Dilma convoca Tombini e Mantega para ‘amarrar’ reação à disparada do dólar
O objetivo do governo é traçar uma nova tática para a alta do dólar. Não há como impedir totalmente a disparada da divisa, pois se trata de um realinha-mento global de investidores. Desde o início da crise, o Federal Reserve, o banco central americano, recompra títulos da dívida dos EUA e outros papéis. Esse programa está terminando e vai levar bilhões de dólares de volta aos Estados Unidos.
A presidente debateu o assunto pela manhã com os ministros da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e com a presidente da Petrobrás, Maria das Graças Foster. Ficou acertado que a petroleira deve receber mais um reajuste nos preços do óleo diesel e da gasolina. A estatal compra combustíveis lá fora a preços internacionais e vende no País a um valor menor. A situação, que prejudica a empresa há anos, ficou mais delicada com a escalada da moeda americana, que ontem fechou a R$ 2,436, a maior cotação desde março de 2009.
Enquanto isso, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, discutia parâmetros do Orçamento. Ao longo do dia, o BC ofereceu ao mercado US$ 1,774 bilhão em contratos de swap cambial, que equivalem à venda de dólares no mercado futuro.
No fim da tarde, a assessoria de Tombini informou que ele não participaria mais do tradicional encontro de Jackson Hole (Wyoming, EUA) promovido pelo Fed. Foi depois de participar desse mesmo encontro em 2011 que Tombini passou a cortar os juros. Minutos depois, o chefe do Comitê de Política Monetária (Copom) encontrou-se com Dilma e Mantega.
Nova tática
o início da noite, o governo convocou para hoje uma reunião extraordinária do CMN, composto por Mantega, Tombini e a ministra do Planejamento, Miriam Belchior. São eles que definem medidas como travas ao mercado de câmbio, e não costumam se reunir sem tomar decisões.
Há grande expectativa no mercado sobre se e quando o BC vai usar as reservas internacionais para segurar a cotação do dólar, vendendo dólares à vista. Mantega avalia que não é hora. Tombini não descarta.
O grande receio do Palácio do Planalto hoje é que o crescente pessimismo do mercado internacional e de empresas nacionais em busca de proteção cambial continue até setembro. Na visão de Dilma, o mês que traz a primavera será “crucial” para a retomada econômica, e, portanto, para preparar o terreno para as eleições de 2013. As concessões de infraestrutura vão engatar em setembro, crê o governo.
Sem espaço fiscal para novos incentivos, e com a arrecadação em ritmo lento, o governo tem pouca margem no curto prazo para reativar a criação de empregos. Em julho, o País gerou o menor número de novos postos com carteira assinada dos últimos dez anos.
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Emprego com carteira tem ganho real menor que trabalho informal
Valor Econômico
A perda de fôlego do mercado de trabalho e o avanço da inflação afetaram mais os rendimentos dos profissionais da iniciativa privada que contam com carteira assinada na primeira metade do ano. Enquanto os trabalhadores não registrados das seis principais regiões metropolitanas do país viram a renda subir 5,5% no primeiro semestre ante igual período de 2012, aqueles que possuem registro em carteira tiveram ganho real de apenas 1,8% na mesma comparação. Os cálculos foram feitos pela LCA Consultores, a pedido do Valor, com base na Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE.
Na última década, especialistas apontam que o salário mínimo tem sido importante referência para remuneração dos ocupados no setor informal e, por isso, garantiu correções salariais maiores a esse grupo do que ao de trabalhadores do mercado formal, onde a influência é mais restrita.
Em 2013, mesmo com aumento menor do piso nacional – 2,7% em termos reais – a avaliação é que o mínimo funcionou novamente como proteção aos funcionários não registrados, ao passo que os acordos coletivos dos empregados com carteira assinada foram prejudicados pela inflação mais alta.
“Em julho, o trabalhador tinha em mãos uma inflação de 6,7% até junho. Se queria 3% de ganho real, teve que pedir 10% de variação nominal, índice muito difícil de ser obtido”, observa Fabio Romão, economista da LCA. Na média de janeiro a junho, Romão nota que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) acumulado em 12 meses, usado como base nas negociações salariais, ficou em 7%. Especialmente em um cenário de preços mais pressionados, diz ele, o mínimo funciona como uma “blindagem” ao trabalhador informal.
