Apesar de enchentes, chuvas decepcionam setor elétrico
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) reduziu a previsão do nível dos reservatórios das hidrelétricas do subsistema Sudeste-Centro-Oeste para o fim de março, de 54,2% para 52%. O motivo é o menor volume de água que entrou nos lagos das usinas em relação ao estimado no início do mês.
Diante do cenário desfavorável, não há qualquer indicação pelo governo de desligar as termelétricas a óleo combustível e diesel em curto prazo. Já as usinas a gás natural deverão operar continuamente até novembro. Todas as térmicas estão gerando hoje 15.200 megawatts (MW), o equivalente a um quarto do consumo do sistema hoje.
Em relatório semanal da operação, o ONS informou que a expectativa de energia natural afluente (basicamente o volume de água que é transformado em energia) para o Sudeste-Centro-Oeste, que concentra 70% da capacidade de armazenamento do país, é de 81% da média histórica para março. No início do mês, a previsão do ONS era alcançar 89% da média histórica para o subsistema.
Segundo a meteorologista Patrícia Madeira, da Climatempo, além de o volume de chuvas em fevereiro e março ter sido inferior à média histórica para o período, no Sudeste, as chuvas nesses dois meses foram concentradas na parte leste da região, principalmente no litoral. Elas não ocorreram com maior intensidade nas bacias hidrográficas.
Patrícia lembrou que neste verão, que termina na próxima quarta-feira, praticamente não houve o fenômeno climático chamado zona de convergência do Atlântico Sul, que cria uma faixa de instabilidade, com chuvas contínuas sobre os reservatórios. “Neste verão, houve muito mais pancadas isoladas do que chuvas contínuas e concentradas”, disse.
Segundo o ONS, a previsão de energia natural afluente para a bacia do rio Paranaíba, uma das principais do Sudeste-Centro-Oeste, foi revista 80% para 61% da média histórica para março.
“No período de dezembro de 2012 a março de 2013, têm se verificado vazões afluentes significativamente desfavoráveis nas regiões Sudeste, Nordeste e Norte, concomitantemente”, informou o ONS no relatório. De acordo com o operador, a energia natural afluente para o Sudeste no período é a décima-quarta pior em 82 anos. No Nordeste e Norte, foram a terceira e a vigésima pior, respectivamente.
Em média, o período de dezembro a março concentra mais de 50% de toda a “energia armazenável” que entra nos reservatórios e resta apenas pouco mais de um mês para terminar o período úmido, sendo que abril já é um mês historicamente mais fraco. “Estamos saindo do período chuvoso e “devendo” chuva”, disse Patrícia.
Outro ponto que também influencia o desempenho dos reservatórios é o consumo de energia. O ONS prevê que a demanda em março, alcance 65,7 mil MW médios, com alta de 4% em relação a igual período do ano passado. No início do mês, a previsão do operador era de uma alta de 3,2%, para 65 mil MW médios. Na mesma comparação, o consumo de energia no Sudeste-Centro-Oeste deverá crescer 3,6%, para 40.286 MW médios. A previsão anterior era de alta de 2,3%.
No Nordeste, o ONS prevê crescimento de 10,8%, na comparação com março de 2012, totalizando consumo de 10.160 MW médios. A expectativa anterior era de uma alta de 7%. O motivo do crescimento expressivo previsto é o desempenho da atividade econômica e as temperaturas elevadas na região.
As hidrelétricas do Nordeste, porém, registram o pior nível de armazenamento do país, atualmente em 42%. Em seu relatório semanal, o ONS reviu para cima o volume de acumulação dos lagos das usinas da região, de 41,1% para 42,3%, ao fim de março.
O ONS também elevou a estimativa de estoque dos reservatórios da região Sul, de 48,4% para 50,6%. As hidrelétricas da região estão com nível de energia guardada nos reservatórios de 49,2%. No Norte, a projeção de armazenamento foi reduzida de 97,7% para 93,2%. As usinas da região estão com volume de estoque de água de 88,2%.
Fabricantes de máquinas começam o ano com queda no faturamento
Valor Econômico
As boas perspectivas para 2013 não foram abaladas, mas o ano começou de forma ainda lenta para os fabricantes de bens de capital. Dados compilados pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) dão conta que o faturamento bruto do setor recuou 3,7% na passagem de dezembro para janeiro, na série sem ajuste sazonal, para R$ 5,8 bilhões. Na comparação anual, houve avanço, mas modesto, de 0,2%.
