Regime de metas de inflação é alvo de críticas

A política monetária no mundo passa por grandes mudanças e questionamentos, num cenário em que há restrições para a política fiscal estimular a economia e o crescimento dos países desenvolvidos não decola. Adotado hoje pelo Brasil e por outros 26 países, o regime de metas de inflação, tido antes da crise por muitos analistas como o melhor sistema para a condução da política monetária, tem sido alvo de críticas.

O sistema chega a ser apontado como um dos culpados pela eclosão da crise global em 2007 e 2008, por induzir a um foco exclusivo no comportamento dos preços ao consumidor, o que teria permitido a formação de bolhas de ativos, como dos preços de imóveis.

Nesse quadro, começa a ganhar algum destaque a ideia de se adotar metas para o Produto Interno Bruto (PIB) nominal, mas a discussão está longe de um consenso. Para alguns analistas, mirar o PIB nominal (o valor em moeda corrente de tudo o que se produz) seria apenas uma opção de emergência, quando a economia está em situação crítica.

Esses debates têm como pano de fundo um cenário em que ocorrem mudanças importantes na forma de atuação dos bancos centrais dos países desenvolvidos, diz o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga. “O Fed [Federal Reserve, banco central americano] tem sido um líder nesse processo, com uma atuação agressiva e criativa”, afirma Arminio, sócio da Gávea Investimentos.

Em dezembro, o Fed anunciou que as taxas ficarão em níveis excepcionalmente baixos enquanto o desemprego não cair abaixo de 6,5%, e a inflação projetada para o médio prazo não superar 2,5%, explicitando parâmetros que vão condicionar sua atuação. Além disso, as injeções de dinheiro no mercado pelo BC americano somam US$ 85 bilhões por mês, entre compras de papéis lastreados em hipotecas e títulos de longo prazo.

No Japão, o sisudo banco central do país cedeu às pressões do novo primeiro-ministro do país, Shinzo Abe, e elevou a meta de inflação de longo prazo de 1% para 2%, além de ter prorrogado o programa de títulos de curto prazo por tempo indefinido.

Para Arminio, essas são “respostas à grande crise que ainda vivemos”. É uma situação de emergência, em que os juros nos países desenvolvidos já estão no chão e há amarras para usar novos estímulos fiscais. Seria precipitado, com isso, apostar em mudanças definitivas na maneira como se conduz a política monetária no mundo, diz Arminio, para quem o desmonte das medidas mais ousadas adotadas hoje pelos BCs poderá ser mais complexo do que se imagina.

Professor da Universidade de Harvard (EUA) e ex-membro do Conselho de Assessores Econômicos do então presidente Bill Clinton, Jeffrey Frankel escreveu no ano passado um bem humorado “obituário” do regime de metas de inflação, e tem defendido a adoção de metas para o PIB nominal.

Em entrevista ao Valor, Frankel disse que o sistema de metas de inflação foi útil por um período, principalmente para alguns mercados emergentes como o Brasil, ao estabilizar as expectativas de inflação, mesmo depois das crises do fim dos anos 90, que forçaram vários países a abandonar as suas âncoras cambiais, como fez o Brasil em janeiro de 1999.

“Talvez o regime não tenha produzido nenhum grande dano até 2008, quando uma alta dos preços de petróleo levou alguns bancos centrais que adotavam metas de inflação a elevar os juros, num momento em que a recessão global se aproximava”, afirma ele. “Mesmo antes disso, pode ser atribuída alguma responsabilidade ao sistema pela bolha anterior, por encorajar as autoridades monetárias a não prestar atenção à forte alta dos preços de ativos.”

Arminio combate a ideia de que o regime de metas foi um dos culpados pela mais recente crise global. Para ele, alguns bancos centrais “comeram mosca” na questão da supervisão, mas o problema não se deveu às características do regime de metas. É perfeitamente possível, segundo Arminio, conciliar o sistema com uma supervisão mais rigorosa, em que haja preocupações prudenciais adequadas. Para ele, o regime vai continuar a existir nos próximos anos. Tem a simplicidade como um trunfo importante, baseando-se numa meta transparente, para a qual os BC tentam fazer a inflação convergir.

