Setor desonerado não supera média da indústria

Usados como teste no pacote de desoneração da folha de pagamentos lançado pelo governo federal no ano passado, os setores de confecção e de calçados acompanharam o desempenho da atividade industrial, que registrou queda na produção, aumento no faturamento, maior concorrência de importados, aumento de preços e crescimento modesto do emprego formal.

Na prática, apesar de o benefício já ter funcionado por 12 meses, ele não serviu para que os dois setores superassem o quadro geral de fraqueza da indústria. A competitividade proporcionada pela renúncia fiscal de R$ 1 bilhão oferecida aos dois segmentos – decorrente da troca da contribuição de 20% do valor da folha salarial ao INSS por uma alíquota de 1% sobre o faturamento – permitiu, contudo, um ganho de margem para as empresas ou foi usado para segurar reajustes de preços.

Em relação a 2011, o setor de calçados registrou recuo de 3,4% na produção no acumulado de janeiro a novembro do ano passado de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), queda de 2% no volume exportado, e de 2,3% na importação, segundo a Fundação Centro de Comércio Exterior (Funcex), além de retração de 2,5% no faturamento, na sondagem realizada com as empresas do setor pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

O segmento de confecções, por sua vez, apresentou, também no acumulado de janeiro a novembro, quedas de 4,6% na produção e de 14% no volume de exportações. O faturamento, contudo, aumentou 5,1% e as importações cresceram 21,7%, acirrando mais a disputa pelo mercado interno.

No conjunto da indústria de transformação, o raio-x é semelhante ao dos dois setores. A produção física recuou 2,7%, segundo o IBGE, e o faturamento aumentou 2,8%, de acordo com a CNI.

Diferentes estatísticas de emprego também não deixam claro se o benefício fiscal ajudou a elevar as contratações nos dois setores. Os dados do IBGE apontam recuo de 8,9% no emprego em confecções e de 6,4% em calçados. No geral da indústria, a contração medida pelo instituto foi mais tímida: 1,3%. Já o Cadastro Geral de Admitidos e Demitidos (Caged), do Ministério do Trabalho, mostra aumento do emprego de 1,6% no setor de confecções, de 4,3% em calçados e de 4,5% para o conjunto da indústria de transformação. Contudo, o crescimento do emprego formal nos dois setores beneficiados foi similar ao constatado em 2011, quando não havia o impacto da desoneração.

O destino dado ao benefício variou em cada um dos dois setores, mas não resultou em queda de preço ao consumidor. Internamente, os preços dos dois segmentos subiram, ainda que sem sinais claros de pressão de insumos. No setor de vestuário, o Índice de Preços ao Produtor (IPP), calculado pelo IBGE para representar o preço efetivo de saída da fábrica, acumulou alta de 4,9% até novembro, bem acima do aumento de 1,87% registrado na fabricação de produtos têxteis. Em calçados, o IPP subiu 4,5% em 2012, até novembro, último dado disponível.

O benefício também não ajudou a recuperar mercado externo, pois mesmo a desvalorização do real no ano passado – que devolveu parte da rentabilidade das vendas ao exterior -, foi solapada pela desaceleração dos principais mercados internacionais, de acordo com Heitor Klein, presidente da Abicalçados, associação das empresas do setor. Isso também levou os empresários a alocar os efeitos da desoneração na formação de preços ao exterior, parcela da venda que fica ainda mais desonerada, pois é isenta da alíquota de 1% sobre o faturamento que substituiu a contribuição ao INSS. “A ideia inicial era jogar o ganho com o benefício aos preços para dar mais competitividade aos produtos. Foi esse o intuito da medida acertada com o governo”, diz Klein.

Para tentar reverter a queda nos indicadores, o governo precisa ser mais “ousado”, segundo Klein. “A desoneração foi um bom caminho indicado pelo governo, mas insuficiente para reverter o quadro de diminuição da atividade. Os resultados mostram que é necessário aprofundar esse tipo de ação. Não avançamos na diminuição do PIS/Cofins, por exemplo, que estamos pleiteando desde o ano passado”, diz o executivo.

“Ajudou? Sim, lógico, mas só até determinado ponto”, diz Ronald Masijah, presidente do Sindicato das Indústrias de Vestuário e Confecção do Estado de São Paulo, sobre o efeito da desoneração ao longo do ano passado. Segundo ele, as confecções paulistas destoaram um pouco de suas parceiras nacionais e também repassaram a margem obtida pela medida aos preços. Intensivo em mão de obra, assim como a indústria calçadista, o setor pede mais celeridade ao governo para tomar medidas que ajudem a indústria nacional a competir internamente com o produto importado.

