A necessidade da organização popular

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porque somente as palavras

não dão solução

aos problemas

de quem vive

em tamanha aflição

Mauro Duarte e Elton Medeiros

Por Thiago Cervan

Vivemos uma catástrofe social. Todos nós temos pessoas próximas – amigos ou familiares – que morreram em decorrência da política de morte potencializada durante a pandemia de Covid-19. A morte sistemática foi, desde o início do processo de colonização, a tônica em nosso território: primeiro com os povos e nações originárias, depois com o negro africano escravizado.

Elementos fundamentais para o processo de acumulação capitalista que, depois de produzirem o excedente para a colônia, tiveram suas contribuições no processo de formação sócio histórica brasileira apagadas literal e metaforicamente. Esses são fatores, tratados aqui de forma marginal, mas que ajudam a explicar a tolerância que temos com essa senhora, que povoa o imaginário popular coberta com sua capa preta, portando uma foice para ceifar as vidas: a morte.

Os números alarmantes, frios e sem rostos não são capazes de dar conta do sofrimento humano imposto pelo capital à vida nesse período histórico. É certo que em outros momentos nossa classe enfrentou os mais diversos sofrimentos e soube superá-los. Não sem traumas, dores e cicatrizes.

Para aquelas e aqueles que se propõem a lutar por uma sociedade para além do capital, o momento exige força criativa e disposição para o combate. Força criativa para buscar soluções, cujas tendências estão na auto-organização dos trabalhadores, por mais complexas que sejam.

Disposição para o combate não significa saber, no plano abstrato do pensar, o que deve ser feito. Mas sim, através de uma profunda análise do real, fazer o que precisa ser feito de forma coletiva e organizada. Este é um princípio irrevogável. Seja para lideranças ou para a militância de base.

Neste sentido, é preciso colocar o corpo, única estrutura possível, no movimento de negação do capital. Escrever textos, fazer vídeos e teorizar sobre nossa situação têm uma função importante: historicizar a barbárie que estamos vivendo e apontar saídas. Travar de modo qualificado a batalha das ideias ganha cada vez mais importância num contexto hiperconectado onde o capital emaranha tudo e todos ao clique de um botão. Porém, isto não basta, além de poder criar a ilusão de que estamos fazendo muito, o que não condiz com o real.

Sem um enraizamento nas lutas populares, sem a construção diária em nossos locais de trabalho, moradia e estudo, podemos ter, teoricamente, a melhor análise de conjuntura, mas não conseguiremos avançar um passo diante do desafio que temos pela frente.

Aprendemos também por meio do exemplo e se não apontarmos e construirmos soluções que sanem as necessidades concretas de nossa classe demoraremos muito mais para conseguir dar uma resposta à altura do desafio e do fardo do tempo histórico, que inclui responder aos assassinos do povo. Aprender com o povo – que também somos nós – significa confiar em nossa força criativa e de nossos pares para darmos o salto qualitativo necessário para o rompimento das correntes que nos aprisionam.

Thiago Cervan é educador popular e militante do Coletivo Negro Minervino de Oliveira -SP