Governo manda tropa da Força Nacional proteger Belo Monte

Diante dos conflitos que paralisam as obras da usina hidrelétrica de Belo Monte, o governo decidiu enviar tropas da Força Nacional e Segurança Pública ao local.

Portaria do Ministério da Justiça, publicada na edição desta segunda-feira do “Diário Oficial da União”, informa que efetivo da Força Nacional será enviado ao Pará, por 90 dias –prazo que poderá se estendido–, atendendo à demanda do Ministério de Minas e Energia.

Segundo a portaria, o ministro Edison Lobão, de Minas e Energia, solicitou o envio de tropas no dia 21, data em que um grupo de manifestantes, composto na maioria por índios, ocupou um dos canteiros de obras de Belo Monte e paralisou as atividades de cerca de seis mil operários no sítio Pimental, no rio Xingu.

O uso das tropas tem o objetivo de “garantir incolumidade das pessoas, do patrimônio e a manutenção da ordem pública nos locais em que se desenvolvem as obras, demarcações, serviços e demais atividades atinentes ao Ministério das Minas e Energia”, afirma o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, na portaria.

O protesto no canteiro da usina na semana passada foi o segundo envolvendo índios neste ano.

Em janeiro, eles fecharam o acesso ao sítio Pimental durante três dias, reclamando de impactos da obra ao rio Xingu, e terminaram o protesto após uma garantia de indenização.

No ano passado, índios chegaram a realizar um quebra-quebra nos escritórios da obra. No início deste mês, operários tocaram fogo em alojamentos. Um operário foi preso após a polícia encontrar bananas de dinamite em seu armário.

A hidrelétrica de Belo Monte tem conclusão prevista para 2019 e deverá ser a terceira maior do mundo.


Feliciano diz que só deixa comissão da Câmara se morrer

Folha Online

Pressionado a renunciar ao cargo de presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o deputado federal e pastor Marco Feliciano (PSC-SP) afirmou que só deixa a comissão “se morrer”.

Em entrevista ao programa “Pânico”, da Band, levada ao ar no domingo (24), o pastor afirmou que sua escolha no colegiado foi feito por meio de um acordo partidário, e acordo “não se quebra”.

“Estou aqui por um propósito, fui eleito por um colegiado. É um acordo partidário, acordo partidário não se quebra. Só se eu morrer”, disse o pastor.

A indicação à comissão ficou com o PSC após o PT abrir mão do comando do colegiado na divisão de cargos na Câmara, no fim do mês passado.

A entrevista ao “Pânico” foi gravada no meio da semana passada, segundo a assessoria da emissora. Na quarta-feira (20), o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), aumentou a pressão para que o PSC encontre uma solução para o impasse na comissão.

Para Feliciano, renunciar ao cargo na comissão seria como referendar as críticas que tem recebido.

“Uma coisa é você chegar em casa e ter que explicar para uma criança de 10 anos o por quê na escola falam que seu pai é racista. Isso dói. Isso machuca. Então, uma renúncia minha agora seria como um atestado de confissão: ‘eu sou mesmo, então estou abandonando’. Eu não sou e estou aqui para provar isso”, disse à apresentadora Sabrina Sato.

Pressão

Desde que assumiu o posto, no começo do mês, Marco Feliciano tem sido pressionado para deixar o cargo.

A pressão pela sua saída cresceu após a divulgação de um vídeo, na segunda-feira (18), com críticas aos seus opositores.

O material, publicado pela produtora de um assessor do deputado, e divulgado por Feliciano no Twitter, chama de “rituais macabros” os atos contra sua indicação e questiona a conduta de seus opositores.

As duas únicas sessões da Comissão de Direitos Humanos realizadas sob o comando de Feliciano foram marcadas por manifestações contra sua permanência.

O pastor é acusado de ter opiniões consideradas homofóbicas e racistas. Feliciano nega as acusações e diz que apenas defende posições comuns aos evangélicos, como ser contra a união civil homossexual.

“Se por acaso alguém me interpretou mal, se sentiu ofendido, me desculpe”, disse durante a entrevista ao “Pânico”.