Para Fernanda Guardado, do banco Brasil Plural, a disparidade entre a alta dos rendimentos dos ocupados com carteira e dos sem carteira é um fenômeno que não tem uma razão clara, dado o processo de formalização pelo qual a economia brasileira passou nos últimos anos. Em 2013, no entanto, Fernanda avalia que a piora da dinâmica inflacionária é uma das hipóteses a ser considerada para explicar esse movimento. “Os trabalhadores com carteira, que têm data-base ao longo do primeiro semestre, tiveram a renda corroída pelo aumento da inflação. Já o grupo sem carteira tem mais flexibilidade na determinação de seus salários”, afirma a economista.
Em meio a uma conjuntura econômica com maiores incertezas, Fernanda diz que as empresas estão mais cautelosas em arcar com custos elevados de contratar um funcionário diretamente com registro em carteira. A decisão de empregar, em um primeiro momento, novos profissionais sem registrá-los também pode ter afetado os ganhos salariais no mercado formal, diz a analista do Brasil Plural.
Segundo José Márcio Camargo, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e economista da Opus Gestão de Recursos, o “fraco” crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos anos foi concentrado nos setores de serviços e da construção civil, que usam mais mão de obra informal do que outros ramos da economia. “Por essa razão, os rendimentos dos trabalhadores menos qualificados têm também crescido mais do que o dos trabalhadores mais qualificados.”
Camargo acrescenta que os salários na economia informal, ao contrário do observado no setor formal, são mais flexíveis, pois respondem mais rapidamente e com maior força à relação entre a oferta e a demanda por determinada ocupação. Portanto, afirma o professor, a procura maior por profissionais pouco qualificados resultou em ganhos salariais mais robustos para esses trabalhadores.
Romão, da LCA, também vê algum impacto da dinâmica de crescimento sobre os rendimentos formais e informais. Com 69,7% de seus funcionários registrados, a indústria tem mostrado desempenho pior do que a média este ano, o que pode ter puxado para baixo os reajustes salariais no setor. Já os serviços, ainda que com alguma desaceleração, continuam ajudando a renda dos sem carteira, influenciados principalmente pelos serviços domésticos, setor no qual uma redução da oferta de mão de obra elevou os salários, diz ele.
A partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), o professor João Saboia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), calcula que, no período de 2004 a 2009,
os salários recebidos no setor informal foram reajustados, em média, segundo 74% da variação do mínimo. No segmento formal, essa relação é menor, de 67%. O piso nacional, diz Saboia, tem influência maior sobre a renda dos trabalhadores sem carteira, fator que continua explicando os ganhos mais robustos nas remunerações informais.
Além disso, o professor menciona que, com correções anuais, os rendimentos no segmento formal podem ficar defasados em relação à inflação, enquanto, no mercado informal, a rotatividade é maior e o salário pode ser reajustado mais frequentemente, quando o trabalhador muda de um emprego para outro.
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Demanda empresarial fraca afeta setor de serviços em 2013, aponta IBGE
Valor Econômico
Nos últimos 12 meses, a receita nominal do setor de serviços cresceu próxima da inflação, indicando que o desempenho do setor foi fraco, de acordo com a primeira edição da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com Roberto Saldanha, técnico da coordenação de serviços e comércio do IBFGE, a demanda foi menor no setor empresarial. No primeiro semestre, a receita bruta nominal do setor de serviços cresceu 8,4%, mas a receita do segmento destinado às famílias cresceu 9,3%, enquanto outros segmentos destinados à atividade empresarial (com exceção de transportes), subiram abaixo da média,
“Tivemos uma atividade mais fraca no primeiro semestre de 2013 do que no primeiro semestre de 2012. Não se pode afirmar que isso decorre da desaceleração no ritmo de crescimento da renda das famílias. Na verdade, é resultado de uma demanda empresarial menor”, diz Saldanha.
Na avaliação do especialista do IBGE, o setor de serviços mostrou aceleração na passagem do primeiro para o segundo trimestre deste ano. Nos primeiros três meses, a alta foi de 7,6% sobre igual período de 2012, ritmo que cresceu para 9,2% no período de abril a junho também em relação ao ano passado.