Para baratear seus custos, Masijah afirma que as empresas paulistas de confecção estão dando seu próprio “jeitinho”. Cerca de 80% delas hoje – na estimativa do sindicato – se enquadram no Simples, sistema de tributação para micro e pequenas empresas, para diminuir os custos com encargos. “As empresas foram se esfarelando em várias pequenas. Mas se você ganha de um lado, perde do outro, pois não há mais economia de escala.”

O ano de 2012 não pode ser considerado ruim, na visão de Ulrich Kuhn, do sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e do Vestuário de Blumenau (Sintex). “Foi bom para o varejo, que cresceu bem. As indústrias que não criaram coisas novas realmente tiveram mais dificuldades”, argumenta. Ele ressalta, contudo, que a desoneração teve um resultado econômico “muito pequeno, pois você desonera de um lado e impõe uma porcentagem de cima do faturamento do outro.”

O destino do ganho com a desoneração depende de cada empresa, segundo Kuhn. Aquelas que terceirizam parte da produção foram as que menos se beneficiaram da medida. “Quem tem quadro grande de funcionários ganhou 1% no faturamento”, afirma.

Segundo fonte da área econômica, o governo continua trabalhando com a proposta de ampliar a desoneração da folha de pagamento para setores que solicitarem o benefício, mas não está sendo considerada a hipótese de desoneração de todos os segmentos econômicos neste ano.

Na avaliação dessa fonte, muitos setores da economia não têm interesse em deixar de pagar 20% de contribuição previdenciária sobre a folha de pagamento em substituição a um percentual sobre o faturamento. O benefício é vantajoso apenas para segmentos intensivos em mão de obra.

Além disso, afirma, é preciso ter margem fiscal (Orçamento) para desonerar a folha de todos os setores. A perspectiva é de que sejam gastos R$ 40 bilhões em redução de tributos neste ano, sendo que R$ 16 bilhões ligados à desoneração da folha para 42 setores.

Apesar dos números negativos da produção em 2012, a CNI espera retomada da atividade neste ano. “Com as desonerações, a energia mais barata, o câmbio mais desvalorizado e a sedimentação dos juros mais baixos, há melhores condições para a produção. A indústria vem tendo dificuldade, mas a recuperação começa a ficar mais evidente neste ano”, diz Marcelo de Ávila, economista da entidade.


Executivos globais apontam o país como o 3º melhor mercado

Valor Econômico

O Brasil é o terceiro mercado mais importante para o crescimento das empresas internacionalmente, só atrás da China e dos Estados Unidos, segundo pesquisa global da consultoria Price Waterhouse&Coopers (PwC) divulgada à margem da abertura do Fórum Econômico Mundial, na cidade suíça de Davos. “Os executivos olham a demografia no Brasil, a tendência populacional é favorável, quando olham essa crescente nova classe média”, disse presidente da PwC, Dennis Nally.

O Cenário Econômico Global, da PwC, traçado em pesquisa com 13,3 mil entrevistas em 68 países, mostrou que apenas 36% dos altos executivos de companhias internacionais estão “muito confiantes” de que as receitas crescerão nos próximos 12 meses, menos que os 40% que tinham confiança em elevar receitas em 2012. Caiu o pessimismo em relação à economia, porém. O percentual dos que apostam no declínio econômico saiu de 48% em 2012 para 28% neste ano. Chegam a 52% os que não preveem mudança significativa no cenário econômico mundial.

Quando a pesquisa pergunta sobre as perspectivas de cada executivo no país em que operam, os mais otimistas estão na Rússia (66%), Índia (63%) e México (62%), seguidos por Brasil (44%), China (40%), Alemanha (31%) e EUA (30%). Enquanto cai a expectativa de crescimento de receitas entre dirigentes empresariais na América do Norte, Europa Ocidental e Ásia e Pacífico, a América Latina vai na direção oposta: 53% dos empresários creem em aumento das receitas no curto prazo, um pouco mais que no ano passado.

No longo prazo, 46% estão muito confiantes em melhoria no faturamento. Os mais otimistas estão na África (62%) e no Oriente Médio (56%), onde executivos chegam a ver a crise europeia como oportunidade de ampliação de negócios.