Bolívia

Ontem, o deputado pastor Marco Feliciano (PSC-SP) deu mais sinais públicos de que pretende resistir no cargo.

Divulgou em seu site que “já prepara viagem oficial” à Bolívia “nos próximos dias” para tratar do caso dos corintianos presos naquele país após a morte de um garoto numa partida de futebol.

Ele diz ter sido informado pelo embaixador da Bolívia, Jerjes Justiniano Talavera, que há caminhos para a comissão encontrar uma saída para o caso dos corintianos.

O deputado disse ainda que Tavalera o convidou para acompanhar a situação dos 12 torcedores que estão presos desde o dia 20 de fevereiro pela morte do torcedor do San José Kevin Espada.

A Folha apurou que o deputado já fez contato com o Ministério das Relações Exteriores. Na comissão, ele apresentou um requerimento pedindo que o ministério envie solicitação à Embaixada do Brasil na Bolívia e “promova gestões para entrega dos torcedores brasileiros detidos”, “que ficariam em liberdade provisória, sob custódia das autoridades brasileiras, até a realização do julgamento”.

O documento ainda não foi analisado pela comissão, que não conseguiu realizar reuniões devido aos protestos que cobram a saída do pastor do cargo. Isolado na bancada do PSC e sem o aval da Câmara, Feliciano tem até amanhã para apresentar uma solução.

Ontem, o presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), disse que a situação não avançou no fim de semana. “Não tive notícias.”

Alves tem dito que a situação ficou insustentável diante dos protestos. Foi ele quem deu o prazo até amanhã para o PSC achar uma solução, já que regimentalmente não é possível destituir o pastor do cargo.


Acionistas da Petrobras perdem 21% em 12 meses

Folha Online

O mau desempenho recente das ações da Petrobras tem preocupado investidores.

Cálculos feitos para a Folha pela empresa de informações financeiras Comdinheiro mostram que quem aplicou R$ 10 mil há 12 meses no papel mais negociado da estatal (o preferencial, sem direito a voto) tinha, em 19 de março deste ano, R$ 7.912,18, já considerando os proventos (dividendos, juros sobre capital próprio e rendimentos).

Quem investiu o valor na ação ordinária (menos negociada, com direito a voto) perdeu mais dinheiro: o saldo diminuiu para R$ 7.021,70.

As ações caíram no período pressionadas pela desconfiança dos investidores em relação à ingerência do governo na empresa, que impediu, por exemplo, reajustes mais elevados da gasolina por causa da inflação.

Além disso, a companhia reduziu os dividendos (fatia do lucro distribuída aos acionistas) no ano passado.

Na avaliação de especialistas, para quem tem papéis da companhia ou pensa em comprá-los com uma visão de retorno no curto prazo, a perspectiva não é boa.

“O fator político é preponderante e, se isso continuar no lugar de maximização de valor, o resultado não tem por que ser diferente”, diz Rafael Paschoarelli, professor da USP e um dos responsáveis pelo levantamento.

Clodoir Vieira, economista-chefe da corretora Souza Barros, recomenda a migração para outros ativos.

“Por exemplo, ações de setores relacionados ao consumo interno, como o de bebidas e o financeiro”, afirma.

“A não ser que o investidor já tenha tido um prejuízo grande com Petrobras e possa manter aplicação por um prazo longo na expectativa de recuperar valor.”

Os cálculos ao lado mostram que os investimentos feitos na estatal há mais tempo geraram ganhos. Quem aplicou R$ 10 mil no papel preferencial em 2000 tinha saldo de R$ 61.812,30 em 19 de março de 2013, também com proventos. Na ação ordinária, o valor era de R$ 63.759,12.

Perspectivas

E, embora rentabilidade passada não garanta ganhos futuros, analistas afirmam que, no longo prazo, a perspectiva para a Petrobras segue positiva, considerando que, em 2017, a exploração do pré-sal estará mais forte.

“O que ela tem de bom é o pré-sal, e, de ruim, a ingerência do governo”, diz Pedro Galdi, da SLW Corretora.

Como exemplo dessa ingerência, os especialistas também destacam os casos da refinaria Abreu e Lima (PE), que teve o orçamento aumentado.

