Com manobra fiscal, governo federal evitou descumprir LDO
O governo federal preferiu recorrer às “manobras fiscais” para atingir a meta de superávit primário em 2012 e evitar o descumprimento não só da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) como também da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). O desacato à legislação poderia implicar a reprovação das contas públicas pelo Congresso e, até mesmo, na abertura de processos específicos cuja penalidade mais grave é a perda do cargo.
A avaliação, no entanto, é de que as críticas sobre a forma com que a meta foi atingida poderiam ter sido minimizada com a redução da economia para pagamento de juros. Para isso, seria necessário a enviar para aprovação do Congresso Nacional um projeto de lei ajustando a LDO. Essa matéria não pode ser tratada por medida provisória. Mas os técnicos do governo avaliaram que o melhor seria cumprir a meta com os instrumentos legais que tinha – uso dos recursos do Fundo Soberano do Brasil e antecipação de dividendos.
Neste ano, se o Executivo considerar necessário, tem tempo suficiente para enviar e aprovar projeto de lei ajustando a meta de superávit, que corresponde a 3,1% do PIB, na LDO. O governo federal ainda não fala oficialmente em diminuir a economia para pagamento de juros em 2013, porém, já admite a possibilidade de abatimento de R$ 25 bilhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A diminuição da meta de superávit primário não seria um fato inédito. Em 2009, o governo baixou essa economia de 3,8% do PIB para 2,5% do PIB.
Conforme a legislação vigente, o Tribunal de Contas da União (TCU) é responsável pela avaliação das contas do governo, ou seja, do cumprimento de metas como a fiscal e encaminha parecer prévio ao Congresso Nacional que pode aprová-lo ou não. A reprovação do balanço da equipe da presidente Dilma Rousseff seria mais um sinal ruim de deterioração e falta de transparência na contabilidade do país.
Além disso, os responsáveis pela administração das finanças do governo, como o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e sua equipe, poderiam ser alvo de processos específicos do TCU, cujas sanções e penalidades chegam à inabilitação para o exercício do cargo em comissão ou função de confiança.
Segundo o Artigo 73 da LRF, “qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte legítima para denunciar ao respectivo Tribunal de Contas e ao órgão competente do Ministério Público o descumprimento” dessa legislação.
Para o economista Mansueto Almeida, do Ipea, o governo deveria ter reduzido o superávit primário em 2012 em vez de optar por manobras financeiras para atingir o objetivo. No último dia de 2012, para garantir o cumprimento da meta, o governo decidiu utilizar R$ 12,4 bilhões do FSB e recorrer à antecipação de dividendos da Caixa e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). As três medidas somadas proporcionaram uma receita extra de R$ 19,4 bilhões. Essa engenharia foi alvo de críticas do mercado.
Segundo Almeida, uma diminuição da meta de superávit primário para algo próximo de 2,5% do PIB em 2012 não criaria grandes questionamentos, afinal os economistas e analistas de mercado já não acreditavam que o número seria atingido. No caso deste ano, uma mudança na meta sinalizaria que a equipe econômica trabalhará com inflação um pouco mais alta. Isso porque, os modelos econômicos do Banco Central para controle da inflação, por exemplo, estão sustentados no cumprimento da meta cheia.
Para um técnico do Ministério da Fazenda, o governo até poderia ter trabalhado com uma meta menor de superávit em 2012, mas decidiu cumpri-la com os instrumentos legais que tinha. Na sua avaliação, o país tem condições de perseguir meta de superávit menor no futuro porque a relação dívida/PIB continua em queda e a taxa de juros do país também caiu consideravelmente. Mas não há decisão sobre o assunto. Para 2013, a expectativa é de que a economia tenha um crescimento progressivo, o que se refletirá na ampliação da arrecadação de tributos.
Consumo de energia sobe mais que PIB em 2012
Valor Econômico
As medidas de estímulo à demanda adotadas pelo governo no último biênio e a retomada do poder aquisitivo da população mudaram o perfil do consumo de energia no país e provocaram um descolamento em relação ao Produto Interno Bruto (PIB).
Em 2012, os segmentos de comércio e serviços e as residências puxaram a demanda por energia, que cresceu muito acima do ritmo do PIB. Enquanto a estimativa para o PIB é de crescimento de no máximo 1% no ano passado, o país consumiu 3,6% mais energia até novembro, em relação aos mesmos meses de 2011. Antes de 2010, dizem analistas, a relação entre PIB e energia era menos díspar.