Os números do primeiro mês de 2013 sofreram o impacto das transações externas. As importações avançaram 9,9% em relação a janeiro do ano passado. As exportações, por sua vez, caíram 24,1%. O resultado foi um déficit da balança comercial do setor de US$ 1,9 bilhão, o maior para um mês de janeiro desde o início da série histórica da Abimaq, que data de 2005.
A avaliação da entidade é que houve uma redução na demanda de máquinas em mercados desenvolvidos, como Estados Unidos e Europa, além dos problemas bilaterais com a Argentina, que continuam afetando as exportações. “Torcemos para que isso não seja uma tendência, pois exportamos cerca de um quarto da produção”, disse Carlos Pastoriza, diretor da Abimaq, em coletiva de imprensa.
Pelo lado das importações, uma avaliação é que havia demanda reprimida. “As condições de financiamento do BNDES [para produtos nacionais] e barreiras colocadas pelo governo deram uma segurada nas importações no fim do ano passado”, afirmou André Romi, presidente da Câmara Setorial de Máquinas Ferramenta da Abimaq, em entrevista ao Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor.
Romi disse que a taxa anual de financiamento Finame/PSI do BNDES passou de 2,5%, no ano passado, para 3%, neste semestre, e chegará a 3,5% na segunda metade do ano. “A condição excepcional de financiamento fez as empresas anteciparem o consumo no fim do ano; no segmento de máquinas ferramenta, cerca de 20% a 30% das vendas foram antecipadas”.
Para o executivo, essa combinação trouxe uma retomada das importações e uma queda na compra de produtos nacionais. Essa tendência, prevê, continuará a ser observada em fevereiro, que provavelmente trará resultados ainda fracos, até porque os dois primeiros meses do ano são sazonalmente mais fracos.
“Março já tende a ser um mês mais “normal”, mais homogêneo”, disse o executivo. A expectativa dele, em linha com a já apresentada pelo presidente da Abimaq, Luiz Aubert Neto, é de uma retomada suave e mais consistente a partir do segundo trimestre. Romi afirmou que, apesar da alta gradual da taxa Finame/PSI, o financiamento de máquinas continuará muito atraente e estimulará as vendas. No segmento de máquinas ferramenta, a linha do BNDES é usada em 70% a 80% das vendas dos fabricantes nacionais, estima Romi.
Sinais para corroborar esse “otimismo moderado” aparecem no horizonte. A indústria, cliente do setor de bens de capital, mostrou-se mais vigorosa neste início de 2013. A produção industrial, medida pelo IBGE, avançou 2,5% na passagem de dezembro para janeiro (descontadas as influências sazonais). Foi a maior alta mensal do índice desde março de 2010. A produção de bens de capital subiu 8,5%.
É importante ponderar que esses sinais estão bastante concentrados em alguns setores, especialmente o automobilístico, que puxou a produção de bens duráveis, e de caminhões, que inflou os dados da produção de bens de capital.
O setor de caminhões se recupera de um 2012 que foi muito ruim. Com a edição de nova regulação para emissões de poluentes, os clientes haviam adiantado as compras de caminhões no fim de 2011 e as vendas sofreram fortemente no ano passado.
Outro índice positivo foi visto na pesquisa “Indicadores Industriais”, da Confederação Nacional da Indústria (CNI). A capacidade instalada da indústria alcançou 84%, em janeiro, melhor índice desde fevereiro de 2008.
Por outro lado, a pesquisa da CNI apontou uma queda de 4,2% no faturamento real da indústria, na comparação com dezembro. Em relação a janeiro de 2012, o tombo foi de 5%. A pesquisa mostra um cenário também da indústria, como um todo, preparando-se para uma retomada das vendas no futuro próximo.
ANP sugere áreas para 1ª Rodada do pré-sal
Valor Econômico
A Agência Nacional do Petróleo (ANP) submeteu à aprovação da presidente, Dilma Rousseff, as áreas para serem ofertadas na 1ª Rodada de blocos exploratórios de petróleo, nas áreas do pré-sal, previsto para novembro. Estimativas preliminares da agência reguladora sugerem a possibilidade de volume recuperável de 10 bilhões de barris de petróleo nessas áreas do pré-sal.
Magda Chambriard, diretora-geral da ANP, disse que o volume foi previsto com base em sísmicas de duas dimensões (2D) realizadas pela agência. Magda ponderou, no entanto, que o grau de incerteza em relação às previsões ainda é muito alto. As previsões estão sujeitas a incertezas técnicas e comerciais e se referem a uma estimativa de volumes potencialmente recuperáveis.
