Enxurrada de dólares – Empresas brasileiras captam mais no exterior

 

Uma pesquisa da BB Securities obtida pelo GLOBO mostra que 13 empresas brasileiras captaram recursos com a emissão de bônus no ano até a semana passada. O destaque ficou para a Petrobras, que levantou US$ 11 bilhões na segunda-feira passada. Foi a maior operação de uma empresa de país emergente da História e a segunda maior do ano, atrás apenas da emissão de US$ 17 bilhões da americana Apple, em abril.

– Os investidores estrangeiros estão muito otimistas com esses títulos. A demanda está boa, com bons prazos e taxas melhores. A Petrobras poderia ter captado mais, se quisesse. E se a empresa pagava 6% ao ano nas emissões anteriores, esse custo caiu para 4,5% ao ano nos títulos que vencem em dez anos – afirma Felipe Wilberg, executivo de renda fixa do Itaú BBA.

Mercado prevê mais captações

Os motivos que levam empresas a buscar recursos lá fora vão desde alongar dívidas, pagando taxas menores, a até levantar dinheiro para seus planos de negócios, como foi o caso da Petrobras, que vai investir US$ 236,7 bilhões até 2017. A Cosan captou US$ 500 milhões para pagar dívidas mais caras assumidas quando adquiriu a distribuidora Comgás. Já a BRF emitiu US$ 750 milhões para investir e baratear dívidas. Outras empresas também aproveitaram a fartura global, como a Gol, as construtoras Odebrecht e OAS; os frigoríficos JBS e Marfrig.

A fartura de dinheiro nos mercados em tempos de baixo crescimento econômico pelo mundo é explicada pelo excesso de liquidez, afirma Rafael Bistafa, economista da Rosenberg Consultores. Os bancos centrais de EUA, Europa e Japão estão injetando recursos nos mercados para incentivar suas economias, principalmente com programas de recompra de títulos.

– Mesmo que a percepção sobre o Brasil tenha piorado no exterior, com intervenções do governo e a inflação mais alta, os investidores estrangeiros querem bônus das empresas brasileiras porque têm juros mais rentáveis do que os títulos soberanos, dos países – diz Bistafa.

Sandy Severino, diretor da área de captações externas do BTG Pactual, sediado em Nova York, afirma que mesmo empresas que têm classificação de risco ( rating ) “BB”, nota que antecede o grau de investimento (empresa considerada segura para se investir), estão conseguindo captar no mercado internacional:

– Fizemos emissão de empresas sem grau de investimento, como a Cosan, e teve muita demanda. O mesmo com Andrade Gutierrez. E isso tende a continuar assim – explica.

Segundo especialistas, o mercado ficou mais aquecido após o Tesouro Nacional captar US$ 800 milhões no início de maio, uma operação que serve como uma referência de custos e prazos para as emissões das empresas brasileiras.

Leonardo Loyola, gerente de mercado de capitais do Banco do Brasil, acrescenta que os compradores de títulos são fundos de pensão e fundos de investimento, que precisam fazer o dinheiro render para seus clientes e cotistas.

– A demanda tem sido maior de investidores americanos e europeus. Os asiáticos também têm apetite, mas a demanda por esse tipo de aplicação cresce lentamente. Geralmente o investidor asiático prefere o contato pessoal e títulos perpétuos – explica Loyola.

Já os bancos brasileiros, que normalmente aproveitam as oportunidades para levantar dinheiro no exterior, tiraram o pé do acelerador. Eles captaram US$ 4,1 bilhões de janeiro a maio, 45% a menos do que no mesmo período de 2012. Segundo especialistas, eles não fizeram novas emissões porque estariam capitalizados após as operações do ano passado.

Cresce exposição ao câmbio

Para o BTG Pactual, empresas, bancos e governos devem captar somados até US$ 55 bilhões este ano, o que significaria uma alta de 10% frente ao ano passado (US$ 50,3 bilhões). O banco não descarta, contudo, um número aquém de 2012, que foi um ano aquecido no setor. Desde janeiro, os três segmento captaram US$ 23,8 bilhões, o que representa uma queda de 12,5%.

As captações, por outro lado, deixam as empresas mais sensíveis às flutuações do câmbio. Segundo Armando Castelar, coordenador de Economia Aplicada do Ibre/FGV, o risco para as empresas está na valorização do dólar, o que tornaria mais caro em reais para as empresas conseguirem pagar suas dívidas.

