Governo prepara cortes de R$ 20 bi

 

“A gente sempre consegue fazer mais”, assegurou Dilma, destacando, porém, que é preciso tomar cuidado ao cortar gastos públicos, para que o país não incentive o desemprego nem tenha de abrir mão de programas sociais, em especial o Bolsa Família. “Não há hipótese de reduzirmos qualquer gasto social. Nós sempre temos de fazer com responsabilidade, se não nós caímos na situação em que está a Europa”, frisou. Para a presidente, o Brasil enfrenta dificuldades devido ao momento de “transição” na economia mundial.

Ao ser indagada sobre a dificuldade de ter de acomodar, no Orçamento, as demandas das ruas, Dilma afirmou que o desafio é natural. “Esse dilema existe todos os dias em uma administração. Fazer o melhor possível com o Orçamento”, ressaltou, depois de interromper a reunião com ministros na Granja do Torto para falar aos jornalistas e responder a perguntas, algo que ela só costuma fazer em viagens internacionais. “Discutimos a importância de, neste momento, sermos muito atentos à robustez fiscal do país, principalmente do governo federal, dos governos estaduais e dos governos municipais, porque isso significa maior controle da inflação”, afirmou.

A presidente acrescentou que o ajuste fiscal significa “uma grande estabilidade neste momento em que há uma transição da política econômica, principalmente do banco central norte-americano (Federal Reserve, Fed)”, saindo de uma situação de expansão monetária (excesso de dinheiro na economia) para uma posição de maior contenção da liquidez internacional. “Isso provocou, nos últimos tempos, variações tanto nas bolsas quanto nos mercados de moedas, principalmente dos países emergentes”, afirmou. Sobre possível mudança no governo, enfatizou: “Não há qualquer mudança na equipe econômica à vista. Meu governo é padrão Felipão (e não Fifa)”.

O mundo mudou

Ao ser indagada pelo Correio sobre uma possível elevação da taxa básica de juros (Selic), disse: “Uma coisa que eu aprendi com vocês (jornalistas) é que tem duas coisas que uma presidente não pode falar, pesquisa de intenção de voto e taxa de juros”. E completou: “Eu diria que há uma alteração na situação econômica mundial. Por quê? Porque mudou a política norte-americana. Eles estão dizendo que vão diminuir a quantidade (de títulos) que compram mensalmente, de

US$ 85 bilhões. Ao dizerem isso, o mercado interpretou que haveria uma alteração nos juros dos treasuries norte-americanos (papéis do governo dos Estados Unidos)”.

Na avaliação de Dilma, o governo já vem tomando todas a medidas para enfrentar a nova realidade da economia global. “O governo está reagindo por meio do Banco Central e do Ministério da Fazenda, de uma forma extremamente prudente, garantindo hedge (seguro) para quem quiser, dando folga para quem quiser, porque temos uma situação que permite isso, com a quantidade de reservas que nós temos (US$ 375 bilhões). Não é no sentido de ir contra o que o mercado quer, mas reduzindo a volatilidade (das cotações do dólar), apenas”, disse.

O reforço do compromisso da presidente com o ajuste fiscal, com a meta de economia para o pagamento de juros da dívida, mostra que o governo se deu conta da importância de retomar a confiança dos investidores. O país está às vésperas de lançar um programa de privatização de portos aeroportos, rodovias e ferrovias avaliado em mais de R$ 500 bilhões. Com a transferência das concessões à iniciativa privada, o Planalto espera destravar as obras de infraestrutura, trazer dólares para o país e obter receitas para o superavit primário, já que a promessa de cortes de despesas não deve se concretizar.

Quem acompanha de perto o desempenho das contas públicas sabe que todos os recentes contingenciamentos de verbas anunciados pelo governo não duraram mais do que dois ou três meses. À medida que as receitas e as despesas eram reavaliadas, as torneiras se abriam, sobretudo diante do pesado custo da máquina. “Normalmente, o primeiro decreto de contingenciamento é mais rigoroso. Mas, no decorrer do ano, vai sendo flexibilizado”, explicou Gil Castello Branco, consultor de economia do Contas Abertas. Para o mercado, tanto o contigenciamento quanto o Orçamento da União se transformaram em peças de ficção.