Já para as áreas que serão ofertadas na 11ª Rodada de licitação de blocos exploratórios de petróleo, a previsão, com base nas mesmas sísmicas 2D, é de volume recuperável de cerca de 7,5 bilhões de barris de petróleo. Para se ter uma ideia, até 2011, o total de reservas provadas no Brasil atingiu 15,1 bilhões de barris de petróleo. A 11ª Rodada está marcada para os dias 14 e 15 de maio, com a oferta de 289 blocos em onze bacias sedimentares.
Para que se tenha uma previsão mais precisa do volume recuperável será necessária a realização de sísmicas em terceira dimensão e outras atividades que, segundo Magda, serão de responsabilidade dos vencedores do leilão. “A gente consegue mapear oportunidades exploratórias importantes baseadas em sísmicas 2D”, disse Magda, após participar de seminário técnico realizado pela a ANP.
O cobiçado reservatório de Libra, na Bacia de Santos, é uma das áreas propostas pela ANP para serem incluídas na concorrência do pré-sal, sob o regime de partilha. Além dele, estão áreas adjacentes a campos ou descobertas e outras áreas da Bacia de Santos.
Magda descartou que as duas rodadas a serem realizadas ainda este ano, após a 11ª Rodada, sofram flexibilização das exigências de conteúdo local. “Não tenho nenhuma indicação que isso vai mudar”, disse. A Petrobras e outras companhias do setor pediram o abrandamento das regras à ANP. Segundo Magda, as regras fazem parte de política do governo e tem como objetivo o longo prazo. “O gargalo que se enxerga agora certamente não existirá daqui a 10 ou 15 anos.”
Recentemente, a Petrobras decidiu transferir encomendas feitas no país para o exterior. “A Petrobras tem todo o direito de fazer encomenda onde ela quer, desde que cumpra o compromisso assinado em contrato”, disse. De acordo com Magda, a agência vai auditar os projetos da estatal e se o índice não estiver cumprido a petroleira será multada.
A ANP também não deve flexibilizar na cobrança do desenvolvimento de campos maduros do país. Recentemente a agência apresentou plano para o Campo de Roncador, na Bacia de Campos, e a Petrobras fez um pedido de revisão. “Estamos estudando, mas não acredito que tenha muito espaço para grandes revisões”, afirmou Magda. Esse é o primeiro plano dos dez que devem ser apresentados pela ANP para desenvolvimento.
Taxa de calotes deve ceder, diz Febraban
Valor Econômico
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) mostrou otimismo quanto à perspectiva para a inadimplência. Para a entidade, o atraso nas operações “emite sinais de esgotamento na margem”, o que pode favorecer uma recuperação mais efetiva do crédito neste ano.
A expectativa consta em informativo divulgado ontem e traz uma avaliação dos balanços do último trimestre de cinco grandes bancos e oito de menor porte, cujos ativos totais representam cerca de 85% do sistema financeiro.
A taxa geral de inadimplência dos bancos da amostra recuou pela segunda vez, após cinco trimestres de alta, para 3,43%. No terceiro trimestre do ano passado, esse percentual era de 3,53%.
“O índice de cobertura, que recuou desde o final de 2010 como efeito do aumento da inadimplência, tem ficado relativamente estável em torno de 175%, em patamar confortável”, acrescenta o texto.
A carteira de crédito total dos bancos da amostra avançou 5,5% no último trimestre. Vale destacar o crescimento de 9% dos bancos públicos ante 2,8% nas instituições grandes privadas e 2% nos bancos de menor porte.
Já no ano passado, o crescimento da carteira de crédito da amostra foi de 17,8%, o que aponta uma desaceleração ante o desempenho de 2011. O avanço mais expressivo foi novamente registrado pelos bancos públicos, com 30% em 2012, ante uma desaceleração do avanço para 9% dos bancos grandes privados. Já os bancos menores registraram expansão de 8,3%.
A Febraban destacou também que o lucro dos bancos da amostra somou R$ 13,4 bilhões no quarto trimestre de 2012, o que representa um aumento de 9% em relação aos três meses anteriores e de 1% ante o mesmo período de 2011, sendo o maior valor nominal trimestral da série.