No entanto, num quadro de estagnação econômica e desemprego elevado, a definição de metas para o PIB nominal tem ganhado apoios. O presidente do BC do Canadá, Mark Carney, escolhido para comandar o BC do Reino Unido a partir de julho, disse em dezembro que, em certas circunstâncias, em que mais estímulos à economia sejam necessários, as autoridades poderiam passar a mirar o PIB nominal. O Reino Unido segue o regime de metas de inflação.

Ao propor a adoção pelo Fed de metas para o PIB nominal num artigo publicado no fim de 2011, a economista Christina Romer explicou o sistema de modo didático. Ex-chefe do Conselho de Assessores Econômicos do presidente Barack Obama e professora da Universidade da Califórnia, em Berkeley, Christina diz que “o PIB nominal é apenas o termo técnico para o valor em dólares de tudo o que produzimos. É o produto total (o PIB real) multiplicado pelos preços correntes”. Para os EUA, uma meta razoável seria algo como 4,5%, considerando 2,5% como um crescimento “normal” para a economia americana e 2% para a inflação, o nível que o Fed considera apropriado para o longo prazo.

Segundo a proposta de Christina, o Fed tomaria como base um ano em que a economia teve desempenho normal, como 2007, e diria que o PIB nominal deveria ter crescido 4,5% ao ano desde então, ritmo que continuaria a ser perseguido nos anos seguintes. “Por causa da recessão e da inflação muito baixa de 2009 e 2010, o PIB nominal está hoje [no fim de 2011, data do artigo] 10% abaixo daquela trajetória. Ao adotar meta para o PIB nominal, o Fed se compromete a eliminar esse intervalo.” Essa mudança ajudaria a melhorar a confiança e as expectativas de consumidores e empresários, levando-os a gastar mais no presente.

Frankel diz que as metas para o PIB nominal são mais adequadas para enfrentar choques de oferta ou nos termos de troca (a relação entre preços de exportação e de importação). Se tivesse um alvo para o PIB nominal, o Banco Central Europeu (BCE) poderia ter evitado o erro cometido em julho de 2008, quando elevou os juros para combater o efeito da alta do petróleo sobre os preços ao consumidor, embora a economia caminhasse para a recessão, diz Frankel, em artigo publicado em dezembro. Para ele, o sistema poderia ter ajudado a impedir que o Fed mantivesse uma política monetária excessivamente frouxa entre 2004 e 2006, quando o PIB nominal cresceu mais de 6%, ainda que a inflação estivesse comportada.

Arminio não mostra simpatia pelo regime. “Não é sustentável no longo prazo.” Um risco existente é o de que, num momento em que o PIB nominal crescer com força, a uma taxa superior à meta definida para esse indicador, o BC pode ser levado a que apertar a política monetária, mesmo se houver uma combinação saudável de crescimento forte e inflação baixa.

Para Carlos Viana de Carvalho, professor da PUC-Rio e sócio da Kyros Investimentos, essa ideia só faz sentido como resposta a situações muito difíceis, como em 2009, quando havia risco de depressão em virtude da deterioração da crise provocada pela quebra do Lehman Brothers, no ano anterior. Carvalho, ex-economista-sênior do Fed de Nova York, nota ainda que podem surgir problemas por causa da dificuldade em definir o crescimento potencial da economia (que não provoca pressões inflacionárias). Se o PIB potencial for superestimado, o BC pode passar a tolerar uma inflação mais alta do que seria desejável para chegar ao alvo para o PIB nominal.

No caso do Brasil, Arminio e Carvalho consideram que o regime de metas de inflação continua a ser o mais adequado. O país, por exemplo, não enfrenta uma situação delicada, como as economias desenvolvidas.

Ao analisar a política monetária brasileira recente, Arminio diz que o BC brasileiro acertou ao começar a reduzir os juros em agosto de 2011, quando antecipou o agravamento da crise europeia. Para ele, contudo, as ações do BC passaram a fazer menos sentido quando ficou claro que a economia se aproximava do pleno emprego com inflação ainda alta.

Arminio diz que o incomoda o fato de as projeções para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), tanto dos analistas quanto as embutidas em títulos públicos corrigidos pelo indicador, apontarem inflação bem acima do centro da meta, de 4,5%, “meta que já era um pouco alta”. Isso tudo é ruim num país com um histórico de inflação elevada e indexação, afirma o ex-presidente do BC.

