Esquenta guerra entre Congresso e Supremo

 

Com a reação imediata e negativa de várias instâncias da República em relação à aprovação da PEC 33 na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, Henrique Alves anunciou que, “enquanto não tiver uma definição muito clara” sobre o assunto, está suspensa a criação da comissão especial que analisaria a proposta. O ministro Gilmar Mendes chegou a dizer que, se a medida for aprovada pelo Legislativo, será melhor “fechar” a Suprema Corte. “A PEC é inconstitucional do começo ao fim, de Deus ao último constituinte que assinou a Constituição. Eles rasgaram a Constituição. Se um dia essa emenda vier a ser aprovada, é melhor que se feche o Supremo Tribunal Federal”, recriminou.

Em Nova York, pouco antes de embarcar para o Brasil, o presidente do STF, Joaquim Barbosa, afirmou ontem, por meio de sua assessoria de imprensa, que uma eventual aprovação da PEC fragilizaria a democracia. “Tem quase 80 anos a tradição já consolidada de se permitir que o Supremo Tribunal Federal declare a invalidade jurídica de uma lei votada pelo Congresso por violação de uma cláusula constitucional. Por que alterar isso agora, em pleno século 21? Essa medida, se aprovada, fragilizará a democracia”, criticou.

Apesar da suspensão da tramitação, tanto Henrique quanto Renan mantiveram a tensão e subiram o tom do discurso. “A separação entre os Poderes não pode se resumir a uma mera questão emocional”, respondeu, referindo-se à possível retaliação da decisão de Gilmar Mendes. Os dois passaram o dia ontem reunidos com outros parlamentares, traçando qual seria o contra-ataque do Congresso.

“Da mesma forma que nós nunca influenciamos decisões do Judiciário, não aceitamos que o Judiciário influa nas decisões legislativas. De modo que consideramos isso uma invasão”, atacou Renan. “É inconcebível que haja uma tentativa de influir no andamento do processo legislativo”, completou.

O PSDB e o MD (fusão do PPS com o PMN) protocolaram ontem mandados de segurança para que o Supremo impeça a tramitação da PEC 33. O autor da proposta, deputado Nazareno Fonteles (PT-PI), disse que não esperava tamanha repercussão com a aprovação do texto porque a proposta está disponível há dois anos, desde que foi protocolada na Casa. Ao negar que haja uma estratégia de retaliação ao STF após o julgamento do mensalão, o parlamentar argumenta que, há exatamente um ano, uma PEC semelhante foi aprovada no mesmo colegiado, também sob a relatoria do deputado tucano João Campos (GO). “Como pode ser uma retaliação a algo que ainda nem tinha acontecido (julgamento do mensalão)?” Ele classificou as críticas como “desonestidade intelectual”.

Fonteles condenou ainda a decisão de Henrique Alves de não instalar a comissão especial na Câmara para analisar a proposta. “Ele não tem esse poder. Só tem a obrigação de criar a comissão especial e não pode fazer um ato contra a CCJ, que já deliberou”, ressaltou. Em nota, o presidente da CCJ, deputado Décio Lima (PT-SC), afirmou que a polêmica em torno da aprovação da PEC 33 “não passa de tempestade em um copo d’água”. Segundo ele, o debate entre os Três Poderes é normal e nenhum assunto é proibido. O ministro do STF Dias Toffoli também tentou amenizar o debate acalorado. “O ruim seria se o Congresso e o Judiciário não estivessem atuando. Por isso, não há crise. O que há são os Poderes funcionando. E que bom que estejam funcionando. Isso é melhor para a democracia”, avaliou.

Já o vice-presidente da República, Michel Temer, criticou a aprovação da PEC 33. “Eu lamento até dizer isso, mas acho que houve uma demasia. A palavra última há de ser sempre a do Poder Judiciário, especialmente em matéria de constitucionalidade e vinculação de uma determinada decisão para os tribunais inferiores”, disse.

Mensaleiros

A participação de deputados condenados no julgamento do mensalão na CCJ da Câmara — José Genoino (PT-SP) e João Paulo Cunha (PT-SP) — também é motivo de crítica. O ministro do Supremo Marco Aurélio Mello observou que nenhum integrante da comissão questionou o teor da PEC 33. “Não houve discussão a respeito, ninguém levantou o dedo para suscitar uma dúvida quanto ao objeto da proposta. E é sintomático que na comissão tenhamos dois réus da Ação Penal 470 (mensalão)”, disse.

