Ministra da Defesa paraguaia fala em aliança com EUA

A ministra paraguaia da Defesa, María Liz García de Arnold, cogitou no domingo da possibilidade de Assunção fazer uma aliança militar com os EUA. “O Paraguai é livre para escolher seus aliados estratégicos para sustentar seu desenvolvimento”, disse a ministra, comentando uma entrevista sua, publicada no mesmo dia pelo jornal ABC Color, sob o título “Não se pode descartar uma nova guerra na região do Mercosul”.


Cresce a apreensão com a desaceleração da China

Valor Econômico

Em março, quando Wen Jiabao anunciou a meta de 7,5% de crescimento da China para este ano, a maioria dos analistas avaliava que o premiê estava sendo cauteloso demais e que a economia do país, a segunda maior do mundo, teria uma expansão bem mais forte.

A economia da China superou sistematicamente as metas anuais nos últimos dez anos. Alcançou, em média, nesse período, um crescimento pouco inferior a 11%, apesar da crise financeira mundial de 2008-09. Mas, com o desaquecimento muito maior que o previsto do nível de atividade econômica dos últimos meses, a meta de 7,5% já começa a parecer ambiciosa.

A maioria dos economistas ainda acha que a China está no meio de uma desaceleração gradual e administrável típica de um “pouso suave”, mas alguns começam a se perguntar se a economia chinesa não estaria prestes a passar por tempos muito mais difíceis.

A expansão da economia chinesa desacelerou para 7,6% no segundo trimestre, contra 8,1% do primeiro. A esse ritmo o país parece tender a computar sua menor taxa de crescimento anual desde 1999.

Mesmo após Pequim reduzir as taxas de juros pela primeira vez em quase quatro anos, no início de junho, e de ter voltado a cortá-la um mês depois, a maioria dos indicadores econômicos teve desaceleração, que avançou julho adentro.

A produção industrial cresceu 9,2% em julho, em comparação com o mesmo mês de 2011. A expansão foi menor que os 9,5% de junho. As exportações chinesas, por seu lado, aumentaram só 1% se comparadas ao mesmo período do ano passado, após avanço de 11,3% em junho. Os dados dos novos empréstimos bancários de julho também decepcionaram.

Alguns analistas começam a examinar as consequências para o país e o restante do mundo de um possível “pouso forçado”, num momento em que a União Europeia (UE) está atolada na crise e a potência econômica representada pelos EUA vem negando fogo.

“Um pouso forçado da China seria semelhante ao quarto trimestre de 2008 e ao primeiro trimestre de 2009, quando as exportações desabaram, as fábricas deixaram de receber encomendas e trabalhadores migrantes foram demitidos aos milhões”, diz Wang Tao, economista do UBS. “Isso ainda não aconteceu e provavelmente não vai acontecer, a não ser que a UE se desintegre e ocorra um grave problema no mercado imobiliário [chinês].”

Os investimentos em imóveis responderam por mais de 13% do Produto Interno Bruto (PIB) da China no primeiro semestre do ano. O setor foi um motor do crescimento durante a maior parte dos últimos dez anos. Mas selvas de prédios residenciais desocupados cobrem boa parte do país, e a venda de terrenos para incorporação caiu 24,3% nos sete primeiros meses do ano, em relação ao mesmo período do ano passado. Isso sugere que os investimentos no setor não devem se sustentar no futuro.

Em junho, o preço dos imóveis residenciais de muitas cidades de grande porte subiu pela primeira vez em quase um ano, e voltou a aumentar, embora ligeiramente, em julho. Mas isso não é necessariamente um bom prognóstico, pois o governo passou os últimos dois anos tentando conter a disparada dos preços, cuja alta fechou o acesso à casa própria para a maioria da população. Em vista disso, um forte repique dos preços poderá levar à adoção de restrições ainda maiores ao setor imobiliário.

Um pouso forçado da China teria um efeito devastador sobre países exportadores de commodities, como Austrália, Brasil e Indonésia, que dependem da demanda chinesa, mas haverá, também, consequências não tão diretas.

“Se a China fizer, efetivamente, um pouso forçado, a repercussão disso terá enormes ramificações sobre o grau de confiança do investidor mundial e tumultuará todos os mercados financeiros mundiais”, disse o economista Alistair Thornton, da IHS Global Insight.

