Da unidade, vai nascer a novidade
Movimentos e pastorais sociais reafirmam Assembléia Popular como instrumento de força política e de diálogo com a sociedade. Encontro foi realizado durante os dias 25 e 28 de maio, em Luziânia, Goiás.
Resistência e unidade. Com esses compromissos terminou a II plenária nacional da Assembléia Popular (AP). Os mais de 600 participantes revisitaram o documento “Brasil que queremos”, cuja construção foi iniciada ainda em 2005. O exercício do poder popular, tal como a crítica radical ao atual sistema capitalista foram os dois principais conceitos afirmados durante o encontro.
O documento final será divulgado até agosto deste ano. De acordo com Irmã Delci Franzen, assessora das Pastorais Sociais da CNBB, projetos contra o imperialismo, o endividamento dos países mais pobres, além de campanhas contra os megaprojetos, como Belo Monte e o complexo Madeira e em favor da redução da jornada de trabalho são passos que estão apontados para as lutas da AP para o próximo período.
A formação dos militantes e o trabalho de base também são prioritários. “Estamos construindo iniciativas que apontam para o novo, fundado em novos valores da justiça, da defesa do meio ambiente. Ao escrever o Brasil que se quer, está claro o Brasil que não se quer. A gente está na ofensiva”, disse.
Outro projeto que está na agenda da AP é a luta pelo limite da propriedade terra, como uma forma de diminuir com as grandes concentrações de terra nas mãos de poucos latifundiários no Brasil. Um plebiscito popular, aos moldes como foram o da ALCA e o da reestatização da Vale do Rio Doce, deverá ser promovido até o próximo ano.
Unidade das forças populares
O conjunto das organizações que compõem a AP manifestou o espaço como um lugar de construção de consensos. “Vamos potencializar as diferenças no debate e superá-las. Sinto uma nova semente de unidade na esquerda do Brasil”, afirmou irmã Delci.
O processo da AP visa fortalecer a capacidade de ação política dos movimentos participantes a fim de convocar o conjunto da sociedade para mobilizar-se pela ampliação dos direitos do povo e por profundas transformações políticas e institucionais. Nessa caminhada, a AP propõe alternativas para o desenvolvimento com justiça social e o compromisso com a vida em todas as suas expressões, considerando por isso o cenário de crise ambiental que vive a humanidade e que demanda uma mudança radical no rumo dominante do processo econômico.
Moções aprovadas
A II Assembléia Popular Nacional também manifestou apoio a diversas causas. O apoio ao Decreto 4.887/2003, que regulamenta os dispositivos de reconhecimento, demarcação e titulação dos territórios das comunidades tradicionais quilombolas, alvo de uma ação direta de inconstitucionalidade impetrada pelo partido Democratas, cita a tentativa “nefasta de aniquilamento dos direitos fundamentais”, como é o direito à terra de indígenas, ribeirinhos e quilombolas.
A criminalização dos movimentos sociais também foi repudiada pela plenária. Os participantes exigiram a libertação imediata dos militantes sociais do MST e do movimento indígena que estão mantidos como presos políticos em vários estados do País. “Denunciamos a crescente ofensiva da direita brasileira contra as lutas de trabalhadoras e trabalhadores organizados por direitos sociais, que se manifesta de diversas formas e se intensifica a cada dia”, afirma a moção.
Em breve, essas e as demais moções poderão ser encontradas em www.assembleiapopular.org
Poder da cultura movimenta a luta do povo
Música, poesia e dança expressam os sentimentos da militância na busca da construção de uma nova sociedade
As várias linguagens artísticas que compõem a diversidade cultural e socioterritorial representada na II Assembléia Popular Nacional foram expostas e debatidas ao longo do encontro, que aconteceu em Luziânia (GO) entre os dias 25 e 28.
De Tocantins, o grupo de mulheres ligadas à Casa da Mulher Artesã mostrou e comercializou quadros e bijuterias produzidas com materiais naturais, como sementes e capim-dourado.
Artesão e integrante do Movimento Organizado dos Trabalhadores Urbanos (MOTU), de Sergipe, Silvanei Pereira exibiu a pintura em porcelana que desenvolve há mais de dez anos. Junto a ele, Sérgio Bastos, também militante do MOTU, expôs seus quadros com pinturas em ostras e cabaças utilizando tinta vitral. Os dois promovem oficinas no galpão ocupado pelo movimento em Aracaju. “A primeira ocupação que fizemos contou com vários artesãos. As oficinas fazem parte da estratégia de formação do movimento”, comenta Bastos.
Jaime Silva, acampado do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Japaratuba (SE), é apicultor e produz sabonetes artesanais feitos com mel. No acampamento, Silva fabrica cerca de 300 unidades por mês.
Resgatar a cultura dos tupinambás do sul da Bahia é o que propõe o coletivo de Ramon Ytajibá Tupynambá de Olivença. Ao lado de outros indígenas presentes na AP, ele representou o povo Tupynambá de Olivença, que vive em uma aldeia em Ilhéus, no sul da Bahia, com mais de seis mil famílias. Quem circulava pelos corredores do CNTI pôde conhecer os colares e maracás produzidos na aldeia indígena, o livro “Memória viva dos Tupinambá de Olivença”, além de experimentar na pele pinturas indígenas.
Cultura unifica as lutas
A resistência cultural e a preservação da identidade dos povos foram a tônica da noite cultural da II AP, realizada nesta quinta-feira (27). Apresentações musicais, de dança e de poesia contemplaram desde manifestações folclóricas de origem indígena do Pantanal mato-grossense, como o cururu e o siriri, até encontros de rappers que desenvolvem projetos de hip-hop em seus locais de atuação.
Um deles é Alan Shark, do projeto Abanca, uma produtora cultural social que utiliza, através do método freireano, a música e a cultura hip-hop como ferramenta de transformação social com atividades como ensaios abertos, shows, eventos musicais e oficinas em espaços públicos da região do Jardim Ângela, na periferia de São Paulo.
Para ele, a cultura em um espaço como a AP pode catalisar lutas comuns. “Acho que a cultura unifica as lutas. Aqui encontrei parceiros que fazem um trabalho similar ao nosso, porque você sente que há coisas se concretizando no âmbito da cultura que visa a transformação social”.
Um dos frutos das trocas de experiências possibilitados durante os dias da II AP foi a decisão da realização de um Encontro Nacional de Cultura da Assembléia, para articulação, produção e difusão das diferentes produções culturais.
E tem que democratizar a comunicação…
A democratização da comunicação foi um dos temas discutidos na II Assembléia Popular Nacional, que propôs espaços que articulem formas de se construir uma comunicação alternativa e representativa dos diversos segmentos da sociedade.
Os meios de comunicação de massa mais influentes estão nas mãos de onze famílias que se utilizam destes meios para impor a ideologia dominante com necessidades, preferências e costumes que perpetuam a desigualdade social.
Nesta semana em que os diversos movimentos sociais estão reunidos na construção de um projeto popular para o Brasil, vimos como os negros, índios, mulheres, movimentos territoriais e ambientais são atingidos pela grande mídia.
É por compreender e sentir na prática que os movimentos defendem a democratização dos meios de comunicação, em que a sociedade acompanhe com o estado desde a liberação das concessões até a produção de seus conteúdos.
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