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, alertou que os dois parlamentares petistas não deveriam sequer estar na Câmara. Ele lembrou que, no fim do passado, chegou a pedir a prisão de todos os 25 condenados. “Mas esse pedido não foi deferido. Então, essa participação deles acaba ocorrendo, digamos, em razão disso”, destacou.

QUEM MANDA?

Confira as trombadas entre o Supremo e o Congresso

Fidelidade partidária

STF

Em 2008, julgou constitucional a perda de mandato de quem é eleito por um partido e muda para outro, conforme previsto em resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Congresso

A fidelidade partidária seria votada dentro da reforma política, que ainda não saiu do papel.

Mensalão

STF

Determinou em 2012 a perda dos direitos políticos de José Genoino (PT-SP), João Paulo Cunha (PT-SP), Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Pedro Henry (PP-MT) por envolvimento no esquema que ficou conhecido como mensalão.

Congresso

O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), depois de vencer a eleição para o cargo em fevereiro de 2013, se negou-se a cassar automaticamente os mandatos dos deputados.

Casamento gay

Congresso

Projetos regulamentando a união entre pessoas do mesmo sexo não tiveram tramitação concluída.

STF

Considerou legal em 2011 o enlace entre homossexuais, em duas ações tratando do tema.

Anencéfalos

STF

A Corte decidiu em 2012 que grávidas de anencéfalos têm o direito de interromper a gestação.

Congresso

Não houve aprovação de lei, embora exista projeto regulamentando o procedimento.

Fundo de Participação dos Estados

STF

Em 2010, o tribunal considerou inconstitucionais os critérios de divisão dos recursos do Fundo de Participação dos Estados (FPE) e, por isso, determinou que eles fossem redefinidos pelo Congresso. O prazo dado pelo Supremo terminou em 31 de dezembro do ano passado.

Congresso

Como não houve decisão dos parlamentares, o prazo acabou prorrogado até junho. Por enquanto, permanecem os critérios antigos, que preveem que 85% do fundo vão para estados do Centro-Oeste, Norte e Nordeste, e 15% para os do Sul e Sudeste.

Vereadores

STF

Ao julgar uma ação, os ministros do Supremo criaram em abril de 2008 uma tabela com o número de vereadores por cidade de acordo com a população — regra que, segundo os ministros, apenas traduziu o que diz a Constituição.

Congresso

O Congresso aprovou em 2009 uma emenda constitucional com uma nova tabela de composição das câmaras municipais, que deveria ser adotada retroativamente. O Supremo, no entanto, concedeu liminar determinando que o novo número deveria ser aplicado apenas nas eleições de 2012.

Lei da Ficha Limpa

Congresso

Aprovada pelos deputados em 2010, a legislação previa que entraria em vigor apenas para condenações posteriores à sanção, ocorrida no mesmo ano.

STF

O Supremo determinou que condenados antes da lei também deveriam ser barrados.

CPI dos Grampos

Congresso

Deputados e senadores queriam ter acesso a ligações de envolvidos no esquema.

STF

O Supremo concedeu liminar desobrigando operadoras de telefonia a enviar à CPI dos Grampos informações sobre escutas em processos protegidos pelo segredo de Justiça.

CPI dos Bingos

Congresso

Deputados da oposição articularam a convocação do caseiro Francenildo Santos Costa.

STF

O Supremo concedeu liminar suspendendo o depoimento de Francenildo, caseiro do imóvel que ficou conhecido como “República de Ribeirão Preto”, onde se reuniriam Antonio Palocci, Rogério Buratti, Vladimir Poleto e Ralf Barquete para supostamente dar destino ilícito a recursos públicos.

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BC pode ‘intensificar’ uso de juros contra inflação

O Estado de S. Paulo

Com uma frase, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton, provocou uma reviravolta no mercado financeiro ontem. Ele mudou a interpretação que os analistas haviam dado para o rumo da taxa básica de juros após lerem os 75 pará­grafos da ata do Comitê de Po­lítica Monetária (Copom), di­vulgada mais cedo. A ata ser­ve como referência dos pla­nos do BC.

“Gostaria de registrar que cresce em mim a convicção de que o Copom poderá ser insta­do a refletir sobre a possibilida­de de intensificar o uso do ins­trumento de política monetá­ria”, afirmou Hamilton, duran­te evento do banco Itaú BBA.

