A mulher trabalhadora e a educação

imagemUm breve histórico sobre a educação e o papel da mulher no âmbito educacional

Por Mary Ferreira e Wanubya Menezes*

Militantes do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro Alagoas

A educação nas sociedades primitivas configurava-se como instrumento de relação entre os indivíduos com a sociedade. Nesse período, a educação era constituída pela aprendizagem através dos costumes referendados pelos grupos, a educação era função social de todos os integrantes daquelas comunidades, não havia diferenciação por idade, gênero e classe social, pois nesse momento as relações sociais ocorriam de acordo com o regime comunal, assim, a unanimidade entre os membros e as atividades de produção eram desenvolvidas por todos, até mesmo por uma questão de sobrevivência.

Com o fim da era primitiva e a constituição da sociedade de classes, ocorreu a divisão social do trabalho, onde os interesses que prevaleciam já não contemplavam mais as necessidades de todos os membros da comunidade.

De acordo com Aníbal Ponce (2007; p.26), “com o desaparecimento dos interesses comuns a todos os membros iguais de um grupo e a sua substituição por interesses distintos, pouco a pouco antagônicos, o processo educativo, que até então era único, sofreu uma participação: a desigualdade econômica entre os “organizadores” – cada vez mais exploradores – e os “executores” – cada vez mais explorados – trouxe, necessariamente, a desigualdade na educação.

A educação passou a ser configurada segundo os interesses econômicos. Deste modo, o papel social da mulher também foi modificado de acordo com as necessidades econômicas. A inserção da mulher nos espaços educativos formais iniciou-se a partir da sociedade de classes, e ela passou a ser educada, desde seus primeiros anos de vida, para a dedicação exclusiva às tarefas familiares e à educação dos filhos.

Na história da educação brasileira, o trabalho docente escolar nasceu como um prolongamento do trabalho materno e, assim como o trabalho doméstico, visto como improdutivo e incapaz de gerar capital. Nesse processo, a docência se materializou de forma desvalorizada e precarizada. Muitas mulheres professoras, assim como seus companheiros de trabalho, são empurradas pelo capital a uma jornada de trabalho abusiva, trabalhando em duas ou mais escolas e, de forma cada vez mais frequente, vendendo sua força de trabalho para o ensino privado, onde se aprofunda ainda mais as contradições do capital trabalho.

Além disso, vivendo sob a lógica patriarcal, essas companheiras do ensino são também as responsáveis pelo árduo trabalho doméstico, cuidando dos filhos, da casa, dos diversos afazeres domésticos e ainda dos estudos, já que é cada vez mais exigido uma formação continuada dessas profissionais.

As necessidades de sobrevivência da mulher na sociedade capitalista obrigam-na a submeter-se às várias situações constrangedoras no ambiente de trabalho, tais como: o assédio, a baixa remuneração, a dupla (e às vezes triplas!) jornada de trabalho, algo extremamente exaustivo, pois além de exercer uma atividade remunerada, a mulher é submetida, ao retornar à casa, a realizar os trabalhos domésticos não remunerados.

Nos espaços educativos, em específico na educação infantil e nas séries iniciais, a mulher ainda é vista como cuidadora das crianças, por isso ainda lhe é atribuída, de forma muito romantizada, a função de cuidar e educar, onde devemos “nos doar ao trabalho por amor”, como se as nossas necessidades de subsistência não fossem gritantes. Cotidianamente, nos deparamos com discursos de que a mulher deve exercer sua profissão de educadora por ser uma “vocação”, algo que dizem ser “intrínseco” à mulher, que está em sua “natureza feminina”, e que por isso só ela saberia exercer bem esse papel. Sabemos bem que esse discurso que naturaliza a hierarquia de papeis, não passa de uma construção histórica do patriarcado, arraigada em nossos ombros. Por isso, se faz necessário cada dia mais lutar contra o sistema patriarcal, pelo fim deste sistema de produção parasitário, que acaba com os nossos anseios por dias melhores e nos fazem pensar que não existe uma solução radical para essas opressões sentidas cotidianamente.

A nossa luta pela superação desse modelo de sociedade deve ser diária. Nós não nascemos para ser submissas aos homens nem passivas à lógica deste mundo injusto, opressor e desigual. A nossa luta é pela liberdade, o nosso norte é o ideal de um mundo justo e igualitário para todas nós!

Mulheres trabalhadoras do mundo inteiro, uni-vos!

REFERÊNCIAS

PONCE, Aníbal. Educação e Luta de Classes. São Paulo: Cortez, 22º Edição, 2007.