Embora a desaceleração da China tenha sido relativamente branda até agora, seu impacto sobre o lucro das empresas é desproporcionalmente grande, em especial no caso de incorporadoras e de empresas afins ao setor de construção. As vendas de maquinário de construção despencaram, dezenas de siderúrgicas estão reduzindo a produção e grandes empresas estatais de mineração e transportes divulgaram prejuízos no primeiro semestre do ano. A situação de deterioração já afetou a disposição do investidor mundial.

Os investimentos estrangeiros diretos na China caíram 8,7% em julho, em relação ao mesmo mês de 2011, e recuaram 3,6% nos sete primeiros meses do ano.

Alguns analistas consideram que a desaceleração é mais estrutural do que cíclica, e que o governo chinês, mesmo se quiser, não conseguirá fazer muito para estimular uma recuperação do crescimento. “Há indícios convincentes para crer que a economia chinesa está, na verdade, crescendo a apenas 4% ou 5% neste momento, com base numa combinação de outros indicadores”, diz Patrick Chovanec, membro da faculdade de administração de empresas da Universidade Tsinghua, de Pequim.

“Do crescimento de 9,2% do PIB da China em 2011, 5 pontos percentuais vieram de investimentos. Isso significa que, se a China construir o mesmo número de estradas, pontes, prédios e mansões que no ano passado, e não mais do que isso, ela vai cortar 5 pontos percentuais do crescimento do PIB deste ano”, diz ele. “A expansão depende de níveis crescentes de investimento, num ambiente em que esse investimento não está dando retorno adequado.”

Autoridades e artigos na mídia estatal sugerem que os governos locais conseguirão neutralizar os efeitos da queda das exportações e da construção residencial se desencadearem uma farra na área de infraestrutura. Mas analistas alertam para o fato de a receita dos governos municipais dependem do imposto de renda corporativo e da venda de terreno para incorporadoras. Esses dois fatores estão em queda, o que enfraquece a posição dessas administrações para abrir uma nova rodada de construções.

Na quarta-feira, Wen encerrou uma viagem pela industrializada região do delta do rio Yang-tsé com um pronunciamento voltado a reforçar a confiança numa economia que está se enfraquecendo. “Quanto mais difícil a situação, maior a confiança que temos de ter”, disse ele, em frase destacada pela mídia estatal chinesa. “Temos as condições e a capacidade para cumprir definitivamente as metas econômicas e de desenvolvimento social deste ano.”

Os investidores chineses não são os únicos a esperar que ele tenha razão.


Lucro do BNDES cai 48% no 1º semestre

Valor Econômico

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) encerrou o primeiro semestre com lucro líquido de R$ 2,744 bilhões, 48% inferior ao apurado no mesmo período do ano passado. O desempenho foi influenciado pela perda de R$ 2,535 bilhões com participações societárias.

O resultado com participações societárias refletiu, sobretudo, o impacto da atual situação econômica mundial no desempenho das empresas que compõem a carteira do BNDESpar, braço de participações acionárias do banco. A instituição observou que o resultado com derivativos caiu de um ganho de R$ 330 milhões no primeiro semestre do ano passado, para uma perda de R$ 168 milhões no primeiro semestre de 2012, devido à queda, no período, na cotação dos ativos representados por ações cotadas em bolsa.

Outro fator que impactou o desempenho foi a despesa com provisão para risco de crédito no valor de R$ 320 milhões. No mesmo intervalo do ano passado, houve uma receita com reversão de provisões de R$ 853 milhões. Nos primeiros seis meses deste ano, houve rebaixamento de nível de risco de alguns clientes, por conta da inadimplência.

Em seu comunicado, o banco salientou que o percentual de clientes inadimplentes foi de 0,12% no primeiro semestre, inferior aos registrados em dezembro de 2011 (0,16%) e igual ao reportado em junho de 2011 (0,12%).

Adicionalmente, o resultado de equivalência patrimonial passou de um ganho de R$ 713 milhões, no primeiro semestre do ano passado, para uma perda de R$ 186 milhões entre janeiro e junho de 2012. Ainda segundo o banco, a receita com dividendos de juros sobre capital próprio mostrou queda de R$ 343 milhões, ou 16,6%, entre os primeiros semestres de 2011 e de 2012.