Para Armando Castelar Pinheiro, coordenador de economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV) e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a pesquisa mostra que o ciclo virtuoso pelo qual o setor de serviços passou no período recente ficou para trás, principalmente em um cenário de câmbio mais desvalorizado.
Segundo Castelar, a nova pesquisa é muito importante por acrescentar mais dados a respeito de setores que representam cerca de um terço do Produto Interno Bruto (PIB) – 36,5%, segundo o IBGE, mais do que a indústria. Até então, diz o economista, havia muita pouca informação sobre as atividades analisadas.
“Acho que o IBGE pode fazer contas nacionais mais informadas e a, partir de agora, os economistas terão mais dados para acompanhar a conjuntura”, disse. Castelar pondera, no entanto, que há uma volatilidade grande nas variações mensais divulgadas pelo IBGE, assim como discrepâncias regionais acentuadas. Em Mato Grosso, a receita nominal dos serviços saltou 29,7% em junho ante igual mês de 2012, enquanto no Rio Grande do Sul, a alta foi de apenas 1,6%.
Feitas essas ressalvas, o coordenador do Ibre avalia que os dados do IBGE reforçam que o setor passa por uma desaceleração estrutural, ainda mais considerando-se a inflação do setor como deflator dos números. Nos 12 meses encerrados em junho, afirma Pinheiro, os preços dos serviços subiram 8,6% no IPCA, quase a mesma variação apontada para a receita nominal do setor no período, de 8,9%. “Esta é a melhor aproximação, mais correta do que deflacionar pelo IPCA.”
Para José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do banco Fator, os dados da pesquisa são “muito ricos” e servem para dar mais pistas sobre o desempenho de um dos segmentos mais importantes da economia brasileira, mas, em um primeiro momento, não podem ser tomados como base para estimar a evolução do PIB do setor. “Por enquanto, é mais importante tentarmos entender o alcance desses dados do que propriamente usá-los”, diz.
Segundo Gonçalves, fazem falta na pesquisa dados sobre os setores financeiro, de saúde e educação, ramos em que, de acordo com ele, é “complicado” medir a prestação de serviços, mas elogia a inclusão do segmento de tecnologia da informação (TI), sobre o qual há poucas informações disponíveis e que vem ganhando destaque na economia nos últimos anos. O economista ressalta que, por contemplar resultados nominais da receita, a pesquisa não pode ser levada em conta para estimar o nível de atividade dos serviços e o PIB do setor, pelo menos por enquanto.
Em junho (sobre junho de 2012), o setor que mais contribuiu o crescimento de 8,6% do setor de serviços foi o de transportes, serviços auxiliares dos transportes e correio, com alta de 9,8%. Com esse resultado, a atividade de transporte contribuiu com três pontos percentuais para a formação da receita de serviços, o equivalente a 35% do crescimento do setor.
A pesquisa investiga o setor de serviços no país e abrange as atividades que constituem o segmento empresarial não financeiro, excluindo-se os setores da saúde, educação, administração pública e aluguel imputado (valor que os proprietários teriam direito de receber se alugassem os imóveis onde moram).
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Real sofre pior perda no mundo
O Globo
Após ata do Fed, moeda americana chega a R$ 2,451, maior patamar desde dezembro de 2008 Em um dia de tensão no mercado financeiro e de desvalorização das moedas de países emergentes, o dólar disparou e fechou em alta de 2,38%, a R$ 2,451, o maior patamar desde 9 de dezembro de 2008, quando havia alcançado R$ 2,471.
A moeda americana já iniciou os negócios em alta, mas ganhou novo fôlego após a divulgação da ata da reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).
Prevaleceu no mercado a interpretação de que o processo de retirada de estímulos à economia americana, que envolve a compra mensal de US$ 85 bilhões em títulos, pode começar em setembro. E mesmo diante de sinais de divisão entre os integrantes do Fed, os investidores foram às compras. Nem mesmo a intervenção do Banco Central (BC) foi capaz de frear a subida do dólar.