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ANTT aperta cerco contra concessionários de rodovias

O Estado de S. Paulo

A Agência Nacional de Transpor­tes Terrestres (ANTT) colocou em audiência pública um novo regulamento para a imposição de multas a concessionários de rodovias, com o intuito de torná-las mais efetivas. A legislação atual contém imprecisões de re­dação que dão margem a contes­tação por parte dos concessioná­rios e dificulta a punição. A existência de buracos, por exemplo, passará a ser passível de multa de imediato. De acordo com técnicos, o problema não es­tá claramente tipificado. É preci­so que a fiscalização constate o problema e exija providências. Só no caso de descurnprimento é que há punição. O governo também quer per­mitir que os concessionários convertam multas em obras. A avaliação é que eventuais puni­ções devem ser revertidas em benefício do usuário, e não virar re­cursos para o Tesouro Nacional. Essas obras, porém, não pode­rão ser consideradas na hora de calcular o pedágio. Para evitar intermináveis dis­cussões em torno de multas, a proposta prevê que o concessio­nário pode ter um desconto de 20% a 25% do valor, se desistir de questionar a punição nas esferas administrativa e judicial. Tam­bém nesse caso, o objetivo é dar mais efetividade ao trabalho da fiscalização. O governo propõe também mudança na estrutura de multas aplicadas às concessões feitas na primeira etapa do programa (Du­tra, ponte Rio-Niterói e BR 040, entre outras) e aquelas da segun­da etapa (Régis Bittencourt, Fernão Dias e outras). Por serem muito diferentes, elas dão mar­gem a contestação. A minuta da nova regulamentação foi toma­da pública, para receber suges­tões até o dia 15 deste mês. / L.A.O.

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Crédito dispara e expõe China a risco de bolha

O Estado de S. Paulo

A China conseguiu evitar um pouso forçado de sua economia no ano passado, mas agravou o risco de enfrentar no futuro uma crise financeira com ingredientes semelhantes à da que abalou o mundo em 2008, incluindo pitadas de “subprime” e “esquemas Ponzi”. A reação do Produto Interno Bruto (PIB) foi obtida graças a uma nova onda de expansão do crédito, alimentada principalmente por fontes paralelas aos empréstimos bancários formais, empacotadas em inovações financeiras sobre as quais há pouca – ou nenhuma – regulação e supervisão. A estimativa do mercado é que os ativos movimentados por esse sistema “informal” atingiram 30 trilhões de yuans (US$ 4,8 trilhões) no fim de 2012, o que representa cerca de 60% do PIB. Além disso, a velocidade em que o endividamento total cresceu desde 2008 supera a registrada nos Estados Unidos antes da quebra do banco Lehman Brothers, em setembro daquele ano, e no Japão dos anos 80, período que antecedeu o estouro da bolha especulativa que envolveu o país, afirmam Edward Chancellor e Mike Monnelly, do banco de investimentos norte-americano GMO.

“A economia chinesa se tornou viciada em crédito e requer volumes cada vez maiores de dívida para gerar a mesma unidade de crescimento”, escrevem ambos em uma das mais pessimistas análises sobre a situação atual da segunda maior economia do mundo. Só em 2012, o volume de novos financiamentos foi de 15,76 trilhões de yuans (US$ 2,53 trilhões), cifra equivalente a 33% do PIB do país no ano anterior e ao tamanho total da economia brasileira. A injeção de crédito já havia sido o principal artifício da China para evitar o impacto do tsunami financeiro que varreu o planeta a partir do fim de 2008: em 2009, o endividamento do país aumentou em valor iguai a 45% do PIB. A agência de classificação de risco Fitch estima que o volume total de crédito saltou de 124% do PIB em 2008 para 190% do PIB no ano passado, uma alta de 66 pontos porcentuais em quatro anos. “O pouso forçado parece ter sido evitado, mas a expansão monetária de 2012 elevou a quantidade de crédito na economia chinesa a novos patamares e intensificou a preocupação da Fitch em relação a um problema de dívida na China”, diz a instituição em nota divulgada há duas semanas.