A frase que arrematou o dis curso de Hamilton surpieen deu. Para a maioria dos analis­tas, a ata havia indicado que o ritmo de alta continuaria a ser de 0,25 ponto porcentual a cada reunião, para chegar, no máxi­mo, a 8,25% ao ano. Na semana passada, o Copom aumentou a Selic de 7,25% para 7,5% ao ano.

A interpretação de agentes fi­nanceiros depois da fala foi a de que os juros poderiam subir mais, no ritmo de o,5ponto por­centual ao mês, ou por mais tempo. As taxas no mercado de juros futuros, que estavam em queda até aquele momento, pas­saram a subir. A dúvida era se Hamilton falava por si ou pelo BC, Uma fonte do governo dis­se que o discurso não foi mani­festação isolada.

Sem o uso de meias palavras, como costumam se pronunciar os membros do Copom, o dire­tor afirmou que a inflação está elevada, disseminada e resisten­te. Negou, porém, que a alta dos preços vá ficar fora do controle. Até porque, disse, o BC usa a Selic para combater a inflação.

“O Banco Central dispõe – e está fazendo uso – do instru­mento de política (a taxa de ju­ros), que, por excelência, se des­tina a combater a inflação, e o faz com eficácia”, apontou.

Segundo ele, a situação não é simples e o Copom não fará “escolhas erradas” ao decidir que  problema enfrentar. “A escolha do comitê é o combate à inflação.” Sobre o crescimento, afir­mou que a previsão de 3,1% feita pelo BC está próxima do limite sustentável. Para ele, algo muito acima disso tende a gerar pres­sões inflacionárias. “E por que o crescimento potencial não seria muito diferente de 3,1%? Minha resposta, decerto, está entre as menos sofisticadas: essencialmente, porque nossa taxa de in­vestimento é baixa.” A contribuição da política monetária para que um país tenha taxas de expansão mais eleva­das no médio e longo prazos é, conforme o diretor, a garantia de estabilidade dos preços. “E a meu ver existe só, e somente só, esse caminho.” Um dos direto­res que votaram pelo aumento dos juros na semana passada, Hamilton também argumen­tou que o controle da inflação não é uma panaceia, mas condi­ção necessária, principalmente para países com histórico infla­cionário como o Brasil, que vi­veu uma hiperinflação no início  da década de 1990.

Hamilton afirmou que o IPCA ultrapassou o limite de 6,5%, definido pelo governo, an­tes do que indicavam as proje­ções do BC. Ao explicar os moti­vos para a alta da inflação, citou cinco fatores, quatro relaciona­dos a ações recentes do gover­no: depreciação do real, salário mínimo e políticas fiscal e mo­netária expansionistas. O dire­tor listou ainda os choques nos preços dos alimentos.

Ele afirmou ainda que o pior da crise externa passou e a ten­dência é que o crescimento glo­bal provoque alta nas cotações das commodities.

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Campos se junta a Aécio pelo fim da reeleição

O Estado de S. Paulo

O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), aliou-se ao pré-candidato do PSDB à Presidência, senador Aécio Neves (MG), e declarou-se “defensor convicto do fim da reeleição”. Assim como o tucano, Campos deverá disputar a Presidência em 2014. O Estado informou ontem que Aécio vai apresentar proposta no Senado propondo o fim da reeleição, mandato de cinco anos e coincidência entre eleições no País.

Eleição de dois em dois anos: segundo o pernambucano, promove a “eleitoralização da política”. “Tudo o que se faz ou deixa de fazer é interpretado como relacionado com a eleição, o que é muito ruim para o País”, justificou Campos. “A cada dois anos, por exemplo, o Estado para, não pode contratar nem fazer convênios com municípios por um determinado período”.

A ideia de Aécio não é recebida de maneira uniforme no PSDB, ainda que José Serra e Geraldo Alckmin – ambos ex-candidatos à Presidência – já se tenham pronunciado favoravelmente ao fim da reeleição. Ontem, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) defendeu as regras atuais e chamou a proposta de “extemporânea”.

“Trata-se de uma proposta lateral, que nada diz em relação ao enfrentamento com o governo. Temos de apresentar proposta para derrotar o PT, Tamanho de mandato e coisas semelhantes são propostas recorrentes e não dizem respeito à campanha. Campanha fala de programas, mostra o que está errado”, criticou Aloysio, que prefere deixar as regras como estão, “Sou a favor do jeito que está, quatro anos de mandato com reeleição. O eleitor tem o direito de julgar o governante, Se não gostar, muda. Se gostar, reelege.”