– Isso não necessariamente preocupa. Algumas empresas têm uma proteção natural contra a flutuação do câmbio. É o caso da Petrobras, que tem ativos no exterior, e de empresas exportadoras, como a Vale – avalia Castelar.

Levantamento na base de dados da Economatica mostra que a dívida de 170 empresas brasileiras de capital aberto avançou de R$ 158,5 bilhões no primeiro trimestre de 2012 para R$ 192,5 bilhões no primeiro trimestre do ano. Trata-se de um aumento de 21,40%. O valor não inclui a Vale, que não informa o número em seu balanço. Se excluída a Petrobras, esse aumento foi de 13,87%. No período, o câmbio subiu menos, 10,52%, para R$ 2,014.

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Consumo fraco tira R$ 27 bi da economia

O Estado de S. Paulo

O arrefecimento do consumo das famílias, já sinalizado pela desaceleração das vendas do comércio varejista no primeiro trimestre deste ano, pode tirar, em média, 0,5 ponto percentual de crescimento da economia em 2013, nas contas de consultorias econômicas. Isso significa que, em valores correntes, até R$ 27,5 bilhões que seriam usados na compra de bens e de serviços podem deixar de circular na economia.

A perda de ímpeto de consumo das famílias neste ano vem sendo sinalizada por vários indicadores. Mas, na semana passada, por exemplo, o resultado da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou o tamanho da freada nas compras.

O ritmo de crescimento do volume de vendas do comércio restrito, isto é, que não considera veículos e materiais de construção, caiu quase pela metade no fechamento do primeiro trimestre deste ano (4,5%) em relação ao encerramento de 2012 (8,4%). “A surpresa é que a redução da taxa de crescimento do varejo foi abrupta”, afirma o economista-chefe da consultoria GS&MD, Ricardo Meirelles.

Também dos seis segmentos que compõem a PMC, quatro tiveram desaceleração no crescimento no primeiro trimestre deste ano em relação a igual período de 2012, comparando-se ao ritmo de altano primeiro trimestre do ano passado.

O volume de vendas dos hiper e supermercados, que tinha crescido 10,3% no primeiro trimestre de 2012 ante o de 2011, terminou o primeiro trimestre deste ano com elevação anual de apenas 1,8%.

Nos móveis e eletrodomésticos o tombo também foi grande: de 15,8% para 1%, nas mesmas bases de comparação. A trajetória se repetiu nas vendas de artigos farmacêuticos e de perfumaria, de 10,8% para 7,3%, e nos produtos de informática e de comunicação, de 30,9% para 3,6%. “Esses resultados mostram que temporariamente está ocorrendo uma pausa nas compras”, afirma o economista da Associação Comercial de São Paulo, Emilio Alfieri. Para  ele, hoje o consumidor está pagando o que já tinha adquirido.

Tendência

“O motor da economia, que tem sido o consumo das famílias, está enfraquecendo”, diz o diretor de pesquisas econômicas da GO Associados, Fabio Silveira. Um mês atrás ele projetava crescimento 7,5% do comércio varejista para este ano. Agora reduziu a estimativa para 6%. Com isso, a sua expectativa de avanço de consumo deve diminuir de 3,2% para 2,6%. “Pelo lado da demanda, se tudo o mais permanecesse constante no PIB, o impacto do arrefecimento do consumo seria de 0,40 ponto porcentual.”

Também para o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, o consumo das famílias deve crescer menos do que ele imaginava. Vale projetava um aumento de 6% no consumo para este ano e agora espera 5%. Segundo ele, isso quer dizer que R$ 27,5 bilhões, ou 0,6 ponto porcentual do PIB, podem não ser adicionados ao consumo.

“Tudo está apontando para um cenário de consumo mais fraco este ano”, afirma a sócia da Tendências Consultoria Integrada, Alessandra Ribeiro. A consultoria projeta crescimento de 2,8% do consumo das famílias para 2013. No ano passado, essa taxa foi de 3,1%.

A economista Zeina Latif, sócia da Gibraltar Consulting, explica que cada vez que as vendas no varejo caem 1 ponto porcentual o impacto negativo no PIB é de 0,15 ponto porcentual. Ela também vê neste início de ano o consumo se acomodando e os sinais de enfraquecimento da co lomia mais disseminados ntre os vários setores.