O Brasil teve lugar de destaque quando a pesquisa pediu aos altos executivos para mencionar os três principais países vistos como mais importante para as perspectivas de crescimento de suas empresas, fora das respectivas sedes. Nas Américas, ficaram entre os dez principais apenas EUA (23%), Brasil (15%) e Canadá (5%). A China foi apontada por 31% dos pesquisados, e a Alemanha por 12%. Entre os Brics, a Índia teve 10% das respostas e a Rússia, 8%.

Para o presidente da PwC nos EUA, Robert Moritz, além das vantagens demográficas, com a entrada de grande contingente de consumidores no mercado, o progressivo crescimento da capacitação de mão de obra e os abundantes recursos naturais são outros fatores para manter o Brasil entre os países considerados essenciais para o futuro das empresas globais.

A questão que mais preocupa empresários é a incerteza em relação ao crescimento, que aparece no topo da lista de problemas para 81% dos executivos. As respostas nos países desenvolvidos à crise estão entre os principais motivos apontados para o aumento na preocupação com o excesso de regulação governamental, que incomoda quase 70% dos executivos.

Na lista de cenários que podem ter o pior impacto sobre os negócios, as revoltas sociais no país de operação das empresas são, de longe, o problema mais citado pelos executivos (75%). A recessão nos EUA preocupa 67% e a possível queda no crescimento da China, 51%.


BNDES prevê novo ciclo de investimento em infraestrutura

Valor Econômico

Um novo ciclo de investimentos em infraestrutura começou a tomar forma ano passado, e deverá se intensificar daqui para frente. A previsão é do presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, que ontem divulgou os números do banco em 2012. Os desembolsos somaram R$ 156 bilhões, uma alta de 12% em relação a 2011.

A expectativa de Coutinho vem do bom desempenho do BNDES. No ano passado, as consultas aumentaram 60% sobre 2011, atingindo R$ 312 bilhões. Mas ele reconheceu que o ritmo de desembolso do BNDES daqui para frente dependerá do mercado de dívida privada, indicando que o banco, sozinho, poderá não dar conta da demanda por empréstimos.

“Previsões para 2013 dependem de uma série de variáveis em função da agenda de debêntures, do compartilhamento de operações de financiamento [do BNDES]

com o mercado financeiro”, disse Coutinho, sem fazer previsões para os próximos 12 meses. As novas concessões na área de logística, segundo ele, serão “uma oportunidade para compartilhar” o financiamento dos investimentos privados com o mercado de capitais.

Os pedidos de recursos para infraestrutura lideraram as consultas ao BNDES. Elas funcionam como um “termômetro” para medir a intenção de investir do empresariado. O que mostra, segundo Coutinho, clara recuperação dos planos de investimentos no país em 2013 e em 2014 a partir das intenções privadas.

Só o setor de infraestrutura respondeu por um terço das consultas, ou R$ 97,4 bilhões, 45% acima de 2011. Isso é “resultado dos pacotes de concessões, lançados pelo governo federal em 2012”, disse Coutinho, que aposta em aeroportos, portos, ferrovias e rodovias como os principais vetores de crescimento dos investimentos de 2013.

O BNDES projeta em 2013 crescimento entre 5,5% e 6% da formação bruta de capital fixo (medida das contas nacionais do que se investe na construção civil e em máquinas e equipamentos). Mas Coutinho espera um número maior. Ele informou que o banco contribui com algo entre 15% e 20% para a FBCF do país.

As consultas do setor industrial cresceram 72%, em 2012 frente a 2011, atingindo um total de R$ 115,2 bilhões. A indústria extrativa, onde se destaca o setor de óleo e gás (Petrobras é a maior empresa), respondeu por R$ 32,2 bilhões desse total, com uma alta 619%. Já as liberações à indústria alcançaram R$ 47,6 bilhões, 31% acima de 2011.

Coutinho afirmou que “é possível que as concessões atraiam mais investimentos [do que a indústria]. Mas vamos nos empenhar em recuperar o investimento industrial usando a demanda e o impulso da infraestrutura sobre as cadeias fornecedoras”. Mas o BNDES, lembrou, tem o desafio de melhorar a competitividade da indústria de transformação, que enfrenta dificuldades de competir no mercado internacional.

Economistas ouvidos pelo Valor foram cautelosos sobre as previsões de Coutinho relativas ao início de novo ciclo de investimentos puxado pelo setor de infraestrutura. Luiz Fernando de Paula, presidente da Associação Keynesiana Brasileira (AKB), considera os dados de desembolso do BNDES apenas “indícios” de uma perspectiva positiva. “Tem de saber se o que está sendo apresentado é um fato ou um wishful thinking [desejo, numa tradução livre] do Luciano [Coutinho]”, afirmou.