O descolamento, contudo, também atinge a indústria, que passou a usar muito mais energia para uma mesma quantidade produzida. No ano passado, o setor (que responde por 41% do consumo de energia do país) demandou apenas 0,3% a mais de energia até novembro do que em igual período do ano anterior. Na mesma comparação, segundo o IBGE, a produção industrial brasileira registrou recuo de 2,6%.
Enquanto a indústria piorou seu padrão de consumo de energia, os outros setores aumentaram a demanda. O comércio (que engloba parte do setor de serviços na estatística da EPE) aumentou o consumo em 7,8%. A última vez em que registrou-se um aumento maior foi em 2000, quando a demanda do setor pelo insumo cresceu 9,3%. Com o incremento, o setor comercial consumiu 62 mil gigawatts-hora (GWh), aumentando a participação na demanda energética total para 17,5%. Essa fatia era de 15%, 12 anos antes.
O consumo das residências atingiu 107 mil GWh no acumulado de 2012, uma alta de 4,8%. As moradias, incrementadas com novas máquinas de lavar, computadores e outros bens, só perderam para a indústria no total consumido.
O setor “outros”, que compreende principalmente os setores rural e público, cresceu 6,4% e consumiu 72 mil GWh até novembro. Com isso, o consumo de energia elétrica no Brasil ano passado até novembro foi de 410 mil GWh, volume 3,6% maior do que em 2011.
Para Fernando Umbria, da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia Elétrica (Abrace), o aumento significativo do consumo do comércio e das residências, e da quase estabilidade da demanda da indústria, aponta para o descolamento na relação entre alta do consumo de eletricidade e crescimento da economia.
“Em 2011, já ocorre um pouco esse descolamento, com PIB de 2,7% e consumo crescendo 4,2%. No ano passado, isso ficou mais evidente, já que a economia deve crescer 1%, ou 1,5%. Isso mostra um comportamento atípico, pois foge da elasticidade padrão entre os dois fatores”, diz Umbria.
Antes de 2011, um ponto percentual de aumento no PIB levava a aumento entre 1 ponto e 1,5 ponto percentual no consumo de energia elétrica no Brasil. Em 2007, enquanto o PIB cresceu 6,1%, o consumo elétrico aumentou 5,9%. Nos dois anos seguintes, a relação ficou entre 5,2% e 3% e recuo de 0,3% e recuo de 1,1%, respectivamente. Em 2010, a atividade econômica cresceu 7,5% e o consumo 8,2%.
“Os anos mais fortes da crise, 2009 e 2010, são um pouco difíceis de se medir, mas os dois últimos anos mostram um momento específico da economia do país”, afirma Umbria.
Os dados do consumo setorial de energia no ano passado mostram duas orientações distintas, segundo Virginia Parente, professora do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da USP. Enquanto as famílias projetam o consumo atual pensando nas condições de vida no ano anterior, a indústria olha para o futuro. Além disso, com o consumo puxando a economia nos últimos dois anos, e a existência de espaço para o aumento da demanda por energia de famílias que ainda estão comprando os primeiros bens eletrônicos, os números mostram um “descasamento entre os setores.”
“Um fator importante é que o consumo médio das famílias brasileiras é menor do que o de economias desenvolvidas. Mesmo sem o PIB crescer muito, há espaços para grandes aumentos no consumo de energia em comércio, serviços e residências, já que ainda estamos passando por um processo de aumento de acesso a geladeiras, micro-ondas, ventiladores etc.”, afirma Virginia.
Com a perda da participação da indústria no crescimento do consumo interno verificada no último biênio, a ampliação da economia brasileira é puxada mais pelo setor de serviços, que engloba o comércio. A professora da USP diz que isso ajuda também no descolamento, verificado no ano passado, da demanda de energia da indústria em relação aos outros setores.
“Quanto menos peso da indústria, menos consumo de energia é demandada no crescimento do PIB, pois usa-se mais energia em atividade industrial do que em serviços”, diz Virginia.