“Se o investidor pode suportar esses fatores externos e quer ter uma empresa do setor de petróleo na sua carteira, os papéis da companhia estão baratos”, afirma Galdi.

Já na avaliação da XP Investimentos, não há muita diferença de cenário para o investimento de longo ou curto prazos. A corretora considera que há opções “mais claras” na Bolsa, como nos setores de educação e portuário.


Analistas reduzem novamente a projeção de crescimento em 2013

Portal Estadão

A previsão de crescimento da economia brasileira em 2013 recuou de 3,03% para 3,00% na pesquisa Focus divulgada há pouco pelo Banco Central. Para 2014, a estimativa de expansão segue em 3,50%. Há quatro semanas, as projeções eram, respectivamente, de 3,10% e 3,60%.

A projeção para o crescimento do setor industrial em 2013 segue em 3,00%. Para 2014, economistas preveem avanço industrial de 3,95%, abaixo dos 4,00% da pesquisa anterior. Um mês antes, a Focus apontava estimativa de expansão de 3,10% para 2013 e de 3,50% em 2014 para o setor.

Analistas elevaram ainda a previsão para o indicador que mede a relação entre a dívida líquida do setor público e o PIB em 2013 de 34,10% para 34,50%. Para 2014, a projeção segue em 33,20%. Há quatro semanas, as projeções estavam em, respectivamente, 34,50% e 33,20% para esses dois anos.

Inflação e juro

A projeção de inflação medida pelo Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2013 caiu pela segunda semana seguida, de 5,73% para 5,71%. Há quatro semanas, a estimativa estava em 5,69%. Para 2014, por outro lado, a projeção subiu pela segunda semana consecutiva, de 5,54% para 5,60%. Há quatro semanas, estava em 5,50%.

Já a projeção da inflação para os próximos 12 meses caiu de 5,45% para 5,42%, conforme a projeção suavizada para o IPCA, na terceira queda seguida. Há quatro semanas, estava em 5,49%. Nas estimativas do grupo dos analistas consultados que mais acertam as projeções, o chamado Top 5 da pesquisa Focus, a previsão para o IPCA em 2013 no cenário de médio prazo subiu de 5,71% para 5,72%.

Para 2014, a previsão dos cinco analistas segue em 6,05%. Há um mês, o grupo apostava em altas de 5,56% e de 6,50% para cada ano, respectivamente.  Os economistas consultados na pesquisa Focus do Banco Central elevaram a previsão para a taxa básica de juros (Selic) no fim de 2013 de 8,25% para 8,50% ao ano. Para o fim de 2014, a mediana das projeções segue em 8,50% ao ano.

Há quatro semanas, as projeções estavam em, respectivamente, 7,25% e 8,25% ao ano. A projeção para a reunião do Copom de abril segue em 7,25% ao ano, indicando estabilidade. Para 2014, segue em 8,50% ao ano, ante 8,25% há quatro semanas.

Câmbio

A mediana das projeções para a taxa de câmbio no final de 2013 segue em R$ 2,00 nas estimativas dos analistas consultados na pesquisa Focus. Quatro semanas antes, estava em R$ 2,00. Para o fim de 2014, a mediana segue em R$ 2,05. Há quatro semanas estava em R$ 2,05. Na mesma pesquisa, o mercado financeiro manteve a previsão para a taxa média de câmbio em 2013 em R$ 1,99. Para o fim de março, a estimativa passou de R$ 1,97 para R$ 1,98.

O mercado financeiro manteve a previsão de déficit em transações correntes em 2013. Pesquisa Focus mostra que a mediana das expectativas de saldo negativo na conta corrente este ano segue em US$ 65,0 bilhões. Há um mês, estava em US$ 63,10 bilhões. Para 2014, a previsão de déficit nas contas externas subiu de US$ 70,4 bilhões para US$ 70,5 bilhões, ante US$ 68,35 bilhões há quatro semanas.

Na mesma pesquisa, economistas reduziram a estimativa de superávit comercial em 2013 de US$ 14,00 bilhões para US$ 13,00 bilhões. Quatro semanas antes, estava em US$ 15,20 bilhões. Para 2014, a projeção recuou de US$ 14,50 bilhões para US$ 13,30 bilhões. Há quatro semanas, essa estimativa estava em US$ 15,60 bilhões.