Exportação de manufaturado volta a recuar
Valor Econômico
A valorização do real frente ao dólar desde dezembro já começou a afetar a exportação de manufaturados. Mais do que isso, fez a venda de industrializados ao exterior voltar a apresentar queda, após uma tentativa de recuperação no último trimestre de 2012. Junto com o câmbio, pesam contra a exportação de manufaturados a falta de recuperação de mercados como o europeu e o americano, além da dificuldade de exportar para a Argentina, o maior destino dos manufaturados brasileiros.
Em ritmo desacelerado desde junho de 2011, a exportação brasileira de manufaturados começou a cair no trimestre encerrado em junho de 2012, contra mesmo período do ano anterior. No último trimestre do ano passado, a venda de manufaturados ensaiou uma recuperação (alta de 2,9% no trimestre encerrado em novembro), mas voltou a cair em 2013. Os trimestres encerrados em janeiro e fevereiro tiveram recuo de 3,1% e 11,3%, respectivamente.
A queda nas vendas ao exterior de manufaturados preocupa mais, porque são os itens da pauta de exportação com maior valor agregado, diz Rodrigo Branco, economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). “Esse desempenho põe em evidência a dificuldade da indústria em aumentar exportações, mesmo com as medidas de incentivo.”
A queda na venda dos manufaturados não está restrita a poucos setores. Entre os 24 segmentos industriais que a Funcex acompanha, houve redução de exportação em 14 setores no primeiro bimestre contra o mesmo período de 2012. As vendas externas de máquinas e equipamentos caíram 25,9%, metalurgia teve recuo de 11,8% e produtos de borracha e plástico, 12,4%.
A queda de 9,9% no embarque do total de manufaturados foi maior que a esperada e contribuiu para a Funcex reduzir de US$ 16 bilhões para US$ 13 bilhões a estimativa de superávit comercial para 2013. “Ao que tudo indica, a recuperação da balança do ano vai depender muito mais das safras agrícolas do que se imaginava antes”, diz Branco. Depois do déficit histórico em fevereiro, a balança acumula no primeiro bimestre saldo negativo de US$ 5,31 bilhões.
“A exportação brasileira de manufaturados tem uma dependência grande do câmbio e segue a curva do dólar a curto prazo”, diz Welber Barral, sócio da Barral M Jorge e ex-secretário de Comércio Exterior. A recuperação no último trimestre do ano passado, diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), acompanhou a expectativa do exportador e o discurso do governo federal, segundo o qual o real mais desvalorizado iria permanecer. “Mas em dezembro, o governo começou a mudar o discurso, o que mexeu na expectativa de câmbio e na queda de exportação de manufaturados”, diz Castro. “O exportador não altera o preço e nem faz esforço para exportar, se acha que o real vai se valorizar.”
“Além da valorização do real frente ao dólar, há outros fenômenos. Entre eles, a concorrência ainda maior no mercado internacional, que se acirrou nos últimos meses”, diz Barral. A maior competição, diz, é resultado da frustração em relação à recuperação de economias como a europeia e a americana, que não reagiram ainda como esperado.
O fator Argentina, lembra Castro, também é relevante. Os argentinos são os maiores compradores externos de manufaturados brasileiros. No ano passado, em razão das barreiras impostas, as vendas do Brasil ao país vizinho tiveram queda de 20,8%, enquanto a exportação total brasileira caiu 5,3%.
Cerca de 90% do que o Brasil exporta para a Argentina são manufaturados. No ano passado, a venda de manufaturados aos argentinos caiu 19,7%, e no primeiro bimestre deste ano contra igual período de 2012, o recuo foi alto de novo – 16,3%.
Do total em manufaturados vendidos pelo Brasil ao exterior, 18,1% vão para os argentinos. O segundo maior destino são os Estados Unidos, com 15%, e depois, a Holanda. O desempenho abaixo do esperado, porém, não se limita à Argentina. No primeiro bimestre contra mesmo período do ano passado, a venda de manufaturados aos americanos ficou, segundo dados da Funcex, com queda leve de 0,9%. A venda dos produtos dessa mesma classe para a União Europeia sofreu redução de 18,2%.
Um dos agravantes, diz Branco, é a perda de mercado pelo Brasil na venda de manufaturados para os países latino-americanos, que têm fatia superior a 40% na exportação brasileira dessa classe de produtos. “E o Brasil tem perdido fatia de mercado nessa região, porque o problema não se restringe à Argentina.” A exportação brasileira de manufaturados, diz o economista da Funcex, não tem acompanhado o crescimento econômico dos países latino-americanos.
