A concepção leninista da tática

imagemJoão Vilela

Quando o que se decide no plano da táctica escamoteia os princípios, dissimula os princípios, mente acerca deles ou os substitui por ardis retóricos que não preparam as massas para as suas tarefas históricas, reduzindo a sua compreensão dos problemas ao imediatismo, aquilo que se cria é um movimento absolutamente desarmado, porque cego sobre a dimensão e dificuldade do trabalho que lhe cumpre fazer.

Seria impossível resumir todos os ensinamentos que o processo grego permitiu obter retirar num único artigo. Para o que aqui nos interessa, importa reter uma das teses centrais da euro-esquerda «syrizette» na defesa, quantas vezes para lá do inacreditável, da pretensa estratégia de luta de Tsipras: a de que ela se fazia através de uma série de movimentações tácticas com vista à progressão no terreno de forma mais eficaz do que a que se obteria confrontando a UE declaradamente e logo no primeiro momento. A (hoje indesmentível) rendição do Syriza, que se evidenciava desde as primeiras horas, era então descrita como um exercício de simulação, de recuo calculado, de uma frieza e de um cinismo típico dos bons generais que levam o inimigo para onde querem e lá o derrotam.

Admitindo que a euro-esquerda vê na atuação do Syriza não aquilo que os seus desejos queriam ver mas a realidade efetiva da atuação desse partido, como verificamos, tal atuação é aos mais diversos títulos contra-revolucionária: ela alimenta ilusões sobre caminhos fáceis, esconde a verdadeira dimensão do problema, desarma os trabalhadores quanto às tarefas que o problema lhe coloca, pode no limite levá-los ao desalento e ao refluxo, se não mesmo à adesão aberta ao populismo e ao fascismo. Admitindo por outro lado que a euro-esquerda estava realmente enganada, esta situação demonstra um elemento fundamental da sua conduta: o da dissimulação, por trás de um leninismo de lombada e de uma pretensa genialidade táctica, do andamento profundamente contra-revolucionário dos governos da sua cor. Dissimulação essa, sofística essa, descaramento esse em boa verdade, que quando o cotejamos com a acusação, que eles insistentemente arremessam aos comunistas, de terem defendido as experiências socialistas do Leste para lá do que era humanamente aceitável, só vem ilustrar que aprenderam a técnica que criticavam e a manejam com singular destreza.

Nunca é demais recordar as palavras de Hugo Chávez, num comício em Caracas, no preciso momento em que – num gesto «nacionalista», diriam alguns… – anunciava o corte de relações diplomáticas com os Estados Unidos diante de uma multidão de muitos milhares: «nós, yankees de m****, estamos decididos a ser livres: aconteça o que acontecer, e custe-nos o que nos custar». Chávez, com todas as contradições que se possam apontar ao processo bolivariano; sabia uma grande verdade: que a táctica revolucionária está a muitas milhas de distância do taticismo, temeroso das massas, da pequena burguesia euro-esquerdista.

(1) https://www.marxists.org/portugues/lenin/1905/taticas/cap01.htm#i1

(2) https://www.marxists.org/portugues/marx/1848/ManifestoDoPartidoComunista/cap2.htm

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