Mais da metade do lucro líquido banco foi originado de aplicações de renda fixa, que contribuiu com 68,2% do resultado. O segmento de renda variável foi responsável por 20,3%.

“O desempenho do mercado acionário fez com que o segmento de renda variável obtivesse um resultado inferior ao dos últimos anos, mas trabalhamos com uma carteira robusta, que tem nos proporcionado retornos significativos no longo prazo, e nossa perspectiva é que esses resultados continuem positivos”, avaliou, no comunicado, o diretor da área de mercado de capitais do BNDES, Julio Ramundo.

O saldo da carteira de crédito e repasse atingiu R$ 441,7 bilhões em 30 de junho de 2012, dos quais 83,4% correspondiam a créditos de longo prazo.


Governo zera IPI de itens para fabricação de móveis

O Estado de S. Paulo

O governo ampliou os itens desonerados de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para o setor moveleiro. Segundo o Ministério da Fazenda, a medida é uma adequação da lista que está em vigor desde abril deste ano e tem previsão para acabar no fim de setembro.

O Decreto 7.792, publicado ontem no Diário Oficial da União, reduz a zero a alíquota do imposto para mais 14 itens classificados como painéis de madeira, laminados de alta resistência e de PVC utilizados para revestimento de móveis. As alíquotas originais são 5% ou 15%, dependendo do produto.

A Receita Federal informou que se espera, com a medida, estimular os setores envolvidos e garantir a manutenção dos níveis de atividade econômica, do emprego e renda. A adequação da lista foi realizada a pedido das empresas do setor. A renúncia de arrecadação será em torno de R$ 116,12 milhões.

Promessa. Em junho, ao anunciar a prorrogação do benefício, que venceria naquele mês, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, já havia antecipado que os painéis de madeira seriam incluídos na lista de isenção de IPI.

A retirada do imposto foi uma das medidas adotadas pelo governo para estimular a economia e as vendas em queda de alguns segmentos. Além do setor de móveis, alguns produtos da linha branca – como geladeiras e fogões – e automóveis também tiveram redução de IPI. Nos últimos dois casos, o benefício está previsto para acabar no último dia deste mês.

Na avaliação da equipe econômica, as medidas adotadas foram bem-sucedidas porque ampliaram as vendas e os postos de trabalho. A contrapartida exigida pelo governo dos fabricantes foi o compromisso de repassar a vantagem para os consumidores e manter o nível de emprego.

A redução do IPI para alguns segmentos, a queda da taxa básica de juros e dos spreads bancários (diferença entre o custo de captação de dinheiro pelos bancos e o cobrado dos clientes), além da ampliação da oferta de crédito são medidas consideradas importantes pelo governo para ajudar a economia a recuperar o ritmo de crescimento.


Desequilíbrio bancário deve se aprofundar

Valor Econômico

Os desequilíbrios do sistema bancário da zona do euro, sacudida pela crise, estão ficando mais pronunciados. No início deste mês, Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu (BCE), referiu-se à fragmentação financeira para justificar uma resposta mais arrojada às agruras da região com o endividamento: os mercados esperam agora um programa governamental reforçado de compras de bônus para os próximos meses.

Com “fragmentação”, Draghi quis se referir ao mau funcionamento dos mercados de empréstimos interbancários e à retirada dos investidores para seus países de origem. O outro lado dessa moeda é um aumento significativo da dependência da liquidez do BCE por parte dos bancos da periferia da zona do euro.

Chamando a atenção para essa tendência, os bancos espanhóis recorreram, no mês passado, a mais de € 400 bilhões das operações de mercado aberto do BCE – um terço do total recorde de € 1,2 trilhão emprestado pelo guardião monetário da zona do euro. Sucessivamente, os bancos espanhóis empregaram recursos do BCE para comprar bônus governamentais, o que reduziu as pressões sobre os custos de captação de Madri.

Draghi iniciou seu mandato no BCE, no fim de 2011, expandindo os estoques de liquidez. Em dezembro e fevereiro, as operações de refinanciamento de mais longo prazo (conhecidas por LTROs, nas iniciais em inglês) ofereceram aos bancos mais de € 1 trilhão em empréstimos de três anos.

