Evo Morales: “Ser guerrilheiro não é um crime”
Com uma jornada imensa e de potente combatividade, culminaram na Bolívia os atos de homenagem ao comandante Ernesto Che Guevara. Até o prédio do aeroporto velho de Vallegrande chegaram, desde a manhã desta segunda-feira, enormes colunas de manifestantes, campesinos e campesinas vindas de diferentes pontos do país, vestidos com seus trajes típicos, wilphalas agitadas ao vento e grande profusão de cartazes alusivos ao 50° aniversário do assassinato de Che. Na realidade, Che esteve presente de maneira significativa toda a semana entre os vallegrandinos, já que seu rosto guerrilheiros e humanista assomou em todas as paredes, muros e janelas do povoado onde foi trasladado seu cadáver há meio século.
No ato central de encerramento, falaram dirigentes campesinos, mineiros, o intelectual Atilio Borón (em nome de todos os movimentos sociais e populares do continente), o comandante da Revolução Cubana, Ramiro Valdéz (atual vice-presidente), um representante do governo sandinista e, por último, o presidente Evo Morales.
Evo afirmou que a melhor homenagem ao comandante Ernesto Che Guevara é continuar sua luta anti-imperialista e apresentou um decálogo para construir um mundo melhor, mais equitativo, em consonância com o pensamento do líder guerrilheiro.
Morales encerrou os atos de homenagem ao líder guerrilheiro argentino-cubano, que foi assassinado em La Higuera há 50 anos, que se realizaram em Vallegrande, no leste da Bolívia, onde seu corpo foi exumado em 1997.
“A melhor homenagem é continuar a luta anti-imperialista. (…) Nunca como hoje Che é mais necessário, está mais vivo, se projeta com mais força para o futuro”, destacou o mandatário boliviano.
Evo Morales também afirmou que o lendário revolucionário Ernesto Che Guevara não invadiu a Bolívia e que honrar sua memória não é uma traição à pátria, como manifestaram opositores ao líder indígena, que encabeçou esta jornada em homenagem aos 50 anos da morte do guerrilheiro argentino-cubano.
“Não é traição lembrar daqueles que quiseram libertar a pátria”, disse em um imenso ato realizado em Vallegrande, onde os restos do lendário guerrilheiro foram exumados em julho de 1997, três décadas depois de ser fuzilado e enterrado em uma fossa comum.
“Traição à Pátria é servir como lacaios do império norte-americano”, acrescentou Morales.
Che incentivou a instalação de focos guerrilheiros em vários países da América Latina. Entre 1965 e 1967, ele mesmo combateu no Congo e na Bolívia, neste último país foi capturado e executado de maneira clandestina pelo Exército boliviano em colaboração com a CIA dos Estados Unidos, em 9 de outubro de 1967.
“É preciso dizer que não foi uma invasão, já que de 50 guerrilheiros, 26 eram bolivianos, irmãos bolivianos que lutavam junto de Che pela libertação de nosso país”, explicou Morales a dezenas de camponeses, indígenas, trabalhadores estudantes jovens, profissionais, artistas e intelectuais de vários países, que chegaram até Vallegrande.
“Ser guerrilheiro não é um crime”
Uma das partes mais significativas do discurso de Evo se deu quando defendeu enfaticamente a luta de Guevara e, indiretamente, contestou a campanha que a direita boliviana vem fazendo por estes dias, abominando a homenagem ao Guerrilheiro Heroico. “Ser guerrilheiro não é crime”, disse Evo e se baseou no fato de que as lutas independentistas do continente foram travadas entre guerrilheiros e os colonialistas daquela época. “Eram chamados de guerrilheiros aqueles que lutavam com pedras ou com armas rudimentares contra esses opressores”, acrescentou. E continuou: “Todos os que lutaram em nossos países contra os imperialistas foram guerrilheiros”.
“Irmãs e irmãos da Pátria Grande, este dia é um dos mais importantes de nossa história, porque hoje comemoramos meio século da passagem para a eternidade do Comandante Ernesto Che Guevara (…). Seu rosto, seu nome, seu testemunho de vida e seus ideais seguem sendo bandeira de luta contra toda forma de opressão, de exploração, de exclusão, assim o sentimos quando levantamos nossos punhos e dizemos com toda a força e com nosso alento: Pátria ou morte!”, concluiu.
Resumen Latinoamericano em Vallegrande, 9 de outubro de 2017