Paulo Di Blasi, do Ibmec-RJ, concorda com De Paula. “A expectativa é de que os investimentos do setor se acelerem em algum momento pela necessidade do país, mas é cedo para afirmar que já está ocorrendo esse ciclo”.

Já para o presidente da Associação Nacional dos Analistas e Especialistas em Infraestrutura (Aneinfra), Guilherme Floriani, o cenário para o setor de infraestrutura é “positivo”. “Vemos 2013 com muito otimismo”, disse ele, ressaltando que o país evolui com os pacotes de concessões de infraestrutura, mas que é preciso avançar em questões como regulação ambiental.


Brasil busca resolver impasse com vizinhos

Valor Econômico

O Brasil entrará em uma nova rodada de negociações para destravar o comércio bilateral de produtos agrícolas com Argentina e Uruguai. Nesta quinta-feira, o ministro da Agricultura Mendes Ribeiro Filho se reunirá com o ministro uruguaio do setor, Tabaré Aguerre. Um dos pontos mais delicados entre os dois países são as importações da indústria brasileira de lácteos do país. Os produtores brasileiros conseguiram limitar a entrada do leite argentino por meio de uma cota de importação mensal, mas nunca obtiveram o mesmo compromisso em relação ao Uruguai.

Somente em 2012, entraram no Brasil 72,9 mil toneladas de leite e derivados uruguaios, em uma importação de US$ 221,9 milhões. Da Argentina vieram apenas 35 mil toneladas de leite e 17 mil toneladas de queijo. Mendes Ribeiro é pressionado por produtores brasileiros a estabelecer limites para a importação do produto uruguaio.

Na Argentina, para onde Mendes Ribeiro viaja na sexta-feira, a negociação com o ministro Norberto Yauhar envolverá as compras argentinas de carne suína. Segundo dados do governo argentino, entre janeiro e novembro do ano passado entraram no país cerca de 20,9 mil toneladas, ante as 37 mil toneladas no mesmo período em 2011.

Em carta encaminhada a autoridades brasileiras, o presidente da Abipecs, entidade que reúne os exportadores do produto, Pedro de Camargo Neto, afirmou que os importadores argentinos somente conseguem obter as DJAI e ROE, duas autorizações específicas do governo da Argentina, “quando conseguem provar igual montante exportado”. Segundo a carta de Camargo, “o governo da Argentina vem exigindo equilíbrio em nível micro da balança comercial empresa por empresa”, o que definiu como “flagrante desrespeito” às regras do Mercosul.

O problema arrastou-se ao longo de 2012 e o Brasil deu início a algumas retaliações em maio, barrando a entrada de maçã, batata, pera, uvas e outros produtos argentinos, mas as exigências foram suprimidas no segundo semestre. A Argentina ainda reivindica a abertura do mercado brasileiro para o limão siciliano e o lagostim, um crustáceo intermediário entre o camarão e a lagosta.


Eletrobras estuda vender distribuidoras

Valor Econômico

Presidido por Márcio Zimmermann, secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, o conselho de administração da Eletrobras fará sua primeira reunião de 2013 na sexta-feira, 25 de janeiro, em Brasília. Neste ano, os executivos da estatal terão trabalho em dobro. A empresa terá de implementar reformas para adaptar-se à sua nova realidade, após ter perdido uma receita estimada em R$ 8,7 bilhões com a renovação das concessões.

Segundo apurou o Valor, as medidas que podem ser adotadas pela Eletrobras incluem a venda de distribuidoras, bem como de participações minoritárias em várias companhias, entre elas a Copel (0,56%), Coelce (7,06%), Celpe (1,56%), CEEE (32,59%), Cemat (40,92%), Emae (39,02%), Celpa (34,24%), CEB (3,29%).

Na área de distribuição, o governo estuda a criação de uma nova subsidiária da Eletrobras para absorver seus ativos. A ideia é fazer a separação contábil das distribuidoras federalizadas, hoje amplamente deficitárias e responsáveis por contaminar o balanço da holding, na avaliação oficial. Não há uma decisão tomada, mas a possibilidade já foi discutida em reuniões entre autoridades do setor.