Acompanhados tradicionalmente como um termômetro da economia local, os empréstimos bancários perderam terreno como fontes de financiamento para outros veículos, muitos dos quais vistos com desconfiança pelos analistas. Em 2012, as linhas concedidas pelos bancos corresponderam a 52% do total de crédito, depois dos 64% registrados no ano anterior e dos 92% de 2002. O restante do endividamento foi contraído junto a fontes paralelas, que o Banco do Povo da China começou a monitorar no primeiro semestre de 2011, quando cunhou a expressão “Financiamento Social Total” (TSF, 11a sigla em inglês). Além dos empréstimos bancários em yuans, a definição inclui categorias como investimentos oferecidos por empresas de trast, emissão de bônus corporativos e inovações chamadas de “produtos de gestão de riqueza” (WMPs na sigla em inglês para Wealth Management Products), que são fundos criados com recursos de várias pessoas e aplicados de maneira diversificada. Em tese, o surgimento de novas opções de investimentos contribui pa£i a desejada reforma do sistema financeiro e a conseqüente liberalização dos juros – a rentabilidade dos produtos “paralelos” é superior à taxa incidente sobre os depósitos, fixada pelo governo em 3%. O problema é a velocidade de expansão desses créditos e a ausência de uma moldura regulatória, observa Bo Zhuang, da consultoria britânica Trusted Sources. “A China começa a trilhar o caminho de uma crise nos moldes do subprime”, opina, em referência aos créditos podres que desencadearam o drama de 2008. Terremoto. Bo Zhuang acredita que o problema poderá ser empurrado por dois anos, mas deverá provocar um terremoto quando finalmente transbordar. Segundo ele, a expansão paralela do crédito é resultado de políticas contraditórias do governo de Pequim: as autoridades querem estimular o crescimento e, ao mesmo tempo, conter a expansão dos empréstimos bancários e a inflação e realizar reformas. Em uma situação de grande liquidez, o resultado é o florescimento de fontes paralelas de crédito. Enquanto diminuiu a participação das linhas tradicionais no total de endividamento, o porcentual dos bônus corporativos passou de 10,6% para 14,3% entre 2011 e 2012.

A parcela dos trustes foi de 1,6% para 8,2%. “Eu sou otimista em relação ao curto prazo, mas muito pessimista 110 longo prazo”, ressalta Bo. Para os analistas do GMO, o governo parece estar prestes a perder o controle sobre o sistema de crédito, o que pode atingir o próprio modelo que gerou o espetacular crescimento das últimas três décadas. “O “Capitalismo Vermelho”, que é a habilidade das autoridades chinesas de direcionarem a enorme poupança do país para seus próprios fins, enfrenta uma ameaça existencial”, escreveram Chancellor e Monnelly.

A EXPANSÃO DO ENDIVIDAMENTO NA CHINA E SEUS RISCOS

Novos créditos 0 valor dos novos créditos concedidos em 2012 foi de 15,76 trilhões de yuans (US$ 2,53 trilhões), 0 equivalente a 33% do PIB do ano anterior • Aumento do endividamento 0 nível de endividamento do país saltou de 124% do PIB em 2008 para quase 190% do PIB em 2012, segundo a agência de classificação de risco Fitch • Preocupação de analistas A agência de avaliação de risco Fitch Ratings alerta que a expansão monetária de 2012 evitou o pouso forçado da economia chinesa, mas elevou a quantidade de crédito na economia a novos patamares. Na opinião dos analistas, a situação pode gerar um problema de dívida • Crédito fora dos bancos Empréstimos concedidos fora do sistema bancário cresceram mais rapidamente que o crédito tradicional no ano passado e já representam 48% do total. Em 2002, o porcentual era de 2% • Empréstimos inovadores As fontes não tradicionais de crédito incluem a emissão de bônus corporativos e a criação de produtos “inovadores”, como fundos de gestão de riqueza ou projetos elaborados por “trust companies”, muitos dos quais não terão o retorno financeiro esperado • Supervisão incipiente A supervisão dos novos modelos de crédito ainda é recente e o rápido crescimento dessas atividades representa um risco para o sistema financeiro • Fragilidade financeira Para o banco de investimentos norte-americano GMO, 0 sistema de crédito da China exibe um grande número de indicadores associados a uma aguda fragilidade financeira Estímulo da Liquidez A expansão do crédito é estimulada pela grande liquidez na economia. A quantidade de dinheiro em circulação aumentou 13,8% em 2012 e atingiu 97,42 trilhões de yuans, o equivalente a US$ 15,71 trilhões, a maior cifra do mundo • Risco bancário O banco HSBC alerta que mudanças no apetite por risco ou da percepção dos investidores podem desestabilizar 0 setor bancário do ponto de vista de recursos