Para a economista Mariana Hauer, do Banco ABC Brasil, dado o histórico dos contingencimentos, é melhor o governo contar com as receitas dos programas de concessão. “Não descartamos que o governo use os leilões para fazer o superavit primário de 2,3% do PIB. O mais provável, porém, parece ser o não cumprimento dessa meta, mesmo descontando as despesas do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento)”, ponderou.

Os maiores limitadores para o governo fazer o superavit estão nos gastos com pessoal, que aumentaram 60% nos últimos cinco anos e devem consumir, em 2013, mais R$ 200 bilhões, e nas despesas de custeio, que cresceram 83% desde 2007, para R$ 236 bilhões em 2012.

 

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Empresa de Eike desiste de poços de petróleo e mercado vê risco de calote

O Estado de S. Paulo

 

A agonia da OGX, petroleira que funciona como empresa-âncora do grupo de Eike Batista, teve ontem um capítulo surpreendente: em fato relevante divulgado ao mercado, a empresa informa que sua principal aposta de receita, o campo Tubarão Azul, na Bacia de Campos, que iniciou produção em 2012, pode parar de produzir em 2014. Ano-tícia derrubou as ações de todas as empresas de Eike e alimentou boatos de que a empresa está perto de renegociar suas dívidas.

O papel da OGX terminou o pregão cotado a R$ 0,56, com queda de 29,11%. Girando em negócios do dia R$ 200 milhões, a petroleira arrastou as demais empresas X, contaminou outras companhias, como a Petrobrás, e o próprio Iboves-pa, que fechou o dia em queda de 0,48%.

Os títulos da dívida da OGX foram negociados ontem a 20% do valor de face, o que significa, na prática, que os investidores avaliam que há um risco alto de calote (leia mais napág. B6).

“Pela manhã, as ações chegaram a cair 40%. A coisa está preta”, disse Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), depois que negociações com ações da OGX foram suspensas sucessivas vezes.

Em relatório, assinado pelos analista Luiz Francisco Caetano, a corretora Planner questiona se esse é o fim da história da OGX. Ele destaca que os ativos

que todos esperavam que fossem produtivos, na verdade, são inviáveis.

“A OGX tem outros ativos que podem ser interessantes, porém precisam de recursos para ser desenvolvidos, que neste momento não existem”, afirma o analista da Planner.

Projetos

Além de Tubarão Azul – que até o início da crise, em junho do ano passado, era considerada a estrela da OGX, com estimativa de 110 milhões de barris de petróleo que a em-presapoderiaretirardoreserva-tório -, também foram revistos os projetos de Tubarão Tigre, Tubarão Gato e Tubarão Areia, na mesma Bacia de Campos.

Na esteira das más notícias, a OSX teve revelado que cinco contratos de plataformas foram sustados. Sem a expectativa de produção inicialmente informada ao mercado, não haveria necessidade de tantos equipamentos encomendados ao estaleiro. Resultado: as ações da OSX caíram 5%. Também se destacaram entre as maiores quedas a CCX (-16,48%), LLX (-10,10%), MMX (-9,42%) e MPX (-4,64%).

A OGX disse ter concluído “análise detalhada” do comportamento dos três poços do campo de Tubarão Azul desde o início da produção e concluiu que não existe, no momento, “tecnologia capaz de viabilizar economicamente qualquer investimento adicional nesse campo visando a aumentar o seu perfil de produção”. Amesma explicação foi usada para os outros campos. Ajustificativafoi questionada por geólogos (leia mais napág. B4).

Com dificuldade de caixa, já que a receita que gera com aven-da do volume de óleo e gás produzido está muito abaixo do que necessita para manter seus investimentos, a OGX ainda terá de arcar imediatamente com o pagamento de US$ 449 milhões à OSX. Pelo acordo, aproximadamente 70% desse montante será empregado no pagamento de custos de construção de duas plataformas FPSO OSX-3 e WHP-2, que não tiveram contrato suspenso. A em-presatambém arcará com o aluguel da FPSO OSX-2, que seria utilizada em Tubarão Azul, a partir de janeiro de 2014.

A dificuldade de caixa torna imprescindível a injeção de US$ 1 bilhão prometida por Eike (opção de “put”),mas o mercado considera cada vez mais improvável que o compromisso seja honrado. Procurada, a OGX não respondeu a questionamentos. Limitou-se a informar que a opção “continua viável” e sob análise.