A pesquisa mostrou ainda que as estimativas para o ingresso de Investimento Estrangeiro Direto (IED), aquele voltado ao setor produtivo, foi mantida em US$ 60,00 bilhões para 2013 e para 2014, mesmos valores de quatro semanas atrás.


“Tarefa da OMC será evitar retrocessos no comércio global”, diz candidato brasileiro

Folha de S. Paulo

Paralisada há cinco anos pelos impasses na rodada Doha de liberalização do comércio global, a Organização Mundial do Comércio escolhe agora um novo diretor-geral que terá como missão recobrar a relevância de uma instituição essencial ao crescimento econômico global.

O brasileiro Roberto Azevêdo, cuja candidatura foi lançada pelo governo no fim de 2012, desponta como um dos favoritos entre os nove candidatos para suceder Pascal Lamy, que nos próximos dois meses se submeterão a três etapas de votação pelos 159 países-membros.

À frente da missão do Brasil na OMC desde 2008, o embaixador tornou-se respeitado e querido em Genebra, onde fica a sede da organização.

Seu nome, porém, é menos conhecido nas capitais, de onde partirá a decisão e onde a tendência é ligar sua candidatura à política comercial do Brasil — vista como protecionista por observadores e analistas estrangeiros.

Para apresentar suas ideias e dissociar seu nome de Brasília, Azevêdo, 55, embarcou numa corrida maluca: desde janeiro, visitou 46 países.

Na semana passada, o diplomata passou 48 horas em Washington, onde se encontrou com Demetrios Marantis, chefe interino do equivalente a Ministério do Comércio Exterior, e com representantes da Casa Branca, do Congresso e do setor privado.

Fez uma pausa também para conversar com a Folha, na residência oficial do embaixador brasileiro em Washington, antes de voltar a Genebra e dali voar para Doha e depois Durban, onde o périplo segue até meados de abril.

A votação na OMC ocorre por meio de consultas sigilosas aos países-membros, que apontam seus favoritos. Até 9 de abril, quatro serão eliminados, e depois, três, até o resultado sair no fim de maio.

“Estou satisfeito. E estou tranquilo”, afirmou. “Não esperava [que corresse tão bem]. Quando a campanha começa, há muita incerteza.”

Eis a entrevista.

Folha – Você se reuniu com representantes do governo dos EUA. Como foi a conversa?

Roberto Azevêdo – Muito boa. Já estamos mantendo contato há tempo. Não tem nada novo, a ideia era vir, fazer um gesto, conversar com eles. E como nas vezes anteriores, a conversa foi ótima.

Eles não declaram voto?

Eu não comento sobre o apoio ou não-apoio de nenhum país, eles que digam.

Nos encontros que o sr. tem mantido, quais preocupações são levantadas sobre a OMC?

Quando eu apresento minhas prioridades, sobretudo na área do pilar negociador, que as negociações estão bloqueadas há muito tempo, que é preciso encontrar uma solução para a rodada Doha, desbloqueá-la, porque aí você desbloqueia não só a rodada, mas a organização, pois você começa a ter mais espaço para discutir outras coisas que acabam nem entrando na agenda porque os membros não querem, de maneira geral, discutir novas coisas com o temor de que se abandone de vez a rodada. Desbloquear a rodada significa desbloquear a organização como um todo.

Quando eu digo essas coisas, todos eles, de maneira geral, coincidem que esse é o maior problema e deveria ser a prioridade do próximo diretor-geral. Todos falam muito da importância de ter algum resultado [na reunião ministerial de] Bali [no segundo semestre], também. Muitos estão também preocupados com que os países passem a fazer sempre opções por negociações bilaterais ou plurilaterais em detrimento do sistema multilateral. As duas coisas sempre existiram juntas, caminhavam juntas, mas o que está acontecendo hoje é que o multilateral bloqueou de vez, e só tem uma vertente caminhando.

Há preocupação com a perda de relevância da OMC?