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Analistas esperam reação modesta da produção industrial

Valor Econômico

Depois de um desempenho sofrível em 2012, a indústria manteve seu nível de produção no último mês do ano em relação a novembro, feitos os ajustes sazonais, resultado melhor que a queda esperada pelo mercado, mas que não trouxe perspectivas mais favoráveis à retomada modesta projetada para 2013. Se no ano passado os principais determinantes do recuo de 2,7% da produção, pior resultado desde 2009, quando o setor sofreu um tombo de 7,4%, foram a deterioração do investimento, estoques elevados, dificuldade para exportar e o aumento do nível de endividamento das famílias, entre outros, os economistas acreditam que neste ano medidas mais horizontais tomadas pelo governo ajudarão o setor a se recuperar. Essa reação, no entanto, ainda deve ser irregular, já que o cenário externo segue desafiador e ainda há incertezas que podem atrapalhar a evolução do setor de bens de capital.

Ao cair 0,8% na passagem de novembro para dezembro, essa parte da indústria marcou sua quinta retração mensal consecutiva. No ano, recuou 11,8%, pior resultado entre as quatro categorias de uso pesquisadas pelo IBGE.

Para Rodrigo Nishida, economista da LCA Consultores, um acúmulo excessivo de estoques prejudicou os fabricantes de bens de capital no último mês do ano, já que as vendas de caminhões e ônibus reagiram e os desembolsos do BNDES também aumentaram no período. Segundo sondagens da FGV, o setor de bens de capital é o único que ainda sofre com excesso de mercadorias paradas, nota Nishida, mas essa situação já está se ajustando e, à medida que os estoques forem queimados, a produção deve voltar com mais fôlego, porque medidas para destravar o investimento foram tomadas.

O analista da LCA também destaca o comportamento ruim do segmento de bens duráveis, que, a despeito do último mês com IPI reduzido para automóveis, encolheu 0,5% ante novembro, com queda de 1% em veículos automotores. Ele aponta que o consumo de carros ficou mais concentrado no terceiro trimestre, mas também contribuíram para o resultado ruim da atividade industrial do setor em dezembro a paralisação na fábrica da Renault e a não incorporação pelo IBGE da produção das novas fábricas de montadoras asiáticas.

Segundo Flávio Serrano, do BES Investimento, o primeiro semestre ainda deve mostrar um desempenho “moroso” da indústria porque, apesar de um crescimento mais espalhado entre outros ramos, o segmento de veículos crescerá a taxas bem mais modestas com a volta gradual do IPI. “O ciclo de bens duráveis está acabando e esse modelo de crescimento está se esgotando”, diz.

O analista Fabio Ramos, da Quest Investimentos, projeta que a produção industrial terá expansão de 3% frente a 2012, com desempenho um pouco melhor das exportações e “o fim da fase da queda do investimento”, mas com alguma ressaca no setor de bens duráveis, provocada pela retirada dos incentivos e a antecipação de consumo observada em 2012.

Serrano, do BES, trabalha com alta entre 3% e 3,5% da produção, mas avalia que a posição mais intervencionista do governo ainda pode atrapalhar a volta esperada para o investimento e é um risco importante a esse cenário.

Ajudarão na alta de 3,5% estimada para a indústria em 2013, diz Nishida, da LCA, a fraca base de comparação de 2012, o câmbio em nível mais depreciado, ainda que tenha havido uma pequena valorização, estoques mais ajustados, à exceção do setor de bens de capital, e todas as demais medidas tomadas pelo governo para incentivar o setor, tais como a redução das tarifas de energia e a desoneração da folha de pagamento. “Mas uma deterioração adicional do cenário externo ainda representa um risco à retomada”.

