O FIM DA PM É UMA LUTA DAS MULHERES
Todos já devem de estar cansados de nos ouvir falar sobre a construção do Espaço Mandacarú, e que o maior problema pra que ela seja de fato terminada é custear essa obra.
Na madrugada do dia 15 de março (último sábado), às 3:45h durante o enceramento de uma festa, que além de comemorar o aniversário de amigos serviu pra vendermos bebidas e arrecadar dinheiro pra comprar materiais pra construção, fomos surpreendido com a invasão de PM’s.
A festa foi linda, não houve brigas, e os números de pessoas que iam chegando se multiplicavam a cada minuto. Muito funk e RAP.
O problema foi no final quando a policia chegou, com o som desligado e as pessoas se retirando eles surgiram com seus cassetetes e sprays atacando quem viam pela frente. As pessoas que estavam saindo resolveram entrar na casa do nosso companheiro que cedeu o espaço pra festa usando-a como um refúgio, mas a PM simplesmente resolveu entrar numa propriedade privada sem mandato, sem permissão dos que moravam lá.
Além de agredir (muito) as pessoas, prenderam três convidados por desacato. Duas garotas foram agredidas e presas, e um dos agressores era outra mulher, infelizmente. As garotas levaram tapas, chutes e tudo que se possa imaginar. As falas dos policiais eram tão horríveis quanto suas ações, como “NEM DE PRETO EU GOSTO, MUITO MENOS FAVELADO” – PM negro, “DÁ PRA MIM CÊ NUM QUÉ NÉ, MAS FAZER BADERNA NA RUA CÊ GOSTA?” – PM mulher.
Outra coisa que infelizmente aconteceu foi a apreensão do nosso aparelho de som, que alugávamos pra arrecadar uma grana pra construção do Espaço Mandacarú de Cultura e Resistência.
O nosso som eram tão subversivo quanto nós, ele foi indiciado por perturbação (como se estava desligado?), e pra piorar tentaram nos extorquir cobrando uma fiança de 7 MIL REAIS pela “libertação do som”.
Esse tumulto nos gerou, a madrugada, a manhã e a tarde até às 15h dentro de uma delegacia e nada mais.
Talvez o final dessa história seja mais amplo do que imaginamos. Talvez essa história se repita diversas vezes, por diversas gerações.
Lembro-me da rejeição ao RAP, ao Samba, ao Pagode, só por serem ritmos periféricos.
E isso é o que estão fazendo com o Funk.
A ausência de teatros, centros culturais, praças, cinemas, fez os jovens da periferia migrarem pra bailes funk’s por serem a única opção de diversão em suas comunidades não adianta negarmos.
E aliás qual é mesmo o problema com o funk?
Seria legal analisarmos letras de músicas de outros ritmos, ver qual contexto social e época foi escrito antes de julgarmos. Segundo Mc Leonardo (Apafunk) “O funk precisa que seja cultura justamente porque ele precisa de uma autoafirmação”, A VIVÊNCIA DESSAS PESSOAS É O QUE ESTÃO FALANDO NOS MICROFONES, NÃO VAMOS MUDAR AS MÚSICAS, MELHOR MUDAR AS REALIDADES.
E tem mais…
Preconceito racial, social, musical e machismo. Tenho que repetir, DUAS MULHERES FORAM ESPANCADAS E PRESAS.
Essa informação mesmo que citada em outros relatos não foi tão enfatizada quanto merecia, bater em mulher não deve ser visto como algo normal.
As garotas do funk tem uma coisa que as outras não tem, LIBERDADE, aquela liberdade que as feministas brancas buscam. Elas dançam, bebem, tem o poder de escolher ao invés de serem escolhidas, fazem o que querem, quando querem, e com quem querem. E não levam desaforo pra casa, foram presas por desacato por não aceitarem apanhar quietas.
A PM maltrata desde sempre as mulheres pobres. Maltratam quando tem que cuidar dos filhos sozinhas por que o seu marido foi assassinado pela PM, maltratam as mulheres quando vão visitar seu companheiros presos, as maltratam quando são assediadas nas ruas por aqueles que deviam protege-las, são maltratadas quando são abordadas com violência e o que lhes sobra são os roxos espalhados pelo corpo. São maltratadas quando vão na delegacia denunciar a violência que sofrem em casa e os policiais ironizam a situação.
A PM, ABUSA, MALTRATA, E MATA A MULHER PRETA E PERIFÉRICA. O fim da PM é um grande passo para o fim do machismo e do patriarcado.
NÃO VAMOS MAIS ACEITAR QUIETAS.
FIM DA PM JÁ!
http://ojuorun.blogspot.com.br/2014/03/o-fim-da-pm-e-uma-luta-das-mulheres.html