 

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Investimento da União em transporte fica abaixo da meta

Valor Econômico

 

A previsão era que 2013 seria “o ano” para os investimentos públicos no setor de transportes. Depois de um desempenho anêmico em 2012, período contaminado pelos escândalos de corrupção deflagrados um ano antes, no que ficou conhecido como “a faxina dos Transportes”, este ano deveria ser o momento da retomada. A pedido do Valor, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) fez um balanço do desempenho dos investimentos realizados pela União no primeiro semestre deste ano. O resultado é frustrante.

Os dados usados são fornecidos pelo governo, por meio do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi) do Tesouro Nacional. Entre janeiro e junho deste ano, o governo conseguiu executar somente 22,9% de tudo o que reservou para gastar com obras em rodovias neste ano. O orçamento autorizado para 2013 chega a R$ 13,092 bilhões, mas o valor efetivamente gasto pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) só chegou a R$ 2,995 bilhões no período.

O resultado é inferior ao desempenho verificado no mesmo período do ano passado, quando o governo conseguiu executar 23,5% do orçamento de R$ 13,745 bilhões. É preciso destacar que, dos desembolsos realizados neste ano, quase 90% referem-se a pagamento de despesas realizadas em anos anteriores, ou seja, somente 10% está relacionado a novas obras.

A quitação de dívidas antigas também domina os pagamentos nas ferrovias da Valec. A estatal desembolsou R$ 679,4 milhões no primeiro semestre deste ano, o que equivale a 36% do valor total previsto para o ano. Desse montante, porém, quase 97% está atrelado a restos a pagar, ou seja, praticamente não houve desembolso de novas contratações.

“O que vemos claramente é que a expectativa que o governo tinha não se confirmou. Prometia-se uma forte execução pelas estatais neste ano, mas a realidade mostra cenário bem diferente”, diz o coordenador de infraestrutura econômica do Ipea, Carlos Campos.

A situação não é diferente nos desembolsos para os portos e aeroportos ligados à União. Do ano passado para este ano, os recursos autorizados para os portos públicos e suas companhias docas saltaram de R$ 1,975 bilhão para R$ 2,388 bilhões. Por outro lado, a execução caiu de R$ 268,3 milhões verificados entre janeiro e junho de 2012, para apenas R$ 134,8 milhões neste ano, o que significa usar somente 5,6% de tudo o que está previsto para o ano. Na aviação civil, o orçamento anual manteve-se quase inalterado, com R$ 2,2 bilhões em caixa para investimentos, mas a execução, que chegou a 21,6% no primeiro semestre de 2012, caiu 12,7% neste ano.

Campos lista seis problemas que, historicamente, transformam o orçamento do Ministério dos Transportes em uma fantasia: ajustes frequentes de marcos regulatórios; projetos e contratos mal elaborados; intervenções do Tribunal de Contas da União (TCU); dificuldades com licenciamento ambiental; problemas com desapropriações e legislação complexa, que leva a constantes recursos à Justiça.

O pico dos gastos com transportes, apontam os dados do Siafi, ocorreu no último ano do mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2010, foram investidos R$ 17,5 bilhões para bancar obras de infraestrutura logística. Quando Lula assumiu o governo em 2003, Fernando Henrique Cardoso tinha desembolsado apenas R$ 5,3 bilhões para o setor no ano anterior.

Essa curva ascendente de investimentos, no entanto, é revertida a partir da gestão de Dilma Rousseff. Em 2011, o desembolso ficou em R$ 15,9 bilhões, caindo para R$ 12,8 bilhões no ano passado. O desempenho dos investimentos realizados neste primeiro semestre não dá espaço para uma perspectiva muito otimista para este ano, avalia o especialista do Ipea. “Não vemos perspectivas de mudanças no curto prazo. Tudo indica que 2013 vai repetir o desempenho do ano passado”, afirma Campos.

Do lado do setor privado, os investimentos em transporte têm apresentado crescimento constante desde 2009, chegando a R$ 12,2 bilhões no ano passado. “Isso significa que, por ano, o Brasil tem alocado um total de R$ 25 bilhões em infraestrutura logística. É pouco, perto do necessário”, diz Campos. “A Empresa de Planejamento e Logística (EPL) tem afirmado que é necessário investir R$ 100 bilhões por ano para recuperar a malha do país”, diz Campos.

