal. Em novembro, a produção industrial da China aumentou 0,86% em relação a outubro, quando o indicador tinha crescido 0,81% ante setembro.

O ritmo mais intenso da indústria reflete o avanço das vendas no varejo. Em novembro, o comércio ampliou em 14,9% as vendas ante igual período de 2011, após terem subido 14,5% em outubro na comparação anual.

O movimento de alta mensal da produção industrial se repetiu no varejo. De outubro para novembro, as vendas do comércio cresceram 1,47%. É um ritmo maior comparado ao de setembro para outubro, que havia sido de 1,34%.

Preços

A aceleração da atividade teve algum impacto nos preços ao consumidor. No mês passado, a inflação ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) foi de 2% em relação a novembro de 2011. O resultado ficou ligeiramente abaixo da previsão de mercado (2,1%), mas avançou em relação a alta anual de 1,7% em outubro. Mensalmente, a inflação ao consumidor também se acelerou: saiu do terreno negativo, isto é, queda de 0,1% de setembro para outubro, e subiu 0,1% de outubro para novembro.

No atacado, no entanto, os preços continuaram bem comportados. O índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) da China caiu 2,2% em novembro ante o mesmo mês de 2011. Em outubro, a queda do indicador havia sido de 2,8%. Mensalmente, de outubro para novembro, o PPI caiu 0,1%, após ter subido 0,2% de setembro para outubro.

Já os investimentos mantiveram o ritmo de crescimento. De janeiro a novembro, o investimento cresceu 20,7% ante igual período de 2011. O resultado repetiu o desempenho de janeiro a outubro, mas ficou ligeiramente abaixo da projeção do mercado (20,8%) na comparação anual.


Em um ano, bancos europeus cortaram quase US$ 100 bi em créditos ao Brasil

O Estado de S. Paulo

Os bancos europeus reduzi ram sua exposição, créditos e empréstimos no Brasil em qua se US$ 100 bilhões em apenas um ano. Os dados são do Ban co de Compensações Interna cionais (BIS), O órgão destaca que a crise na zona do euro tem provocado retração da ati vidade internacional dos ban cos da região e uma queda drástica dos empréstimos, mesmo diante da injeção de trilhões de dólares pelos ban cos centrais dos países ricos.

Para a entidade com sede na Basileia, reformas prometidas não estão sendo realizadas e a ação de socorro dos BCs “tem seus limites”. Dados do BIS, por tanto, explicitam como o siste ma financeiro ainda não conse guiu se recuperar e, no caso dos bancos europeus, perdem espa ço de forma radical pelo mundo.

Às vésperas do colapso do Lehman Brothers, em 2008,78% dos I créditos internacionais concedi dos ao Brasil vinham da Europa. Hoje, essa taxa caiu para 63%. A relação entre a Europa e o Brasil, porém, é apenas um reflexo de um cenário mais amplo.

Apenas no segundo trimestre de 2012, os bancos de todo o mundo voltaram a fechar suas torneiras e os empréstimos so freram a segunda maior queda desde 2009. A contração apenas no trimestre foi de US$ 575 bi lhões, em grande parte por culpa dos bancos de países europeus.

Europa, Japão e Estados Uni dos apresentaram queda de em préstimos de US$ 318 bilhões en tre março e junho, aprofundan do a redução de US$ 64 bilhões que já havia sido identificada no início do ano. Na zona do euro, a queda foi de US$ 75 bilhões, ante uma redução de mais US$ 187 bi lhões pelos bancos britânicos.

A exposição de bancos interna cionais nos mercados do sul da Europa também voltou a cair, em US$ 16 bilhões. Com essa queda de 7%, bancos têm US$ 201 bilhões em créditos na Espa nha, Itália, Portugal e Grécia. Par te desses bancos está trocando sua exposição nesses mercados

í por papéis da dívida do setor pú blico da Alemanha e França. No total, papéis da dívida na Europa já atraíram US$ 1,7 trilhão.

O BIS deixa claro que a injeção de recursos pelos BCs nos merca dos está apenas dando tempo pa ra permitir que os bancos façam as reformas necessárias para vol tarem a atuar com solidez. O pro­blema é que, segundo o BIS, as reformas não estão ocorrendo e bancos continuam sem empres tar, aprofundando a crise.

Segundo Stephen Cecchetti, economista-chefe do BIS, o siste ma financeiro está mais seguro hoje e os bancos reconheceram suas perdas. Mas as reformas e a aplicação do acordo da Basileia III ainda estão incompletos. “Sem reformas, economias não voltarão a crescer”, diz ele.