O ex-líder tucano Arnaldo Madeira (SP) também criticou a proposta de Aécio: “Incrível! Voltamos ao supérfluo. Discutir cinco anos de mandato e coincidência das eleições. O passado nos chama”, escreveu ele no Twitter. “Cinco anos de mandato para todos, nos três níveis, significa enrijecer de tal forma o sistema político que só o velho golpe para resolver crises”, complementou.

Já o ex-governador Alberto Goldman diz que, hoje, é a favor do fim da reeleição. “Hoje eu não votaria – a favor da reeleição, mas, sim, a favor de um mandato um pouco maior como o Aécio afirmou. A experiência não me faz ter o mesmo entendimento de antes”, disse.

O PT é contra a proposta de Aécio. Também o governo não vê razões para entrar no debate neste momento, ainda que a presidente Dilma, se reeleita em 2014, não corra o risco de ser prejudicada pela proposta do tucano. Ao contrário. Teria cinco em vez de quatro anos de mandato. “Não vamos mudar as regras no meio do jogo, como foi feito no governo Fernando Henrique para permitir a reeleição”, disse o líder do PT na Câmara, José Guimarães.

O vice-presidente da República, Michel Temer, acha “complicado” aprovar o projeto de Aécio. E se houver mudanças, avisou, haverá recursos ao STF. “E quem vai resolver é o Judiciário.” O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, mostrou-se também favorável ao fim da reeleição. /Ângela Lacerda, João Domingos, Rafael Moraes Moura, Mariângela Gallucci e Julia Duailibi

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Atividade industrial começa o segundo trimestre em ritmo lento, mostra estudo

Valor Econômico

A indústria inicia o segundo trimestre em ritmo lento, mas ainda sim melhor do que em igual período do ano passado. A avaliação é do superintendente adjunto de ciclos econômicos do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), Aloisio Campelo.

“Por enquanto, não há sinais de uma aceleração mais intensa e um ritmo mais duradouro no aumento da produção industrial no segundo trimestre”, disse Campelo, ao comentar os dados da prévia da Sondagem da Indústria de Transformação de abril, divulgada ontem.

O estudo apontou que os empresários da indústria estão menos otimistas em abril, tanto em relação ao presente quanto ao futuro do setor. A pesquisa apontou que o Índice de Confiança da Indústria (ICI) caiu 0,3% na passagem de março para abril, para 104,7 pontos, na série que desconta os efeitos sazonais. Esse foi o segundo recuo seguido do indicador, que está mais próximo da média dos últimos 60 meses, de 104,4 pontos.

“A indústria ainda tem muitos problemas de competitividade, dificuldades para exportar, e lida com a competição de importados no mercado doméstico. Há ainda a inflação de alimentos. A questão é que a demanda interna cresce menos e a externa está caindo. Com isso, não há ímpeto interno para a compra de materiais industriais”, disse Campelo.

Em razão desses fatores, o Índice da Situação Atual (ISA) recuou 0,4%, para 103,8 pontos, em abril na comparação com março, descontados os efeitos sazonais. O ISA está abaixo da média histórica, de 105,6 pontos.

A falta de perspectivas de aumento de demanda, afirmou Campelo, fez o Índice de Expectativas (IE) cair 0,4% em abril em relação a março, para 105,5 pontos, na série dessazonalizada. O IE está acima da média, de 103,1 pontos. “Essas quedas mostram que a indústria não dá sinais evidentes de uma recuperação de um ritmo mais intenso”, disse Campelo.

De acordo com o estudo, o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) subiu 0,2 ponto percentual em relação a março, para 84,3%. “Os dados indicam que a indústria deverá crescer no segundo trimestre [na comparação com o período imediatamente anterior], mas será um crescimento fraco, porque não há aumento significativo de demanda”, afirmou Campelo.

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PIB dos EUA teve alta disseminada em 2012; 2013 deve começar forte

Valor Econômico

A recuperação econômica dos Estados Unidos ganhou força em 2012, com todas as áreas do setor privado, exceto a agricultura, contribuindo para o crescimento, segundo mostram números do Bureau of Economic Analysis (BEA).

O valor agregado real na construção subiu pela primeira vez em oito anos, com o início da recuperação do setor imobiliário residencial e o setor financeiro dando sua primeira contribuição ao crescimento em dois anos.