Segundo o coordenador do Ipea, o Brasil tem investido 0,6% do Produto Interno Bruto (PIB) no setor de transportes, enquanto os demais países do grupo dos Brics (Rússia, Índia, China e África do Sul) gastam, em média, entre 3,2% e 3,4% do PIB na melhoria logística. As novas concessões de rodovias, ferrovias e aeroportos para o setor privado poderão elevar os investimentos em transportes em 2014, avalia o Ipea, com possibilidade de chegar a R$ 44,5 bilhões. “Ainda ficaríamos numa média de 1% do PIB. Isso demonstra como ainda temos que caminhar nessa área.”

 

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Mais uma manobra pelo superávit

O Globo

 

Sem alarde, o governo fez na semana passada uma mudança no Estatuto Social do BNDES que, segundo especialistas, abre espaço para novas manobras fiscais destinadas a fechar as contas de 2013. O decreto 8.034, publicado em edição extraordinária do “Diário Oficial da União”, permite que o banco pague dividendos à União com recursos que deveriam compor suas reservas. Isso, no entanto, só poderá ser feito se o Tesouro Nacional compensar a instituição com um aumento de capital.

Segundo especialistas, na prática, o governo está fazendo uma espécie de triangulação. O Tesouro emite títulos públicos (aumentando a dívida bruta), coloca os recursos no BNDES e, com isso, consegue gerar receitas primárias com dividendos, inflando as receitas e facilitando a obtenção da meta de superávit primário para o ano, de 2,3% do PIB. Ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, deu o sinal verde para que o Tesouro conceda um crédito de R$ 15 bilhões ao banco, o que se encaixa na estratégia.

– O BNDES ficou livre para não precisar compor reservas. Os valores que iriam para esse fim vão ser substituídos por títulos e entrar no caixa para fazer (superávit) primário – explicou o economista da consultoria Tendências, Felipe Salto.

Antes da mudança, o lucro apurado pelo BNDES tinha necessariamente que passar a compor a reserva para margem operacional ou a reserva para futuro aumento de capital. Somente depois que essas reservas estivessem completas é que os dividendos poderiam ser pagos à União. No entanto, agora, as reservas não precisam mais estar completas para que o repasse seja autorizado. O dinheiro pode ir direto para o Tesouro.

Em nota, o Ministério da Fazenda disse que a mudança não é uma manobra e apenas serve para dar agilidade ao pagamento de dividendos. “Trata-se de faculdade adotada inclusive pelas principais instituições financeiras privadas, estando em linha com as melhores práticas de governança corporativa do mercado bancário”, diz a nota, destacando ainda que o decreto não muda a previsão de receitas do ano com o pagamento de dividendos, que é de R$ 24 bilhões.

Segundo o especialista em contas públicas Mansueto Almeida, do Ipea, no entanto, a medida mostra quão dependente a equipe econômica está ficando de dividendos para conseguir atingir suas metas fiscais. Ele lembrou que a mudança ocorreu depois que as reservas do BNDES começaram a diminuir devido aos sucessivos repasses de dividendos:

– O Tesouro raspou o tacho.

Margarida Gutierrez, professora da UFRJ, lembrou que manobras como esta reduzem ainda mais a confiança no governo e em suas metas econômicas:

– Hoje muitos economistas já não olham a dívida líquida, porque há uma maquiagem. O correto é analisar a dívida bruta, que só cresce – afirmou a professora, que prevê novo aumento da dívida bruta com esta triangulação. Luciano Coutinho, presidente do BNDES, disse ontem pela manhã, ao sair de um evento em São Paulo, que a medida foi positiva:

– De um lado essa medida desburocratiza o repasse de dividendos. Por outro lado, garante uma salvaguarda importante, pois estabelece que os dividendos poderão ser distribuídos, desde que sejam compensados por instrumentos que possam ser utilizados como capital. A regra é boa para o banco – afirmou, segundo sua assessoria.

Neste ano o impacto das capitalizações do Tesouro sobre a dívida bruta – que está em 58,69% do PIB – já chega a R$ 53 bilhões: R$ 15 bilhões do BNDES, R$ 15 bilhões da Valec, R$ 15 bilhões da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) e R$ 8 bilhões da Caixa.

