Brasil vive forte crise de confiança, acredita governo

 

O governo acredita que as expectativas de inflação, em deterioração desde meados de 2010, vão melhorar a partir de agora depois da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), respaldada pela presidente Dilma Rousseff, de iniciar um ciclo de aperto monetário. Há consciência, entretanto, de que confiança não se resolve apenas com medidas de política econômica.

Para integrantes do governo, não existe meia confiança. Ou se confia ou não se confia. Há dentro do governo quem concorde com a ideia de que, neste momento, deve partir da presidente Dilma Rousseff, e não do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e muito menos do secretário do Tesouro, Arno Augustin, o anúncio do compromisso com o fortalecimento das contas públicas.

Mantega e Augustin se desgastaram depois da chamada “contabilidade criativa”, uma série de artimanhas contábeis usadas no apagar das luzes de 2012 para cumprir a meta de superávit primário. Para o ex-ministro Delfim Netto, conselheiro informal da presidente, Dilma tem credibilidade para resgatar a confiança dos mercados na política fiscal. A credibilidade depende mais do mensageiro do que da mensagem.

O problema na área fiscal, aposta o governo, não decorre necessariamente do aumento dos gastos públicos no ano passado e neste. Como o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu muito pouco em 2012 – 0,9% -, era natural que Brasília lançasse mão de uma política anticíclica para ajudar a economia. O pecado foi não ter comunicado isso de forma adequada. E o pior: ter adotado a “contabilidade criativa”.

Desde então, é difícil encontrar alguém que acredite nos números fiscais. O Banco Central (BC) vem informado em seus documentos, desde a segunda metade do ano passado, que a política fiscal se tornou “expansionista” do ponto de vista da demanda agregada. O BC sustenta, todavia, que o impulso fiscal de 2012 para 2013 não é alarmante.

Internamente, admite-se que ficou mais difícil mensurar o esforço fiscal efetivo depois do advento da “contabilidade criativa”. Por outro lado, há um esclarecimento importante sobre a forma como o BC olha o desempenho fiscal.

Em seus documentos, a instituição informa sempre que conta com o cumprimento da meta cheia de superávit – o equivalente a 3,1% do PIB. Há, contudo, um atenuante: como a legislação permite desconto de investimentos, desde que a meta não caia abaixo de 1,8% do PIB, é com esse número que a autoridade monetária trabalha em seus modelos.

O governo está vendo com “serenidade” a turbulência dos mercados global e brasileiro das últimas semanas. Embora os mercados estejam nervosos desde o fim de maio, recorda-se em Brasília que o Banco Central antecipara, no Relatório de Inflação (RI) de março, a possibilidade de um estresse nos mercados provocado pela expectativa de reversão da política de afrouxamento monetário do Federal Reserve, o banco central americano.

Na página 73 do RI, de forma discreta e pouco percebida pelos analistas, está dito que “no horizonte relevante, o Comitê avalia que a volatilidade dos mercados financeiros tende a reagir ao início (ou iminência) do processo de normalização das condições monetárias nos Estados Unidos. Nesse contexto, apesar de identificar baixa probabilidade de ocorrência de eventos extremos nos mercados financeiros internacionais, o Comitê pondera que

o ambiente externo permanece complexo”.

Trata-se de uma mensagem relevante porque mostra que os riscos associados aos eventos atuais estão, de alguma forma, nas contas do BC e, como está dito no texto, no “horizonte relevante” da política monetária. O governo diz que, apesar das sinalizações recentes, ainda há três perguntas sem resposta: se o Fed vai mesmo reduzir a compra mensal de ativos; quando vai fazer isso; e em que intensidade (quanto).

Nesse contexto, há quatro razões que levam o governo a apostar que o repasse da desvalorização do real aos preços internos será pequeno. A primeira é o fato de a economia brasileira estar crescendo abaixo do esperado em 2013. Outra razão é o aperto, em curso, da política monetária, que tende a desencorajar reajustes de preços. Além disso, os preços internacionais das commodities mais importantes para o Brasil estão em queda. Por fim, a indexação ao câmbio dos contratos de tarifas como as de energia e telefonia diminui muito nos últimos anos.

