Prefácio de Miguel Urbano Rodrigues para o livro de Ivan Pinheiro

Neste livro o leitor encontra o retrato do autor. Os textos nele enfeixados, sobre temas diferentes, iluminam bem o cidadão e o revolucionário. Um denominador comum os une: a opção comunista.

Ivan Pinheiro pertence a uma geração que nasceu e se formou após a segunda guerra mundial.

A paixão pela História ajudou-o a compreender o mundo de opressão e violência que descobriu ao chegar à idade da razão. Na leitura dos clássicos do marxismo não assimilou apenas a teoria que o conduziu muito jovem a uma prática revolucionária corajosa e desafiadora. A intimidade com o pensamento de Marx e Lenin ensinou-lhe que a compreensão profunda do passado dos povos é imprescindível à elaboração da estratégia e da táctica aplicáveis nas lutas sociais de povos muito diferentes, noutras épocas históricas.

Comunista cujo cenário de intervenção foi na juventude o combate à ditadura brasileira,- a crise profunda do PCB e o tsunami politico e econômico que destruiu a União Soviética , longe de abalarem as suas convicções, fortaleceram nele o espírito de luta. Nestes anos em que uma parcela ponderável da intelligentsia, mascarada de esquerda, deturpa a História na busca de desculpas para exorcizar o marxismo, Ivan , na luta por um Brasil soberano e progressista, em seu combate permanente ao imperialismo como grande inimigo da humanidade, tem demonstrado uma lúcida consciência da interação complexa entre o nacional e o universal.

Este livro reflecte a imagem do patriota que identifica e denuncia as concessões ao capitalismo que um Poder inconsequente, invocando o pragmatismo, se esforça por justificar como transitórias. Simultaneamente, nos artigos sobre temas latino americanos, emerge o comunista com a têmpera internacionalista dos bolcheviques da Revolução de Outubro de 17. Porque para o secretário geral do PCB a luta contra o imperialismo nas Honduras, no Haiti, na Colômbia, na Venezuela, na Bolívia, em Cuba, no Equador, no Paraguai, tal como a condenação dos crimes que atingem os povos da Palestina, do Iraque, e as ameaças de Washington e de Israel ao Irão são também problemas seus, são lutas do grande colectivo do Partido Comunista Brasileiro.

Ivan terá sido na América Latina um dos primeiros intelectuais marxistas a desmascarar Barack Obama. Nos seus artigos e discursos, lembrou que o discurso humanista do Presidente dos EUA é negado por uma estratégia belicista de dominação mundial que configura ameaça à humanidade.

Hoje Ivan apresenta-se como candidato à Presidência da Republica do Brasil. O seu discurso de campanha, estou seguro, não terá semelhanças com os dos demais candidatos. Ivan sabe que não será eleito. Aproveita a oportunidade que a lei lhe abre, como candidato, para se dirigir ao povo do Brasil.

Consciente de que o funcionamento das engrenagens do poder político e econômico, controladas por uma burguesia submissa ao imperialismo, fecham a porta em tempo previsível à concretização de um projecto nacional alicerçado em transformações estruturais progressistas – Ivan entra em campanha armado com o Programa do seu Partido do qual constam aspirações profundas da nação brasileira. O projecto comunista não tem calendário. Ivan e os seus camaradas do PCB, com a sua luta, contribuem para que o povo brasileiro compreenda que a atual crise de civilização é inseparável da crise global do capitalismo. A agonia do sistema será prolongada mas a única alternativa será o Socialismo.

Saber lutar esperando é uma virtude comunista.

Acredito que, ao lerem este livro, muitos brasileiros não comunistasvão sentir admiração pela história do partido de Ivan Pinheiro. Por si só, os comoventes textos dedicados a Carlos Marighella e a José Paulo Netto envolvem um convite à meditação sobre a epopeia do PCB quando, em 1992, golpeado pela traição e à beira do fim, resistiu e iniciou a batalha pela sua reconstrução revolucionária.

Como antigo militante do PCB, no qual lutei nos anos da ditadura até à Revolução Portuguesa, como internacionalista que ama o Brasil como segunda pátria, acompanho com alegria e orgulho o renascimento do Partido Comunista Brasileiro como força revolucionária cujo prestigio volta a atravessar fronteiras, na fidelidade ao projecto comunista.

A campanha do PCB não terá as estridências das dos candidatos que disputam o Poder. Será uma campanha de revolucionários comunistas.

(Serpa, julho de 2010)

* Miguel Urbano Rodrigues, intelectual comunista português