Embora ainda demonstre fôlego para Paraguai (alta de 15,1%) e para Colômbia (alta de 5,3%), as vendas para o Peru e para a Venezuela amargaram queda, de 12,2% e de 21,2%, respectivamente. Todos os números levam em conta o primeiro bimestre contra mesmo período do ano passado. Além de câmbio e concorrência, a exportação regional de manufaturados, diz Barral, esbarra nas preferências naturais criadas com os acordos comerciais mais recentes que países como a Colômbia assinaram com os Estados Unidos.
Barral não espera grande melhora na exportação brasileira de manufaturados para este ano. O receio é de que o processo de valorização do real frente ao dólar continue nos próximos meses. O debate atual sobre o aumento de juros para segurar a inflação, diz Barral, contribui muito para isso. “Se os juros aumentarem, atrairemos mais dólares para investimentos e haverá mais pressão para a valorização do real.”
Enquanto isso, diz Castro, o exportador continua sem confiança para explorar novos mercados ou investir mais na exportação. “As medidas tributárias não foram suficientes, e mesmo o Reintegra, um benefício mais geral, demorou muito para ser prorrogado ao fim do ano passado.”
Brasil deve ter primeiro déficit comercial no 1º tri desde 2001
Valor Econômico
A balança comercial brasileira registrou déficit de US$ 448 milhões na terceira semana de março. Com esse resultado, no ano, o saldo está negativo em US$ 5,526 bilhões. No mesmo período do ano passado, o saldo da balança comercial foi positivo em US$ 1,127 bilhão. A última vez que a balança comercial registrou déficit no primeiro trimestre foi em 2001, com resultado negativo de US$ 672,9 milhões. Naquele ano, foram US$ 13,8 bilhões em exportações e US$ 14,4 bi em importações.
De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), o resultado da terceira semana de março resultou de US$ 4,155 bilhões em exportações e US$ 4,603 bilhões em importações. Com o dado da segunda semana, a balança comercial acumula déficit de US$ 212 milhões em março. A média diária de US$ 899 milhões nas exportações de março até a terceira semana é 5,4% inferior à média diária de US$ 950,5 milhões dos embarques realizados em todo o mês de março do ano passado.
Essa queda é explicada pelo menor embarque de produtos básicos e manufaturados. As exportações de produtos básicos caíram 9,4%, de US$ 460,8 milhões da média diária de março de 2012 para US$ 417,3 milhões até a terceira semana deste mês, por conta, principalmente, de petróleo em bruto, farelo de soja, algodão em bruto, fumo em folhas e trigo em grão.
Nas commodities agrícolas, todo o complexo soja registrou, até a terceira semana, volume médio de exportações inferior ao de março de 2012. Na média, o volume de soja em grão está 14% menor, o de farelo, 42% inferior, e para óleo, a retração em quantidade chega a 79%. De 23 commodities agrícolas e industriais analisadas pelo Mdic, 11 estão com um volume médio de exportação inferior ao de março do ano passado. Em preço, 13 das mesmas 23 estão com preço médio inferior ao de igual mês de 2012.
No caso de manufaturados, os embarques apresentaram redução de 9% na comparação da média diária acumulada neste mês (US$ 326,9 milhões) com março do ano passado (US$ 359,2 milhões). As maiores retrações foram nas vendas de bombas e compressores, veículos de carga, máquinas p/ terraplenagem, óxidos/hidróxidos de alumínio, pneumáticos e polímeros plásticos.
Já para os semimanufaturados, a média subiu 20,4%, passando de US$ 109,1 milhões em março de 2012 para US$ 131,3 milhões no acumulado deste mês. O resultado se deve ao maior embarque de catodos de cobre, açúcar em bruto, ferro fundido, alumínio em bruto, couros e peles, celulose e ouro em forma semimanufaturada.
Na outra ponta, as importações aumentaram 6,9% até a terceira semana de março, com média diária de US$ 918,3 milhões, ante US$ 858,7 milhões em todo o mês de março do ano passado. Nesse mês, ao contrário do que aconteceu em janeiro e fevereiro, as importações de combustíveis não foram atípicas – elas ficaram 2,9% inferiores as de março de 2012, pela média diária.
Nessa comparação, houve aumento de gastos com adubos e fertilizantes (59,9%), cereais e produtos de moagem (33,4%), siderúrgicos (15,1%), plásticos e obras (14,8%), aparelhos eletroeletrônicos (10,8%) e instrumentos de ótica e precisão (9,6%).