Essa visão sobre o impacto da turbulência global na economia brasileira desautoriza a expectativa de que o Copom possa aumentar o ritmo, de 50 para 75 pontos base (0,75%), de elevação da taxa Selic na sua próxima reunião, marcada para 9 e 10 de julho. O Comitê está comprometido em promover o aperto monetário necessário para derrubar a inflação abaixo de 5,84% em 2013.

O governo acha que não é possível comparar o momento atual com o da crise de 2007/2008. Naquela crise, os bancos centrais lidaram com problemas que desconheciam, o que fez os mercados entenderem que os BCs não possuíam instrumentos para enfrentá-los. Esses instrumentos foram criados nos últimos seis anos e, hoje, os mercados sabem que as autoridades monetárias dispõem de arsenal para lidar com os problemas.

O mundo passa, com a recuperação americana, por um processo de reordenamento. O Brasil, acredita o governo, está se preparando para a nova ordem ao adotar medidas para reduzir custos de produção, privatizar serviços de infraestrutura e desonerar cadeias produtivas. As autoridades em Brasília acham que, na transição para essa nova ordem, liderada pela maior economia do planeta, haverá turbulências, mas não necessariamente crises como as dos anos recentes.

_______________________________________________________________

Empresas americanas elevam vendas de produtos e serviços de defesa para o Brasil

Valor Econômico

As exportações de artigos e serviços de defesa dos Estados Unidos para o Brasil estão em alta, num quadro em que empresas americanas buscam novos mercados para seus produtos, com o fim das guerras no Iraque e no Afeganistão e cortes no orçamento militar.

Em 2012, as vendas para o Brasil totalizaram US$ 633 milhões, 37% a mais que no ano anterior, segundo números do Departamento de Estado, compilados pela seção americana do Conselho Empresarial Brasil-EUA. A proximidade da Copa do Mundo em 2014 e da Olimpíada do Rio de Janeiro em 2016 aguça o interesse das companhias americanas, assim como os grandes projetos de vigilância da costa e das fronteiras brasileiras.

Os números mostram que o Departamento de Estado americano tem aprovado cerca de 90% dos pedidos das empresas do país para exportar produtos, serviços e tecnologia militar para o Brasil – no ano passado, a fatia ficou em 89,1%, Foram negadas apenas 0,2% das demandas, que precisa passar pelo crivo do departamento. Os pouco mais de 10% restantes são devolvidos sem definição, em geral porque são casos em que a licença de exportação não é necessária. O número de pedidos de aprovação de exportação de produtos, serviços e tecnologia para o Departamento de Estado ficou em 2,4 mil em 2012, 18% a mais que em 2011. Em 2008, foram 1.004.

Para a diretora-executiva da seção americana do Conselho Empresarial Brasil-EUA, Monique Fridell, o crescimento das exportações americanas para o Brasil de bens e serviços militares e de uso dual, com um percentual muito baixo de recusas dos pedidos para autorização, indica a maior disposição dos EUA em transferir tecnologia na área de defesa. Um executivo de uma grande empresa brasileira que atua na área diz que tem de fato notado “maior flexibilidade” por parte do governo americano nas aprovações. Há, segundo ele, maior disposição em se aproximar dos brasileiros.

Como pano de fundo, há a licitação dos caças para a Força Aérea Brasileira (FAB), que se arrasta há vários anos. A Boeing é uma das finalistas, ao lado da francesa Dassault e da sueca Saab, num negócio que envolve mais de US$ 4 bilhões. No governo Lula, os franceses eram os favoritos, mas há relatos de que o cenário mudou na administração da presidente Dilma Rousseff. As parcerias da Boeing com a Embraer – que foi escolhida neste ano para fornecer Super Tucanos para a Força Aérea dos EUA – aumentariam as chances da concorrente americana. Isso influenciaria a disposição do governo em autorizar vendas para o Brasil, parceiro visto como confiável pelos na área de defesa.