Retração

Na avaliação do BIS, um dos fatores que mais chama a atenção é a retração das atividades internacionais dos bancos europeus, em busca de soluções aos problemas de suas sedes. 1 Apesar de os créditos para emer-; gentes terem se mantido estáveis no segundo trimestre de 20i2? com alta de 0,2% (US$ 6 bilhões), a redução da exposição aos emergentes foi de US$ 128″ bilhões. No caso do Leste Euro peu, a queda foi de 57%. O caso brasileiro é também um dos destaques. Em meados de 2011, os empréstimos e posi ções de bancos europeus no Bra sil somavam US$ 416 bilhões. Ao final daquele ano, o volume já ti nha sido reduzido para US$ 351 bilhões. Agora, os novos núme ros apontam um total de apenas US$ 322 bilhões. Em um ano, a redução foi de US$ 94 bilhões.

Grande parte desse fenômeno se explica pelos bancos espa nhóis no Brasil, que ao final do primeiro semestre tinha no País um estoque de participação de US$ 169 bilhões, US$ 20 bilhões a menos que em março de 2012. .Bancos britânicos também redu ziram suas exposições em US$ 9 bilhões em três meses.

A situação dos bancos euro peus acabou afetando o resulta do geral do Brasil. No segundo trimestre do ano, o País regis trou uma contração de emprésti mos de US$ 5,5 bilhões, a segun da maior entre todos os países emergentes e superado apenas pelo Gatar. Rússia, índia, Méxi co e China registraram no mes mo período uma forte expansão.

Os números apontam que, des de 2010, o volume ao Brasil vem caindo. Há dois anos, o País atraiu US$ 83 bilhões em novos créditos. Em 2011, foram US$ 31 bilhões. Parte das atividades dos bancos europeus tem sido substi tuída por capital nacional e mes mo por bancos de outras re giões, instituições americanas, aumentaram sua participação.

Bancos asiáticos também esta riam tomando o lugar deixado pelos europeus. Um exemplo é a própria Ásia, com a substituição dos empréstimos que antes vi nham de bancos.da Suíça por ca pital local. O aumento foi de US$ 613 bilhões entre 2008 e 2012, al ta de 41%. Mas a participação dos bancos europeus despencou de 27% para apenas 13%.

No caso brasileiro, a expansão da exposição mundial também foi verificada entre 2008 e 2012.

Os estoques de exposição au mentaram 34%, de US$ 377 bi lhões para US$ 507 bilhões. Mas, assim como na Ásia, a tendência foi acompanhada por uma margi nalização dos bancos europeus.


Recompra de dívida grega fica abaixo da meta

O Estado de S. Paulo

O ambicioso plano do governo da Grécia para recomprar dezenas de bilhões de euros em dívida, como foi exigido pelos credores oficiais do país em troca de nova ajuda, ficou abaixo da meta e pode obrigar os bancos locais a aumentarem as promessas para garantir o sucesso da operação.

Segundo fontes, a Grécia atraiu entre 26 bilhões e 28 bilhões em ofertas, pouco abaixo dos 30 bilhões que o governo tinha como meta. As fontes disseram que a Grécia está considerando reabrir a recompra hoje, três dias depois de fechar os livros do acordo, em um esforço para atrair propostas melhores dos investidores.

No entanto, dois grandes bancos comerciais gregos, que detêm quase 25% dos bônus do país e disseram estar prontos para apoiar o plano de recompra, ainda mantêm entre 4 bilhões e 5 bilhões em dívida do governo, o bastante para cobrir o rombo, segundo as fontes.

A Grécia encerrou na sexta-feira um período de oferta de uma semana para seu programa de recompra de dívida, que pretende retomar quase metade dos cerca de 62 milhões em dívida detida por credores privados. O plano foi colocado em prática quase duas semanas após os ministros de Finanças europeus concordarem com uma complexa série de medidas para cortar a dívida.

A mais significativa dessas medidas era o plano pelo qual o governo usaria até 10 bilhões para recomprar bônus soberanos em circulação por cerca de um terço de seu valor de face, reduzindo, assim, a dívida do país em 20 bilhões.

Nenhum dos maiores bancos da Grécia revelou quantos bônus venderiam ao governo, mas, de acordo com autoridades bancárias, os bancos se comprometeram a vender apenas 10 bilhões em títulos ou cerca de 67% do total de suas carteiras.