Não será fácil reverter essa tendência. A fragmentação financeira se prolongará por mais tempo, argumenta o analista do setor bancário Alastair Ryan, do UBS. “Revertê-la exige nada menos que dizer às pessoas que o euro é permanente, o que requer união fiscal e socialização do endividamento.”

Nick Matthews, economista da Nomura para a UE, diz: “Se houver uma reação abrangente de política econômica que reduza a tensão e a pressão, poderemos ter alguma estabilização”. Mas o uso do BCE aumentará se as condições se agravarem ou se o banco central sentir necessidade de facilitar para os bancos o acesso a seus recursos.

Ao mesmo tempo, as autoridades reguladoras, como o Bank of England, o BC do Reino Unido, que não compõe a zona do euro, estão pressionando os bancos a reduzirem as disparidades transnacionais de passivos financeiros.

O Morgan Stanley advertiu em nota divulgada em junho para um “enorme aumento” do viés dos bancos em favor de seus países de origem, o que teria esgotado cada vez mais os empréstimos transnacionais dentro da UE. “A incerteza na zona do euro vai propagar rapidamente esse fenômeno por todos os bancos e medidas regulatórias e, se não for controlado, levará a um estresse maior, à deterioração das condições de crédito e ao enfraquecimento das economias”, escreveu Huw van Steenis, analista do setor bancário do Morgan Stanley.

Em decorrência disso, os recursos do BCE estão sendo encaminhados para o sul, mais ensolarado, da Europa, onde a dependência está se tornando generalizada. Espanha, Itália e Portugal responderam por 60% dos empréstimos do BCE concedidos em julho. O emprego desses recursos pelos bancos espanhóis correspondeu a 11% do total de seus ativos; no caso dos bancos italianos, esse percentual foi de aproximadamente 7%.

A Irlanda e a Grécia compõem uma categoria especial. Ambos os países se tornaram usuários intensivos de “assistência emergencial de liquidez”, dinheiro criado por seus BCs, com aprovação do BCE, para fortalecer bancos desprovidos de ativos suficientes para usar como garantia em operações normais de mercado aberto do BCE.

A utilização pela Grécia de assistência emergencial saltou para mais de € 100 bilhões após a decisão do BCE, em 2011, de excluir o emprego de bônus do governo grego como garantia para a obtenção de sua liquidez.

O uso intensivo pelos bancos do sul da Europa da liquidez do BCE afetou os padrões de financiamento. A emissão de bônus pelos bancos disparou nos três primeiros meses do ano, quando os bancos do norte da Europa, e mesmo alguns de seus congêneres do sul, se beneficiaram da melhoria das condições do mercado que se seguiu à primeira LTRO. No entanto, a emissão se reduziu à metade no segundo trimestre, com a deterioração das condições do mercado, segundo dados da Dealogic.

Muitos bancos do norte da Europa relatam estar praticamente financiados para este ano, enquanto os bancos de Espanha e Itália dependeram grandemente do BCE na maior parte do ano.

Outros mercados de concessão de recursos dão sinais de esgotamento. O volume de transações europeias de recompra, nas quais os bancos empregam ativos como bônus governamentais como garantia para empréstimos de curto prazo também se contraiu. Recente amostra do mercado realizada pelo Conselho Europeu de Recompra da Associação Internacional do Mercado de Capitais mostrou que as recompras ficaram em € 5,6 trilhões em junho, volume inferior aos € 6,2 trilhões de dezembro. Isso teria refletido o impacto das LTROs na maneira pela qual os bancos europeus se financiam.

Um dos riscos para o BCE, se essas tendências se mantiverem, será a reação adversa no âmbito político. Os políticos alemães estão atentos aos desequilíbrios cada vez maiores no sistema de pagamentos “Target 2”, utilizado pelos BCs dos 17 países da zona do euro, que refletem a retirada do capital privado dos países da zona do euro. Os pagamentos devidos à Alemanha, pelo sistema Target 2, alcançaram mais de € 700 bilhões.

O restabelecimento da confiança no futuro da zona do euro estará no primeiro plano da estratégia do BCE. A instituição está estudando alternativas para um programa de compra de bônus, mas argumenta que os políticos da região têm de fazer a sua parte.