Para janeiro, os analistas ouvidos ainda não fizeram suas projeções para a produção porque indicadores antecedentes importantes, como o dado de produção de veículos da Anfavea, não foram divulgados, mas há a percepção de que a indústria pode voltar para o terreno positivo, já que a confiança do empresariado seguiu em alta no primeiro mês do ano e Índice de Gerentes de Compras do HSBC referente a janeiro mostrou aumento de novas encomendas.

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Fundos terão R$ 9,5 bi para infraestrutura

Valor Econômico

Diante do potencial de demanda de financiamento para os projetos de infraestrutura, que estima-se que devem requerer mais de R$ 1 trilhão em investimentos até 2016, os gestores de “private equity” estão preparando o lançamento de carteiras com foco nesse setor. Estão em captação no mercado 12 fundos, que pretendem levantar pelo menos R$ 9,5 bilhões voltados para a aquisição de participação em empresas ou em projetos dos mais variados setores de infraestrutura, que incluem logística, energia, transportes e portos.

A Caixa está captando dois fundos de investimento em participação (FIPs) voltados para o setor de infraestrutura, sendo uma carteira lançada em parceria com o Banco Espírito Santo (BES), que prevê levantar R$ 500 milhões com investidores locais, e outro fundo de US$ 1 bilhão, que contará com distribuição para estrangeiros.

Outros bancos, como BTG Pactual e Santander, e gestoras tradicionais no setor de infraestrutura, caso de Angra, a americana Darby Overseas e a BRZ Investimentos, também estão estruturando fundos voltados para o setor. O BTG, por exemplo, pretende levantar R$ 1,5 bilhão com um novo fundo de private equity.

Só o pacote de concessões de ferrovias e rodovias de R$ 133 bilhões, anunciado pelo governo federal no ano passado, demandará investimento de R$ 79,5 bilhões nos próximos cinco anos. Ainda estão previstos para este ano a licitação de concessões importantes na área de aeroportos, como no caso dos terminais de Confins, em Minas Gerais, e do Galeão, no Rio de Janeiro, além da primeira etapa do projeto do trem-bala, que deve demandar no total R$ 35 bilhões.

A Mantiq Investimentos, gestora de private equity do Santander, pretende captar um segundo portfólio voltado para o setor de infraestrutura. “Diante dos tíquetes mais elevados que serão exigidos pelos novos projetos, o fundo terá que ter um patrimônio de pelo menos R$ 1 bilhão”, diz Marcos Matioli, diretor-executivo da Mantiq. O portfólio terá flexibilidade para entrar tanto no capital dos projetos como no suporte de crédito por meio da compra de títulos de dívida.

O primeiro fundo da gestora, o InfraBrasil, lançado em 2004, possui R$ 1,2 bilhão de patrimônio e já está todo investido. A Mantiq tem interesse em participar de alguns projetos de mobilidade urbana. No setor de energia, a preferência é por projetos de biomassa e termoelétricas. “Não queremos entrar em grandes obras como Jirau e Belo Monte, que têm prazos muito longos de desenvolvimento”, diz Matioli.

A gestora JG Capital, especializada em produtos estruturados, também pretende lançar um FIP voltado para o setor de infraestrutura neste mês. A ideia é captar R$ 400 milhões para investir em empresas da cadeia de produção, com faturamento entre R$ 50 milhões e R$ 400 milhões. “As grandes companhias do setor de infraestrutura já estão muito caras e, por isso, optamos por focar na cadeia de fornecedores”, afirma Ricardo Ribas Lima, responsável pela gestora.

A JG Capital tem identificado oportunidades no segmento de portos e ferrovias. “Estamos analisando alguns investimentos ligados ao escoamento da produção de grãos no Centro-Oeste, Norte e Nordeste”, afirma Lima.

Já na área de portos, o foco é em prestadores de serviços ligados a investimentos nas vias de acesso aos terminais portuários.

O governo anunciou no fim de 2012 investimentos de R$ 54,2 bilhões no setor portuário até 2017.