Pedidos de falência caem, mas cautela ainda prevalece
Valor Econômico
Indicadores de solvência das empresas brasileiras mostraram melhora gradual no último trimestre de 2012, com recuo dos pedidos de recuperação judicial e das requisições de falência na comparação com o terceiro trimestre do ano, segundo a Serasa Experian. Economistas, no entanto, veem os dados com cautela e observam que a receita das empresas continua a ser afetada pelo baixo ritmo de crescimento da atividade, com recuperação em velocidade bastante aquém da imaginada.
A alta e resistente inadimplência dos consumidores e a queda das concessões de crédito livre para pessoa jurídica também afetaram as companhias no ano passado. Em 2012, os pedidos de recuperação judicial saltaram 47% e as falências requeridas 11%, de acordo com dados divulgados ontem pela Serasa.
Segundo a Boa Vista Serviços, o ano passado foi a primeira vez em que houve aumento das falências decretadas, de 8,3% em relação ao ano anterior, desde a aprovação da Lei de Falências, em 2005.
Para Carlos Henrique de Almeida, economista da Serasa, os pedidos de falência recuaram entre o terceiro e quarto trimestres mais por uma questão sazonal, em função do aumento das vendas com o Dia das Crianças e o Natal, do que por causa da recuperação do crescimento doméstico. Entre outubro e dezembro, foram registrados 427 pedidos de falência, 100 a menos do que o requerido no terceiro trimestre do ano passado. Na comparação com igual período de 2011, no entanto, houve aumento de 2,9%.
“As empresas tiveram mais encomendas no último trimestre por causa das festas de fim de ano, o que melhora a geração de receita, mas é uma reação por causa da sazonalidade. Temos alguns setores, como bens de consumo, com sinais de recuperação, mas isso não se aplica de forma geral à atividade”, afirma.
Para Almeida, bancos mais seletivos na concessão de crédito também prejudicaram a capacidade de financiamento das empresas. Nos cálculos dessazonalizados e deflacionados pela LCA Consultores, a média diária de concessão de empréstimos para pessoa jurídica caiu 2,5% entre outubro e novembro. No acumulado do ano até novembro, o recuo é de 3%, afirma Wermeson França, economista da consultoria. Além disso, segundo Almeida, da Serasa, a desvalorização do câmbio aumentou o passivo das empresas que tinham dívida em moeda estrangeira, o que pode ter agravado esse cenário.
Flávio Calife, da Boa Vista Serviços, nota que nos dados compilados pela instituição, houve também aumento expressivo das solicitações de recuperação judicial, de 54,8% em 2012, na comparação com o ano anterior. “Esste é um pedido que parte da própria empresa, em uma tentativa de reestruturar o negócio. Como as empresas estão mais endividadas, esse instrumento foi mais utilizado”, afirma.
O baixo crescimento em 2012, em torno de 1%, é um dos motivos para essa dificuldade, afirma Calife, mas em sua opinião, a inadimplência persistentemente alta também afetou o fluxo de receitas dessas companhias, porque aumenta o calote tomado pelas empresas. Ontem, a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) divulgou que a inadimplência no varejo avançou 1,9% em 2012 ante 2011.
Para a economista do SPC Brasil, Ana Paula Bastos, apesar do avanço, o indicador não é preocupante. “O nível de desemprego está baixo e os ganhos salariais têm crescido acima da inflação, o que possibilita ao consumidor ter maior controle sobre o orçamento e uma maior capacidade de quitar os débitos. “
Para Almeida, da Serasa, os indicadores de solvência das empresas devem melhorar gradualmente ao longo de 2013, reflexo da expectativa de aceleração da atividade econômica. “Os juros continuarão baixos, e podemos esperar alguma redução da inadimplência do consumidor. Isso se refletirá de forma lenta e gradual no fluxo de caixa das empresas e, então, nos indicadores de solvência”, afirma. No entanto, como as perspectivas para 2013 já foram revistas para baixo e há bastante cautela por parte das empresas, essa retomada também será mais lenta do que anteriormente previsto.
França, da LCA, acredita que esses dados só devem refletir a melhora da atividade no segundo semestre do próximo ano, já que há alguma defasagem entre recuperação e situação de solvência das empresas. Ainda assim, segundo França, a perspectiva de expansão da economia e destravamento do crédito para as pessoas jurídicas melhorará a situação de crédito das companhias. Para Calife, da Boa Vista, o mercado de trabalho aquecido e o bom resultado esperado para o varejo devem levar os pedidos de recuperação judicial a subir menos em 2013 que no ano anterior.