Sem dúvida, todo mundo fala isso, há preocupação com a perda de relevância e de interesse pelo multilateral, e também com o fato de que a OMC na verdade tem regras e disciplinas que o mundo operava em termos de negócios no início dos anos 80. Nós estamos falando de um sistema que está defasado há 30 anos.

O sr. falou em mudar os pilares de negociação. A rodada Doha empacou por causa de uma resistência grande entre dois grupos de países. O que poderia haver de diferente para dissolver as divergências?

Nos anos imediatos que se seguiu ao impasse era com a crise. Ninguém sabia quantificá-la, não sabia o tamanho, as consequências. Hoje a crise é uma coisa quantificada, e está embutida nos cálculos. Ninguém acha que seja uma coisa passageira, que amanhã estaremos bem, mas na maior parte dos casos achamos que o pior já passou, que agora haverá uma recuperação, lenta e gradual, e vai demorar um pouco para uma recuperação completa.

Acho também que nos momentos que se seguiu ao impasse houve muitas tentativas de se fazer o pacote que estava sobre a mesa funcionasse, e portanto a ideia era convencer o outro lado a pegar o que estava na mesa. E não deu. Hoje ninguém mais espera que o outro lado pegue o que esteja na mesa.

Então partimos de uma situação de negociação diferente, em que todo mundo já conhece as sensibilidades, as impossibilidades da negociação, e haverá uma disposição de trabalhar de uma maneira mais criativa. Não vai ficar perdendo tempo, um tentando convencer o outro.

Concordar em discordar?

Isso, e encontrar o que podemos fazer dentro da discordância. Outra coisa importante é que todos querem o acordo. A OMC já está paralisada há muito tempo, e não dá para ficar esperando que as estrelas se alinhem.

Se a gente ficar mais cinco, dez anos com o sistema paralisado a organização talvez tenha uma perda de relevância irreversível, porque aí o mundo vai desenvolver mecanismos de negociação que vão passar ao largo do sistema multilateral.

Hoje, se você conseguir que o sistema se torne viável como foro negociador, as pessoas voltam. Se você demorar cinco, dez anos, as pessoas vão encontrar outra cultura negociadora, a OMC vai perder sua relevância de vez. Diante desse quadro, acho que as pessoas estão mais dispostas a negociar. O que acontece é que elas não sabem como sair do impasse.

Se espera do próximo diretor-geral a fórmula mágica?

Acho que não existe fórmula mágica, mas acho que existem maneiras de se encontrar a negociação se houver duas coisas: interesse em sair do impasse e uma liderança capaz de trazer as pessoas para a mesa e fazer a negociação acontecer de maneira construtiva, com confiança, em que os dois lados acreditem que o outro quer a solução. É possível fazer sem esse facilitador, mas levaria dez anos.

No quadro que o sr. descreve, essa confiança melhorou.

Não sei se a confiança melhorou, o que melhorou foi a vontade.

O sr. falou em criatividade para criar consensos. Onde o sr. vê caminhos?

Os temas do impasse nós sabemos quais são, e sabemos o tamanho das lacunas, e as maneiras de abordar o tema que temos na mesa.

Os países desenvolvidos querendo mais acesso aos mercados nos países em desenvolvimento…

E os países em desenvolvimento querendo mais acesso aos mercados dos países desenvolvidos, mas em outras áreas. Há uma discordância sobre o que isso pode fazer na área de bens industriais e na área de agricultura. O que se pede em agricultura para se dar em bens industriais o outro lado não quer, e vice-versa.

Mas isso é o coração do comércio internacional. Onde dá para comer pelas beiradas?

Tem várias coisas, e eu não posso falar. O impasse se dá em determinadas áreas de bens industriais. Tem maneiras de fazer. E tem que ser no impasse, se você não ver solução no impasse não adianta nada. Agora, para Bali, se resolveu evitar os pontos problemáticos. Mas para resolver Doha isso não vai funcionar, você tem que ir direto no impasse e descobrir o que dá para fazer, para vender isso em todos os países, sem reduzir a ambição.

Como chefe da missão brasileira, o sr. levou o debate sobre o câmbio à OMC. Este é um debate que o sr. levaria como diretor-geral também?