Monique destaca que, com o fim das operações de guerra no Iraque e Afeganistão, as empresas americanas de defesa procuram novos mercados, num momento em que também há cortes expressivos de despesas públicas com segurança. Dos cortes automáticos de gastos de US$ 85 bilhões que entraram em vigor em março, o chamado “sequestro”, metade se refere a dispêndios militares. Com isso, o Brasil, que pretende desenvolver esse setor, aparece como oportunidade importante de negócios para as companhias dos EUA que atuam no segmento, ainda que com demanda muito menor.

Ex-diretor do Centro de Estudos Hemisféricos da Universidade de Defesa Nacional, em Washington, Richard Downie diz que as empresas americanas que atuam no setor de defesa veem o Brasil como o mercado mais atraente da América Latina, por seu porte e por estar em crescimento. Ele lembra que a Copa do Mundo será realizada em 2014 e a Olimpíada, em 2016, havendo também a perspectiva de venda de produtos para projetos para os quais o governo brasileiro está abrindo licitações, como o Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz).

Atualmente na Delphi Strategic Consulting, Downie aponta, porém, algumas dificuldades do ponto de vista das companhias dos EUA para negociar com o Brasil. Segundo ele, a regra pela qual quem fornecer produtos para o SisGAAz terá de ceder integralmente o uso da tecnologia é considerada um obstáculo por algumas empresas. Essa exigência pode ser muito rígida, afirma Downie, que, apesar disso, vê o Brasil como mercado promissor para a indústria americana de defesa.

Ajuda nesse sentido a aproximação entre os dois países, que vai culminar na visita de Estado da presidente Dilma Rousseff aos EUA, em outubro. Monique lembra que Brasil e EUA têm intensificado as relações no setor de defesa. Em abril de 2012, foi estabelecido o diálogo de cooperação em defesa entre os dois países. Em dezembro, foi a vez do diálogo para cooperação industrial para estreitar os laços entre as empresas do Brasil e dos EUA que atuam no segmento industrial.

“Vejo no Brasil uma maior consciência de que a inovação na indústria de defesa é um canal importante para a aplicação comercial da tecnologia”, diz Monique. Ela destaca a missão do Conselho Empresarial Brasil-EUA realizada em abril, com dez empresas americanas que atuam na área de defesa, como a Raytheon, que foi a líder da delegação, a Boeing, a GE, a Lockheed Martin e a BAE Systems.

_______________________________________________________________

Construção deve voltar a ajudar economia no 2o trimestre

Valor Econômico

A atividade econômica do setor de construção civil deu sinais de reaquecimento em abril e maio e deve exercer influência positiva sobre o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, na avaliação de economistas e entidades do setor ouvidas pelo Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor.

Cálculos da LCA Consultores apontam que a construção civil deve registrar expansão de 3,9% no segundo trimestre em relação ao primeiro. Se tal projeção se confirmar, segundo a LCÀ, o setor contribuirá com 0,2 ponto percentual para o crescimento da economia brasileira projetado pelá LCA, que é de 1,2% ante o ante o trimestre anterior. O bom desempenho ocorre após o setor recuar 0,1% no primeiro trimestre de 2013 sobre o período imediatamente anterior. Na ocasião, a construção pesou negativamente em 0,01 para o fraco aumento de 0,6% do PIB do Brasil.

A reação esperada, no entanto, não deve garantir, neste ano, um resultado comparável ao de 2010, período considerado como “dos sonhos” pelo segmento. Naquele ano, após a crise financeira de 2009, o PIB da construção civil cresceu 11,6% , embalado por ações como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Minha Casa, Minha Vida. Entidades do setor, como Sinduscon-SP e Secovi-SP, têm dúvidas de que a aceleração se sustentará ao longo do ano.

Em 2013, a construção civil, que abrange os setores imobiliário e obras de infraestrutura, voltou a receber incentivo do governo federal: em 1o de abril entrou em vigor a desoneração da folha de pagamento de empresas do segmento, o que já se refletiu na queda dos preços: o Indice Nacional da Construção Civil (Sinapi) mostrou -deflação de 5,12% em maio.