O diretor de transmissão da Eletrobras, Marcos Aurélio Madureira da Silva, confirmou ao Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, que a direção estuda alternativas para adequar as distribuidoras à nova realidade. Segundo ele, como não há ainda definição do governo sobre a venda das empresas, a Eletrobras não conversou com potenciais interessados. “Não estamos discutindo com ninguém. Mas posso dizer que são ativos bons e que começam a ter resultados.”

Ontem, as ações ON da Eletrobras subiram 5,1%, enquanto as ações PNB valorizaram 6,2%. Os papéis encerraram o pregão a R$ 8,10 e R$ 13,70, respectivamente. Neste ano, as ações da estatal já acumulam valorização de 28% (ON) e 30,7% (PNB), recuperando-se, em parte, do tombo sofrido em 2012, quando foram castigadas pela decisão da estatal de renovar as concessões nos termos propostos pelo governo. Em 2012, as ações ON caíram 61,4% e as PNB, 57,5%

A possibilidade de que a estatal acelere o processo de venda de ativos é bem vista pelos investidores. Mas, segundo um especialista do setor elétrico, o governo do PT terá de enfrentar um obstáculo de outra ordem, a resistência do partido à ideia de privatização.

A recente alta das ações da Eletrobras foi atribuída pelas autoridades do setor menos à expectativa de venda das distribuidoras e mais a uma correção de preços, diante das perdas causadas por dois episódios anteriores – a renovação das concessões e a preocupação em torno de um novo racionamento de energia elétrica. Nos corredores de Brasília, a interpretação é que o mercado financeiro havia reagido de forma “errônea e exagerada” às notícias.

“As ações da Eletrobras estão passando por um ajuste técnico. Vários papéis estão se recuperando no setor. A Eletrobras teve uma perda grande no quatro trimestre, mas o governo sinaliza que vai mantê-la como uma grande empresa no setor”, afirma o analista da SLW Corretora Pedro Galdi

Um dos empecilhos para a venda das distribuidoras era o prazo das concessões, que vencia em 2015 e foi prorrogado por 30 anos. Com isso, avalia-se que há maior segurança jurídica para oferecê-las no mercado. Por outro lado, a perda de receitas da Eletrobras e a necessidade de reestruturação da estatal dobraram correntes do governo que ainda resistiam à venda de ativos. Para a ala majoritária, a Eletrobras teve sucesso em conter a “sangria financeira” das distribuidoras antes da federalização, mas tem sido cada vez mais difícil vislumbrar um cenário no qual elas passem a operar no azul.

Para um grupo cada vez maior de autoridades, essas distribuidoras podem até dar lucro se conseguirem se afastar completamente de influência política, passando às mãos de administradores privados. Um caso de sucesso sempre lembrado no governo é o da distribuidora maranhense Cemar, reestruturada depois de ter passado para o controle do grupo Equatorial Energia, que também adquiriu a empresa paraense Celpa (vendida pela Rede Energia).

Segundo uma fonte ligada ao comando da Eletrobras, a proposta de venda de participações minoritárias ainda não foi discutida formalmente entre a diretoria e o conselho de administração da empresa, mas está sendo avaliada internamente. “A Eletrobras tem participação pequena em tantas empresas que pode ser que não se justifique agora”, disse o executivo.

Existe a expectativa de que a proposta de venda de participações minoritárias seja discutida na primeira reunião do conselho de administração, na sexta-feira. A estatal confirmou a realização do encontro, mas não há informações de qual será a pauta da reunião.

O presidente da Copel, Lindolfo Zimmer, afirmou que tem interesse nos ativos de distribuição da Eletrobras, caso gerem retorno à companhia. O executivo, no entanto, acredita que a estatal não vai coloca-los à venda neste momento de reestabilização do setor. ” Distribuição faz parte do nosso “core business” [atividade principal]. Se as oportunidades acontecerem e agregarem valor, temos interesse. Tem que ter uma taxa de retorno adequada”, afirmou o executivo.

Outros potenciais interessados nas distribuidoras são a Equatorial e a J&F, que busca uma porta de entrada no setor de energia

Apesar de as distribuidoras da Eletrobras estarem localizadas no Norte e Nordeste, longe do Paraná, Zimmer afirmou que estatal paranaense tem planos de expansão para fora do seu Estado de origem. A Copel participa, por exemplo, da construção da linha de transmissão de Teles Pires e da hidrelétrica de Colíder, no Mato Grosso.