O diretor-geral não pode levar nada. São os membros que levam. Ele pode propor, mas são os membros que vão decidir. Tanto o câmbio quanto qualquer outro tema dependeria de os membros interessados convencerem os membros que não estão interessados em discutir.

O diretor-geral é um facilitador, que tem que ajudar a fazer com que a negociação aconteça. Ele até pode sugerir coisas, mas é bom tomar cuidado. Raramente você vai ter uma ideia que seja aceita por todos os membros de maneira indiscutível. Se ele sai muito propositivo em uma área ou outra ele rapidamente vai criar um problemão com metade dos membros.

Acho que tem o momento de ser ativo, e o motivo de ser cauteloso. Tudo isso depende de como o sistema evoluir.

Chegou a haver uma discussão sobre enterrar Doha e começar outra coisa, outra rodada.

Não acho que seja possível, não é politicamente viável. Hoje, 90% dos problemas que você tem na OMC vêm do medo dos países em desenvolvimento de que se abandone a rodada. E para começar de novo, começaria em que base? Mais fácil ajustar o que está lá.

Qual o papel do avanço na liberalização do comércio internacional no pós-crise?

Acho importante, primeiro, evitar que se caminhe para trás, sobretudo no sentido de proteção. A OMC foi muito importante para evitar que medidas protecionistas fossem adotadas de forma desenfreada — o aumento foi muito mais modesto do que houve no momento, e o comércio continuou crescendo. Muita gente — e eu também — creditou isso às disciplinas da OMC. Essa é a primeira coisa. A segunda é ir criando espaços para ir liberando o comércio progressivamente. Só que isso não é algo que se consegue da noite para o dia.

Mesmo o mundo desenvolvido levou meio século para ir baixando as tarifas, e ainda hoje há picos tarifários e setores mais protegidos, como têxteis e agricultura. O processo é lento, mas não pode perder o sentido. A relevância maior do sistema multilateral é essa.

O Brasil costuma ser destacado, sobretudo na imprensa internacional, como país protecionista, embora não tenha sido o único a tomar medidas que sejam vistas como protecionistas. O sr. vê resistência em relação ao Brasil, ou questionamentos, por causa disso? O sr. ouviu reclamações?

Reclamação propriamente não. Claro que para vários países daria mais conforto se o candidato fosse de um país percebido como livre-cambista. Até porque na maioria das vezes é difícil nas capitais… Em Genebra as pessoas me conhecem, sabem como eu atuo. Mas nas capitais a tendência é associar a pessoa ao país, e aí cada um faz o julgamento de como ele vê aquele país, se é um país com visão, com política comercial, parecida com a dele ou não.

Ao longo da campanha, porém, a ideia é dar a imagem do candidato de como ele é, porque quando ele for eleito ele vai ser uma pessoa totalmente independente [de seu país], que vai receber instruções dos membros e pautar sua atuação com base nos princípios constitutivos da OMC, independentemente da política do país dele.

Ele tem que ser absolutamente imparcial, porque na medida que ele for percebido como um diretor-geral que empurra uma determinada agenda, ele perde a efetividade rapidamente.

Quem o sr. enxerga como os mais qualificados?

Todos são muito qualificados, todos de primeira linha. A organização vai estar muito bem servida, não importa quem seja. Mas alguns estarão em condições de ajudar mais do que outros, pela experiência, o conhecimento do sistema, pelo trânsito entre os negociadores, pela confiança que têm dos membros.

Algum dos candidatos defende a agenda de seu país?

Não, não pode, porque perderia imediatamente a eficácia. O diretor-geral não só tem que ser imparcial como tem que ser percebido como sendo uma pessoa imparcial. O que ele tem que fazer é encontrar e facilitar consensos onde for possível. O que ele tem que fazer é zelar para que a organização caminhe dentro de seus princípios constitutivos. Se ele começar a se associar com uma determinada linha, a organização será acéfala por muitos anos.

Há uma ressalva em relação à sua candidatura que se repete: o fato de o sr. nunca ter tido cargo ministerial, como tiveram ou têm muitos dos demais candidatos. O que o sr. acha disso?