A indicação de avanço da atividade da construção veio dos da» dos de abril divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que. mostra- . ram alta de 18,4% na produção de bens de capital para a construção, como gruas, guindastes e outras máquinas, sobre o mesmo mês do ano passado.

Além disso, a produção de materiais de construção, medida no indicador de produção de insumos básicos para a construção, cresceu 9,7% registrando a expansão mais intensa desde fevereiro de 2011, na mesma comparação. De janeiro a abril, segundo : dados da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), as vendas cresceram 4,7% em relação ao mesmo período de 2012, “em, função de um aumento acentuado nas vendas de materiais de construção em abril”, que subiram 14,2% sobre abril do ano passado, e 0,3% sobre março.

A expectativa para o restante do segundo trimestre é de mais aquecimento. A Abramat antevê que “maio será melhor que abril, e junho será parecido com maio”, diz Walter Cover, presidente da entidade, que reúne 50 fabricantes de materiais de construção.

Os dados abrem espaço para uma melhora na perspectiva de atividade para o setor. Para Ana Maria Castelo, consultora da Fundação Getulio Vargas (FGV), os dados de abril mostram o setor “tirando o pé do freio” nos investimentos. “Depois de um trimestre mim, a produção de materiais de construção sinaliza que o pior jã ficou para trás.”

Desde 2011, o ritmo de contratações com carteira no setor de construção cai mensalmente. A criação de vagas, que crescia a um ritmo de 9,3% em abril do ano passado, na comparação com o : ano anterior, perdeu ritmo e cresceu apenas 1,2% em abril deste ; ano contra abril de 2012, segundo dados do Ministério do Trabalho elaborados pela FGV. “A taxa de crescimento do emprego na construção diminuiu e de janeiro a abril houve queda de 30% no saldo de contratações. Mas em nenhum momento o setor dei. xou de contratar”, diz Ana Maria.

A exceção foi o segmento imobiliário, um dos principais do setor de construção que, influenciado pela queda nas ven-, das, passou a demitir mais do que contratar a partir do segundo semestre de 2012. Desde janeiro, contudo, o segmento voltou a contratar, mas não recuperou o patamar de 2012. Para Ana Maria, o indicativo de que o mercado imobiliário voltará a ter saldo positivo de emprego na economia é a melhora do ânimo dos empresários do segmento, que vinha piorando ininterruptamente desde março do ano passado e esboçou reação em abril e maio.

A confiança dos empresários do segmento de construção de edifícios e obras civis, medida pela FGV, teve a segunda melhora consecutiva na média trimestral em maio ao atingir 121,8 pontos, acima dos 120,3 de abril. O resultado ainda é 5,7% menor do que o registrado no mesmo mês do ano passado, mas já mostra uma trajetória de recuperação gradual.

A mudança de humor dos empresários do setor imobiliário se deu quando, após um 2012 de encolhimento nas vendas e lançamentos, os negócios voltaram a crescer em alguns grandes centros, como Porto Alegre e São Paulo. “Esse movimento não é disseminado, no Nordeste ainda não se recuperou, por exemplo”, diz a consultora da FGV.

Na região metropolitana de São Paulo, que junto com o Rio de Janeiro abarca quase metade do mercado imobiliário do país, o número de lançamentos imobiliários cresceu 43,9% no primeiro trimestre sobre o mesmo período do ano passado, enquanto o número de vendas aumentou 27,1%, segundo os números do Secovi-SP. A retomada continuou no mês seguinte: em abril foi registrado o maior número de lançamentos imobiliários para o mês desde 2004, informou o economista-chefe do Secovi-SP, Celso Petrucci.

Para o Sindicato da Construção de São Paulo (Sinduscon-SP), o aumento dos investimentos para a construção civil observado em abril não representa necessariamente uma tendência de aceleração que perdurará ao longo de 2013. “Construção civil é como um transatlântico, que não dobra a esquina. Quem dobra a esquina é bem de consumo, não o setor de construção. Na hora de acelerar a produção, você não acelera quando quer, e na hora de parar você também não para”, afirmou o vice-presidente da entidade, Eduardo Zaidan, que prevê que o setor cresça 3,5% este ano, ritmo similar ao de 2012.