A revitalização da área do porto Cais Mauá, em Porto Alegre, por exemplo, deve ser financiada por fundos. A gestora carioca NSG Capital, que faz parte do consórcio responsável pela obra, formado pela espanhola GSS e a Contern, do grupo Bertin, está estruturando dois portfólios para a construção do empreendimento, que deve demandar R$ 560 milhões.

A ideia é levantar R$ 450 milhões por meio do lançamento de um fundo imobiliário (FII) e de um fundo de participação no capital da holding. “Já estamos em fase de estruturação do fundo imobiliário, de cerca de R$ 200 milhões, que serão investidos na construção do complexo com um hotel e duas torres comerciais”, afirma Paulo Lima, diretor comercial da NSG.

A conclusão da primeira etapa do projeto está prevista para 2014 e envolve a revitalização da parte portuária à margem do rio Guaíba, semelhante ao modelo desenvolvido na região de Puerto Madero, em Buenos Aires. O projeto inclui ainda um shopping center, que será construído por operador privado, e uma área de entretenimento, que será operada pela Coca-Cola.

A BRZ Investimentos também planeja participar dos novos projetos nas áreas de portos por meio da empresa LogZ, criada em 2010 para gerir os investimentos da gestora no setor de logística.

O primeiro fundo, o Brasil Logística FIP, de R$ 500 milhões, já está todo investido, e a BRZ está captando um segundo portfólio, cuja previsão é chegar a R$ 900 milhões segundo prospecto registrado na Comissão de Valores Mobiliários.

Atualmente, a LogZ detém participações em quatro empresas do setor portuário localizadas em Santa Catarina. “Vemos oportunidades nos setores de logística voltada para o transporte de cargas, ferroviário, portos e armazenagem”, afirma Nelson Rozental, sócio-diretor da BRZ.

A gestora prefere investir em empresas responsáveis pelos investimentos no setor, como fez com a ALL em ferrovias, do que entrar diretamente em projetos. “Isso torna mais fácil o desinvestimento”, diz Rozental.

A Darby também está captando um segundo fundo mezanino, que investe na compra de debêntures que podem ser convertidas em ações, com previsão de levantar R$ 450 milhões segundo apurou o Valor. O primeiro fundo, lançado em 2008 pela Darby Stratus, de R$ 387 milhões, está com 70% da carteira comprometidos, tendo investido em quatro empresas. “O fundo mezanino se provou interessante porque a saída do investimento se dá pela amortização dos papéis”, diz Eduardo Farhat, diretor da Darby Private Equity. O alvo da Darby são empresas com faturamento entre R$ 100 milhões e R$ 150 milhões.

A Rio Bravo Investimentos também pretende lançar uma carteira de renda fixa que pode chegar a R$ 600 milhões para financiar diretamente projetos nas áreas de portos, aeroportos, rodovias e ferrovias, incluindo a parte de transporte urbano, afirma Fábio Okamoto, sócio-diretor da Rio Bravo. A gestora também avalia a possibilidade de montar um FIP, de R$ 400 milhões a R$ 500 milhões, para investir nesses projetos.

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Nova classe média demanda serviços

Valor Econômico

Edilaine Martins Borges: aumento de renda depois que entrou na faculdade, há um ano e meio, permitiu a compra de um carro e que faça planos para matricular a filha Larissa num curso de inglês

Nos últimos quatro anos, a consultora de vendas Patrícia Mota cursou faculdade, transferiu a filha de 12 anos da escola pública para a particular, instalou internet e TV por assinatura em casa e passou a frequentar salões de beleza. Além disso, contratou uma empresa de limpeza para fazer periodicamente a faxina de sua casa, o que permite a ela aproveitar os fins de semana com a família.

Nesses quatro anos, o salário de Patrícia, que era de R$ 900 por mês, quadruplicou. “Sempre batalhei. Agora, tenho reconhecimento e posso dar uma vida mais confortável para minha família”, diz a consultora, que também é mãe de um menino de quatro anos.

A assistente de recursos humanos Edilaine Martins Borges conta história parecida. Ela viu seu salário subir depois que entrou na faculdade, há cerca de um ano e meio. Com a renda extra, Edilaine planeja pagar um curso de inglês para a filha Larissa, de 15 anos, que já estuda em escola privada há três anos.