Entre 174 moedas monitoradas pela Bloomberg, o real teve ontem a maior desvalorização, com queda de mais de 2% frente ao dólar. No fim da tarde, o BC anunciou que fará hoje intervenções no mercado à vista de até US$ 4 bilhões, com leilões equivalentes a uma operação de empréstimo de dólares com compromisso de recompra no futuro. É a segunda vez nesta semana que a autoridade monetária recorre a esta estratégia.
Além disso, deve renegociar 20 mil contratos de swap cambial – operação equivalente à venda de dólares no mercado futuro. O Tesouro informou ainda que fará um leilão de recompra de títulos prefixados, como Letras do Tesouro Nacional (LTNs) e NTNs-F (Notas do Tesouro Nacional – série F).
Ontem, o BC rolou US$ 987,9 milhões em contratos de swap durante a manhã e vendeu 35.600 novos contratos, no valor de US$ 1,7 bilhão, durante a tarde, após a divulgação da ata do Fed. Desde o fim de maio, o BC já injetou quase US$ 40 bilhões em operações no mercado futuro. – A atuação do BC já não surpreende. Então isso de certa forma torna o anúncio inócuo. O mercado está em direção única – avalia o estrategista-chefe do banco Mizuho, Luciano Rostagno.
Segundo o chefe da mesa de operações de um grande banco, a atuação do BC ontem foi muito aquém da da última terça-feira, quando a autoridade forçou uma baixa da moeda americana. Ele diz que, ontem, as incertezas sobre a o rumo da política monetária americana foram mais intensas do que a atuação do BC. – O mercado esperava que a ata desse um norte sobre o que iria acontecer nos próximos meses. Mas veio um vazio. Houve uma corrida por proteção após o comunicado, com empresas buscando hedge (proteção), o que levou o BC a realizar um leilão de swap cambial no fim do pregão, o que não é comum – explicou o operador.
Para Eduardo Suarez, estrategista sênior de câmbio do Scotiabank, a cotação do dólar deve superar nas próximas semanas a marca de R$ 2,536, que foi o pico da moeda na crise financeira internacional, em dezembro de 2008: – Tem espaço para mais desvalorização do real. É difícil entender a estratégia do BC, na verdade, mas acho que vai ter que vender dólar à vista em algum momento, vai gastar reservas.
Um dos fatores que influenciaram a percepção dos investidores ontem foi o trecho da ata do Fed em que o órgão revela estar avaliando uma nova ferramenta para ajudar a drenar recursos do sistema bancário e manter as taxas de juros de curto prazo no nível desejado quando alterar sua política monetária. Ontem, o rendimento dos títulos do Tesouro americano, os chamados treasuries , com vencimento em dez anos subiu para 2,89%.
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Governo reabre negociação sobre fator previdenciário
O Globo
Em mais uma tentativa de reaproximação com as centrais sindicais, o governo da presidente Dilma Rousseff aceitou ontem reabrir as negociações sobre o fim do fator previdenciário, mecanismo que inibe aposentadorias precoces pelo INSS. Após reunião de representantes das centrais, no Palácio do Planalto, com os ministros Gilberto Carvalho (Secretaria Geral), Manoel Dias (Trabalho) e Garibaldi Alves (Previdência), o presidente da CUT, Vagner Freitas, comemorou a mudança de postura do governo.
O Planalto adianta, porém, que só aceita o fim do fator se for aprovado outro mecanismo que proteja o sistema previdenciário. – Para nós, é extremamente importante. Qual vai ser o desfecho da negociação, não sabemos. Mas o fim do fator é uma das nossas principais reivindicações, e não estávamos conseguindo que isso viesse para a pauta de negociação – disse Freitas.
Debate sobre nova fórmula
O governo admite que um dos pontos de partida pode ser a proposta que as centrais apresentaram ainda em 2010, a chamada “Fórmula 85-95”, pela qual as mulheres podem se aposentar quando a soma da idade e do tempo de contribuição atingir 85 anos. No caso dos homens, 95.
– Eu acredito que (a fórmula) é um fator de negociação. Não há, da parte do governo, nenhuma intenção no fim puro e simples do fator previdenciário. Isso causaria um impacto que não teria sustentabilidade. Portanto, acho que a disposição da mesa de negociação é de encontrar uma fórmula que permita implementar gradualmente, implementar de forma sustentável – disse a ministra Ideli Salvatti, de Relações Institucionais.