_______________________________________________________________

Onda de protestos leva governos à negociação

Correio Braziliense

A onda de protestos que começou há duas semanas em São Paulo, contra o aumento das tarifas de transporte público, se estendeu agora ao calendário de jogos da Copa das Confederações. Além da manifestação que ocorreu em Brasília, na estreia da Seleção Brasileira na competição, ontem foi a vez do Rio de Janeiro, no jogo da Itália contra o México. Ao atrelar os atos ao evento internacional, o movimento, que avançou por, pelo menos, 10 municípios  e que  já tem adesão de brasileiros em outros países, ganha ainda mais visibilidade. Pelo menos 30 cidades no Brasil e no exterior têm protestos marcados para esta semana. Para evitar que haja descontrole e uso da força policial, autoridades em São Paulo e em Brasília querem negociar com os participantes.

O objetivo é garantir que os protestos sejam de fato pacíficos, com a prévia definição dos trajetos, para evitar danos e prejuízos à população. Hoje, haverá protesto em São Paulo — o quinto pela redução das tarifas de transporte na capital — para o qual 180 mil pessoas haviam confirmado presença pelo Facebook até a noite de ontem. A Secretaria de Segurança Pública do Estado se encontra pela manhã com membros do movimento pela manhã para garantir que seja pacífico. Na capital federal, o secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, também tem reunião marcada para hoje com manifestantes.

“Queremos que os participantes exerçam o direito de manifestar. A Polícia Militar tem condições de planejar com algumas horas de antecedência a melhor forma de reduzir o encontro com o restante da população e de proteger os manifestantes. O fundamental é definirmos um trajeto que será percorrido. Com isso, faremos um bloqueio de rua, de modo que a população não saia prejudicada”, disse o secretário de Segurança Pública, Fernando Grella. Amanhã, a prefeitura de São Paulo fará uma reunião para discutir a questão do transporte público. O último protesto na capital paulista, na quinta-feira passada, foi marcado por violência policial e atos de vandalismo de alguns participantes. Dezenas de pessoas ficaram feridas e mais de 200 foram detidas.

Atos de apoio aos movimentos brasileiros aconteceram ontem em duas cidades estrangeiras, Dublin, na Irlanda, e em Berlim, na Alemanha. Em Porto Velho (RO), centenas de pessoas também fizeram passeata que disseram ser “a favor da democracia”.

Maracanã

A exemplo da manifestação que ocorreu no sábado, em Brasília, nos arredores do Estádio Mané Garrincha, no Rio, a área próxima ao Maracanã, foi palco de protesto ontem. Para conter os cerca de 800 manifestantes que queriam se aproximar dos portões de entrada, a polícia lançou bombas de gás lacrimogêneo, spray de pimenta e tiros de bala de borracha contra o grupo. O ato no Rio começou pouco antes do início do jogo entre México e Itália, às 16h. Os manifestantes pediam a redução da tarifa da passagem de ônibus e criticavam os excessos de gastos com a competição.

O embate ocorreu na saída da estação de metrô São Cristóvão, a cerca de um quilômetro do Maracanã, onde cerca de 50 mil pagantes entravam para ver o jogo. Uma equipe da Força Nacional se uniu à tropa de choque para impedir que o grupo chegasse muito perto do estádio. Com a reação da polícia, os manifestantes foram em direção ao Parque Quinta da Boa Vista, que fica próximo à estação do metrô. Pais e crianças que estavam no local também foram atingidos pelo gás lacrimogêneo e pelo spray de pimenta, sem contar o pânico pelo qual passaram. Pelo menos cinco pessoas foram detidas.

O grupo foi disperso depois de uma negociação com a polícia, por volta das 17h. Os participantes relataram que ela foi bastante violenta. Quando terminou a partida, perto das 18h, porém, manifestantes voltaram a se aproximar do estádio. A PM formou um cordão para não deixar que eles chegassem perto da arena e atrapalhassem a saída das pessoas. Antes do início do jogo, vários torcedores tiveram de cobrir o rosto para evitar os efeitos das bombas de gás lacrimogêneo. A manifestação cessou de vez por volta das 19h.