O aumento da renda, diz Edilaine, garantiu maior contato entre mãe e filha. “Agora, vamos juntas ao cabeleireiro, à manicure e às sessões de depilação. Temos mais tempo para nós”, afirma. Recentemente, ela comprou um carro e não hesitou em fazer uma despesa a mais para colocá-lo no seguro.

Patrícia e Edilaine são representantes de uma classe média que, nos últimos anos, está mudando o perfil do Brasil. De 2002 a 2012, a classe média brasileira ganhou 37 milhões de novos participantes, pessoas que deixaram de apenas sobreviver para se tornarem consumidores. Esse fenômeno, que elevou de 38% para 52% a participação da classe C na pirâmide social do país, ampliou a demanda por serviços em cerca de 33%, segundo levantamento do Data Popular. Uma década atrás, a classe média gastava 49,7% de sua renda com serviços. Neste ano, a expectativa é que tais despesas cheguem a 66,3% dos rendimentos.

“Os fartos reajustes no salário mínimo, o aumento e a formalização do emprego nos últimos anos levaram a esse cenário”, diz o sócio-diretor do Data Popular, Renato Meirelles. Entre 2002 e 2012, o salário mínimo subiu 172,5%, superando de longe a inflação no período, de 76,6%. O resultado foi um ganho real de 54,3% nesse intervalo, o que influenciou os acordos salariais, principalmente das categorias de menor rendimento.

A mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) mostra que, de 2007 para 2011, o aumento salarial real dos 20% da população com menor renda foi de 36,8%, ao passo que o reajuste para os 10% mais abonados foi de 7,9%. Ou seja, quanto menor o salário, maior o reajuste.

Paralelamente ao avanço do rendimento, o país presenciou a queda no desemprego, com a taxa de desocupação passando de 9,3% para 6% nesse mesmo intervalo. A expectativa dos economistas é que em 2012 esse percentual seja ainda mais baixo, em torno de 5,5%.

“O setor de serviços é o principal gerador de emprego e renda no país. Ele é responsável pelos dois lados da moeda. Por um lado, é o que mais contribui para a expansão do consumo e, por outro, sofre os impactos dos aumentos de custos”, observa o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcelo Neri.

Empregados e com mais dinheiro no bolso, os brasileiros foram além do estritamente essencial. Buscaram aqueles serviços que até então não faziam parte de seu dia a dia, e os preços rapidamente subiram. Em 2007, a inflação de serviços superava levemente o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A diferença era de 0,7 ponto percentual, com o IPCA subindo 4,5% no período em que os serviços aumentaram 5,2%. Cinco anos depois, a inflação de serviços já se mostrava três pontos percentuais acima do IPCA. No ano passado, os serviços aumentaram 8,8%, enquanto o IPCA teve alta de 5,8%.

Nos serviços pessoais, a pressão foi ainda maior. Os preços subiram 9,8% no ano passado, bem mais que os 7,6% verificados em 2007. Empregado doméstico, manicure e depilação aumentaram mais de 10% somente no ano passado. “As pessoas estão mudando seus hábitos. Há uma demanda reprimida que agora começa a ser atendida”, diz Neri.

Essa transformação é muito clara entre os serviços ligados ao lazer. No ano passado, excursões e passagens aéreas lideraram as altas no segmento, subindo 15,3% e 26%, respectivamente. Neste período, o tráfego de passageiros nos aeroportos do país aumentou 6,5%, de acordo com a Infraero, e as vendas de pacotes de viagem cresceram aproximadamente 8%, segundo a Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav).

Em 2013, a classe média é a que mais pretende viajar. O estudo do Data Popular mostra que, dos 27 milhões de brasileiros que têm planos de explorar os atrativos turísticos do Brasil, 15 milhões – 55% do total – são da classe C. Nas viagens internacionais, a classe média também é maioria. Representa 46% dos 7 milhões de brasileiros que planejam viajar para o exterior neste ano, enquanto 33% são da alta classe e 21% das camadas mais baixas. Pelos cálculos da Abav, as vendas de pacotes turísticos crescerão entre 8% e 10% neste ano.

“Nos serviços também vale a lei de oferta e demanda, com um agravante: não se pode importar serviços. Como a demanda cresce mais rápido que a oferta, o resultado é inflação”, observa Meirelles.

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