A desaceleração cias vendas, que reflete o enfraquecimento do consumo, é, na avaliação do economista-chefe da Concórdia Corretora, Flávio Combat, uma tendência. Prova disso, argumenta, é que as vendas no varejo acumuladas em 12 meses estão se reduzindo mês a mês.

Para Silveira, vários fatores explicam o freio no consumo: inflação alta, inadimplência resistente e interrupção da queda do juro. O único fator favorável ao consumo é o crescimento da massa salarial, mas, mesmo assim, em ritmo bem menor.

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OMS alerta para disparidade de médicos no País

O Estado de S. Paulo

O Brasil tem, proporcionalmente à população, metade dos médicos dos países europeus – no Norte e Nordeste, essa taxa se aproxima à de alguns dos países mais pobres do mundo. Dados que serão divulgados hoje pela Organização Mundial da Saúde (OMS) na abertura de sua assembleia anual, em Genebra, revelam que a média de profissionais para cada 10 mil pessoas no Brasil está abaixo da média do continente americano e é bastante inferior à dos países ricos.

O governo brasileiro vem discutindo a ideia de importar médicos, justamente para atender áreas de maior déficit. Se em alguns centros urbanos os números chegam a superar a média de países ricos, em outras regiões a penúria é dramática, com mais de 300 municípios em dificuldades.

Segundo a OMS, há 17,6 médicos no Brasil para cada 10 mil pessoas. A taxa é inferior à média do restante dos países emergentes -17,8. O índice também é inferior à média das Américas (mais de 20). Mas é a comparação com os países ricos, principalmente da Europa, que revela a disparidade entre a situação no Brasil e nas economias desenvolvidas. Em geral, existem duas vezes mais médicos na Europa que no Brasil ~ 33,3 a cada 10 mil habitantes. São 48 médicos na Áustria a cada 10 mil cidadãos, contra 40 na Suíça, 37 na Bélgica, 34 na Dinamarca, 33 na França, 36 na Alemanha e 38 na Itália.

Disparidade» O que chama a atenção da OMS é que há diferentes realidades no Brasil. No Sudeste, por exemplo, a taxa é de 26 médicos por 10 mil habitantes, superior à dos EUA (24), Canadá (20) e Japão (21) de saúde no mundo. Mas, nos Estados do Norte, são 10 médicos para cada 10 mil pessoas, abaixo da média nacional de países como Trinidad e Tobago, Tunísia, Tuvalu, Vietnã, Guatemala, El Salvador ou Albânia. No Nordeste, a taxa é de 12 médicos para cada 10 mil pessoas – no Maranhão, chega a 7 médicos por 10 mil, taxa equivalente à da índia ou do Iraque. A situação mais dramática, porém, é ainda da África, com apenas 2,5 médicos a cada 10 mil habitantes.

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BNDES reforça ação no exterior

Valor Econômico

O governo está definindo uma série de ações para ampliar a presença das empresas brasileiras na América Latina, Caribe e África. A estratégia considera reforçar o papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) como financiador de bens e serviços brasileiros para essas regiões. Com esse espírito, foi criada, no fim de abril, por determinação da presidente Dilma Rousseff, uma nova área no banco, com status de diretoria, para cuidar das três regiões geográficas, a cargo de Luiz Eduardo Melin, responsável pelas áreas internacional e de comércio exterior do banco. O plano considera ainda a criação de um sistema robusto de garantias de crédito à exportação por intermédio da recém-criada Agência Brasileira Gestora de Fundos e Garantias (ABGF), no âmbito do Ministério da Fazenda.

As medidas podem alavancar os financiamentos do BNDES à exportação, que totalizaram US$ 5,46 bilhões em 2012, cerca de 7% do desembolso total do banco no ano passado, de R$ 156 bilhões (US$ 78 bilhões). Mas a expansão do crédito dentro da nova estrutura de apoio à exportação no BNDES vai depender, em parte, da capacidade de realização da carteira africana pelo banco. Só com Angola, o BNDES tem em carteira US$ 7 bilhões em linhas de crédito aprovadas desde 2006.

Se esse modelo for replicado com sucesso para Gana, por exemplo, país com o qual o Brasil desenvolve uma relação bilateral, seria possível ter, em três anos, uma carteira com esse país semelhante à de Angola, nas estimativas de fontes do governo. Com Gana, há perspectivas para as empresas brasileiras nas áreas de infraestrutura, de etanol e agronegócios, envolvendo exportação de máquinas agrícolas, caminhões e ônibus.

