O assalto aos céus pelos trabalhadores franceses na COMUNA DE PARIS em versos de cordel

Inspirai a minha lira

Oh! Deuses da liberdade;

Alimentai-vos meus versos

Com as tintas da igualdade

Para que eu possa cantar

A saga de uma cidade.

Ao escrever o poema,

Onde a métrica cadencia

Em notas, as rimas rubras

Que dar ritmo a poesia,

Homenageio a Comuna

Que venceu a tirania.

Neste combate entre as classes,

A operária apostou alto.

No modo de produção

Projetou um grande salto

E Marx disse: – Eles ousaram

Ao tomar os céus de assalto.

Foi em março de oitocentos

E setenta e um lá na França,

Que povo trabalhador

Foi parteiro da mudança

Construindo o embrião

No berçário da esperança.

Das revoltas sociais

A opressão é a matriz.

No calendário das lutas

A história é quem nos diz:

– Proclamou-se a igualdade

Na comuna de Paris.

Foi em 18 de março

O levante proletário.

Essa revolta classista

Foi fato extraordinário.

O povo foi ao poder

Sob o comando operário.

A revolta teve início

Só pela indignação

Do povo da capital

Contra a mais vil traição

Daquela elite econômica

Que dominava a nação.

A república Francesa

Com outra nação guerreava.

Guerra Franco-Prussiana

O confronto se chamava,

Pois era contra a Alemanha

Com quem a França lutava.

O exército prussiano

Estando mais preparado,

Avançava palmo a palmo

Do objetivo traçado:

Derrotar o inimigo

E mantê-lo dominado.

Foi Napoleão Terceiro

Derrotado facilmente,

E foi feito prisioneiro

Pelo exército oponente

E da França Adolfhe Thiers

Foi eleito Presidente.

As províncias francesas

Numa eleição desigual

Elegeram monarquistas

A Assembléia Nacional

Que defendiam que a França

Se desarmasse geral.

Sob o domínio alemão

A França subjugada,

A alta estima dos franceses

De certa forma apagada

E a autonomia francesa

Sendo por fim esmagada.

Contra a política entreguista

Em Paris houve um levante.

Operário com soldado,

Pequeno comerciante,

Literatos e artistas

Levaram a luta adiante.

A Guarda Nacional

Aliada aos proletários

Uniu-se a população

Tendo à frente os operários

Para defender Paris

Dos burgueses sanguinários.

A batalha foi sangrenta

Com mortes de lado a lado.

A frente destes combates

Estava o operariado

Construindo um mundo novo

Sem patrão, sem explorado.

Dezoito do mês de março

A revolta triunfou.

O Governo, derrotado,

De Paris se retirou

E o povo parisiense

A vitória festejou.

Agora que os explorados

Governavam a cidade

Trataram de transformar

A velha sociedade.

Com muita democracia

Sedimentando igualdade.

O povo vitorioso

Agora estava feliz

Nas ruas, vias e praças

Pisavam na flor de lis,

Cantando e fazendo festa

Pelas ruas de Paris.

Mas, no entanto era preciso

A cidade governar.

Botar em prática o programa

Que fez o povo avançar

Com lágrima, suor e sangue

E o capital derrotar.

Formaram logo o Governo

De caráter proletário.

Em todo e qualquer projeto

Tinha o traço solidário,

Sendo tudo dividido

Com teor igualitário.

Socorreram aos que tem fome

Dando-lhes o que comer,

Repartindo o vinho e o pão

Fez a força renascer

No seio daquele povo

Que rompeu com seu sofrer.

A comuna proletária

Pôs o projeto em ação.

Foi do trabalho noturno

Decretado a abolição

E as oficinas fechadas

Entraram logo em ação.

Com a jornada reduzida

Fundaram cooperativas,

Assim se gerou trabalho

Para as massas inativas

Socializando a riqueza

Entre as forças produtivas.

As residências vazias

Foram desapropriadas.

Pessoas sem moradias

Para ali foram alocadas.

Na comuna não mais tinha

Famílias desabrigadas.

Também ficou proibido

Os descontos nos salários.

Escravidão por empréstimo,

(A prática dos usurários),

A comuna proibiu

E perseguiu os falsários.

Os direitos entre os sexos

Na comuna era normal.

Conquistaram os sindicatos,

Funcionamento legal,

Dos professores dobraram

O ganho salarial.

E a educação gratuita

Ficou sendo obrigatória.

Ciência, filosofia,

Matemática e história,

E com as escolas noturnas

A ascensão era notória.

Adotaram como lema

O internacionalismo

E na bandeira vermelha

Postavam esse simbolismo.

Foi à primeira experiência

Na prática, de socialismo.

Convocaram a unidade

Dos lutadores ativos

Como está no manifesto

Dos teóricos combativos:

“Trabalhadores do mundo

É hora de vos unir-vos”

Na França, o operariado

Fez sua força valer.

Dezoito do mês de março

Assumem todo o poder.

A comuna de Paris

Fez o mundo estremecer

A comuna de Paris

Foi a primeira vitória.

Aos explorados do mundo,

Quarenta dias de glória.

De um Governo de operários

Registrado na história.

Lá naquela experiência

Tudo foi socializado.

Terra para o camponês

Casa ao assalariado

E o controle das empresas

Para o proletariado.

A batalha era diária

Em praça, rua e quartel.

Nesta epopéia operária

Destaco Louise Michel,

Mulher de fibra e coragem,

Batalhadora fiel.

Ela escreveu um poema

Falando de rubros cravos

Ao amigo executado

E a todos os outros bravos

Que deram a vida lutando

Pra não serem mais escravos.

As mulheres de Paris,

Auroras da liberdade,

(Cecília, Julie e Maria)

Defenderam a cidade,

Sonharam que era possível

Mudar a sociedade.

Em igualdade com os homens

Fizeram todo o percurso.

Trabalharam arduamente

Na revolução em curso,

Sendo pegando nas armas,

Sendo fazendo discurso.

A burguesia assustada

Com aquela rebelião

Libertou os seus soldados

No território alemão

Para que voltando à França

Combatam a revolução.

O combate foi ferrenho

Com o exército opressor.

Os comunards defenderam

A comuna com fervor.

Homem, mulher e menino

Lutavam com destemor.

No final do mês de maio

A comuna é destruída.

A nojenta burguesia

Já bastante enfurecida

Fuzila trabalhadores

Que lutavam pela vida.

O massacre foi sangrento

Cruel e sem piedade.

Trinta mil fuzilamentos,

(Puro instinto de maldade),

Amontoavam os cadáveres

Pelas ruas da cidade.

O sonho dos comunards

Por conquistas sociais

É o sonho dos explorados

Desses tempos atuais.

Trabalhadores do mundo

Nós todos somos iguais.

Vou terminar o cordel

Onde fiz à narrativa,

Afirmando que a comuna

Em nós permanece viva.

Nossa homenagem aos mártires

Com nossa ação combativa.

Precisamos inverter

Na contemporaneidade

Essa lógica desigual

Varrendo a desigualdade.

Então traga para a luta

Sua combatividade.

Maracanaú, 19 de junho de 2011.

Paiva Neves.