Após Doha, meta de ambientalistas é fechar acordo global em 2015

Valor Econômico

As negociações climáticas terminaram um capítulo em Doha, no Qatar, e têm à frente um desafio muito maior: chegar a um acordo global em 2015 que resolva o problema a partir de 2020. No sábado à noite, quando se encerrou a COP18, isso parecia difícil e distante. Não há dinheiro, não há vontade política e não há liderança.

“Será duro”, confidenciou a comissária do Clima europeia, Connie Hedegaard, a Kumi Naidoo, diretor-executivo do Greenpeace nos últimos minutos do encontro em Doha. À imprensa, instantes depois, ela disse que “agora vamos ter que construir o futuro regime. Temos que ver como podemos deixar o que é velho para trás”.

A negociação climática chegou a uma fase crítica. O Protocolo de Kyoto entrou em seu segundo período de compromisso. Isso garante um arcabouço legal para o futuro e estimados 18% de redução nas emissões de gases-estufa em 2020 em relação aos níveis de 1990. Estudos científicos dizem que é preciso chegar a algo entre 25% e 40% nas próximas décadas, mas esses números não estão sobre a mesa. O financiamento a uma economia de baixo carbono é o tema-chave da transição e não avança.

Em Doha os negociadores conseguiram apenas prolongar a atuação de um plano de trabalho para discutir o assunto. Dinheiro de curto prazo para que países mais pobres e vulneráveis possam se adaptar aos impactos da mudança do clima não foi acertado como um compromisso dos países ricos. Não há um caminho claro para que se chegue aos US$ 100 bilhões ao ano para enfrentar o problema a partir de 2020, como promessa feita pelos governos na conferência de Copenhague, em 2009. Ao ser negociado a partir do ano que vem, o novo acordo, que pretende finalmente reunir todas os países na mesma moldura, terá que resolver as pendências que estão aqui: quem paga a conta, quem corta mais, quem faz os maiores esforços, como se ajudam os mais pobres, como transferir tecnologias limpas, como financiar tudo isso.

Os representantes dos governos, em Doha, começaram a falar com mais frequência sobre a necessidade de se ter mais recursos privados para as questões do clima. “Todos sabem que os governos não vão conseguir solucionar esse desafio sem recursos do setor privado”, disse o embaixador André Corrêa do Lago, chefe dos negociadores brasileiros em Doha.

“Não vamos conseguir resolver o problema da mudança do clima sem grandes quantidades de dinheiro tanto em mitigação dos gases-estufa como em adaptação”, diz Jennifer Morgan, diretora do programa de clima e energia do World Resources Institute, um think tank de pesquisa nesse campo com base em Washington. É preciso direcionar a economia para uma produção mais limpa e menos emissora, com mais fontes de energia renovável e menos dependente dos combustíveis fósseis. “Isso tem que acontecer em todos os lugares”, diz ela.

“Se quisermos ficar nos 2ºC de aquecimento da temperatura temos que ter dinheiro público e dinheiro privado”, diz Samantha Smith, a coordenadora da iniciativa de clima e energia do WWF. São os governos, diz ela, que têm que providenciar recursos para que seja possível se adaptar aos impactos do clima fazendo obras caras de infraestrutura. “E também é preciso dinheiro público para estimular que a economia se volte a atividades e fontes de baixo carbono.”

A busca por novas fontes de recursos para financiar a transição à economia de baixo carbono vem sendo feita nos últimos anos. Há iniciativas para criar uma taxa de carbono e também para taxar as emissões aéreas e marítimas, mas há forte oposição dos governos em tomar tais medidas. “Esse processo não vai a lugar nenhum sem a liderança dos chefes de governo”, diz Martin Kaiser, especialista em clima do Greenpeace. “Se essas conferências continuarem como “business as usual”, ou seja, com tudo como sempre foi, irão acabar com a sua reputação.”

Carlos Rittl, coordenador do programa de mudança do clima do WWF-Brasil diz que há “um abismo moral” entre o que dizem os cientistas e o que vem sendo negociado nas conferências do clima. “Esse é um processo multilateral que é falho, mas o relógio está girando e é preciso que os governos liderem e assumam esse problema”, diz ele. “Continuamos com compromissos vagos, metas sem ambição e sem dinheiro.”

“Temos que ter lideranças nacionais fortes que implementem políticas públicas e vejam que a mudança do clima é um grande risco para todos nós”, diz Jennifer Morgan, do WRI. “Os chefes de Estado deveriam dizer que esse é o desafio da nossa geração e enfrentar o problema.”

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