Calote cresceu 1,9% em 2012
Correio Braziliense
A inadimplência do consumidor aumentou 1,9% em 2012, segundo dados divulgados ontem pela Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), que prevê para 2013 um ano mais fraco para o comércio varejista. Segundo a entidade, as vendas devem crescer 6,5% neste ano, depois de terem aumentado 9% em 2012.
Apesar da expectativa de elevação menor no faturamento, a entidade considera que o cenário é positivo. “O ano passado foi marcado por uma expansão muito grande de consumo sustentada pelo tripé renda, crédito e emprego, sendo que esses três fatores foram apoiados pela queda da taxa de juros. Com essa base de comparação, uma alta de 6,5% este ano pode ser considerada um resultado muito bom”, afirmou Ana Paula Bastos, economista da confederação.
Em 2012, o índice de calote nas vendas do comércio aumentou pelo terceiro ano consecutivo. O indicador já havia subido 5,34% em 2011 e 2,85% em 2010. Para a confederação, esse avanço está ligado sobretudo ao crescimento da renda e ao consequente aumento do poder de compra da população. “Quanto maior o consumo, maior a inadimplência”, afirmou Ana Paula.
De acordo com a economista, em 2012, o nível do desemprego se manteve em um patamar baixo e os ganhos salariais ficaram à frente da inflação, o que aumentou o poder de endividamento dos consumidores, sobretudo das classes C, D e E. “Porém, ainda falta educação financeira. Muitos não estão habituados a planejar o orçamentos e as compras, e acabam consumindo por impulso, o que pode levá-los a assumir débitos além de sua capacidade de pagamento”, explicou.
Dívidas
Os dados da CNDL mostram ainda que o número de consultas para compras a prazo e para pagamentos com cheques subiu 6,75% em 2012, na comparação com o ano anterior. O cancelamento de registros de calote também teve crescimento, de 0,43%. Em dezembro de 2012, o número de registros cancelados aumentou 1,12% em relação ao mesmo mês de 2011. De acordo com a economista, isso já era esperado, porque os consumidores usam o 13º salário para quitar dívidas. “É normal que as pessoas paguem suas dívidas no fim do ano para recuperar o crédito e entrar novamente no mercado de consumo a prazo”, afirmou Ana Paula.
Nem mesmo fraqueza alemã deve estimular corte de juros
Valor Econômico
Haveria motivos para o Banco Central Europeu (BCE) cortar as taxas de juros ou tomar nova medida não convencional na reunião de hoje? Na opinião da maioria das instituições financeiras consultadas pelo Valor, não. Mas há uma vertente de análise da região do euro que ganhou mais força nas últimas semanas, amparada na fraca performance alemã no quarto trimestre de 2012 e nas expectativas de crescimento pífio.
Enquanto os números das economias periféricas mostravam-se desanimadores e o “motor” da Europa continuava a empurrar a economia da região, as preocupações eram voltadas para as condições de financiamento dos “países-alvo” da crise. As atitudes do BCE, neste sentido, foram focadas na mitigação da aversão ao risco e no contorno dos piores cenários. Mas lenta e continuamente a crise afetou a Alemanha, levando o governo a projetar um crescimento de apenas 0,75% para o PIB do país em 2012, um tombo se considerado o resultado de 3,1% em 2011.
Se o PIB alemão crescerá apenas 0,75% é porque houve notória contração no quarto trimestre, uma variação negativa entre 0,8% e 1%, na visão do próprio BC alemão. Em seu último relatório, de 17 de dezembro, o Bundesbank diz que “haverá contração notável no quarto trimestre” e que “não deve haver uma melhora significativa no início de 2013”. Além disso, “as perspectivas para as companhias se deterioraram diante da desaceleração global”. De fato, os indicadores recentemente divulgados corroboram esse cenário, como a queda das exportações e importações e das encomendas à indústria. Por outro lado, tanto a inflação quanto a taxa de desemprego estão historicamente baixos.