Brasil lidera o ranking das rodovias com pedágio no mundo

O Estado de S. Paulo

O Brasil já tem a maior malha de rodovias pedagiadas do mundo. Quando concluir a licitação dos 7.500 quilômetros (km) previstos no pacote de concessão, lançado semana passada pelo governo federal, terá 22.973 km de estradas nas mãos da iniciativa privada – quase o dobro da segunda colocada, que é a Alemanha, com 12.788 km. Nos Estados Unidos, que detêm a maior malha rodoviária do mundo, a quantidade de rodovias com pedágios é de 8.430 km.

Apesar da liderança no ranking, o Brasil ainda deixa muito a desejar no quesito qualidade. Da malha total do País, apenas 12% é pavimentada. Boa parte, no entanto, em condições delicadas, conforme a última pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT). No ano passado, a associação avaliou 92.747 km de rodovias asfaltadas e detectou que mais da metade estava em condição regular, ruim ou péssima.

Com a crise no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), deflagrada no ano passado e que paralisou quase todas as licitações para manutenção das estradas no País inteiro, a tendência é que os números piorem ainda mais este ano. “Estamos muito mal. Não temos estradas, ferrovias e hidrovias”, lamenta o presidente da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR), Moacyr Servilha Duarte.

Na avaliação dele, o pacote do governo federal é emergencial, para melhorar uma infraestrutura já existente. Em alguns países, destaca o executivo, toda a malha rodoviária é pavimentada. Nos Estados Unidos, 67% das rodovias são asfaltadas. Na Índia, a malha pavimentada é equivalente a toda a malha brasileira, de 1,7 milhão de km.

O consultor Geraldo Vianna, diretor da CNT e ex-presidente da NTC&Logística, compartilha da mesma opinião de Duarte. Segundo ele, embora seja a sexta economia do mundo e tenha a maior malha pedagiada, o País ocupa a 20ª posição no ranking malha rodoviária ponderada pela extensão territorial e população. “Dificilmente conseguiremos consertar em poucos anos um abandono de três décadas. Neste momento, precisamos ter calma e objetivos claros para, talvez, conseguir corrigir em 15 anos o que estragamos em 30.”

Para ele, mais importante do que os R$ 133 bilhões (ou R$ 80 bilhões nos primeiros cinco anos) do pacote é a mudança institucional e organizacional da área de transportes e logística. “O valor em si não representa muita coisa, já que está distante das necessidades do País e bem abaixo dos investimentos de nossos concorrentes China e Índia.”

“Ordem inversa”. Na opinião do professor da Fundação Dom Cabral, Paulo Resende, para aumentar o volume de estradas pavimentadas e reduzir a desigualdade no Brasil, o governo terá de fazer uma discussão muito mais profunda do que a atual. Os projetos atuais são decorrentes de uma demanda provocada pelo desenvolvimento regional, tem viabilidade econômica. “O resto tem lógica inversa: o projeto é que vai trazer o desenvolvimento regional para uma determinada região e, a partir daí, trazer o tráfego de veículo. Quem sabe um dia poderia ser concedida para a iniciativa privada.”

Hoje, completa o professor, a demanda está concentrada em cerca de 50 mil km de estrada, que respondem por 80% da movimentação de carga do País. Um exemplo de Resende é a cidade de Juína, um município do Mato Grosso que fica na divisa com Rondônia. A carga agrícola produzida no local poderia ser levada para Porto Velho, a cerca de 300 km, e seguir via hidrovia. Mas a ligação entre as duas cidades é intransitável. “Toda produção tem de percorrer 3.150 km até o Porto de Paranaguá, no Paraná, para ser exportada. “O governo tem de selecionar corredores com potencial e trabalhar em cima. Isso cria um circulo virtuoso de longo prazo.”


BCE desmente rumores sobre compra de títulos

O Estado de S. Paulo

O Banco Central Europeu (BCE) desmentiu ontem especulações sobre como será o programa de compra de títulos do banco central, dizendo que é errado falar sobre decisões que ainda não foram tomadas.

No fim de semana, a revista alemã Der Spiegel disse que o BCE está considerando estabelecer patamares de taxas de juros para qualquer compra de títulos de países em dificuldade da zona do euro, ou seja, o BCE só compraria tais títulos se as taxas de juros ultrapassassem um certo prêmio em relação aos títulos alemães.