Os dados sugerem que a recuperação da economia dos EUA está mais diversificada e elástica.

Os números do PIB do primeiro trimestre, que saem hoje, devem mostrar alta anualizada de 3%.

A maior contribuição para o crescimento de 2,2% em 2012 veio do setor industrial, que respondeu por 0,71 ponto porcentual, segundo cálculos do setor para o PIB.

Os números do BEA desmembram a economia por tipos de atividade, como consumo e investimentos, mas uma vez por ano a agência também publica os números da economia por setores.

Esses números mostram que 2012 foi principalmente um ano de recuperação cíclica, com forte salto na produção de bens duráveis. Entretanto, os comércios atacadista e varejista contribuíram juntos com 0,5 ponto porcentual para o crescimento, enquanto a contribuição dos setores financeiro e imobiliário foi de 0,43 ponto, e a do setor da construção, de 0,11.

O fortalecimento da recuperação econômica é um motivo de esperança após uma sequência de dados decepcionantes em março, que levantaram o temor de mais uma “desaceleração na primavera” [segundo trimestre nos EUA].

O crescimento do PIB do primeiro trimestre será visto com mais cautela que o normal pelos mercados, não só por ser uma primeira estimativa, vulnerável a grandes revisões, como pela aparente fraqueza do fim do trimestre fazer dele uma referência fraca para o rumo que a economia deverá tomar.

“O número deverá ser bem sólido, tenho aqui 3,3%”, disse ontem Jim O”Sullivan da High Frequency Economics, de Nova York. “Mas não achamos que a tendência seja necessariamente de 3,3%.”

Uma grande parte do crescimento do primeiro trimestre provavelmente veio da reposição de estoques. O escoamento dos estoques contribuiu para o crescimento anualizado bem fraco, de 0,4%, no quarto trimestre de 2012.

O número a ser olhado hoje é “as vendas finais do produto doméstico”, que mede as vendas reais para os consumidores e empresas americanos, excluindo estoques, e representa um guia melhor da saúde da economia.

“A parte das vendas finais provavelmente não será superior a 2%”, disse O”Sullivan. “Até mesmo uma parte disso representará um desembaraço dos efeitos da seca.”

Entretanto, ele disse que seria um erro extrapolar muito os dados fracos de março (os números foram ruins para a criação de empregos, as vendas no varejo, as encomendas de bens duráveis e a confiança nos negócios), porque pelo menos parte deles podem ser um reflexo da guinada de um inverno incomumente brando para uma primavera excepcionalmente fria.

“Os números de pedidos de auxílio desemprego foram bem encorajadores nas últimas semanas”, disse. Eles recuaram ao número sazonalmente ajustado de 339 mil, similar ao patamar registrado no começo de março, o que sugere que o mês pode ter sido um desvio. “No geral, a economia está se mantendo bem”, disse O”Sullivan.

Joseph LaVorgna, principal economista do Deutsche Bank em Nova York, disse que o número do PIB deverá ser bom, mas é melhor tratá-lo com cautela antes da revisão dos dados, esperada para o terceiro trimestre. “Eu me concentraria no mix geral do crescimento. Acho que veremos um número final muito bom da demanda.”

Ele disse que os muitos anos de crescimento na casa dos 2% deixaram os mercados céticos em relação a uma tendência de alta. “O que os investidores não estão percebendo, no momento, é que estamos no meio do que deveria ser uma recuperação bem sólida do setor imobiliário residencial, que está sendo mais difusa do que eles acreditam.”

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Setor de serviços lidera atração de investimento

Valor Econômico

No primeiro trimestre deste ano o Brasil recebeu menos investimento direto estrangeiro do que em igual período do ano passado. E os recursos externos que entraram no país para projetos produtivos nos diferentes setores da economia preferiram o segmento de serviços. De acordo com os dados do Banco Central, o setor recebeu, somadas as duas modalidades – participação no capital e investimento intercompanhias – de ingresso de recursos, 45% do total, enquanto a indústria absorveu 35%, e a agricultura e o setor extrativista, incluindo petróleo, ficaram com o restante. No mesmo período do ano passado, a indústria ficou com 46,4% do total, e serviços, 29%. Os dados consideram o ingresso de recursos, sem descontar as saídas.