Mexeu com a Alemanha, mexeu com o BCE? É o que veremos, mas essa variável deve estar na equação do banco central, sem dúvida. O fato é que o mercado não acredita em aprofundamento de expansão de liquidez agora, já que desde o anúncio do programa ilimitado de compra de ativos pelo ESM (Mecanismo Europeu de Estabilização), chamado de OMT, em setembro, a pressão do mercado sobre Espanha e Itália diminuiu muito, derrubando os “yields” (retornos) de seus papéis de 10 anos. E essa descompressão foi só no anúncio. Nenhum país solicitou formalmente um resgate, que incluiria condicionalidades, diferentemente do programa de compras anterior, o SMP.
Os analistas dizem não acreditar que haverá mais ações não convencionais pelo BCE por considerarem que tudo o que era necessário já foi feito pela autoridade monetária. A visão do presidente do Bundesbank, Jens Weidmann (também membro votante do BCE), é diferente. Ele, que vem sendo um feroz crítico dessas ações, atacou novamente o banco central na segunda, dizendo que o OMT é desnecessário e contraprodutivo. Ademais, à parte a crença de que a crise da zona do euro está longe de acabar, não caberia ao BCE decidir assuntos relacionados à redistribuição dos riscos de solvência na Europa, e sim aos formuladores de política econômica.
Do lado dos juros, uma queda adicional do patamar atual, de 0,75%, faria diferença? Levar a taxa de depósitos para o campo negativo (hoje é zero) induziria os bancos a emprestarem mais?
O que se sabe, também pela argumentação do próprio presidente do BCE, Mario Draghi, na última conferência de imprensa, é que o impacto do anúncio do OMT nos spreads já foi muito maior do que um corte de juros poderia proporcionar a partir do baixíssimo nível atual das taxas. O crédito, por outro lado, já foi bombardeado por várias medidas de estímulo e outras adicionais, agora, talvez fossem pouco profícuas.
O Valor pesquisou a opinião de 12 casas estrangeiras sobre esse tema: Bank of America Merril Lynch (BofA), BNP Paribas, Citi, Deutsche Bank, Goldman Sachs, HSBC, J.P. Morgan, Morgan Stanley, Nomura e UBS – todas em Londres -, Jefferies (NY) e Bank of Ireland (Dublin). Apenas duas (Morgan Stanley e Bank of Ireland) veem cortes agora na taxa de juros por conta da fraqueza da economia, e outras três (Citi, Deutsche e Jefferies) dizem que isso pode ocorrer ao longo do ano. Esse painel ficou inalterado em relação ao levantamento anterior feito em dezembro.
As demais instituições dizem que o cenário não mudou desde dezembro, portanto não haveria razão para alterar as taxas agora. Para o BNP, não haverá corte de juros, mas a discussão desse tema estará na pauta do BCE, como ocorreu em dezembro. O banco também crê que tornar a taxa de depósitos negativa parece muito improvável, uma vez que as consequências de tal ação são muito incertas. Já o Citi tem opinião distinta. Não vê recuperação da economia ao longo do ano e projeta, assim, dois cortes de 25 pontos-base (para 0,25%) e taxa negativa de depósitos (-0,25%).
Em tempo: todas as instituições pesquisadas (Bank of Ireland foi a única que não divulgou seu “call”) veem manutenção dos juros em 0,5% pelo Banco da Inglaterra (BoE) e nenhuma expansão no programa de compra de ativos de 375 bilhões de libras. Olhando os próximos meses, apenas Citi e Morgan Stanley apostam em mais expansão de liquidez em função da anemia econômica. O Citi, inclusive, vê a introdução pelo BoE de uma orientação temporal para a política monetária (“forward rate guidance”), prometendo manter os juros baixos até meados de 2015.
Obama muda perfil no Tesouro e opta por expert em orçamento
Valor Econômico
O presidente Barack Obama planeja indicar Jacob Lew como 76º secretário do Tesouro dos Estados Unidos, disse um membro do partido do governo, pondo o especialista da Casa Branca em orçamento num posto equivalente ao de ministro da Fazenda no inicio de um ano que promete duras batalhas fiscais no Congresso.
Se aprovado pelo Senado, Lew substituiria Tim Geithner e traria uma mudança de perfil em relação aos chefes do Tesouro recentes, já que ele é mais conhecido como especialista em questões orçamentárias e leal ao Partido Democrata, de Obama, do que como especialista em mercado financeiro bem relacionado no mundo dos negócios.
