Eles sabem o que fazem, e, no entanto, o fazem

Eles sabem o que fazem, e, no entanto, o fazem[1]

Há quase 03 anos, em fevereiro de 2012, cinco mulheres foram estupradas, sendo duas delas assassinadas, na cidade de Queimadas, Agreste da Paraíba, próximo a Campina Grande. E, apenas hoje, no dia 26 de setembro, o acusado de ser o mentor do estupro coletivo teve sua sentença lida. Após 19 horas de julgamento, Eduardo dos Santos Pereira foi condenado a 108 anos de prisão.

Na “Barbárie de Queimadas”, como ficou nacionalmente conhecido o caso, dez homens planejaram (sim, planejaram, elaboraram com antecedência) o estupro de cinco mulheres, como forma de “presentear” o aniversariante, irmão do principal mentor e donos da casa, deste dia. Durante uma suposta festa, alguns dos homens saem para comprar bebidas e retornam encapuzados simulando um assalto. Uma das vítimas, passando-se por desmaiada, vê sua irmã ser violentada e logo em seguida raptada para ser assassinada a quilômetros dali. Duas das vítimas reconhecem os agressores e por isso chegaram a óbito.

Não podemos negar a vitória (e principalmente a importância) de todas as mulheres, feministas e movimentos organizados para que este julgamento ocorresse e para que todos os 10 acusados, sendo 03 adolescentes, fossem julgados e condenados. Mas, infelizmente, não podemos nos esquecer, também, que tal caso de barbárie, só ganhou tal repercussão por ter terminado em dois óbitos.

Tragédias, como a que ocorreu em Queimadas, acontecem todos os dias, segundo dados do Ministério da Justiça, 50 mil mulheres são estupradas por ano, no Brasil, e 03 em cada 04 mulheres serão vítimas de pelo menos um crime de violência durante a sua vida. O estupro e a violência doméstica matam mais mulheres, entre 15 a 44 anos, que o câncer, os acidentes automobilísticos, guerra e malária, segundo dados do Banco Mundial.

O capitalismo, hoje, na busca infinita de transformar tudo em mercadoria, transformou as mulheres em produto, e a moeda de troca é o sexo, o assovio, o ‘passar a mão na bunda’, o insulto disfarçado de elogio e a dominação e reprodução de poder. Contudo, para promover uma real luta classista e feminista, precisamos, além de nos basear em um feminismo marxista, fazer com que tal luta esteja na agenda política não apenas das mulheres, mas sim, de todos os socialista e comunistas, dentro do Movimento Estudantil, nas fábricas, nas escolas, no sindicato, dentro dos Partidos Políticos, enfim, em todos os espaços de militância dos comunistas.

Não podemos esquecer que “não existe um feminismo autônomo desvinculado de uma perspectiva de classe” [2] Quando falamos na luta das mulheres, não podemos parar na luta por direitos, sem negar a importância dela, como a que ocorreu em Queimadas e em toda a Paraíba, mas, é fundamental projetarmos uma sociedade que supere o próprio direito, aquela é nossa luta prática, mas esta última é a nossa luta estratégica.

A luta específica das mulheres contra a opressão e a violência as quais se encontram submetidas se vincula à uma luta mais ampla pela transformação da sociedade, sem que isto signifique a perda de sua particularidade que atua incisivamente na “superação da opressão materializada na forma patriarcal da família, nos valores dominantes na cultura, no senso comum e na ideologia, nas relações de poder (…), superação esta que não se dando, impede a efetiva libertação do ser humano na sua busca de uma transformação radical da sociedade”[3]. Assim, tal como o socialismo é a superação desta sociedade “democrática”, e não uma infinda luta por direitos desiguais; a luta pela libertação das mulheres não é o estabelecimento da igualdade entre os sexos, mas sim a superação dos fundamentos sociais que converteram a nossas vidas em serviço privado, que convertem nossos prazeres em moeda de troca e nossos corpos em mercadoria.

“De mãos dadas com o homem de sua classe, a mulher proletária luta contra a sociedade capitalista.”[4]

Partido Comunista Brasileiro (PCB)

Comitê Regional da Paraíba


Notas:

1. Zizek, S. “How Did Marx Invent the Symptom?”, em Mapping Ideology (Londres, 1994).

2. Saffioti, H. “A Mulher na Sociedade de Classes” (São Paulo, 2013)

3. Iasi, M. “Olhar o Mundo com Olhos de Mulher” (Amsterdã, 1991)

4. Zetkin, C. “Relatório para o congresso de Gotha”, 1896. Em Ausgewählte Reden e Schriften.

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