O agronegócio é também uma área na qual o Brasil pode oferecer cooperação técnica aos países africanos.

Com tradição comercial na América Latina, o Brasil ainda tenta decifrar a África para além de Angola, país com o qual construiu uma história de comércio bilateral. Um caminho que o Brasil poderá trilhar passa pela ampliação do modelo estabelecido com Angola, baseado em linhas de crédito garantidas por recebíveis de petróleo. Já se falou em garantir empréstimos em outros países africanos com recebíveis de carvão.

Em 2012, o BNDES desembolsou US$ 1 bilhão para projetos envolvendo empresas brasileiras na América Latina e outros US$ 600 milhões para obras brasileiras em países africanos. Os números do desembolso do BNDES devem se repetir neste ano tanto nos países latinos quantos nos africanos, prevê uma fonte do governo. Até agora a relação comercial do Brasil com os africanos, via apoios do BNDES, se restringe à Angola, Moçambique e Gana, mas há potencial para estender essa relação para outros países como Senegal, Namíbia e Zâmbia.

A orientação do governo é reforçar a presença brasileira também no Caribe. Na América Central, o BNDES já tem projetos com bom grau de maturidade na Nicarágua, Costa Rica, Guatemala e El Salvador. O banco também tem operações com República Dominicana e Cuba, mas ainda há muito a ser feito nas ilhas caribenhas.

O trabalho de uma maior aproximação com América Latina e África começou ainda no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas demorou a mostrar resultados e passou por mudanças no governo da presidente Dilma Rousseff. Na quinta-feira, a presidente embarca para a Etiópia para participar da reunião de cúpula da União Africana (UA).

A prioridade dada à África é também demonstrada pela montagem de um grupo interministerial que pretende organizar a forma de atuação do Brasil no continente africano. O Grupo Técnico de Estudos Estratégicos de Comércio Exterior, o Getex África, está em fase inicial de montagem na Casa Civil da Presidência. A realidade da África, onde há países com limitações ao endividamento, exige desenvolver outros canais institucionais e novos instrumentos para fazer financiamentos de forma sustentável.

A criação de uma diretoria para cuidar de América Latina, Caribe e África no BNDES deve levar a uma reorganização das áreas internacional e de comércio exterior do BNDES para fazer com que o banco consiga fazer mais e reforce a diretriz de política externa, disse a fonte do governo. Isso passa por políticas de fomento, pela relação com organismos multilaterais, com bancos africanos e com outros atores relevantes. E também pela capacidade do banco de gerar operações, fazer análises de projetos, contratar e liberar financiamentos. “Na África, a penetração das empresas brasileiras é mais incipiente do que na América Latina e o conhecimento do mercado, menor”, diz a fonte.

A nova estrutura dentro das áreas internacional e de comércio exterior do BNDES começa a ser implementada mais de três anos depois de o governo do ex-presidente Lula ter tentando criar, sem sucesso, o Exim Brasil, subsidiária do BNDES que financiaria a exportação, mas que se manteria dentro do orçamento do banco. O Exim Brasil esbarrou, em parte, no fato de que a subsidiária teria de oferecer empréstimos e assumir o risco das próprias operações de crédito ou atuar como garantidor de recursos privados. Depois de muitas discussões, se concluiu que a alternativa melhor seria reforçar o papel do BNDES como provedor de recursos de médio e longo prazo para a exportação. Ao mesmo, identificou-se que era preciso ter um sistema reforçado de garantias de crédito à exportação, papel que caberá à Agência Brasileira Gestora de Fundos e Garantias (ABGF).

Instituída por decreto presidencial em abril, a agência vai atuar garantindo projetos de infraestrutura e também dará garantias para operações de comércio exterior por meio de dois fundos que estarão debaixo do seu guarda-chuva: o Fundo Garantidor de Infraestrutura (FGIE) e o Fundo Garantidor de Comércio Exterior (FGCE). O FGIE deverá contar com recursos da União de até R$ 11 bilhões, e o FGCE, de R$ 14 bilhões, os quais devem ser aportados pelo governo de forma gradual. Procurado, o Ministério da Fazenda disse que não iria falar sobre a ABGF neste momento. Quando da publicação do decreto, a expectativa era de que a ABGF começasse a operar no fim deste ano.