“É completamente enganoso noticiar sobre decisões que ainda não foram tomadas e também sobre visões individuais, que ainda não foram discutidas pelo Conselho Administrativo do BCE, que vai agir estritamente dentro do seu mandato”, afirmou um porta-voz do BCE.

“No que se refere a recentes declarações de autoridades governamentais, também é errado especular sobre a forma das intervenções futuras do BCE. Política monetária é independente e feita estritamente dentro do mandato do BCE.”

Bônus comuns. Ainda ontem, o ministro da Economia da Alemanha, Philipp Roesler, repetiu sua rejeição aos bônus comuns da zona do euro como uma maneira de solucionar a crise da dívida soberana na região. “Os pacotes de socorro europeus não podem levar à coletivização de riscos e criar incentivos errados desse modo”, afirmou o ministro, de acordo com trechos de um discurso realizado em Kiel. “Isso vale também para o futuro supervisor bancário europeu.”

Ele também reiterou os alertas de que as ameaças mais significantes para a economia da Alemanha eram os pedidos por mais envolvimento estatal na economia e a crise da dívida da zona do euro.

Os comentários de Roesler demonstram que a oposição alemã à criação de instrumentos, como bônus comuns da zona do euro, continua firme.


Brasil se afasta de países avançados, diz estudo

Valor Econômico

O Brasil entrou num processo de desindustrialização precoce e de distanciamento em relação às economias avançadas, sobretudo as que estão hoje na fronteira do desenvolvimento tecnológico, segundo estudo dos economistas André Nassif, do BNDES e da Universidade Federal Fluminense (UFF), Carmem Feijó, da UFF, da Eliane Araújo, da Universidade Estadual de Maringá (UEM). A queda da fatia da indústria de transformação no Produto Interno Bruto (PIB), a elevação do déficit comercial nos setores mais intensivos em tecnologia e o aumento da distância da produtividade do trabalho na indústria brasileira em relação à americana apontam nessa direção, dizem os autores.

Outro problema, de acordo com eles, é que as importações mostram uma “elasticidade-renda” muito maior que a das exportações – ou seja, o aumento de 1% do PIB brasileiro provoca uma alta bem mais forte das importações – de 3,36% entre 1999 e 2010 – do que o efeito do avanço de 1% do PIB global sobre as exportações – de 1,33% no mesmo período. “Isso indica que o Brasil tem restrições externas ao crescimento no longo prazo”, diz Nassif. Os autores acreditam, porém, que essa situação ainda é reversível, embora seja preciso agir rápido. É importante haver a coordenação entre políticas de longo prazo – industriais, tecnológicas, de educação e de infraestrutura – com políticas macroeconômicas de curto prazo nos fronts monetário, fiscal e, principalmente, cambial.

Um dos pilares do estudo são as ideias de Nicholas Kaldor (1908-1986), professor da Universidade de Cambridge (Reino Unido), acerca da importância do setor manufatureiro. Por operar em condições de economias de escala, o setor como um todo tem a maior capacidade de disseminar os seus ganhos de produtividade para a economia inteira – daí a preocupação com um eventual processo de desindustrialização precoce. O encolhimento da fatia da indústria de transformação no valor adicionado na economia confirmaria esse processo. Essa participação caiu de 31,3% em 1980 para 17,2% em 2000, atingindo 14,6% em 2011.

Para não se limitar a esse indicador, os autores analisam também a evolução a participação de cada setor de atividade no emprego no Brasil. Entre 2000 e 2009, a fatia da indústria de transformação no total passou de 12% para 12,7%, após atingir 12,8% em 2005 e 2007 – desempenho que não apontaria na direção da desindustrialização.

Outra análise é a do comportamento do emprego da própria indústria manufatureira de acordo com os setores por intensidade tecnológica. Nesse caso, o quadro também não é negativo. Em 2000, os segmentos mais intensivos em ciência, engenharia e conhecimento respondiam por 26,2% do emprego na indústria de transformação, fatia que pulou para 31,2% em 2008 (ano dos últimos dados disponíveis). Nesse período, a participação dos intensivos em trabalho caiu de 40,3% para 33,8%, enquanto a dos intensivos em recursos naturais subiu de 34,2% para 35%. Em suma, aumentou a participação no emprego na indústria de transformação dos segmentos mais intensivos em tecnologia.