Acho que é uma crítica sem substância. A efetividade de um diretor-geral não está vinculada aos cargos que ele ocupou, mas à sua capacidade de liderar a organização.

Desde que a OMC entrou em vigor, em 1995, todos os diretores-gerais que foram ministros não conseguiram nenhum resultado, e os que conseguiram não eram ministros. E um argumento que eu ouço muito, de que os ministros falam com chefes de Estado, é conversa. Você vai me dizer que um candidato vai ligar para a presidente Dilma Rousseff e ela vai atender o telefone? Ela vai atender o diretor-geral da OMC, e se a OMC estiver fazendo alguma coisa que seja relevante.

Agora, se chegar na rodada final e for [disputar] eu com uma pessoa que for ministra, a pessoa vai usar as coisas óbvias [para defender sua candidatura]. Vão dizer que eu sou de um país visto como protecionista, que eu não sou ministro. Porque apontar para as qualidades profissionais vai ser difícil.


CIA ajuda Arábia Saudita e Qatar a armar rebeldes sírios, diz ‘NYT’

Folha Online

O jornal “The New York Times” publicou nesta segunda-feira que a CIA (Agência Central de Inteligência, sigla em inglês) ajuda a Arábia Saudita e o Qatar a enviar armas para os rebeldes sírios. A entrega é feita através de aviões militares dos dois países.

A agência não comentou sobre a contribuição e disse que o governo americano apenas repassa ajuda não letal aos insurgentes que combatem há dois anos contra o regime de Bashar Assad. Os Estados Unidos também reconhecem a oposição como a representante real da Síria.

Funcionários americanos disseram ao jornal que a CIA colaborou de forma consultiva com os carregamentos, dizendo aos países do golfo Pérsico que armamentos adquirir e onde poderiam ser comprados. A maioria das armas veio da Croácia, que possui grandes depósitos da época da Guerra da Iugoslávia, na década de 1990.

Segundo a publicação, os suprimentos militares chegaram ao país em cerca de 160 voos de aviões militares feitos entre janeiro de 2012 e o início de março. O armamento entra através das fronteiras com a Jordânia e em especial com a Turquia, que tem abrigado a maioria dos voos.

O principal país fornecedor é o Qatar, com 85 voos destinados à base militar de Esenboga, ao lado da capital turca, Ancara. De lá, os carregamentos são enviados por terra até a Síria e recebido por rebeldes nas áreas que foram dominadas pelos insurgentes.

Outros 37 carregamentos foram enviados por aeronaves sauditas, enquanto oito vieram da Jordânia. O país, que abriga o maior número de refugiados sírios, também foi o destino de 36 voos cargueiros comerciais da Croácia com armas, que foram compradas pelos qatarianos e sauditas aos rebeldes.

Todos os países negaram as acusações e dizem que fornecem apenas ajuda não letal aos opositores sírios. A estimativa de grupos de direitos humanos é que estes carregamentos tenham levado mais de 3.500 toneladas de armas aos rebeldes.

Risco de guerra

De acordo com o “New York Times”, o tamanho da operação logística causa preocupação aos funcionários americanos, em especial pelo risco de uma ação militar do Irã contra Turquia e Jordânia. Mesmo recebendo grande quantidade de armamento, as reclamações dos rebeldes são constantes.

Em entrevista ao jornal, os grupos armados dizem que a quantidade de armas é pequena e muito leve para combater a artilharia a disposição do ditador Bashar Assad. “É como se os estrangeiros abrissem e fechassem as comportas”, disse o comandante do grupo islâmico Soquor al Sham, Abel Rahman Ayachi.

Outro problema apontado é a corrupção e a infiltração de grupos que fazem comércio com as armas. “Existem brigadas que se dizem do Exército Livre Sírio que quando conseguem as armas, vendem-nas no mercado negro”, disse Hassan Aboud, também da Soquor al Sham.

Funcionários do governo americano ouvidos pelo “New York Times” dizem que o tamanho do carregamento é grande, mas diz que os rebeldes gastam demais, em uma média de um milhão de cartuchos a cada duas semanas.

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