Exterior

Na capital irlandesa, Dublin, cerca de 2 mil pessoas, número estimado pela polícia local, compareceram à manifestação pacífica pela manhã. Na Alemanha, em Berlim, cerca de 400 brasileiros participaram do ato contra o aumento de tarifas de transporte público e contra excessos da polícia brasileira. “Na sexta de manhã, depois da truculência da noite de quinta em São Paulo, a gente resolveu fazer a nossa parte por aqui também, para chamar a atenção da mídia internacional e dar apoio aos que estão apanhando no Brasil”, disse uma das organizadoras do evento. Nenhum confronto ocorreu nas duas situações. Hoje, devem ocorrer protestos em outras 13 cidades brasileiras e em mais duas no exterior. Ao longo da semana, outras manifestações também estão sendo organizadas.

_______________________________________________________________

Vaias a Dilma fazem Planalto mudar estratégia

Correio Braziliense

As vaias no Mané Garrincha à presidente Dilma Rousseff inflaram ainda mais o discurso oposicionista. Do lado governista, o episódio foi encarado com cautela e como indicador de que é preciso tomar cuidado para evitar tropeços nas urnas daqui a um ano. Na oposição e entre cientistas políticos, a maioria das análises também vai no caminho da prudência, mas há quem tire conclusões definitivas sobre o nível de insatisfação com o governo e suas consequências em 2014.

“Esse fato específico tem que ser analisado com dimensão especial. Ele mostra que, realmente, os erros do governo passaram a ser percebidos pela população. Foi um sinal de reprovação. Com os problemas se avolumando, a inflação e o risco de redução da taxa de emprego, o resultado será explosivo”, previu o líder do DEM na Câmara dos Deputados, Ronaldo Caiado (GO), para quem a disputa presidencial vai ao segundo turno em 2014, com “chances reais” de Dilma perder.

Em tom similar, o líder do MD na Câmara, Rubens Bueno (PR), disse acreditar que o que ocorreu no último sábado reflete sentimentos de insatisfação e indignação. “As pessoas estão percebendo que o governo tem mais marketing do que ação de políticas (públicas). O que a população sente, ela leva para as urnas”, avaliou Bueno, que também aposta em um desgaste da candidata do PT até 2014.

Mais ponderado, o líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP), preferiu seguir a linha rodriguiana. Um dia após o constrangimento de Dilma na abertura da Copa das Confederações, o tucano relembrou episódio da adolescência, quando, ao distribuir panfletos com críticas à ditadura em um estádio de futebol, foi recebido com chuva de pipoca e gritos de “Cai fora, comuna”. “Como disse Nelson Rodrigues, em campo se vaia até minuto de silêncio. Não vejo significado político especial nem relação com 2014. Nós políticos não estamos com esta bola toda. A lição que se tira é que ninguém deve fazer discurso em estádio de futebol”, brincou.

Também adepto da escola do jornalista e escritor brasileiro, o cientista político do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) de São Paulo Carlos Mello defende que é preciso relativizar as vaias a Dilma. “O governo passa por um mau momento, isso é inegável. Houve uma queda na popularidade de Dilma, que ainda é alta, e uma semana de protestos. Eu não diria que a vaia pode significar qualquer tipo de indicador da chancela dela em 2014. A única conclusão objetiva que se tira disso é que é tradição das torcidas de futebol vaiar representantes, em particular quando estão em mau momento”, disse.

 

Cientista político da Universidade de Brasília (UnB), Ricardo Caldas entende as vaias como reflexo da frustração de expectativas da sociedade. Mas pondera a respeito de possíveis conclusões sobre 2014. “A inflação está voltando, o prometido crescimento econômico não vem, a produção industrial caiu e a taxa de desemprego, que se mantém boa, vai piorar em algum momento. Para quem vaiou, o governo não está demonstrando um bom desempenho. Mas ainda é cedo para se falar nas eleições”, disse.