Madureira, da Eletrobras, confirmou a criação de uma nova empresa na Amazônia. A Eletrobras tem até 18 meses para cumprir a regra que determina a separação das atividades de geração, transmissão e distribuição das empresas que fazem parte do Sistema Interligado Nacional. Como Manaus faz parte do Sistema Isolado até a chegada do “linhão” de Tucuruí, a Amazonas Energia não precisava cumprir a regra até agora. Em maio, tudo muda. Segundo Madureira, apenas os ativos de geração do interior continuarão com a distribuidora Amazonas Energia.


BNDES liberou R$ 156 bi em 2012

O Estado de S. Paulo

Em ano de fraco crescimento econômico e com os investi­mentos em queda, o Banco Na­cional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) injetou R$ 156 bilhões na eco­nomia, segundo dados anun­ciados ontem. Foi superada a estimativa de liberar cerca de R$ 150 bilhões. O BNDES de­sembolsou R$ 34,2 bilhões em dezembro, recorde para o mês, como antecipou o “Estado”.

No total de 2012, os recursos liberados para os projetos em carteira ficaram 5,4% acima de 2011 em termos reais (conside­rando a inflação). Enquanto isso, as estimativas para o cresci­mento do Produto Interno Bru­to (PIB) estão em 1% e a forma­ção bruta de capital fixo (FBCF, soma dos investimentos na eco­nomia) acumulava recuo de 4% até o terceiro trimestre.

Segundo o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, o desembolso recorde em dezem­bro se deveu a uma antecipação na busca por empréstimos do Programa de Sustentação dos Investimentos (PSI) e às primei­ras liberações do Programa de Apoio ao Investimento dos Esta­dos ,e Distrito Federal (Proinveste), linha de financiamento de R$ 20 bilhões para governos estaduais.

A antecipação foi causada pela alta dos juros do programa para financiamento de máquinas e equipamentos, de 2,5% para 3%, a partir de 1º de janeiro. “Esta­mos no caminho dé acelerar os investimentos”, disse Coutinho.

Segundo ele, dezembro seria for­te mesmo sem esses fatores. Até o terceiro trimestre, o rit­mo de liberação de empréstimos do BNDES vinha em queda. Ape­sar da virada, os críticos duvidam que a ação do banco será capaz de impulsionar a taxa de investimentos – a medida da FBCF em comparação com o PIB. O argumento principal é que, apesar da alta de 81,4% no valor liberado pelo banco de 2007 a 2012,  a taxa não subiu significativamente.

“Boa parte desses investimen­tos seriam feitos de qualquer ma­neira. Mas, se o empresário tem uma fonte de financiamento mais barato, por que não usá-la?”, afirmou Maurício Canêdo, pesquisador do Ibre/FGV.

Segundo Luciano Coutinho, o ” descompasso entre o ritmo de liberação de recursos e o comportamento da formação bruta pode ser explicado porque o banco não abrange todo o investimento na economia – a construção civil, por exemplo, fica fora.

Além disso, Coutinho classifi­cou a ação de programas como o Proinveste como anticíclicas, ou seja, acionadas para incenti­var a economia em momentos de desaceleração. Isso ocorreu na crise de 2008 e foi repetido agora.

Para Júlio Gomes de Almeida, ex-secretário de política econômica do Ministério da Fazenda, o deslocamento do crédito priva­do pelo BNDES não é necessariamente ruim. “No Brasil, as fon­tes de financiamento privado são ruins, caras e escassas. Se o empresário economiza no crédi­to, tem mais recursos para capi­tal de giro.”

No entanto, na visão de Canêdo, tanto financiar investi­mentos que já seriam feitos quanto ser instrumento de políti­cas anticíclicas são um desvirtuamento no papel do BNDES. Um banco de fomento deveria apoiar projetos com “externalidades positivas”, investimentos de baixo retorno privado e alto ganho social. “É preciso lembrar que o dinheiro do BNDES não cai do céu. Vem da taxação da mão de obra e de transferências do Tesouro.”

Antecipando desembolsos, o BNDES aprovou em 2012 uma carteira recorde de R$ 260 bi­lhões – incluindo o empréstimo à usina de Belo Monte, maior da história do banco. Os dados apontam ainda uma alta de 5,5% nos investimentos neste ano.

Em expansão

5,4% foi o aumento real (descontada a inflação) da liberação de recursos do BNDES em 2012, na comparação com 2011

R$ 34,2 bi foram liberados pelo BNDES em dezembro do ano passado, por causa da antecipação de empréstimos previstos para 2013

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