QUEM MATOU MEU IRMÃO?

Aqui na Província de São Pedro, a confirmação pelo Ministério PúblicoFederal do envolvimento de parte da raia graúda na Operação Solidária eno desvio de grana, muita grana (!!!) do Detran.

Mas, o cume do mês do desgosto foi o assassinato a sangue frio, com umtiro covarde pelas costas do trabalhador sem-terra Eltom Brum da Silva.Rapidamente a Senhora do Casarão Malganho foi para a imprensacinicamente exigir apuração dos fatos e a responsabilização do culpado. O Diário Oficial da Burguesia gaudéria passou os dois primeiros dias batendonessa tecla também, com direito à editorial no seu veículo impresso e tudo.

No dia 27 de agosto, o MST e várias entidades representativas demovimentos populares, sindicais e estudantis realizaram um ato paramarcar o sétimo dia do assassinato de Eltom. Sete dias decorreram sem queninguém fosse responsabilizado. Até o trombeteiro-mor do Diário Oficialda Burguesia gaudéria anda reclamando disto. Diz Lasier Martins, que “émuito estranho” que a Brigada Militar ainda não saiba quem apertou ogatilho. Pode ser “estranho” pra ele, Lasier. No entanto, os quehistoricamente sofrem a opressão e a repressão do Estado burguês nãoestranham. Parece-lhes bem claro que há uma tentativa de jogar com adesmemória da sociedade. Não só deixar cair no esquecimento, mas,possivelmente, proteger um agente estrelado da corporação.

Sim, há testemunha que afirma que o autor do crime é um tenentecoronel.Algo provável se pensarmos que se fosse um reles soldadinho oassassino, este já estaria sendo julgado pelo coronel Mendes, ora guindadoa juiz militar.

O Diário Oficial da Burguesia gaudéria noticiou no dia 27 de agosto nasua versão eletrônica, que a Brigada Militar já sabe quem matou Eltom:“Ao se apresentar, o soldado admitiu ter atirado contra o sem-terra, masdisse que só tomou a atitude para defender um colega da corporação, queconfirmou as informações”.

Diante de tantas falcatruas que este estado tem assistido, o provável éque a defesa de um “colega” (ou um superior hierárquico?) da corporaçãoesteja se dando agora, nos bastidores da antes briosa Brigada Militar.Imagine-se o seguinte cenário: Brigada Militar invade ocupação do MSTcom ordem judicial de reintegração de posse e ordem governamental deexecutar a ordem judicial a qualquer custo. Inclusive torturando mulheres ecrianças com cachorros (várias crianças foram mordidas pelos cães daBrigada) e com choques elétricos dados nas algemas colocadas nos pulsosdos sem-terra detidos, com as armas não-letais de choque. Na ação umsem-terra diz uns desaforos a um oficial estrelado e vira-lhe as costas. Atocontínuo, o oficial estrelado ofendido dispara um tiro de calibre 12 àqueima-roupa nas costas do sem-terra desaforado. Constatada a cagada,escolhem um soldadinho qualquer disposto a assumir a culpa sob oargumento de que estava “defendendo” um colega. Porra! Defendendo umcolega de quê? De um desaforo disparado por um sem-terra desarmado?!Assumida a culpa pelo soldadinho, o caso é encaminhado para a Justiça Militar, esta anacrônica excrescência jurídica, e na distribuição do processocasualmente este cai nas mãos do Tenente-Coronel Mendes, excomandantegeral da Brigada Militar, defensor da truculência comoargumento. Afasta-se o soldadinho por uns tempos para um serviçoburocrático enquanto corre o processo e depois ele é absolvido pelo führerMendes sob a alegação de legítima defesa de colega da corporação. Seduvidarmos é capaz de o rapaz, em troca do desgaste e comoreconhecimento por “serviços prestados” [à burguesia e ao latifúndio] sercondecorado com alguma medalha e receber uma promoção.

Eltom era meu irmão, meu companheiro! Como o são todos os quesofrem a exploração e a opressão do capital e que lutam pela emancipaçãoda classe trabalhadora.

Eu quero saber a verdade! QUEM MATOU MEU IRMÃO!?

* Ruy GuimarãesProfessor de História

Conselheiro do CPERS-Sindicato

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