No entanto, um critério essencial para diagnosticar a desindustrialização precoce nos países ainda em desenvolvimento é analisar a posição relativa em relação a outras economias, diz Nassif, que ressalta falar em nome pessoal, e não do BNDES. Por esse aspecto, o quadro é preocupante, afirma ele.

Em 2008, a produtividade do trabalho na indústria de transformação brasileira equivalia a pouco menos de 16% da dos EUA, mostrando uma queda significativa nos últimos 40 anos. Nos anos 70, o percentual oscilou entre 36,7% a 41,7%, caindo para a casa de 25% no fim dos anos 80, recuperando-se para a casa dos 30% em 1996 e 1997, para então voltar a recuar nos anos seguintes. O comportamento é parecido em todos os setores por intensidade tecnológica.

“Há também um aumento dramático dos déficits comerciais do grupo de produtos industrializados intensivos em engenharia, ciência e conhecimento a partir de 2006”, diz Nassif. “São evidências de desindustrialização precoce.”

O estudo estima econometricamente a elasticidade-renda das exportações e importações entre 1980 e 2010, para verificar se há restrições externas à capacidade de crescimento do país no longo prazo. O resultado mostra que, entre 1980 e 1998, o aumento de 1% do PIB brasileiro causava um aumento de 1,97% das importações, número que pulou para 3,36% de 1999 a 2010. No caso das exportações, houve um pequeno recuo. Entre 1980 e 1998, o aumento de 1% da economia global elevava em 1,36% as exportações; entre 1999 e 2010, o número caiu para 1,33%.

“Como o ideal é que a elasticidade-renda das exportações supere, ao longo do tempo, a das importações, esses resultados mostram que o Brasil se defrontará com problemas de balanço de pagamentos para financiar o crescimento de sua economia no longo prazo, caso não haja uma inversão dessa tendência”, diz Nassif. “Para isso, no entanto, será necessário fazer um enorme esforço para melhorar o conteúdo tecnológico de nossas exportações.” Os elevados preços de commodities evitam hoje esse problema, por garantir superávits comerciais elevados, mas esse quadro pode mudar se as cotações desse bens ficarem num patamar menos favorável do que nos últimos anos.

No estudo, os autores também fizeram exercícios para verificar se a indústria manufatureira do país está ou não sujeita a economias dinâmicas de escala. Se confirmado, isso indica que o setor tem capacidade, ao longo do tempo, de reduzir os seus custos e aumentar a sua competitividade, à medida que acumula inovação, conhecimento e experiência. “Os resultados nesse sentido foram surpreendentemente positivos”, diz Nassif.

De acordo com o modelo, entre 1970 e 1989, o aumento de 1% da produção industrial elevava em 0,39% a produtividade do trabalho. Entre 1990 e 2010, houve um aumento do coeficiente, que pulou para 0,52%. “Isso indica que a indústria manufatureira do país ainda opera sujeita a substanciais economias dinâmicas de escala. Em outras palavras, em princípio, ela tem potencial para impulsionar a produtividade do trabalho e, em consequência, o crescimento econômico no longo prazo”, escrevem os autores. Nassif diz que o resultado mostra o fôlego da indústria brasileira, como dizia o professor Antônio Barros de Castro, ex-presidente do BNDES, morto no ano passado. Ela resiste mesmo enfrentando problemas sucessivos, como a liberalização comercial relativamente rápida, a inflação alta e a valorização persistente do câmbio.

Para Nassif, porém, é preciso agir rápido para deter o processo de desindustrialização e distanciamento das economias desenvolvidas. “Políticas industriais e tecnológicas são bem-vindas para induzir mudanças estruturais, mas não são suficientes”, diz ele, ressaltando ser fundamental a manutenção de um ambiente de juros baixos e câmbio competitivo, com coordenação entre as políticas monetária, fiscal e cambial. É importante, segundo ele, evitar uma nova valorização do câmbio, que hoje se encontra num nível um pouco mais favorável à indústria.

O estudo será apresentado na quinta-feira, no 5 º Encontro Internacional da Associação Keynesiana Brasileira (AKB), a ser realizado na Fundação Getulio Vargas (FGV), em São Paulo.

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