Pastores da Morte

Chegaram gritando

Espalhando o terror

Buscando o arrego

Impondo o estado da dor

 

Soldados-tenentes

Senhores da guerra

Implacáveis, inclementes

Capitães-das-vielas

 

Selvagens, indecentes

Cabeças de repolho e pica-paus

Armados até os dentes

com seus narizes de cristal

 

Mantidos com nossos impostos

Impõe o horror cotidiano

Desfazem planos

Assassinam sonhos

 

Cospem em nossas caras

Matam nossos filhos e irmãos

Mentem despudoradamente

Fazem da injustiça seu pavilhão

 

Cães raivosos

Ceifam vidas inocentes

Com seus fuzis e uniformes

Pisoteiam as flores indulgentes

 

Mataram um jovem-menino

Que com as mãos moldava o pão

Que a noite estava sorrindo

E de manhã jazia em um caixão

 

Mataram também o seu tio

Cujo crime era morar na favela

Piedoso enfermeiro-negro

Nunca passou pelas celas

 

Foram executados pelo Estado

Que financia, treina e arma

Psicopatas de boina e farda

Corsários de insígnias cruzadas

 

Neo-capitães-do-mato

Jagunços e mercenários

Traficantes e viciados

Milicianos estatizados

 

E eles sorriem e se protegem

Zombam da dor do trabalhador

Mas o sangue que roubaram

Este sim tem valor

 

Favela agora é quilombo

O povo não esquece tão rápido

Polícia e bandido se equivalem

O ódio agora é dobrado

 

Mataram um jovem padeiro

(podia ser seu filho)

Mataram um jovem enfermeiro

(podia ser seu irmão)

 

Mas o canto que da garganta explode

Esse não podem matar

Nem com a justiça-fuzil

Nem com inquérito militar

 

E estes dois mártires

Que faziam da alegria sua bandeira

Não serão nome de praça

Pois não têm eira nem beira

 

Porém na longa estrada

Que no peito é o coração

Nomearão um sentimento amigo

Muita saudade e inspiração

 

Daniel Oliveira

Belo Horizonte/Minas Gerais

25 de Fevereiro de 2011