– É um artifício que reduz ainda mais a credibilidade do governo – afirmou o economista Alcides Leite, da Trevisan.

Ontem, Mantega também liberou a concessão de crédito de R$ 8 bilhões para o programa Minha Casa Melhor – que prevê linhas subsidiadas para que os beneficiários do Minha Casa Minha Vida comprem eletrodomésticos e móveis.

Outro despacho publicado ontem no “Diário Oficial” autoriza o BNDES a conceder empréstimo de R$ 2,5 bilhões à Eletrobras para capital de giro. A estatal foi prejudicada na redução das tarifas de energia no início do ano, que reduziu suas receitas em 20% e diminuiu seu patrimônio.

 

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Dilma tem pressa para o plebiscito. E o Brasil?

Correio Braziliense

 

Presidente encaminha hoje aos parlamentares a mensagem com sugestões de temas a serem abordados na consulta popular sobre a reforma política. Planalto quer novas regras em vigor nas eleições de 2014

Em resposta aos protestos que explodiram pelo país há três semanas e com uma queda recorde na popularidade, a presidente Dilma Rousseff promoveu ontem uma megarreunião com a equipe ministerial. Por mais de cinco horas na Granja do Torto, residência oficial de campo da Presidência, eles discutiram, principalmente, a reforma política em gestação. O Planalto encaminha hoje ao Congresso Nacional mensagem com sugestões de temas a serem decididos em plebiscito pela população, como financiamento das campanhas. Apesar do otimismo de integrantes do governo em relação à iniciativa, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, criticam a medida. Além disso, deputados e senadores, inclusive da base, demonstram que não será fácil levar o assunto adiante (leia mais nas páginas 4, 5 e 6). Há uma insatisfação de parte dos parlamentares sobre como o tema foi tratado com o Congresso. Dilma gostaria de ver as mudanças políticas valendo já nas eleições de 2014, apesar de admitir que não cabe ao Executivo a definição de prazos nesse caso.

“Nós (governo) não temos como definir isso (prazo). Eu gostaria muito, para levar em conta toda essa energia que vimos nas mobilizações, que tivesse efeito nas eleições (2014)”, ressaltou. De acordo com a presidente, a mensagem que será enviada hoje ao Legislativo vai tratar basicamente de financiamento de campanha e sobre o padrão de voto feito pelo eleitor: proporcional, distrital, misto, etc. “É óbvio que não daremos sugestões de perguntas, porque não somos nós que as fazemos. As perguntas ficam entre o Senado e a Câmara de um lado e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de outro — que formata as perguntas. Está claro na Constituição: quem convoca o plebiscito é o Congresso Nacional. Por isso, eu insisti na palavra sugestão”, afirmou. O TSE deverá responder ao Planalto — hoje ou no mais tardar até o fim da semana — consulta sobre as condições da realização de um plebiscito (leia mais na página 3).

Dilma reconheceu que o governo terá de discutir mais os temas com a sociedade antes de tomar iniciativas. “A busca não só de um governo voltado ao povo, mas de um governo que quer que o povo participe. A proposta de consulta popular tem o sentido de transferir para a população o direito de ser consultado, e não só os políticos”, declarou. Ela criticou, sem citar nomes, a demora em se fazer uma reforma política no país. Há décadas, os parlamentares discutem o tema no Congresso sem chegar a um consenso. “É fundamental perceber que é necessária essa transformação para melhorar para todos nós, governantes e população, a representação do país”, admitiu.

Padrão Fifa

Acuada pelas críticas sobre a reação do governo às manifestações e pelas pesquisas de popularidade, Dilma saiu no meio da reunião em andamento para dar entrevista à imprensa — fato raro na gestão da petista. “Acredito que a questão do pacto das ruas (manifestações) tem que tornar qualquer dirigente político e governante mais acessível à discussão”, reconheceu. Os temas sensíveis criticados pelos manifestantes nas ruas foram a pauta desta segunda-feira. Apesar disso, perguntada se seu governo “é padrão Fifa”, ela respondeu, sorrindo, que é “padrão Felipão”, técnico da Seleção Brasileira que conquistou no domingo o tetracampeonato da Copa das Confederações.