A escolha indica que Obama se prepara para defender agressivamente suas metas de política econômica no segundo mandato. Muitos políticos do Partido Republicano, de oposição, opõem-se à insistência da Casa Branca em aumentar a arrecadação de impostos como parte de qualquer acordo para redução futura do déficit, mas o apoio escancarado de Lew à essa abordagem é um sinal de que o Executivo, embora disposto a negociar, não vai ceder facilmente.
Lew, de 57 anos, é um veterano de batalhas orçamentárias em Wa-shington, desde quando era auxiliar parlamentar de alto escalão nos anos 80, experiência que lhe será útil na iminente queda de braço sobre o limite de endividamento do governo e uma possível reforma do código tributário.
O desafio mais premente de Lew seria a necessidade do governo de elevar o teto de US$ 16,394 trilhões da dívida do país. O Departamento do Tesouro já está usando medidas de emergência para impedir o país de se tornar inadimplente nas suas obrigações, mas esses recursos devem se esgotar entre meados de fevereiro e o começo de março.
Se o limite não for aumentado logo, o governo poderia ficar sem dinheiro para pagar contas, gerando uma crise de dívida. A Casa Branca e o Congresso também planejam mudanças profundas na cobrança de impostos e nos gastos públicos neste ano, assuntos que vão cair direto no colo de Lew.
Lew, que é conhecido em Washington como “Jack”, já foi diretor operacional da Universidade de Nova York, trabalhou em duas divisões do Citigroup e no Departamento de Estado. Desde janeiro de 2012, ele é chefe de Gabinete da Casa Branca. Lew começou como assistente de congressistas nos anos 70 e 80. No governo de Bill Clinton (1993-2001), foi diretor do Escritório de Administração e Orçamento, um posto-chave na Casa Branca, lidando com assuntos que iam desde lixo nuclear até a retirada das tropas do Báltico.
Muitos republicanos passaram a ver Lew como competente, embora rígido, após o terem enfrentado nas batalhas sobre o orçamento. Ele bateu de frente com assessores dos senadores republicanos em 2011, na disputa sobre aumentar ou não o teto da dívida. Alguns republicanos acharam que ele não estava disposto a fazer concessões para chegar a um acordo.
“Ele é um cara difícil para negociar”, diz o ex-senador Judd Gregg, republicano que lidou bastante com Lew em assuntos orçamentários quando estava no Congresso. “Ele tem suas posições e não gosta de ceder muito terreno, embora seja uma pessoa muito boa.”
Espera-se que Lew seja confirmado pelo Senado, salvo imprevistos em sua sabatina, segundo dois assessores republicanos.
Os partidários de Lew o descrevem como acessível e observam que ele atuou nos acordos orçamentários no governo Clinton que levaram a superávits depois de negociados com os republicanos.
Lew é menos conhecido em Wall Street do que muitos dos seus antecessores, apesar de ter nascido em Nova York e trabalhado no Citigroup. Seu relacionamento com o setor financeiro deverá ser um desafio para ele nos próximos meses.
Talvez a presença recente de líderes empresariais na Casa Branca nas últimas semanas, para discutir o acordo de corte do déficit, ajude Lew no contato com executivos. Ele participou de muitas reuniões na Casa Branca com CEOs e tem uma rede de contatos empresariais que data do governo Clinton.
Geithner entrou no governo em 2009 e esteve envolvido em uma crise depois da outra. Ele ajudou a conceber a resposta do governo à crise financeira, atuou na aprovação de reformas nas regulamentações financeiras, a Lei Dodd-Frank, e foi uma figura fundamental nas batalhas políticas em torno de teto da dívida em 2011 e do abismo fiscal em 2012. Ele também dedicou grande parte do seu tempo a assuntos externos, inclusive as sanções ao Irã, a crise fiscal da Europa e as preocupações quanto à valorização do yuan, a moeda chinesa.
Geithner foi presidente do Banco Central de Nova York antes de ir para o Departamento do Tesouro, levando com ele muitos contatos em Wall Street e nos mercados, coisa que Lew pode não ter.
Mas Lew passou décadas próximo do ex-Secretário do Tesouro Robert Rubin e os últimos quatro anos próximo de Geithner, o que certamente deu a ele uma visão interna de como o órgão opera e da gama de assuntos com que o chefe do Tesouro tem que lidar.