Além dessa mudança, o início de 2013 foi marcado por uma alternância na forma como o capital externo para investimento entrou no país. No primeiro trimestre de 2012, 68% dos ingressos foram na modalidade de participação no capital, peso que encolheu para 55% neste início de ano, enquanto a modalidade de empréstimos intercompanhias respondeu por 32% do total no primeiro trimestre de 2012 e por 45% agora.

A troca da indústria pelo setor de serviços, na visão de analistas, indica onde o setor externo está vendo maior rentabilidade.

O investimento ligado à participação no capital caiu 31% no primeiro trimestre, ao atingir US$ 8,7 bilhões. Depois de os estrangeiros investirem US$ 6,5 bilhões no país nos três primeiros meses de 2012, o total para a indústria neste ano encolheu para US$ 2,8 bilhões. O resultado se deve ao menor interesse pela área de insumos mais básicos da indústria.

Metalurgia, que havia recebido quase a metade do total no ano passado, registrou 77% a menos de investimento do exterior. Recuos significativos foram observados em produtos alimentícios (40,3%), químicos (67%) e farmacêuticos (93%), sempre considerando participação no capital.

O setor de serviços registrou aumento de peso em investimentos no comércio e nas telecomunicações, conseguindo manter os US$ 4 bilhões do ano passado. Nenhuma das duas áreas estava na lista de desoneração da folha de pagamento para o setor anunciada pelo governo no início do mês.

Para Andrea Bastos Damico, economista do Bradesco, os segmentos de serviços ligados às concessões podem ser promissores para o investimento estrangeiro direto a partir de 2014, mas, neste ano, sua contribuição será incipiente, devido aos atrasos nos processos de leilões.

A agricultura e o setor extrativista mineral receberam um pouco menos de investimento (US$ 1,8 bilhão), mas, em função da queda total, aumentaram sua participação para 20,5%. Petróleo e gás foram responsáveis por 75% do investimento no setor.

Julio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, diz que a redução de investimento na indústria ocorre principalmente em áreas onde a produção enfrenta substancial competição externa e os produtos contêm menor valor agregado. “Aos olhos do capital estrangeiro, a economia brasileira não foi muito atrativa neste primeiro trimestre. O que se perdeu na indústria, se manteve em serviços, o que é muito revelador para onde pode estar indo a economia, já que esse tipo de investimento é de longo prazo e sempre olha a situação futura esperada.”

Os resultados do investimento intercompanhias diferem em relação à participação da indústria, mas seguem com aumento de espaço por parte de serviços. Os empréstimos totais de matrizes estrangeiras para filiais no Brasil cresceram 22% no primeiro trimestre e somaram US$ 7,2 bilhões.

Apesar do incremento, as divisas enviadas às filiais ligadas à agricultura e ao setor extrativista mineral caíram pela metade (US$ 1,2 bilhão). As remessas destinadas a empresas que atuam em serviços mais que duplicaram, para US$ 3,3 bilhões. Só no comércio, o montante triplicou, para US$ 901 milhões. Também em telecomunicações, muito em função dos investimentos ligados à tecnologia 4G, o montante saltou de US$ 18 milhões para US$ 703 milhões. Saúde teve progressão similar (de US$ 3 milhões para US$ 648 milhões), sempre considerando o investimento intercompanhias. Esse aumento tem a ver com a compra da Amil pelo grupo United Health.

As indústrias estrangeiras já instaladas em território brasileiro aumentaram em 5,2 pontos percentuais a participação no total de investimentos, que somaram US$ 2,7 bilhões. Químicos, veículos e celulose e papel mais que duplicaram o recebimento de investimentos. Segundo Andrea, do Bradesco, o maior ingresso via empréstimos intercompanhias no setor automotivo pode ser um primeiro indício de que o novo regime do governo, o Inovar-Auto, está de fato surtindo efeito. Ela nota que a participação de veículos nessa modalidade de investimento foi de 1,6% na média dos últimos três anos e, neste primeiro trimestre, saltou para 6,9%. “É preciso que essa participação elevada se mantenha para confirmarmos essa hipótese”, disse.

O investimento intercompanhias é mais volátil, pois tem um prazo menor de maturação e pode ser retirado com maior facilidade pelo investidor, de acordo com Luís Afonso Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet).

Para ele, o fato de esse tipo de investimento crescer e o de participação no capital cair “não é um bom sinal”. O aumento de espaço de serviços com diminuição da indústria revela “que o país está deixando cada vez mais de ter uma percepção positiva como plataforma de exportação, para ser mais visto como um mercado de consumo de bens e serviços”, diz Lima.