Mais uma vez, a presidente fez questão de defender os investimentos feitos pelo país para receber a Copa do Mundo de 2014. Segundo ela, dois terços dos recursos destinados ao evento são para o legado (segurança, comunicação social e obras de mobilidade urbana). Apenas o restante, de acordo com Dilma, é aplicado na construção de estádios. Ela garantiu que não foram as vaias que a fizeram não ir ao Maracanã assistir à final entre Brasil e Espanha. “Eu não fui, porque não estava programado”, disse.

Em relação às tarifas de ônibus, estopim dos protestos devido ao aumento de R$ 0,20 em São Paulo, Dilma foi enfática ao ressaltar que não há outra possibilidade se não afetar o bolso do brasileiro. “Não há como supor que qualquer redução tarifária possa sair de outro bolso que não seja o nosso: ou como contribuintes ou como usuários”, lembrou. O governo tomou medidas para baixar as tarifas, incluindo desonerações na folha de pagamento das empresas de ônibus e em impostos. Mesmo assim, parte dos 60 milhões de passageiros de ônibus diários no país ainda reclama da qualidade do serviço oferecido.

Ponto por ponto

Confira o que disse a presidente Dilma Rousseff sobre os pontos discutidos na reunião ministerial

Reforma política

“A busca não só de um governo voltado para o povo, mas de um governo que quer que o povo participe. A proposta de consulta popular tem o sentido de transferir para a população o direito de ser consultado, e não só os políticos. O povo, sobretudo, deve ser consultado. Durante muito tempo tentou-se fazer reforma política, mas não se conseguiu. Portanto, é importante que haja essa consulta popular para que ela balize qual é a reforma política que se pretende. Em segundo lugar, é fundamental perceber que é necessária essa transformação para melhorar para todos nós, governantes e população, a representação do país”

Plebiscito

“A mensagem de sugestão será enviada amanhã (hoje) ao Congresso Nacional. Basicamente, as sugestões dizem respeito a financiamento público de campanha e ao padrão de voto vigente: se é proporcional, se é distrital, misto etc. É óbvio que não daremos sugestões de perguntas, porque não somos nós que fazemos perguntas. As perguntas ficam entre o Senado e a Câmara de um lado e o Tribunal Superior Eleitoral de outro, que formata as perguntas. Está claro na Constituição: quem convoca o plebiscito é o Congresso Nacional. Por isso, eu insisti na palavra sugestão”

Manifestações

“Trouxeram mudanças importantes no quadro político brasileiro e devem ser entendidas corretamente para que a energia que nós vimos nas ruas e as mensagens sejam entendidas. O Brasil é um país democrático. O que caracteriza as manifestações no Brasil são três eixos: mais direitos, mais representatividade e melhores valores”

Tarifas de ônibus

“Antes das manifestações, fizemos duas desonerações para reduzir os preços das tarifas. Uma, a partir de janeiro, sobre a folha de pagamento das empresas de ônibus. E a segunda, que passou a valer a partir de 1º de junho, que é a desoneração integral do Pis/Confins a zero. O que dá uma redução média de R$ 0,22 no Brasil inteiro (…). Não há como supor que qualquer redução tarifária possa sair de outro bolso que não seja o nosso: ou como contribuintes ou como usuários”

Saúde

“Há necessidade não só de infraestrutura, mas de casar infraestrutura, hospitais e unidades básicas e de pronto-atendimento, com a presença de médicos. Nós temos uma política de dar prioridade ao médico brasileiro, principalmente nas regiões periféricas das grandes cidades, no interior do país e no Norte e Nordeste, que têm quantidade baixa de médicos por mil habitantes. Primeiro dá-se a oportunidade de contratar médico brasileiro. Não havendo, traremos médicos de todos esses países que têm problemas hoje de grande desemprego”

Educação

“Precisamos aumentar os gastos. São necessários investimentos e custeio. É importante aumentar o investimento para construir mais escolas, creches e fazer equipamentos que propiciem (educação) tempo integral. E não há educação no mundo sem qualificação do professor”

Popularidade

“Nunca comentei pesquisa, nem (quando estou) em cima nem embaixo. Eu recebo pesquisa pelo valor de face. É um retrato do momento e a gente tem que respeitar. Acredito que a questão do pacto das ruas (manifestações) tem que tornar qualquer dirigente político e governante mais acessível à discussão”