Fontes do setor dizem que, mesmo com a ABGF, o atual sistema de garantias de mais longo prazo (acima de dois anos), via Fundo Garantidor de Exportação (FGE), vai continuar a existir. O FGE é considerado importante, mas limitado, pois depende, em parte, do Orçamento da União e qualquer movimento para arcar com um sinistro resultante do não pagamento de crédito à exportação impacta o superávit primário do governo federal, segundo as fontes. Um especialista em seguro de crédito disse que a tendência seria o FGE continuar a cobrir riscos de Estado (risco país e político), com prazos mais longos, enquanto o FGCE ficaria com riscos mais bancáveis.

A avaliação de uma fonte do governo é de que a ABGF terá a vantagem de garantir volumes maiores de crédito ao setor privado. A fonte disse que a agência poderá atrair mais bancos privados para o financiamento à exportação uma vez que, em caso de “default” (não pagamento) do crédito, a instituição financeira seria indenizada pelo FGCE.

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Venda agita o mercado de crédito ‘podre’

Valor Econômico

A expectativa pela venda de uma carteira de empréstimos inadimplentes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), cujo saldo devedor é de R$ 37,046 bilhões, promete movimentar o mercado de fundos especializados em créditos “podres”, aqueles formados por operações não pagas por clientes de bancos e financeiras, por vezes já baixadas como prejuízo nos balanços.

Os ativos do banco de fomento estão em fase de avaliação antes da rodada de licitação, e o valor contábil da carteira é de R$ 6,102 bilhões. Gestoras como a JGP Crédito e a RCB Investimentos, já demonstraram interesse pelo portfólio vencido. “Se a operação do BNDES for bem-sucedida, pode abrir espaço para outras instituições, em especial os bancos públicos”, diz Nicolas Malagamba, diretor da KPMG.

Gigantes do setor financeiro como Itaú Unibanco e Bradesco ainda hoje acompanham de fora as vendas de carteiras inadimplentes, assim como os bancos públicos. Entre os principais nomes do varejo bancário, só o Santander faz transações recorrentes, com Citibank e Votorantim fazendo vendas pontuais. As instituições financeira de médio porte começaram, contudo, a se movimentar. Nos últimos dois anos, Pine, Mercantil e a financeira Cetelem venderam carteiras de créditos inadimplentes, com atraso superior a 180 dias.

Alguns bancos têm atuado não só na ponta vendedora, mas também compram eventualmente carteiras com empréstimos vencidos para fins de investimento.

O Itaú Unibanco, por exemplo, adquiriu recentemente uma carteira de recebíveis do fundo Brazil Recuperação de Capital I Segmento Financeiro Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (Fidc) NP, que investe em créditos vencidos e que tinha como único cotista a Chartis Capital Recovery Brazil, ligada à seguradora AIG. A compra foi feita por meio da Itaú Companhia Securitizadora de Créditos Financeiros.

A carteira, composta por recebíveis em inadimplência do setor financeiro, que somava R$ 121,5 milhões em abril, foi adquirida pelo valor de R$ 706,7 mil. O grande desconto deve-se ao fato de os créditos, que respondiam por 92,3% da carteira, estarem vencidos há mais de 1080 dias, dificultando a recuperação.

Para o Itaú essa carteira pode ser interessante, uma vez que o banco conta com estrutura interna de cobrança de crédito, o que facilita e barateia a operação.

A entrada em vigor das regras de capital bancário de Basileia 3 pode incentivar o aumento da venda de carteiras com crédito em atraso pelos bancos, uma vez que exigirá maior alocação de capital.

A maior parte dos créditos à venda pelo BNDES está concentrada em contratos com inadimplência de 10 a 20 anos, que respondem por 67,4% do saldo devedor. Mas há contratos muito antigos, vencidos há mais de 20 anos, que representam 20,8% do total.

A JGP é um exemplo de investidor que tem ido atrás de créditos inadimplentes e avalia comprar as operações vencidas do BNDES. A gestora tem privilegiado a compra de crédito corporativo, seja de bancos ou de títulos de dívida. A empresa comprou bônus do Cruzeiro do Sul por 20% do valor de face no mercado secundário, diz Rafael Frisch, sócio da JGP Crédito.

Outras casas como Brasil Distressed, Polo Capital, Blackwood, RCB Investimentos e Ipanema Credit Management, junto com a americana Credigy também atuam nesse segmento.